Militares vermelhos

Militares vermelhos foi o nome com que ficaram conhecidos, especialmente pelas populações da ex-províncias ultramarinas portuguesas, os militares relacionados com o Partido Comunista Português (PCP) e o comunismo internacional que tiveram assento no Movimento das Forças Armadas (MFA).

A expressão foi especialmente aplicada aqueles que durante o Processo Revolucionário em Curso (PREC) trabalharam para favorecer a esfera de influência soviética.

Contexto

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No mundo vivendo a guerra fria, o mundo dividia-se entre a influência do Bloco Ocidental e o Bloco de Leste. Essa pressão era particularmente evidente na Europa. O Portugal de Salazar depois de ter apoiado Franco na guerra civil Espanhola,[1] [2] e vendido volfrâmio à Alemanha Nazi,[3] tinha-se reposicionado com o Bloco Ocidental, entrando inclusivamente para a NATO em 1949.[4]

Pelo contrário, a oposição que sobreviveu à repressão do Estado Novo estava maioritariamente organizada à volta do Partido Comunista Português. Ao contrário de outras posições políticas da oposição particularmente em face da guerra colonial, o PCP defendia a participação nas forças armadas, de forma a promover os seus ideais. Isso granjeou-lhe forte influência em alguns setores.[5]

Fora da Europa, a guerra fria também se fazia sentir. Dado que a maioria das potências ou ex-potências coloniais pertenciam ao Bloco Ocidental, os movimentos independentistas acabaram por ter uma forte ligação ao Bloco de Leste. Após a revolução dos cravos, a pressão para a descolonização, já de si tardia, aumentou quer por forças internas (programa MFA; soldados não querem combater), quer por forças externas (ONU; movimentos independentistas).[6]

Personalidades

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O caso mais paradigmático terá eventualmente sido o do almirante Rosa Coutinho[7] governador em Angola no pós 25 de Abril que ficou conhecido por ter mandado entregar todas as armas na posse da população civil às autoridades enquanto abria a porta à entrada de soldados e material de guerra da esfera comunista a partir da ponte aérea Cuba-Angola.

Outros exemplos são o de Vasco Gonçalves e de Otelo Saraiva de Carvalho[7], que chegou a visitar Fidel Castro[7] em Havana em pleno verão de 1975, no exato momento em que a ponte aérea Cuba-Angola se encontrava no seu auge.

Em geral alinhados com Vasco Gonçalves ou Otelo de Carvalho, vários viriam a ter um papel no 25 de Novembro. Como Delgado da Fonseca,[8] gonçalvista convicto, Duran Clemente[9] e Eurico Corvacho,[10][11] tendo nesta ocasião os mais implicados nessa intentona sido compulsivamente passados à reserva, ou sofrido diversos revezes na sua carreira.

Ligações externas

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Referências

  1. RTP. «FRANCO E SALAZAR - IRMÃOS IBÉRICOS - Documentários - RTP». www.rtp.pt. Consultado em 17 de agosto de 2024 
  2. «Guerra Civil Espanhola». Museu do Aljube. 18 de julho de 2024. Consultado em 17 de agosto de 2024 
  3. RTP (5 de junho de 2019). «Portugal e o "Dia D". Como Salazar escapou por um triz». Portugal e o "Dia D". Como Salazar escapou por um triz. Consultado em 17 de agosto de 2024 
  4. Portal diplomático. «NATO» 
  5. Ferreira, Ana Sofia (2016). «A SEDUÇÃO DAS ARMAS. Radicalização na contestação ao Estado Novo» (PDF). III International Conference Strikes and Social Conflicts 
  6. Santos, Nuno Ribeiro, Nuno Ferreira (27 de julho de 2024). «27 de Julho de 1974: a derrota de Spínola». PÚBLICO. Consultado em 17 de agosto de 2024 
  7. a b c Tomás Diel Melícias (2017). O Feitiço do Moderno: Jonas Savimbi e seus projetos de nação angolana (1966-1988) (PDF). Porto Alegre: Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul 
  8. «MDB.PT: 11. 25 de Abril de 1974. Os Homens do Norte!». MBD.PT. Consultado em 13 de agosto de 2024 
  9. Portugal, Rádio e Televisão de (24 de novembro de 2015). «Duran Clemente conta como caiu numa "esparrela" em 25 de Novembro». Duran Clemente conta como caiu numa "esparrela" em 25 de Novembro. Consultado em 13 de agosto de 2024 
  10. «MDB.PT: 11. 25 de Abril de 1974. Os Homens do Norte!». MBD.PT. Consultado em 13 de agosto de 2024 
  11. «CD25A». www.cd25a.uc.pt. Consultado em 13 de agosto de 2024