Palácio de Omortague
O Palácio de Omortague ou Aul (Aula) de Omortague (em búlgaro: Аул на Омуртаг; romaniz.: Aul na Omurtag) é um sítio arqueológico localizado no nordeste da Bulgária, perto da vila de Han Krum na província de Shumen, e que remonta à Antiguidade Tardia e à Alta Idade Média. O sítio tem sido considerado como o local do forte e palácio de Omortague, canasubigi do Primeiro Império Búlgaro entre 815 e 831, conforme menção na Inscrição de Chatalar de 822. Estruturas mais antigas nas redondezas do forte foram identificadas como sendo a sé episcopal ariana de um bispo gótico.
Palácio de Omortague Aula de Omortague Аул на Омуртаг | |
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Ruínas do Palácio de Omortague | |
Localização atual | |
Localização do Palácio de Omortague na Bulgária | |
Coordenadas | 43° 11′ 07″ N, 26° 53′ 54″ L |
País | Bulgária |
Província | Shumen |
Área | 0,2 084 km² |
Dados históricos | |
Fundação | Antiguidade Tardia |
Abandono | século X |
Império | Primeiro Império Búlgaro |
Vila | Han Krum |
Notas | |
Escavações | 1957 |
Sé episcopal gótica
editarAs mais antigas ruínas no sítio do Palácio de Omortague incluem quatro igrejas, duas das quais construídas construídas sobre as outras duas, um banho e muralhas fortificadas, tudo datando da Antiguidade Tardia (entre 250 e 650). Três das igrejas e o banho estão fora da fortificação medieval, enquanto que uma das igrejas e traços das muralhas antigas estão dentro. Arqueologistas e estudiosos ligam as antigas ruínas ao assentamento de federados godos arianos na região e, especificamente, ao bispo gótico do século IV Úlfilas (Wulfila). Sabe-se que ele se mudou para o norte da moderna Bulgária com seus seguidores e traduziu a Bíblia para a língua gótica em Nicópolis do Danúbio. Acredita-se que as quatro igrejas góticas tenham sido destruídas durante as sucessivas incursões hunas.[1]
Uma pequena igreja escavada em 1976 foi identificada pelo consultor Todor Balabanov como sendo a igreja pessoal de um poderoso godo, possivelmente Úlfilas. Acredita-se que os parcamente preservados afrescos na igreja sejam os mais antigos da Bulgária. Próximo da igreja foi construída uma basílica maior, que se acredita ser a sé episcopal ariana.[2] Um edifício quase quadrado medindo 27,9 x 26 m tem três naves e uma abside com duas alas. Sobre as ruínas da basílica está um edifício octogonal com uma abside na face norte. Balabanov alega que ele seria um mausoléu e compara-o com o Mausoléu de Teodorico em Ravena.[1][3]
Na década de 2000, pesquisadores escavaram diversas covas góticas na região. Entre os artefatos encontrados estavam kits médicos, uma cota de malha e joias germânicas características, incluindo fivelas e fíbulas (broches) decoradas em ouro, pedras preciosas e temas zoomórficos.[3] Em uma das covas foram encontrados os restos de uma mulher com uma deformação craniana artificial típica dos nobres góticos, sármatas e búlgaros.[1]
Palácio e forte búlgaros
editarHistória e escavação
editarA Inscrição de Chatalar, um epigrafo búlgaro escrito numa coluna em grego medieval, foi escavada em 1905 na vila de Han Krum (conhecida na época como Chatalar). O texto indica que o canasubigi Omortague construiu um aula com quatro colunas encimado por duas esculturas de leões próximo ao rio Ticha.[4] Os primeiros estudiosos a analisaram a inscrição ligaram a passagem com Preslava, a cidade que sucederia a capital de Omortague (Plisca) como centro do Império Búlgaro no final do século IX. Mais recentemente, porém, se provou conclusivamente que o aula de Omortague é o sítio em Han Krum, muito mais próximo do local onde a inscrição foi encontrada.[5] Enquanto permanece obscuro se a palavra aula deve ser interpretada como o termo grego αύλή ("palácio, corte") ou o dos nômades das estepes aul, um centro de governo fortificado, as ruínas em Han Krum se adequam perfeitamente à descrição medieval.[4]
Pesquisas arqueológicas determinaram que o sítio medieval em Han Krum permaneceu habitado por mais de 150 anos, de 822 até o final do século X, quando o forte foi arrasado. Novos edifícios foram depois construídos sobre as ruínas, o que demonstra que a população não desapareceu completamente. As escavações no Palácio de Omortague começaram em 1957 e ainda não terminaram. Desde 2000, o sítio tem sido estudado intensivamente por arqueólogos alemães e búlgaros.[6]
Arquitetura
editarA principal característica do sítio arqueológico é a muralha fortificada do início do século que circunda o palácio. Ainda que muito menores que as fortificações de Plisca, o forte em Han Krum lembra muito as muralhas defensivas da capital.[6] A fortaleza, conhecida localmente como Hisar Kale (em turco, ambas as palavras significam "castelo, forte"), mede 405 x 505 m e tem uma área total de 0,2084 km2. Diversas estruturas da mesma época também estão dentro do forte, incluindo uma fortaleza interior medindo 92,5 x 113,6 m e prédios em pedra de variada complexidade, como um banho com três cúpulas. A entrada do forte interno localizava-se na face leste.[1] Acredita-se que os edifícios dentro das muralhas tenham servido como moradia de um nobre, um palácio, embora não seja certo, do ponto de vista arqueológico, se ele é do período de Omortague ou posterior[2] Balabanov teoriza que o forte acomodava um comandante de guarnição e barracões para os soldados.[1]
Fragmentos de uma escultura de leão que originalmente tinha 1 m de altura foram encontrados dentro do forte, o que levou os pesquisadores a identificá-la como uma das duas esculturas citadas na Inscrição de Chatalar.[7] Há indícios de que um santuário pagão, no qual se realizavam sacrifícios animais, também existia no local. Carcaças de coelhos e cães enterradas no local, vasilhames medievais e pedras gessadas com sulcos para permitir que o sangue escorresse para um fosso são testemunhas disso.[1]
Acredita-se que uma quinta igreja em Han Krum, descoberta pelo arqueólogo Kremena Stoeva em 2009, seja do século X, posterior à cristianização da Bulgária. Ela tem três naves e três absides. Ela foi datada de forma conclusiva a este período com base em fragmentos de cerâmica e na arquitetura do prédio.[1]
Referências
- ↑ a b c d e f g Христова, Велиана (29 de agosto de 2009). «От епископ Вулфила до хан Омуртаг» (em búlgaro). Дума
- ↑ a b Curta, p. 195.
- ↑ a b Вагалинска, Ирина (março de 2005). «Готско сребро в аула на Омуртаг» (em búlgaro). Тема. Consultado em 11 de março de 2010
- ↑ a b Henning, p. 433.
- ↑ Curta, pp. 193–194.
- ↑ a b Henning, p. 435.
- ↑ Curta, pp. 195–196.
Bibliografia
editar- Curta, Florin; Roman Kovalev (2008). The other Europe in the Middle Ages: Avars, Bulgars, Khazars, and Cumans. [S.l.]: BRILL. pp. 193–196. ISBN 978-90-04-16389-8
- Henning, Joachim (2007). Post-Roman Towns, Trade and Settlement in Europe and Byzantium. Vol. 2, Byzantium, Pliska, and the Balkans. [S.l.]: Walter de Gruyter. pp. 433–436. ISBN 978-3-11-018358-0