Marino (prefeito pretoriano)
Marino (em latim: Marinus) foi um dos mais leais entre os conselheiros seniores do imperador Anastácio I (r. 491–518). Serviu por duas vezes como prefeito pretoriano do Oriente, supervisionou as reformas ficais de Anastácio, apoiou as políticas pró-monofisistas do imperador e liderou a marinha bizantina em uma batalha crucial que encerrou de vez a revolta do general Vitaliano na Trácia. Sobreviveu até o regime de Justino I (r. 518–527), quando novamente foi prefeito pretoriano, mas logo foi afastado do poder.
Marino | |
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Nacionalidade | Império Bizantino |
Ocupação | Oficial |
Título |
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Religião | Cristianismo |
Biografia
editarPrimeiros anos
editarMarino era nativo de Apameia na Síria[1] e, como a maioria dos sírios, era monofisista.[2] Em 498, foi nomeado por Anastácio como ministro sênior de finanças (tratador) e, depois, cartulário do departamento fiscal da prefeitura pretoriana do Oriente responsável pela Diocese do Oriente, que abrangia a Síria; seu predecessor, João, o Paflagônio, recebeu o encargo de supervisionar a reforma de Anastácio na cunhagem.[3] Nesta função, se tornou um dos principais conselheiros financeiros do imperador, especialmente no tocante à taxação; também foi responsável pela criação dos víndices, oficiais encarregados de coletar a anona, que até então era função dos conselhos em cada cidade das províncias. Os detalhes da reforma são obscuros e as opiniões contemporâneas sobre seu resultado se dividem: João, o Lídio, cuja tendência geral é hostil a Marino, o acusa de empobrecer as províncias, enquanto um panegírico de Prisciano afirma que ela foi um grande alívio aos fazendeiros. Embora o novo sistema pareça ter aumentado a receita do Estado, ele foi amplamente modificado e finalmente abandonado nos reinados posteriores.[1][4]
Controvérsia monofisista
editarPor volta da década de 500, Marino emergiu como "o mais confiável conselheiro" de Anastácio, segundo John B. Bury, e foi recompensado com a nomeação à prefeitura pretoriana, provavelmente no início de 512; parece ter mantido o posto até o início de 515.[5][6] No outono de 512, encorajou Anastácio a apoiar abertamente a versão monofisista do Triságio (Trisagion), que o patriarca Timóteo I de Constantinopla havia incluído na liturgia até mesmo na Basílica de Santa Sofia. Como resultado, a população de Constantinopla, majoritariamente calcedônia, irrompeu em revolta em 4 de novembro contra a versão "herética", forçando Marino e Platão, o prefeito urbano, a responder com o uso da força numa tentativa de sufocar os revoltosos. Os conflitos continuaram, porém, e, em 6 de novembro, a população calcedônia se juntou no Fórum de Constantino e novamente iniciou uma confusão que quase custou a Anastácio seu trono: as estátuas do imperador foram derrubadas, o idoso general Areobindo, parente por casamento da dinastia teodosiana, foi proclamado imperador e a casa de Marino foi incendiada. Foi necessária uma aparição do próprio Anastácio no hipódromo para acalmar a turba que então exigia que Marino e Platão fossem lançados às feras selvagens.[7][8]
Em 515, Marino foi encarrado por Anastácio da liderança da campanha contra Vitaliano, o mestre dos soldados da Trácia, que havia se revoltado contra as políticas pró-monofisistas do imperador e estava marchando em direção da capital. Esta estranha nomeação de um oficial civil para o comando de um exército se deu por conta da relutância dos dois generais que comandavam os exércitos bizantinos próximos de Constantinopla, Patrício e João, em enfrentar Vitaliano, que eles conheciam pessoalmente. Apesar da falta de experiência militar, Marino derrotou a frota rebelde numa batalha na entrada do Chifre de Ouro; de acordo com o relato de João Malalas, ele conseguiu o feito através do uso de uma substância química a base de enxofre inventada por um tal Proclo de Atenas, similar ao futuro fogo grego. Marino então desembarcou com seus homens na costa de Sícas e derrotou ali os rebeldes em terra. Desencorajado pelas derrotas, Vitaliano e seu exército fugiram ao norte sob o véu da noite.[9][10]
Sob Justino I e morte
editarEmbora pareça que se juntou ao prepósito do cubículo sagrado Amâncio para instigar distúrbios em Santa Sofia logo após Justino I (r. 518–527) assumir o trono, conseguiu sobreviver à transição: foi nomeado prefeito pretoriano pela segunda vez em 519 e, diz-se, chegou a decorar um banho público com cenas da vida de Justino, incluindo sua chegada a Constantinopla como um pobre camponês.[11][12] Marino morreu pouco antes de 539.[2] Sobre sua família, sabe-se apenas que teria tido uma filha e que o filho dela foi nomeado governador na Líbia (Inferior ou Superior), onde se mostrou particularmente ganancioso.[13] Era bisavô do também governador da Líbia Bassiano.[14]
Referências
- ↑ a b Martindale 1980, p. 726.
- ↑ a b Martindale 1980, p. 727.
- ↑ Martindale 1980, p. 604–605, 726.
- ↑ Bury 1958, p. 442–444.
- ↑ Martindale 1980, p. 726–727.
- ↑ Bury 1958, p. 443, 470.
- ↑ Martindale 1980, p. 144, 727.
- ↑ Bury 1958, p. 438–439.
- ↑ Martindale 1980, pp. 57, 294, 727, 842.
- ↑ Bury 1958, p. 451–452.
- ↑ Martindale 1980, p. 67, 727.
- ↑ Bury 1958, p. 470.
- ↑ Martindale 1980, p. 728.
- ↑ Martindale 1980, p. 219; 1232.
Bibliografia
editar- Bury, John Bagnell (1958). History of the Later Roman Empire: From the Death of Theodosius I to the Death of Justinian. Londres: MacMillan & Co. ISBN 0-486-20399-9
- Martindale, J. R.; Jones, Arnold Hugh Martin; Morris, John (1980). The prosopography of the later Roman Empire - Volume 2. A. D. 395 - 527. Cambrígia e Nova Iorque: Imprensa da Universidade de Cambrígia