Obras baseadas em sonhos
Em várias ocasiões ao longo da história, os sonhos foram creditados como inspiração para diversos trabalhos criativos e descobertas científicas.
Livros e Poesia
editarKubla Khan
editarSamuel Taylor Coleridge escreveu Kubla Khan (concluído em 1797 e publicado em 1816) ao acordar de um sonho influenciado por ópio.[1] Em um prefácio à obra, o escritor descreveu que o poema chegou até ele totalmente concluído, durante um sonho. Desperto, Coleridge começou imediatamente a escrevê-lo, mas foi interrompido por um visitante e não conseguiu se lembrar dos últimos versos. Por isso, manteve-o inédito por muitos anos.[2][3]
Frankenstein
editarSegundo a introdução de sua obra prima Frankenstein ou o Prometeu moderno (1818), a autora inglesa Mary Shelley também teria sido inspirada por um sonho[4] para compor a medonha relação entre criador e criatura:
Coloquei a cabeça sobre o travesseiro, mas não consegui dormir, nem poderia dizer que estivesse pensando. Minha imaginação, solta, possuía-me e guiava-me, dotando as sucessivas imagens que se erguiam em minha mente de uma clareza que ia além dos habituais limites do sonho. Eu via – com os olhos fechados, mas com uma penetrante visão mental –, eu via o pálido estudioso das artes profanas ajoelhado junto à coisa que ele tinha reunido.[5]
O Estranho caso do Dr. Jekyll e Mr. Hyde
editarTambém conhecido como "O Médico e o Monstro",[6][7] a obra de Robert Louis Stevenson, segundo sua esposa, também nasceu de um sonho:
Nas primeiras horas de uma manhã, fui acordada por gritos de terror de Louis. Achando que ele teve um pesadelo, eu o acordei. Ele disse com raiva: ‘por que você me acordou? Eu estava sonhando com uma bela história de bicho-papão.’ Eu o havia acordado na primeira cena de transformação.[8]
Tintim no Tibete
editarQuando questionado sobre o valor psicológico da neve em Tintim no Tibete, Hergé relatou:
Naquela época, eu estava passando realmente por uma crise e meus sonhos eram quase sempre sonhos em branco. E eles eram muito assustadores. Como eu tomava nota, lembro-me de um deles onde estava numa espécie de torre composta por rampas sucessivas. Folhas mortas caíam e cobriam tudo. A certa altura, numa espécie de alcova de brancura imaculada, apareceu um esqueleto todo branco e tentou me agarrar. E instantaneamente, ao meu redor, o mundo ficou branco, branco. E eu fugi, uma fuga desesperada…[9]
Música
editar(I Can't Get No) Satisfaction, The Rolling Stones
editarKeith Richards, lendário guitarrista dos Rolling Stones conta ter sonhado com o marcante riff do clássico (I Can't Get No) Satisfaction.[10] Logo após ter sonhado, Richards acordou, pegou sua guitarra e gravou o riff com que havia sonhado.[11][12][13]
Yesterday, The Beatles
editarPaul McCartney conta que a melodia da clássica canção dos Beatles "Yesterday" nasceu de um sonho[14] que teve:
'Yesterday' veio do nada, não faço ideia de onde. Sonhei com a melodia. Acordei e tinha a melodia na minha cabeça. Depende de quão longe você quer ir com isso; se você é mais espiritual, então Deus me enviou uma melodia, eu sou um mero veículo. Se você quer ser um pouco mais cínico, então eu estava carregando meu computador por milhões de anos ouvindo todas as coisas que eu ouvia através do meu pai e através dos meus gostos musicais, incluindo pessoas como Fred Astaire, Gershwin e, finalmente, meu computador imprimiu certa manhã, o que ela achava ser uma boa música.[15]
Ver também
editarReferências
- ↑ RUDICH, Norman (1974). ««Kubla Khan», a political poem». Romantisme : Revue de la Société des Études Romantiques (em inglês) (8). Écriture et désir. p. 39. Consultado em 13 de agosto de 2022.
The basic lines of my interpretation of Kubla Khan were worked out independently of J.B. Beer's Coleridge the Visionary, which presents by far the most coherent and scholarly analysis to date. He demonstrates convincingly that the poem is no mere collection of flamboyant images inspired by an opium dream and held together by word-music.
- ↑ COLERIDGE, Samuel Taylor (2015). Kubla Khan (em inglês). New York, NY: HarperPerennial Classics. OCLC 932258019
- ↑ KOENIG-WOODYARD, Chris (15 de agosto de 1999). EBERLE-SINATRA, Michael, ed. «sex—text: "Christabel" and the Christabelliads». Romanticism on the Net (em inglês) Romantic Parody ed. Université de Montréal. ISSN 1467-1255. Consultado em 13 de agosto de 2022. Cópia arquivada em 13 de agosto de 2022.
Coleridge writes that "the poet does not require us to be awake and believe; he solicits us only to yield to a dream; and this too with our eyes open." Here, dreaming furnishes Coleridge with a metaphor to describe the phenomenological process by which readers can be drawn into the fictive and linguistic worlds of literature. The dream metaphor (and Coleridge's more general use of dreaming as an explanatory metaphor in Biographia Literaria) informs Moir's sardonic attitude toward Coleridge's claims for compositions like "Kubla Khan" that came to him while sleeping. A result of such dream-inspired composition is that Coleridge's writings are indecipherable, mixing prose and poetry unsuccessfully and "inextricably."
- ↑ POMIAN, Joanna (1991). «Le monstre de Victor Frankenstein : une créature communicante». Quaderni (em francês) (18) Organisme : modèle pour la communication ? ed. Les éditions de la Maison des sciences de l'homme. p. 41. ISSN 2105-2956. Consultado em 13 de agosto de 2022.
C'est au cours de leur seconde excursion sur le continent, en 1816 après la mort de son premier enfant, que Mary Shelley écrit Frankenstein, dans un contexte désormais célèbre. Arrêtés en Suisse, voisins de Byron et bloqués par la pluie, les membres du petit groupe composé de Mary Shelley, son mari et la demi-sœur de Mary, de Byron et de son médecin personnel, se lancent sur l'injonction de Byron dans l'écriture d'une histoire de fantômes». Après avoir longtemps cherché son inspiration, Mary Shelley, influencée par un rêve, mais aussi par les discussions et lectures qui avaient alors lieu entre les membres du groupe, commence à écrire Frankenstein, qu'elle finira un an plus tard.
- ↑ SHELLEY, Mary (julho de 2010). Frankenstein. Col: L&PM Pocket. 54. Traduzido por Miércio Araujo Jorge Honkins. 2ª ed. Porto Alegre: L&PM Editores. p. 9. 256 páginas. ISBN 978-85-254-0661-3. OCLC 1104484466
- ↑ STEVENSON, Robert Louis (2015). O Médico e o Monstro. Traduzido por Jorio Dauster. 1ª ed. São Paulo: Penguin-Companhia das Letras. 160 páginas. ISBN 978-8582850138
- ↑ STEVENSON, Robert Louis (2011). O Estranho caso do Dr. Jekyll e Mr. Hyde. Traduzido e organizado por Braulio Tavares. 1ª ed. São Paulo: Editora Hedra. 176 páginas. ISBN 978-8577152629
- ↑ STEVENSON, Robert Louis (2015). Complete works of Robert Louis Stevenson (Livro digital) (em inglês). CsornaSussex Oriental, Reino Unido: Delphi Classics. 11.247 páginas. ISBN 9781908909169. OCLC 949929865.
A subject much in his thoughts at this time was the duality of man's nature and the alternation of good and evil; and he was for a long while casting about for a story to embody this central idea. Out of this frame of mind had come the sombre imagination of “Markheim,” but that was not what he required. The true story still delayed, till suddenly one night he had a dream. He awoke, and found himself in possession of two, or rather three, of the scenes in The Strange Case of Dr. Jekyll and Mr. Hyde. Its waking existence, however, was by no mear.. without incident. He dreamed these scenes in considerable detail, including the circumstance of the transforming powders, and so vivid was the impression that he wrote the story off at a red heat, just as it had presented itself to him in his sleep. “In the small hours of one morning,” says Mrs. Stevenson, “I was awakened by cries of horror from Louis. Thinking he had a nightmare, I awakened him. He said angrily: ‘Why did you wake me? I was dreaming a fine bogey tale.’ I had awakened him at the first transformation scene.”
- ↑ SADOUL, Numa (2003). Tintin et moi : entretiens avec Hergé (em francês). Paris: Flammarion. p. 111. 301 páginas. ISBN 978-2080800527. OCLC 51612694.
SADOUL : Dans Le Tibet, la neige est considérée comme une chose étouffante, dangereuse, tout comme l'avalanche qui guette les personnages. HERGÉ : C'est bien ça. A cette époque, je traversais une véritable crise et mes rêves étaient presque toujours des rêves de blanc. Et ils étaient très angoissants. J'en prenais d'ailleurs note et je me souviens de l'un d'eux où je me trouvais dans une espèce de tour constituée de rampes successives. Des feuilles mortes tombaient et recouvraient tout. A un certain moment, dans une sorte d'alcôve d'une blancheur immaculée, est apparu un squelette tout blanc qui a essayé de m'attraper. Et à l'instant, tout autour de moi, le monde est devenu blanc, blanc. Et j'ai pris la fuite, une fuite éperdue... Quand le docteur Ricklin a pris connaissance de ce rêve et de quelques autres, il m'a conseillé d'interrompre mon travail…
- ↑ ANDERSON, Stacey (9 de maio de 2011). «When Keith Richards Wrote '(I Can't Get No) Satisfaction' In His Sleep». Rolling Stone (em inglês). Consultado em 14 de agosto de 2022. Cópia arquivada em 13 de outubro de 2021
- ↑ ANDERSEN, Christopher P. (2012). Mick : the wild life and mad genius of Jagger (em inglês) 1st Gallery books hardcover ed. New York: Gallery Books. 384 páginas. ISBN 9781451661460. OCLC 759913238.
All would pale in comparison to the 1965 Rolling Stones release that many would consider the greatest rock-and-roll song ever written. The melody for “(I Can't Get No) Satisfaction” came to Keith Richards in a dream on the night of May 9. He woke up in his flat in Carlton Hill, St. John's Wood, grabbed his guitar, and recorded the riff. Then he dropped his guitar pick and fell back to sleep. The next morning, Richards, who had been ingesting copious amounts of cocaine and amphetamines to stay awake, woke up and remembered nothing. But he noticed that the new tape he had put in his portable Philips cassette player the night before had run to the end. “Then I pushed rewind, and there was ‘Satisfaction,’” he recalled. That, and forty minutes of Richards snoring.
- ↑ HANLEY, Jason (2015). We rock! : a fun family guide for exploring rock music history (em inglês). Beverly, Massachusetts: Quarry Books. p. 27. 152 páginas. OCLC 896372096.
This song has an excitement to it that has not faded over the years. I think it has to do with the opening guitar riff played by Keith Richards one he claimed came to him in a dream, but also bears a striking resemblance to the horn part of Martha and the Vandellas’ “Nowhere to Run” (1965). It's only three notes played with some fuzz box distortion to give the notes a ragged edge, but it grabs your attention right away with its attitude. Then there are the lyrics. We've all felt at one point in our lives that we couldn't be satisfied, that we were stuck in a rut. Mick Jagger takes this general feeling and connects it to the overall sense of angst that teenagers were feeling in the mid-1960s, and the rise of commercialism in society.
- ↑ BERKMANN, Marcus (2021). Berkmann's pop miscellany : sex, drugs and cars in swimming pools (em inglês). Londres: Brown Book Group. 336 páginas. ISBN 9781408713846. OCLC 1246537541.
On 6 May 1965, the Rolling Stones were on their third US tour and staying in a motel in Clearwater, Florida. Keith Richards called Mick Jagger to his room and played him a guitar riff that had come to him in a dream. He had woken up in the middle of the night, switched on the tape machine he kept next to his bed and recorded it. On the tape you could hear him drop the plectrum and the rest of the tape was Keith snoring. Something else had come to him in the dream as well. “The words that go with this are ‘I can't get no satisfaction’,” said Keith. The record was in the shops exactly three weeks later.
- ↑ EVERETT, Walter; RILEY, Tim (2019). What goes on : the Beatles, their music, and their time (em inglês). Nova Iorque, NY: Oxford University Press. p. 112. 296 páginas. ISBN 9780190949877. OCLC 1055569834
- ↑ McINTYRE, Phillip; THOMPSON, Paul (2021). «Paul McCartney and the Creation of 'Yesterday'». Paul McCartney and his creative practice : the Beatles and beyond (em inglês). Paul Thompson. Cham, Switzerland: Springer International Publishing. p. 82. 304 páginas. ISBN 9783030791001. OCLC 1264401527.
'Yesterday' came out of the blue, I've no idea where from. I dreamed the melody. I woke up and I had the melody in my head. It depends how far you want to go with this; if you're very spiritual then God sent me a melody, I'm a mere vehicle. If you wanna be a bit more cynical, then I was loading my computer for millions of years listening to all the stuff I listened to through my dad and through my musical tastes, including people like Fred Astaire, Gershwin, and finally my computer printed out one morning what it thought was a good tune.