Novy Mir (em russo: Новый мир; romaniz.: Novyi Mir, significando em português "Novo Mundo") é uma revista grossa mensal em língua russa.[1]

História

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Novy Mir é publicada em Moscou desde janeiro de 1925.[1][2] A revista foi criada com inspiração na popular revista literária pré- soviética Mir Bozhy ("Mundo de Deus"), que foi publicada de 1892 a 1906, e na sua continuação, Sovremenny Mir ("Mundo Contemporâneo"), que foi publicada de 1906 a 1917.

A primeira editoria de Simonov (1946-1950)

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O escritor russo Konstantin Simonov se tornou Editor em Chefe em 1946, e recebeu permissão de Stalin para aumentar o número de páginas da revista, mas teve negado um pedido para aumentar o número de volumes em circulação. Ele também pediu permissão para publicar histórias de Mikhail Zoshchenko, que tinha apenas sofrido perseguição durante a Doutrina Zhdanov. Em 1948, ele publicou Longe de Moscou, de Valeri Azhaev, que se tornou um clássico do socialismo realismo. O romance desde então foi reavaliado, com a descoberta de um código secreto nos arquivos do autor pelo historiador alemão Thomas Lahusen.[3]

Em 1950, Simonov deixou a Novyi Mir para assumit a editoria de outra revista grossa, Literaturnaya Gazeta.[4]

A primeira editoria de Tvardovski (1950-1954)

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O poeta russo Aleksandr Tvardovski assumiu a editoria da revista Novyi Mir em 1950, e modificou o seu perfil cultural, publicando obras mais arriscadas, e que foram consideradas como dissidentes pelo governo. A sua influência foi tamanha que a historiadora francesa Cecile Vaissié alegou que sem ele, os anos 60 na Rússia teriam sido radicalmente diferentes.[5]

Durante a primeira editoria de Tvardovsky, ele enfrentou duas grandes controvérsias, devido à publicação do romance Por uma Causa Justa, de Vasili Grossman, e do artigo Sobre Sinceridade na Literatura, de Vladimir Pomerantsev. O artigo, principalmente, foi visto como um ataque ao Realismo Socialista, que seria desprovido de sinceridade. Depois das duas polêmicas, Tvardovski foi removido como Editor-em-Chefe, e Simonov retornou ao posto.[4]

A segunda editoria de Simonov (1954-1957)

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A publicação mais famosa da segunda editoria de Simonov foi o romance Nem Só de Pão Vive o Homem, de Vladimir Dudintsev.

O escândalo da publicação de Doutor Jivago também atingiu a revista. Boris Pasternak tinha submetido o manuscrito à Novyi Mir, e meses depois recebeu a notícia que eles resolveram não publicar o romance. Quando ele foi publicado pela editora Feltrinelli, em Milão, e o autor começou a ser atacado pela imprensa soviética, a Novyi Mir recebeu centenas de cartas de leitores a esse respeito.[6] Alguns leitores condenaram a revista por ter aceito outros trabalhos de Pasternak, enquanto outros condenaram a decisão, declarando que o público soviético era maduro o bastante para ler uma crítica da Revolução de 1917. Essas cartas se tornaram famosas entre a intelligentsia soviética, já que os autores não tinham lido o romance, gerando a expressão "Eu não li, mas quero opinar" (em russo: Не читал, но скажу).[7] A revista publicou na íntegra a carta de rejeição a Doutor Jivago, tentando se distanciar da polêmica.

A segunda editoria de Tvardovski (1957-1970)

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Tvardovski aceitou retornar à revista com a condição de poder escolher o seu conselho editorial. À partir desse momento, ele perseguiu uma política ainda mais liberal.[4]

Em Novembro de 1962, a revista publicou o romance Um Dia na Vida de Ivan Denisovich, de Aleksandr Soljenitsin. A publicação causou uma reação enorme do público, que enviou centenas de cartas à redação. Eles também receberam centenas de memórias e romances sobre o GULAG, recusando a publicação de vários outras obras que depois se tornaram simbólicas do período, como Sofia Petrovna, de Lidiia Chukovskaia, e Into the Whirlwind, de Evgenia Ginzburg.[8]

O julgamento dos escritores Andrei Siniavskii e Yuli Daniel, considerado um dos eventos que pôs fim ao Degelo de Khrushchev, também afetou a revista, já que Siniavskii era membro do corpo editorial e amigo de Tvardovskii. A revista também publicou uma carta aberta de Larisa Bogoraz, esposa de Daniel, e famosa ativista pelos direitos humanos.[4]

Em 66, outra controvéria envolveu a publicação de Lendas e Fatos da História Soviética, que questionava a historicidade de vários mitos fundadores da União Soviética, como o salvo do navio Aurora, as batalhas de Pskov e Narva durante a Segunda Guerra, e os 28 Panflovitas, a história de 28 soldados que cometeram uma ação suicida para parar tanques alemães durante a Segunda Guerra, que ele apontou como uma fabricação.[4]

Em 1970, Tvardovskii perdeu a editoria da Novyi Mir. Ele faleceu pouco tempo depois.

Estagnação e Perestroika

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Com a nomeação de Sergey Zalygin em 1986, no início da perestroika, a revista praticou críticas cada vez mais ousadas ao governo soviético, incluindo figuras como Mikhail Gorbachev . Também publicou ficção e poesia de escritores anteriormente proibidos, como George Orwell, Joseph Brodsky e Vladimir Nabokov .

Editores-chefes

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  • Ivan Skvortsov-Stepanov (1925–1926)
  • Viatcheslav Polonsky (1926–1931)
  • Ivan Gronsky (1931–1937)
  • Vladimir Stavsky (1937–1941)
  • Vladímir Shcherbina (1941–1946)
  • Konstantin Simonov (1946–1950)
  • Aleksandr Tvardovski (1950–1954)
  • Konstantin Simonov (1954–1957)
  • Aleksandr Tvardovski (1958–1970)
  • Valéry Kosolapov (1970–1974)
  • Sergei Narovchatov (1974–1981)
  • Vladimir Karpov (1981–1986)
  • Serguei Zalygin (1986–1998)
  • Andrei Vasilevsky (1998- )

Autores contemporâneos

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Hoje, a Novy Mir é considerada uma das principais revistas literárias russas e é conhecida por ter uma orientação liberal.

Referências

  1. a b The Europa World Year: Kazakhstan - Zimbabwe. [S.l.]: Taylor & Francis. 2004. ISBN 978-1-85743-255-8. Consultado em 27 de julho de 2016 
  2. Ludmilla B. Turkevich (outono de 1958). «Soviet Literary Periodicals». Books Abroad. 32 (4): 369–374. JSTOR 40097964. doi:10.2307/40097964 
  3. Lahusen, Thomas (1997). How life writes the book: real socialism and socialist realism in Stalin's Russia 1. publ ed. Ithaca, NY: Cornell Univ. Press 
  4. a b c d e Kozlov, Denis Anatolʹevič (2013). The readers of Novyi Mir: coming to terms with the Stalinist past. Cambridge (Mass.): Harvard university press 
  5. Vaissié, Cécile; Lefort, Claude (2008). Les ingénieurs des âmes en chef: littérature et politique en URSS, 1944-1986. Paris: Belin 
  6. Mancosu, Paolo (2016). Zhivago's secret journey: from typescript to book. Col: Hoover Institution Press publication. Stanford, California: Hoover Institution Press, Stanford University 
  7. Kozlov, D. A. (Denis Anatolʹevich) (2006). «"I Have Not Read, but I Will Say": Soviet Literary Audiences and Changing Ideas of Social Membership, 1958-66». Kritika: Explorations in Russian and Eurasian History (3): 557–597. ISSN 1538-5000. doi:10.1353/kri.2006.0039. Consultado em 7 de novembro de 2024 
  8. Денис, Козлов (2011). «Отзывы советских читателей 1960-х гг. На повесть А. И. Солженицына «Один день Ивана Денисовича»: свидетельства из архива «Нового мира» (часть II)». Consultado em 7 de novembro de 2024