Muntadhar al-Zaidi

jornalista iraquiano

Muntadhar al-Zaidi (Árabe: منتظر الزيدي‎) (Bagdá, 15 de janeiro de 1979) é um jornalista televisivo iraquiano que trabalha como correspondente da emissora iraquiana Al-Baghdadia, cuja sede fica no Egito, em seu país. As reportagens de al-Zaidi geralmente falam sobre o drama das famílias de mortos na Guerra do Iraque. No dia 16 de novembro de 2007, al-Zaidi foi sequestrado em Bagdá por agressores desconhecidos. Antes disso, já havia sido preso duas vezes por soldados estadunidenses. Em 14 de dezembro de 2008, al-Zaidi tornou-se mundialmente conhecido ao jogar seus dois sapatos em direção ao presidente estadunidense George W. Bush durante uma conferência de imprensa em Bagdá.

Biografia

editar

Muntadhar al-Zaidi foi criado em Sadr, um subúrbio pobre de Bagdá. Ele se formou em comunicação social na Universidade de Bagdá, a segunda maior do mundo árabe. Começou a trabalhar como correspondente na Al-Baghdadia em 2005. Al-Zaidi mora em um apartamento de dois quartos no centro de Bagdá. Na altura do episódio com George W. Bush em 2008, ele tinha 29 anos, seguia a fé xiita e não era casado. De acordo com a emissora qatarense Al Jazeera, ele é comunista.

Sequestro e prisões

editar

Na manhã de sexta-feira, 16 de novembro de 2007, al-Zaidi foi sequestrado enquanto trilhava seu caminho rumo ao trabalho no centro de Bagdá. Homens armados fizeram-no entrar em um carro, onde foi espancado até ficar inconsciente. Os agressores utilizaram a gravata que al-Zaidi estava vestindo para tampar seus olhos e amarraram suas mãos com cadarços. Ele foi mantido em cativeiro com pouca comida e água e foi questionado sobre seu trabalho como jornalista. Nenhum pedido de resgate foi feito e ele foi solto quase três dias depois, na madrugada de 19 de novembro de 2007. O relatório de dezembro de 2007 do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados mencionou o caso de al-Zaidi. Um editor da Al-Baghdadia afirmou que acredita que o sequestro foi um "ato de gangues, porque o trabalho de Muntadhar é moderado e livre de preconceitos".

Al-Zaidi foi preso duas vezes por soldados estadunidenses. Em janeiro de 2008, foi detido à noite por tropas estadunidenses que realizavam uma busca em seu apartamento. Mais tarde, os soldados se desculparam.

Incidente da sapatada

editar
 
Zaidi jogou os dois sapatos em Bush, enquanto gritava "este é o seu beijo de despedida do povo iraquiano, seu cachorro! Isto é pelas viúvas e órfãos e todos os mortos no Iraque" em árabe.

Durante uma conferência de imprensa no palácio do primeiro-ministro Nouri al-Maliki em Bagdá, no dia 14 de dezembro de 2008, al-Zaidi jogou seus dois sapatos em direção ao presidente estadunidense George W. Bush. Jogar os sapatos em alguém é um ato de extremo desrespeito nas culturas árabe e islâmica. Enquanto jogava os sapatos, al-Zaidi gritou "este é o seu beijo de despedida do povo iraquiano, seu cachorro" em árabe. "Isto é pelas viúvas e órfãos e todos os mortos no Iraque", gritou enquanto jogava o outro sapato. Bush desviou duas vezes, e conseguiu evitar ser atingido por uma sapatada. Al-Zaidi foi empurrado para o chão por um outro jornalista antes de ser agarrado pelos guardas do primeiro-ministro e retirado da sala. No meio da confusão, a assessora da Casa Branca Dana Perino foi atingida por um microfone e ficou com o olho visivelmente roxo. Al-Zaidi foi entregue pela guarda do primeiro-ministro ao comando militar iraquiano em Bagdá, que o entregou ao sistema judiciário.

Os outros jornalistas presentes se desculparam pelo ocorrido com Bush, que aceitou as desculpas. Bush afirmou que al-Zaidi havia feito aquilo para "chamar atenção". Perino disse que "um homem atirando seus sapatos não representa o povo iraquiano como todo". Apesar disso, milhares de pessoas saíram as ruas para pedir que ele fosse solto.

Se condenado ao crime de insultar um líder estrangeiro e o primeiro-ministro, al-Zaidi pode ser condenado a até dois anos de prisão e a pagar uma pequena multa. É improvável que ele seja condenado à pena máxima, devido ao status de celebridade que adquiriu no Oriente Médio após o incidente. Khalil al-Duleimi, um dos advogados de defesa de Saddam Hussein, ofereceu representar al-Zaidei, mas este recusou. Dheyaa al-Saadi, chefe da união dos advogados do Iraque, acabou sendo escolhido para defender al-Zaidi. No dia 17 de dezembro, al-Zaidi apareceu perante um júri, negando rumores de que teriam desaparecido com ele.

Acusação de espancamento

editar

De acordo com uma testemunha, al-Zaidi foi "brutalmente espancado" pelos seguranças do primeiro-ministro após ter sido levado para fora da sala onde acontecia a conferência. Enquanto al-Zaidi gritiva, Bush dizia "é isso o que fazem as pessoas em uma sociedade livre, chamam atenção para si mesmas". De acordo com o jornal francês Le Figaro, uma grande trilha de sangue podia ser vista no tapete. A emissora Afaq TV noticiou que os seguranças teriam chutado e espancado al-Zaidi. A família do jornalista disse ter recebido muitos telefonemas intimidadores.

Al-Zaidi foi levado em custódia pelo Serviço Secreto dos Estados Unidos e pela polícia iraquiana. Testaram-no para álcool e drogas e seus sapatos foram confiscados como prova do "crime". Al-Zaidi foi interrogado para assegurar que ninguém o pagou para jogar os sapatos em Bush. De acordo com uma entrevista do irmão de al-Zaidi, Durgham al-Zaidi, a BBC, o jornalista teve uma mão e as costelas quebradas, uma hemorragia interna e uma lesão no olho. Durgham al-Zaidi afirmou a Al Jazeera que o irmão foi torturado. De acordo com a Al-Baghdadia, al-Zaidi foi "seriamente ferido" durante sua prisão. Entretanto, de acordo com outro irmão do jornalista, Maitham al-Zaidi, Muntadhar lhe disse ao telefone que estava bem de saúde.

Incidente em Paris

editar

Em 1 de dezembro de 2009, Muntadhar al-Zaidi foi vítima de incidente igual ao por ele provocado. Ao dar entrevista sobre a condição de trabalho de jornalistas no Iraque, foi surpreendido pelo arremesso de um sapato contra sua pessoa. O atirador do sapato foi ninguém menos que outro jornalista iraquiano, este exilado na França, que saiu sorrindo e dizendo palavras de apoio à ocupação americana no Iraque.[1]

Notas e referências

Notas

Referências

Ligações externas

editar