Mariana Belmira de Andrade

poetisa açoriana.

Mariana Belmira de Andrade (Velas, 31 de dezembro de 1844Velas, 17 de fevereiro de 1921) foi uma professora do ensino primário, poetisa açoriana da geração realista, ficcionista, ativista republicana com laivos de socialismo e feminista.[1][2][3][4]

Mariana Belmira de Andrade
Mariana Belmira de Andrade
Nascimento 31 de dezembro de 1844
Velas
Morte 17 de fevereiro de 1921 (76 anos)
Velas
Cidadania Portugal, Reino de Portugal
Ocupação professora, poeta, escritora

Biografia

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Era proveniente de uma família de comerciantes, recebeu a educação própria de uma rapariga do seu tempo da média burguesia açoriana, com a instrução primária, francês e inglês e uns rudimentos de música. Foi a sua dedicação aos estudos e a sua vontade de saber mais que a levou a estudar e a obter por si mesma o lastro literário que completou a sua formação intelectual.[2] Aprendeu quase sozinha a tocar piano e a ler e traduzir a língua francesa. A sua vasta cultura deve-se também ao convívio com outros intelectuais jorgenses do seu tempo, como João Caetano de Sousa e Lacerda e com Delfina Vieira Caldas, a perceptora dos filhos do conselheiro José Pereira da Cunha da Silveira, e às leituras que fez de autores como Victor Hugo, Jules Michelet, Gomes Leal e Antero de Quental.[5]

Apresentava um carácter indómito e pouco sociável e assumia-se andrófoba e refractária ao casamento. Não deixou, porém, de casar com António Maria da Cunha, ainda que só aos 34 anos de idade, tardiamente para a época, e suportando por muito pouco tempo o que ela chamava a «treva do himeneu».[2] Não tendo o casamento sido feliz, oseu génio insubmisso levou-a, com efeito, a separar-se do marido logo após o batizado do único filho do casal, Inocêncio, cujo nome foi motivo de discórdia entre os progenitores. Alice Moderno, sobre este assunto, escreveu o seguinte: Contava a ilustre poetisa que entre os cônjuges se travara acesa discussão, que foi até à pia batismal, tendo sido a contenda finalizada pelo pároco, que acedeu aos desejos do pai, objetando à mãe do neófito que: «onde há galo não canta galinha».[6]

Separada do marido e com necessidade de grantir o futuro do filho, foi para Angra do Heroísmo, na ilha Terceira, onde obteve o diploma de professora primária. Habilitada ao magistério primário, dedicou-se daí em diante ao ensino das primeiras letras. Praticamente viveu toda a sua vida na sua ilha natal de São Jorge, onde foi uma reputada professora primária na vila das Velas.

Foi já depois do casamento desfeito e de ter enveredado pelo ensino que, por volta dos 40 anos de idade, sentiu «bafejar-lhe a fronte / o fogo da inspiração» sob o signo do romantismo, mas rimou os primeiros «devaneios» poéticos já sem sacrificar a Eros, por o «orgulho de mulher» lhe tornar defeso o prazer do amor e não achar «o homem assunto digno de verso».[2] Esta fase inicial da sua obra poética fez nascer o seu primeiro livro de poesias, que afina pela escola romântica.

Contudo, a sua poesia evolui para uma via de realismo social e mais tarde encontraria melhor inspiração, ou mais propícia ao seu estro, ao afinar a lira pelo diapasão da poesia de combate. Passou, então, a apostrofar o trono e o altar em alexandrinos acerbados de paixão iconoclasta e a exaltar, no mesmo tom, o proletariado (o «escravo do trabalho») que, sobre o ombro, qual «Atlas portentoso», erguia a «mole formidável» do futuro.[2]

Este caminho faz dela, de forma natural, uma militante republicana com laivos de socialismo e de panteísmo, fervorosa ateia declarada, tendo escrito poemas a exaltar o trabalho e os trabalhadores. Embora fora do contexto internacional do movimento feminista da sua época, resultado do seu isolamento na ilha de São Jorge, assume as mesmas lutas e intenções, constituindo um dos poucos casos, a par da micaelense Alice Moderno e da terceirense Maria Guilhermina de Bettencourt, de intervenção social de mulheres açorianas fora do contexto das instituições católicas.

Apesar deste percurso, no fim da vida abandonou a actividade política e retomou ao catolicismo, aparentemente em consequência do regicídio de 2 de fevereiro de 1908 que vitimou o rei D. Carlos e o príncipe D. Luís Filipe.

Autora de muitos poemas, publicados em vários jornais e revistas, foi pioneira da colaboração feminina na imprensa periódica açoriana. Deixou vasta colaboração nos jornais dos Açores, onde a maior parte da sua produção literária se encontra dispersa. Ainda assim, publicou duas colectâneas poéticas, Fantasias (Ponta Delgada, 1875) e A Sibila (Velas, 1884), e extractos de um romance intitulado A Esfinge, uma espécie de autobiografia romanceada, deixada semi-inédita, com extractos publicados em folhetins no jornal A Ilha Graciosa (em 1896). Na sua obra poética não escasseiam poemas de autêntico lirismo. O seu acentuado romantismo exprimiu-o em versos de métrica grandiloquente, mal coadunada com a sua feminilidade. O seu nome foi um dos seleccionados por Pedro da Silveira para o trabalho Antologia de Poesia Açoriana do século XVII a 1975.[7]

Colaborou no Almanaque de Lembranças Luso-Brasileiro,[8] na Grinalda (um periódico portuense) e foi uma das colaboradoras do Jornal do Grémio Litterario D'Angra do Heroísmo (1868-1869), periódico ligado a uma associação que se destinava a promover o desenvolvimento da instrução procurando popularizar a leitura e defender os conhecimentos úteis. Foi também colaboradora assídua do jornal A Folha, de Ponta Delgada, dirigido por Alice Moderno, de que era hóspede aquando das suas viagens de e para Lisboa.

O seu nome faz parte da toponímia da vila das Velas onde existe a Rua Poetisa Belmira de Andrade.

Escreveu

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Para além de múltiplos artigos dispersos pela impresnsa periódica e de folhetins publicados no jornal A Ilha Graciosa, esta distinta poetisa escreveu e deu publicidade às seguintes obras:

  • Phantasias, 1 vol., Ponta Delgada, 1875;
  • A Sibylla - Versos Philosophicos, Velas, 1884 (reeditado, com coordenação de Henrique Levy, pela editora Letras Lavadas, Ponta Delgada, 2020);
  • A Esphinge, publicação em prosa, saída em folhetim no periódico A Ilha Graciosa (1896).

Referências

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  1. Alfredo Luís Campos, Memória da Visita Régia à Ilha Terceira. Imprensa Municipal, Angra do Heroísmo, 1903.
  2. a b c d e «Andrade, Mariana Belmira de» na Enciclopédia Açoriana.
  3. Mariana Belmira de Andrade e Alice Moderno.
  4. Nuno Catharino Cardoso (org.), Poetisas portuguesas; antologia contendo dados bibliograficos e biograficos acêrca de cento e seis poetisas, pp. 27-29. Lisboa, Livraria Científica, 1917.
  5. Ilda Soares de Abreu in Zília Osório de Castro (coord.), Feminae : dicionário contemporâneo. Lisboa, Comissão para a Cidadania e a Igualdade de Género, 2013.
  6. Opinião - Com os pés na terra (478): «Mariana Belmira de Andrade e Alice Moderno». Correio dos Açores, Ponta Delgada, edição de 18 de novembro de 2020.
  7. Mariana Belmira de Andrade (1844-1921): Portuguese Poet..
  8. As senhoras do Almanaque Luso-Brasileiro.