Matheusa Passareli

Matheusa Passareli Simões Vieira[1] (Rio Bonito, Rio de Janeiro, 21 de janeiro de 1997[2]Rio de Janeiro, 29 de abril de 2018) foi uma artista visual e ativista LGBT brasileira. Identificava-se como uma pessoa não-binária e foi brutalmente assassinada aos 21 anos de idade.[3]

Matheusa Passareli
Nome completo Matheusa Passareli Simões Vieira
Nascimento 21 de janeiro de 1997
Rio Bonito, Rio de Janeiro, Brasil
Morte 29 de abril de 2018 (21 anos)
Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil
Nacionalidade Brasil
Alma mater Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Ocupação Artista visual, ativista

Biografia

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Matheusa nasceu em Rio Bonito, no interior do estado do Rio de Janeiro.[4][5][6] Foi a primeira pessoa de sua família a ingressar no ensino superior, cursando Artes Visuais na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Além disso, frequentava a Escola de Artes Visuais do Parque Lage.[3][7]

Ativismo e arte

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Como ativista LGBT, Matheusa desafiava as normas de gênero e lutava contra preconceitos.[8] Participava ativamente de dois coletivos artísticos: "Seus putos" e "Xica Manicongo", onde desenvolvia trabalhos artísticos e ativismo LGBTQ+.[9] Utilizava sua arte para questionar as normas de gênero e raça, considerando a militância racial como sua principal bandeira.[10][11][12]

Morte e investigações

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Em 29 de abril de 2018, Matheusa desapareceu após sair de uma festa no bairro do Encantado, na Zona Norte do Rio de Janeiro. Foi assassinada por traficantes no Morro do 18, em Quintino.[3] Em julho de 2024, o principal acusado pelo assassinato, Manuel Avelino de Sousa Junior, foi condenado a 18 anos e quatro meses de prisão pelos crimes de homicídio por motivo torpe e ocultação de cadáver.[13]

Legado e homenagens

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Matheusa foi retratada no documentário "Sempre Verei Cores no seu Cinza", dirigido pela cineasta Anabela Roque. O filme aborda a crise na UERJ e mostra a atuação de estudantes contra o abandono da universidade.[14]

Outras homenagens

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  • O Centro Acadêmico do Instituto de Artes da UERJ foi renomeado como Centro Acadêmico Matheusa Passareli.[15]
  • Em janeiro de 2019, foi homenageada com um mural no morro da Tavares Bastos, no Catete, pintado pela artista Marcela Cantuária.[16]
  • Um ato ecumênico intitulado "Viva Theusinha" foi realizado na Capela Ecumênica da UERJ em sua memória.[17]

Contexto da UERJ

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Na época da morte de Matheusa, a UERJ enfrentava uma grave crise financeira e institucional. A universidade passava por dificuldades desde 2015, quando o estado do Rio de Janeiro entrou em crise fiscal. As consequências incluíam atrasos nos pagamentos de salários, suspensão de bolsas estudantis e corte de verbas para pesquisa e manutenção. O calendário acadêmico estava significativamente atrasado, com o segundo semestre de 2016 previsto para terminar apenas em julho de 2018.[18]

Referências

  1. «Caso Matheusa: Justiça condena traficante responsável por assassinato da estudante, em 2018». cbn. 25 de julho de 2024. Consultado em 26 de novembro de 2024 
  2. «Matheusa Passarelli é Homenageada Em Mural Da Rede Nami». revistahibrida.com.br. 27 de fevereiro de 2019. Consultado em 26 de novembro de 2024 
  3. a b c «Polícia confirma morte de estudante da Uerj desaparecida há uma semana». G1. 7 de maio de 2018. Consultado em 25 de novembro de 2024 
  4. Ferraz, Daniel de Mello; Tomazi, Micheline Mattedi; Sessa, Ariel (9 de dezembro de 2019). «As mortes de Matheusa em uma notícia do Estadão: estudos interseccionais sobre preconceito, discriminação e violência física em relação à diversidade de gêneros». Revista Brasileira de Linguística Aplicada: 927–958. ISSN 1984-6398. doi:10.1590/1984-6398201914748. Consultado em 26 de novembro de 2024 
  5. Biondo, Mayole Vitória Velasques e Fabiana (2 de julho de 2020). «#Matheusa no twitter: enquadramentos e negação do sujeito trans». REVISTA ESTUDOS EM LETRAS (1): 77–96. ISSN 2675-505X. Consultado em 26 de novembro de 2024 
  6. Biondo, Fabiana (10 de dezembro de 2019). «"Balbúrdias" de gênero na universidade: letramentos críticos e diversidade». The ESPecialist (2). ISSN 2318-7115. doi:10.23925/2318-7115.2019v40i2a11. Consultado em 26 de novembro de 2024 
  7. «Estudante desaparecida, Matheusa foi assassinada em favela do Rio». VEJA. Consultado em 26 de novembro de 2024 
  8. Cardoso, Fernando da Silva (19 de janeiro de 2022). Educação jurídica e diferença: abordagens sobre questões de gênero e raça para o ensino jurídico. [S.l.]: Pimenta Cultural 
  9. «'A gente não pode naturalizar o sofrimento', diz irmã de Matheusa Passareli, trans morta no Rio». BBC News Brasil. Consultado em 26 de novembro de 2024 
  10. «Matheusa Passareli, presente!». Geledés. 10 de maio de 2018. Consultado em 25 de novembro de 2024 
  11. Souza, Victor Pereira de; Bleicher, Taís; Diniz, Breno de Castro (12 de agosto de 2024). «SAÚDE MENTAL E VIVÊNCIAS FORA DOS BINARISMOS DE GÊNERO ENTRE JOVENS ESTUDANTES DE GRADUAÇÃO». Diversidade e Educação (1): 296–321. ISSN 2358-8853. doi:10.14295/de.v12i1.17390. Consultado em 26 de novembro de 2024 
  12. Cavalcante, André (2021). «O corpo que habito: resistências e produção de sentidos dos/sobre os corpos trans» (PDF). Consultado em 26 de novembro de 2024 
  13. «Acusado de matar estudante da Uerj Matheusa Passareli é condenado a 18 anos de prisão». G1. 15 de julho de 2024. Consultado em 25 de novembro de 2024 
  14. «Documentário sobre crise na Uerj é selecionado para festival». UERJ. 26 de outubro de 2018. Consultado em 25 de novembro de 2024 
  15. «Ato ecumênico homenageia Matheusa Passareli». UERJ. 10 de maio de 2018. Consultado em 25 de novembro de 2024 
  16. «Mural em homenagem a Matheusa Passareli é inaugurado no Catete». Diário do Rio. 22 de janeiro de 2019. Consultado em 25 de novembro de 2024 
  17. «Ato ecumênico homenageia Matheusa Passareli». UERJ. 10 de maio de 2018. Consultado em 25 de novembro de 2024 
  18. «Uerj completa 1 ano sem aulas regulares nesta terça». G1. 28 de março de 2017. Consultado em 25 de novembro de 2024