Movimento dos Focolares
Fundação |
7 de dezembro de 1943 (80 anos) |
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Tipo |
Associação de Fiéis de Direito Pontifício |
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Fundador |
Chiara Lubich |
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Presidente |
Margaret Karram (d) |
Website |
(en + it) www.focolare.org |
Obra de Maria, também conhecido como Movimento Focolare,[1] é um movimento católico fundado por Chiara Lubich em 1943 na cidade de Trento, norte da Itália.[2] É considerado um movimento fundamentalista,[2][3] totalitário[4] e conservador,[5] ligado moral, teológica e politicamente à direita.[6]
O Movimento se insere na chamada Espiritualidade da Comunhão,[7] que também se faz presente em vários outros movimentos e segmentos da Igreja Católica,[7] enraizado no que chamam de Carisma da Unidade.[8]
Apesar de ser uma organização oficialmente católica, afirmam permitir a participação de membros outras religiões, desde que estes se liguem ao movimento no sentido religioso.[9] O Movimento alega operar em 182 países, com mais de 2 milhões de aderentes, onde membros de outras religiões correspondem a 0,5% do total de membros.[10] Esses números permanecem inalterados há mais de meio século e incluem centenas de milhares de pessoas que já não fazem mais parte do movimento.[11]
Etimologia
editarO termo focolares vem do italiano focolari, plural de focolare, que significa "lareira" como sinédoque de "casa" ou mais propriamente "lar". O termo focolare tem sua origem no latim tardio focularis, derivado de focŭlus, diminutivo de focus, «fogo».[12]
História
editarEm 1943, durante a Segunda Guerra Mundial, a professora Chiara Lubich, então com 23 anos, criou o Movimento Focolares junto com seus amigos mais próximos.[2] Ao final dessa mesma década com a guerra terminada, já contava com um número de seguidores suficiente para ocupar um acampamento de verão nas montanhas Dolomitas.[2]
Somente 19 anos depois, em 1962, obteve a aprovação papal de João XXIII, recebendo deste o nome de Obra de Maria, durante o Concílio Vaticano II.[5]
Em mensagem dirigida aos sete cardeais e 137 bispos amigos do Movimento dos Focolares, provenientes de 50 países, reunidos em Trento por ocasião do centenário de nascimento de Chiara Lubich, o Papa Francisco afirmou que o carisma da unidade, defendido por ela, “é uma dessas graças do nosso tempo, que experimenta uma mudança histórica e pede uma reforma espiritual e pastoral simples e radical, que leve a Igreja à fonte sempre nova e atual do Evangelho de Jesus".[13]
Abusos
editarEm 2020 vieram à tona uma série de denúncias de abusos sexuais dentro do movimento na Europa com, pelo menos, 30 vítimas crianças, além de alguns jovens. Os abusos foram cometidos a partir de 1970 por um membro leigo consagrado chamado Jean-Michel M. Isso motivou a renúncia de três líderes do movimento, Bernard Bréchet e Claude Goffinet, líderes do movimento na França, e Henri-Louis Roche, líder do movimento para a Europa Ocidental.[14] A denúncia também motivou uma investigação interna que encontrou pelo menos mais 61 denúncias de abuso entre 2014 e 2022, num total de 66 abusadores, sendo 53 membros leigos (32 com votos professados), cinco padres, quatro menores de idade e quatro não membros, mas que cometeram o abuso dentro do Movimento. A investigação identificou ainda 22 denúncias de “abusos sexuais, de consciência, espirituais e de autoridade relativamente a adultos”, entre 2018 e 2022.[15] Apesar disso, as autoridades do movimento se negam a revelar os nomes dos abusadores.[16]
Focolares no Brasil
editarO Movimento alega que o primeiro brasileiro a ter contato com o Movimento foi o Pe. João Batista Zattera, de Pelotas, que passou a ter um relacionamento profundo com Chiara Lubich.[17] Em 1958 chegam ao Brasil um grupo de vários focolarinos vindos da Itália, inluindo Lia Brunet, Marco Tecilla, Fiore Ungaro, Ginetta Calliari, Volo Morandi e outros, que se estabeleceram em Recife e depois em São Paulo. Dez anos depois, um grupo adere ao convite de Dom Helder Câmara e se estabelecem na Ilha de Santa Teresinha.[18]
Em 25 de março de 2014, Maria Voce, então presidente do Movimento dos Focolares, esteve no Brasil para a inauguração da "Cátedra Chiara Lubich de Fraternidade e Humanismo" na Universidade Católica do Recife.[19]
Economia de Comunhão (EdC)
editarParte empresarial do movimento dos Focolares,[20] que "visa atrair a intervenção divina para o mundo dos negócios" a partir da visão de que a busca do lucro é atitude divina, apresentando o empresário como modelo de ética e principal protagonista social e na exploração dos trabalhadores através da manipulação psicológica.[21] Ele reúne empresas que se comprometem a empregar o seu lucro em favor de três causas: o sustento daqueles que se encontram em necessidade, projetos de formação cultural e de incentivo ao empreendedorismo e o incremento da própria empresa. O projeto tem um objetivo claro: produzir riquezas em prol de quem se encontra em dificuldade e fomentar uma nova cultura em que a economia não esteja atrelada ao individualismo e ao crescimento das desigualdades.[22]
No Brasil, a Economia de Comunhão está presente em 177 empresas de 12 estados. No mundo todo, são mais de 800 empresas.[22]
Referências
- ↑ «International Associations of the Faithful». La Santa Sede. Consultado em 17 de outubro de 2020. Cópia arquivada em 26 de setembro de 2011
- ↑ a b c d Heuser, Stephen (19 de abril de 2005). «Movimentos católicos fundamentalistas cresceram com João Paulo 2º». The Boston Globe. Traduzido por Danilo Fonseca. Consultado em 3 de abril de 2018. Cópia arquivada em 3 de abril de 2019
- ↑ Costa, António Joaquim (2004). Sociologia dos novos movimentos eclesiais: focolares, carismáticos e neocatecumenais em Braga (Tese de doutoramento). Braga: Universidade do Minho. Consultado em 3 de abril de 2019 Arquivado em 31 de dezembro de 2022, no Wayback Machine.
- ↑ Benelli, Sílvio José (16 de maio de 2018). «Efeitos em Termos de Produção de Subjetividade em Movimentos Religiosos Totalitários no Contexto Eclesial Católico». Universidade Estadual Paulista. Revista de Psicologia da UNESP. 7 (1). ISSN 1984-9044. Consultado em 20 de janeiro de 2020. Cópia arquivada em 17 de maio de 2021
- ↑ a b Magalhães, Renan; Aguiar, Sylvana. Subcampo conservador e lucro tripartido: um estudo dos focolares e de sua economia de comunhão (pdf). III Colóquio de História. Consultado em 3 de abril de 2019. Cópia arquivada (PDF) em 3 de abril de 2019
- ↑ Urquhart, Gordon (2002). A Armada do Papa. Os segredos e o poder das novas seitas da Igreja Católica. [S.l.]: Record. 532 páginas. ISBN 978-8501062222
- ↑ a b Santos, Ivanaldo Oliveira; Neto, José Pereira Silva (2018). «A Espiritualidade da Comunhão no Movimento dos Focolares». REVELETEO - Revista Eletrônica Espaço Teológico. ISSN 2177-952x (21): 96–117. ISSN 2177-952X. doi:10.23925/2177-952X.2018v12i21p96-117. Consultado em 4 de março de 2021. Cópia arquivada em 31 de outubro de 2022
- ↑ Maskulak, Marian (13 de junho de 2018). «Religion and leadership». New York : Routledge, [2018] | Series: Routledge studies in religion: Routledge: 109–119. ISBN 978-1-351-13912-0. Consultado em 4 de março de 2021. Cópia arquivada em 31 de dezembro de 2022
- ↑ Estatutos Gerais da Obra de Maria. Vargem Grande Paulista: Cidade Nova. 1998. pp. 13–15; 28
- ↑ «Quem Somos». Movimento dos Focolares. Consultado em 9 de novembro de 2020. Cópia arquivada em 18 de outubro de 2020
- ↑ Coffa, Marianna. «Chi siamo?». ORganizzazione Ex Focolari (em italiano). Consultado em 5 de março de 2024
- ↑ Enciclopedia Treccani. «Verbete "focolare" na Enciclopedia Treccani». Consultado em 20 de novembro de 2020
- ↑ Raviart, Michele (8 de fevereiro de 2020). «Papa: o carisma da unidade é uma graça para o nosso tempo - Vatican News». www.vaticannews.va. Consultado em 16 de fevereiro de 2020. Cópia arquivada em 31 de dezembro de 2022
- ↑ de Neuville, Héloïse (26 de outubro de 2020). «Three Focolare leaders in Europe resign amidst abuse query» [Três líderes do Movimento dos Focolares na Europa renunciam em meio à investigação de abusos]. La Croix (em inglês). Consultado em 15 de dezembro de 2023
- ↑ Raimundo, Clara (3 de abril de 2023). «Movimento dos Focolares registou 61 denúncias de abusos nos últimos 8 anos». Sete Margens. Consultado em 15 de dezembro de 2023
- ↑ Mallmann, Arthur Lersch (11 de dezembro de 2023). «Focolares, Opus Dei, Comunhão e Libertação...: As nomeações no Vaticano que indignam as vítimas». Instituto Humanitas Unisinos. Consultado em 5 de março de 2024
- ↑ Administrador, Por (27 de setembro de 2011). «Pe. João Baptista Zattera». Movimento dos Focolares. Consultado em 9 de novembro de 2020. Cópia arquivada em 9 de novembro de 2020
- ↑ «A Ilha de Santa Terezinha». Humanidade Nova - Movimento dos Focolares. Consultado em 9 de novembro de 2020. Cópia arquivada em 19 de outubro de 2020
- ↑ «Catedra em memória de Chiara Lubich é inaugurada em Recife». Gaudium Press. 27 de março de 2014. Consultado em 16 de fevereiro de 2020. Cópia arquivada em 16 de fevereiro de 2020
- ↑ Zsolnai, László (2015). Post-Materialist Business: Spiritual Value-Orientation in Renewing Management. [S.l.]: Palgrave Macmillan. p. 52. ISBN 978-1-137-52596-3. doi:10.1057/9781137525987. Consultado em 3 de abril de 2019. Cópia arquivada em 11 de junho de 2018
- ↑ CARVALHO, Maria Luisa; GUARESCHI, Pedrinho (março de 2009). «Economia de comunhão: responsabilidade social, ideología e representações sociais.» 29 ed. Brasília. Psicologia: ciência e profissão (1): 88-101. ISSN 1414-9893. Consultado em 4 de julho de 2019. Cópia arquivada em 19 de junho de 2020
- ↑ a b Koller, Felipe (15 de abril de 2017). «O que é Economia de Comunhão e por que essa ideia tem atraído cada vez mais adeptos». Sempre Família. Consultado em 16 de fevereiro de 2020. Cópia arquivada em 16 de fevereiro de 2020
Bibliografia
editar- Bowie, Fiona (janeiro de 2003). «An anthropology of religious experience: spirituality, gender and cultural transmission in the Focolare movement». Ethnos: Journal of Anthropology. 68 (1): 49–72. ISSN 0014-1844. doi:10.1080/0014184032000060362
- Urquhart, Gordon (1995). The Pope's Armada: Unlocking the Secrets of Mysterious and Powerful New Sects in the Church. Londres: Bantam Press. 456 páginas. ISBN 9780593033883
- Pinotti, Ferruccio (9 de novembro de 2021). La setta divina. Il Movimento dei Focolari fra misticismo, abusi e potere [A seita divina. O Movimento dos Focolares entre misticismo, abuso e poder] (em italiano). [S.l.]: Piemme. 487 páginas. ISBN 978-8856680805