Pacu-capivara
Ossubtus é um gênero de peixe da família dos serrasalmídeos (Serrasalmidae). Contém uma única espécie, o pacu-capivara[2][3] (nome científico: Ossubtus xinguense), também referido popularmente como pacu-papagaio[4] ou pacu-bico-de-águia.[5] A espécie é endêmica de corredeiras na bacia do Rio Xingu, na Amazônia brasileira.[1] É considerada ameaçada de extinção. É principalmente herbívora.[6]
Pacu-capivara | |||||||||||||||
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Estado de conservação | |||||||||||||||
Vulnerável [1] | |||||||||||||||
Classificação científica | |||||||||||||||
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Nome binomial | |||||||||||||||
Ossubtus xinguense Jégu, 1992 |
Etimologia
editarO nome do gênero Ossubtus deriva do latim os, "osso", e sub, "sob".[7] Pacu, que é uma designação comum de vários peixes do Brasil, deriva, segundo o Vocabulário Tupi-Guarani português de Silveira Bueno, do tupi *pa'ku, que teria sido formado por pag e u com sentido de "rápido no comer". O termo foi registrado em 1777 como pacú.[8] Por sua vez, capivara deriva do tupi kapii'gwara, formado por ka'pii, "capim", e 'gwara, "comedor". Hans Staden registrou o termo como cativare em alemão em seu Duas Viagens ao Brasil de 1557. O termo também ocorreu em 1560 como capiĩvára, em ca. 1584 como capijuara, em 1587 como capibara, em ca. 1607 como capivara e 1627 como capijguara.[9]
Taxonomia
editarA espécie foi descrita por Michel Louis Arthur Marie Ange François Jégu em 1992, que se baseou em espécimes de corredeiras do rio Xingu, em local próximo à cidade de Altamira, no Pará. Em 2016, o gênero foi reescrito por Andrade et al., que considerou que pode ser diferenciado dos demais serrasalmídeos por conta de sua boca subinferior a inferior, bem como por seus dentes incisiformes.[10]
Descrição
editarO corpo do pacu-capivara é de forma ovoide. Se assemelha ao do roedor capivara (Hydrochoerus hydrochaeris), o que justifica seu nome popular. Possui um perfil ventral reto ou ligeiramente côncavo. O focinho tem curvatura muito pronunciada.[10] Em peixes jovens, a boca é terminal (apontando para frente); porém, à medida que o peixe cresce, a boca se volta para baixo e torna-se estritamente ventral em indivíduos com mais de cinco centímetros (duas polegadas). Isso dá à boca uma aparência de bico.[11][12] É uma espécie de porte médio.[10] Pode chegar a 25 centímetros (10 polegadas) de comprimento total e cerca de 380 gramas (13 onças) em peso.[7][13]
As cores podem variar no decorrer da vida. Os mais jovens possuem uma coloração verde-oliva, tendo um dorso ligeiramente mais escuro, e uma mancha umeral iridescente. Quando adulto, a cor do fundo do corpo muda de verde-oliva para marrom, enquanto perde a iridescência da mancha umeral e passa a ter manchas escuras irregulares em todo o corpo.[10] As formas corporais de jovens, fêmeas e machos são semelhantes. Por outro lado, a espécie apresenta dimorfismo sexual, com os machos maduros tendo nadadeira anal bilobada e as fêmeas nadadeira anal com margem distal côncava.[10] Outro estudo de 2014 revelou que os machos eram maiores que as fêmeas, embora pesassem menos.[14]
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Peitoral
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Pélvica
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Crânio
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Cauda
Distribuição e habitat
editarO pacu-capivara é restrito a corredeiras na bacia do rio Xingu, na Amazônia brasileira. Sua existência foi confirmada na Volta Grande do Xingu, no baixo rio Xingu, e no baixo rio Iriri, perto de sua confluência com o Xingu, mas possivelmente também ocorre mais além desses rios (talvez até São Félix do Xingu).[6][15] Esta espécie é estritamente reofílica e encontrada em corredeiras, mas prefere fendas rochosas protegidas e cobertas por Podostemaceae.[6] Jovens de até quatro centímetros (1,6 polegada) podem ser observados em cardumes de 20–30 indivíduos, abrigados sob pedras largas.[11]
Comportamento
editarA espécie é principalmente herbívora e uma análise da dieta de dez espécimes revelou principalmente material vegetal, mas também quantidades menores de macroinvertebrados.[6]
Parasitas
editarÉ parasitado por Anphiira xinguensis, um isópodo da família dos cimotoídeos (Cymothoidae). Este parasita só é conhecido no pacu-capivara, onde vive na câmara branquial do peixe e desenvolve uma morfologia contorcida, presumivelmente em resposta à ontogenia cursiva do seu hospedeiro.[16] Os intestinos também são comumente infestados com Rondonia rondon, um nematoide que possivelmente é simbiótico em vez de parasita. A doença da mancha preta é encontrada na maioria dos pacus-capivara.[6]
Conservação
editarDe acordo com a União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN / IUCN), o pacu-capivara é um peixe classificado como "vulnerável".[1] Em 2007, a espécie foi classificada como vulnerável na Lista de espécies de flora e fauna ameaçadas de extinção do Estado do Pará;[17] como vulnerável na Portaria MMA N.º 444 de 17 de dezembro de 2014;[18] em 2018, como vulnerável no Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio);[3] e como vulnerável no anexo três (peixes) da Lista Oficial da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção da Portaria MMA Nº 148, de 7 de junho de 2022.[19][20] Uma revisão em 2016 sugeriu que é mais difundido do que se acreditava e sua raridade histórica como espécimes de museu em parte pode ser explicada por seu habitat (corredeiras), que são difíceis de amostrar, mas permanecem ameaçados por barragens como a de Belo Monte.[6][5] No ano anterior, em 2015, um estudo da Universidade Federal do Pará indicou que a espécie não corria risco de extinção, pois seu habitat é mais amplo que o esperado.[21]
Referências
- ↑ a b c Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) (2021). «Ossubtus xinguense». Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas. 2021: e.T140552163A140552167. Consultado em 18 de abril de 2023
- ↑ Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção (PDF). Brasília: Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Ministério do Meio Ambiente. 2016. Cópia arquivada (PDF) em 14 de junho de 2022
- ↑ a b «Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção» (PDF). Brasília: Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Ministério do Meio Ambiente. 2018. Consultado em 3 de maio de 2022. Cópia arquivada (PDF) em 3 de maio de 2018
- ↑ «Introduction». piranha-info. Consultado em 18 de abril de 2023. Cópia arquivada em 4 de outubro de 2022
- ↑ a b Hyland, T.; Perez, M. H. Sabaj. «Race against time». Excel Magazine. Consultado em 8 de outubro de 2017. Cópia arquivada em 17 de outubro de 2022
- ↑ a b c d e f Andrade, Marcelo C.; Sousa, Leandro M.; Ota, Rafaela P.; Jégu, Michel; Giarrizzo, Tommaso (2016). «Redescription and geographical distribution of the endangered fish Ossubtus xinguense Jégu 1992 (Characiformes, Serrasalmidae) with comments on conservation of the rheophilic fauna of the Xingu River». PLOS ONE. 11 (9): e0161398. doi:10.1371/journal.pone.0161398
- ↑ a b «Ossubtus xinguense Jégu, 1992». FishBase. Consultado em 26 de abril de 2023. Cópia arquivada em 26 de abril de 2023
- ↑ Grande Dicionário Houaiss, verbete pacu
- ↑ Grande Dicionário Houaiss, verbete capivara
- ↑ a b c d e Boletim Sociedade Brasileira de Ictiologia (SBI) (PDF). São Carlos, São Paulo: Secretaria de Aquicultura e Pesca. 2021. ISSN 1808-1436. Cópia arquivada (PDF) em 20 de janeiro de 2022
- ↑ a b Jégu, Michel; Zuanon, Jansen (2005). «Threatened fishes of the world: Ossubtus xinguense (Jégu 1992) (Characidae: Serrasalminae)». Environmental Biology of Fishes. 73 (4): 414–414. doi:10.1007/s10641-004-4230-5. Cópia arquivada em 26 de abril de 2023
- ↑ «Ossubtus xinguense, Parrot Pacu». www.opefe.com. Consultado em 18 de abril de 2023. Cópia arquivada em 22 de janeiro de 2022
- ↑ «Ossubtus xinguense Jégu 1992 - Encyclopedia of Life». Encyclopedia of Life. Consultado em 18 de abril de 2023. Cópia arquivada em 4 de março de 2023
- ↑ «Length-weight relationships and condition factor of the eaglebeak pacu Ossubtus xinguense Jégu, 1992 (Characiformes, Serrasalmidae), an endangered species from Rio Xingu rapids, northern Brazil». Universidade Federal do Pará. Grupo de Ecologia Aquática, Laboratório de Biologia Pesqueira e Manejo dos Recursos Aquáticos. 19 de maio de 2014. Consultado em 18 de abril de 2023. Cópia arquivada em 18 de abril de 2023
- ↑ «Estudo sobre o peixe Ossubtus xinguense publicado na PLoS ONE». ppgeap.propesp.ufpa.br. Consultado em 18 de abril de 2023. Cópia arquivada em 27 de julho de 2017
- ↑ Thatcher, Vernon E. (1995). «Anphiira xinguensis sp. nov. (Isopoda, Cymothoidae) a gill chamber parasite of an Amazonian serrasalmid fish, Ossubtus xinguense Jegu, 1992» (PDF). Amazoniana. 13 (3/4): 293–304. Cópia arquivada (PDF) em 4 de março de 2023
- ↑ Extinção Zero. Está é a nossa meta (PDF). Belém: Conservação Internacional - Brasil; Museu Paraense Emílio Goeldi; Secretaria do Estado de Meio Ambiente, Governo do Estado do Pará. 2007. Consultado em 2 de maio de 2022. Cópia arquivada (PDF) em 2 de maio de 2022
- ↑ «PORTARIA N.º 444, de 17 de dezembro de 2014» (PDF). Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMbio), Ministério do Meio Ambiente (MMA). Consultado em 24 de julho de 2021. Cópia arquivada (PDF) em 12 de julho de 2022
- ↑ «Portaria MMA N.º 148, de 7 de junho de 2022» (PDF). Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Ministério do Meio Ambiente (MMA). Consultado em 14 de abril de 2023. Cópia arquivada (PDF) em 1 de março de 2023
- ↑ «Ossubtus xinguense Jégu, 1992». Sistema de Informação sobre a Biodiversidade Brasileira (SiBBr). Consultado em 13 de abril de 2023. Cópia arquivada em 9 de julho de 2022
- ↑ «Estudo comprova que espécie de peixe ameaçada não corre risco». G1. 13 de julho de 2015. Consultado em 18 de abril de 2023. Cópia arquivada em 23 de março de 2018