Partido Renovador Democrático (Portugal)
O Partido Renovador Democrático (PRD) foi um partido português criado em 1985, cuja figura mais icónica foi Ramalho Eanes, que era na época o presidente da República e depois liderado por Hermínio Martinho.
Partido Renovador Democrático | |
---|---|
Presidente | Manuel Vargas Loureiro |
Fundador | Hermínio Martinho |
Fundação | 10 de julho de 1985 |
Dissolução | 12 de abril de 2000 (de facto) |
Sede | Lisboa, Portugal[1] |
Ideologia | Eanismo[2] Terceira via[3] Populismo[4] Social-democracia[5] |
Espectro político | Centro a centro-esquerda |
Ala de juventude | Juventude Renovadora Democrática (JRD) |
Trabalhadores | Trabalhadores Social Renovadores (TSR)[6] |
Antecessor | Comissão Nacional da Reeleição do Presidente Eanes |
Sucessor | Partido Nacional Renovador |
Grupo no Parlamento Europeu | Aliança Democrática Europeia[7] (1986-89) Grupo Socialista (1989-90) Grupo Arco-Irís[8] (1990-94) |
Cores | verde |
História
editarAproveitando os efeitos demolidores da política de austeridade posta em prática pelo governo PS–PSD (1983-1985), o PRD veio a ser o grande beneficiário da dissolução parlamentar de 1985, decidida pelo próprio general Eanes no termo do seu segundo mandato. Conseguiu obter uma votação muito próxima do PS, a quem captou eleitorado, chegando a ser o terceiro maior partido parlamentar.
Nas eleições locais de 1985 revelou fragilidades e insipiência organizativa e, nas presidenciais apoiou a candidatura de Salgado Zenha, sendo esta afastada da segunda volta. Em 1987, é o PRD que desfere o golpe mortal no governo minoritário do PSD, ao fazer aprovar uma moção de censura no Parlamento. Contudo, após a dissolução parlamentar, deu-se o quase desaparecimento do partido da Assembleia, já que não conseguiu eleger mais do que 7 deputados em lugar dos 45 que dispunha na assembleia dissolvida.
Entretanto, o próprio Ramalho Eanes assumiu a liderança do partido, liderança que pouco tempo depois abandonou em virtude do desastre eleitoral, cedendo de novo o lugar a Hermínio Martinho. Nas eleições para o Parlamento Europeu de 1989, o partido ainda fez um acordo com o PS, conseguindo eleger um deputado na lista socialista com o estatuto de independente (Pedro Canavarro). Martinho e muitos fundadores do partido afastaram-se.
Numa tentativa de refundar o projeto, um grupo de militantes que haviam constituído a Renovação 2000, liderados por Pedro Canavarro, Carlos Costa Santos (Presidente da JRD) e Jorge Larsen assumem a liderança do partido. No entanto nas eleições legislativas de 1991, o PRD, já dirigido por Canavarro, perdeu a representação parlamentar. Até à sua extinção, foi dirigido por Manuel Vargas Loureiro.
Fundado como partido de matriz centrista com inclinação à esquerda, o PRD viu o seu espectro político totalmente mudado para a extrema-direita após a aprovação de novos estatutos na VII Convenção Nacional, ao ser refundado e ver o nome alterado para Partido Nacional Renovador (PNR), refundação aprovada pelo Tribunal Constitucional em 2000[9], com a adesão de elementos do Movimento de Acção Nacional (MAN)[10].
Ideologia
editarA matriz do partido era essencialmente reformista, defendendo, de acordo com a sua Declaração de Princípios, entre outros:
- o reforço dos poderes do Presidente da República[11];
- o reforço dos poderes de fiscalização da Assembleia da República[11];
- consagração do referendo para matérias específicas[11];
- independência dos deputados[11];
- reforma do sistema judicial[11];
- a economia ao serviço das pessoas e da sociedade[11];
- planeamento da economia como sistema orientador do desenvolvimento da economia, mais propriamente na redistribuição[11];
- reforma da educação, com um novo modelo pedagógico para formar os futuros cidadãos da República[11];
- reforma da Administração Pública[11];
- formulação de uma política de juventude, voltada para ajudar os jovens no seu primeiro emprego, habitação para jovens casais, da formação cultural, intelectual e profissional[11];
- reforço das autonomias regionais dos Açores e da Madeira[11];
- introdução de formas participadas de planeamento ao nível local, regional e nacional[11];
- novo modelo de crescimento económico que não comprometa o equilíbrio ecológico[11];
- fim da dependência económica externa, nomeadamente no domínio tecnológico, alimentar, energético[11].
Facções internas
editarA partir das eleições de 1987, começaram a manifestar-se três correntes internas:
- Mais à esquerda, de base distrital: por exemplo, Jorge Pegado Liz e Magalhães Mota[12][13]
- Mais ao centro, de base nacional: por exemplo, Hermínio Martinho e José Carlos Vasconcelos[12][13]
- Mais populista: por exemplo, Sequeira Afonso[12][13]
Resultados Eleitorais
editarEleições legislativas
editarData | Líder | Cl. | Votos | % | +/- | Deputados | +/- | Status | Notas |
---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|
1985 | Hermínio Martinho | 3.º | 1 038 893 | 17,92 / 100,00 |
45 / 250 |
Apoio parlamentar | |||
1987 | António Ramalho Eanes | 4.º | 278 561 | 4,91 / 100,00 |
13,01 | 7 / 250 |
38 | Oposição | |
1991 | Pedro Canavarro | 6.º | 35 077 | 0,61 / 100,00 |
4,30 | 0 / 230 |
7 | Extra-parlamentar |
Eleições europeias
editarData | Cabeça de lista | Cl. | Votos | % | +/- | Deputados | +/- | Notas |
---|---|---|---|---|---|---|---|---|
1987 | José Medeiros Ferreira | 5.º | 250 158 | 4,44 / 100,00 |
1 / 24 |
|||
1989 | Pedro Canavarro | Nas listas do PS | 1 / 24 |
|||||
1994 | Manuel Vargas Loureiro[14] | 13.º | 5 941 | 0,20 / 100,00 |
0 / 25 |
1 |
Eleições presidenciais
editarData | Candidato apoiado |
1.ª Volta | 2.ª Volta | ||||
---|---|---|---|---|---|---|---|
Cl. | Votos | % | Cl. | Votos | % | ||
1986 | Salgado Zenha | 3.º | 1 185 867 | 20,88 / 100,00 |
Eleições autárquicas
editarData | Cl. | Votos | % | +/- | Presidentes CM | +/- | Vereadores | +/- |
---|---|---|---|---|---|---|---|---|
1985 | 5.º | 230 125 | 4,74 / 100,00 |
3 / 305 |
49 / 1 975 |
|||
1989 | 7.º | 38 452 | 0,78 / 100,00 |
3,96 | 0 / 305 |
3 | 4 / 1 997 |
45 |
1993 | 11.º | 1 455 | 0,03 / 100,00 |
0,75 | 0 / 305 |
0 / 2 006 |
4 | |
1997 | 16.º | 1 483 | 0,03 / 100,00 |
0 / 305 |
0 / 2 021 |
Municípios | 1985 | 1989 | 1993 | 1997 | ||||
---|---|---|---|---|---|---|---|---|
Abrantes | 1 / 7 |
4.º | 0 / 7 |
4.º | ||||
Almada | 1 / 11 |
3.º | ||||||
Almeirim | 3 / 7 |
1.º | 2 / 7 |
2.º | ||||
Barreiro | 1 / 9 |
4.º | 0 / 9 |
4.º | ||||
Belmonte | 2 / 5 |
1.º | PRD-MDP/CDE | |||||
Caldas da Rainha | 1 / 7 |
3.º | ||||||
Carrazeda de Ansiães | 1 / 5 |
3.º | 0 / 5 |
4.º | ||||
Cartaxo | 2 / 7 |
2.º | 0 / 7 |
4.º | ||||
Cascais | 1 / 11 |
5.º | ||||||
Castelo Branco | 1 / 7 |
2.º | 0 / 7 |
5.º | ||||
Castro Marim | 1 / 5 |
3.º | 0 / 5 |
3.º | ||||
Coimbra | 1 / 11 |
4.º | ||||||
Coruche | 1 / 7 |
3.º | ||||||
Covilhã | 1 / 7 |
4.º | PCP-PEV-PRD | |||||
Elvas | 0 / 7 |
4.º | 1 / 7 |
3.º | 0 / 7 |
4.º | 0 / 7 |
4.º |
Entroncamento | 2 / 7 |
2.º | 0 / 7 |
4.º | ||||
Figueira da Foz | 1 / 7 |
3.º | ||||||
Fundão | 1 / 7 |
3.º | ||||||
Gavião | 1 / 5 |
2.º | ||||||
Golegã | 1 / 5 |
3.º | ||||||
Lagoa | 1 / 7 |
3.º | ||||||
Lagos | 2 / 7 |
2.º | 0 / 7 |
4.º | ||||
Lamego | 3 / 7 |
1.º | ||||||
Mêda | 1 / 5 |
3.º | ||||||
Moita | 1 / 7 |
3.º | ||||||
Monforte | 1 / 5 |
2.º | ||||||
Montemor-o-Velho | 1 / 7 |
3.º | ||||||
Moura | 1 / 7 |
3.º | ||||||
Nazaré | 1 / 7 |
3.º | 1 / 7 |
4.º | ||||
Oeiras | 1 / 11 |
4.º | 0 / 11 |
7.º | ||||
Palmela | 1 / 7 |
3.º | 0 / 7 |
4.º | ||||
Ponta Delgada | 1 / 7 |
1.º | ||||||
Porto | 1 / 13 |
5.º | 0 / 13 |
5.º | ||||
Povoação | 1 / 5 |
3.º | ||||||
Salvaterra de Magos | 1 / 7 |
3.º | ||||||
Santarém | 1 / 9 |
4.º | 0 / 9 |
4.º | ||||
Setúbal | 1 / 9 |
3.º | PCP-PEV-PRD | |||||
Sintra | 1 / 11 |
4.º | 0 / 11 |
4.º | ||||
Trancoso | 1 / 7 |
3.º | ||||||
Tomar | 1 / 7 |
5.º | ||||||
Viana do Castelo | 2 / 9 |
2.º | 0 / 9 |
5.º | ||||
Vila Nova da Barquinha | 1 / 5 |
2.º | 0 / 5 |
4.º | ||||
Vila Nova de Gaia | 1 / 11 |
4.º |
Lista de presidentes
editar- Hermínio Martinho (1985-1986)
- António Ramalho Eanes (1986-1988)
- Hermínio Martinho (1988-1990)
- Pedro Canavarro (1990-1992)
- Manuel Vargas Loureiro (1992-2000)
Militantes eleitos para cargos públicos
editarLista de deputados eleitos
editarAveiro:
- Aníbal José da Costa Campos
- Rui de Sá e Cunha
Braga:
- António José Fernandes
- Sérgio Machado dos Santos
- Eurico Lemos Pires
Bragança:
- Fernando Dias de Carvalho
- António José Marques Mendes
Coimbra:
- Arménio Ramos de Carvalho
- Carlos Artur Trindade de Sá Furtado
Évora:
- Joaquim Carmelo Lobo
Faro:
- António Magalhães Barros Feu
- João Barros Madeira
Leiria:
- José Alberto Paiva Seabra Rosa
- António Lopes Marques
Lisboa:
- Carlos Jorge Mendes Corrêa Gago
- José Manuel de Medeiros Ferreira
- José Carlos Torres Matos de Vasconcelos
- Vasco da Gama Lopes Fernandes
- Joaquim Jorge de Magalhães Saraiva da Mota
- José Carlos Pereira Lilaia
- Ivo Jorge de Almeida dos Santos Pinho
- Vasco Pinto da Silva Marques
- Jorge Pegado Liz
- Manuel dos Santos Messias Silvestre
- Maria Cristina Gomes da Silva Cardoso de Albuquerque
- Alexandre Manuel da Fonseca Leite
- Carlos Alberto da Silva Narciso Martins
Porto:
- Maria da Glória Moreira da Costa Padrão e Costa Carvalho
- José da Silva Lopes
- Bártolo de Paiva Campos
- José Maria Vieira Dias de Carvalho
- Francisco Barbosa da Costa
- José Rodrigo Carneiro da Costa Carvalho
- Jaime Manuel Coutinho Gomes da Silva Ramos
- António Eduardo Andrade de Sousa Pereira
Santarém:
- Hermínio Paiva Fernandes Martinho
- Francisco Armando Fernandes
- Paulo Manuel Quintão Guedes de Campos
Setúbal:
- António Alves Marques Júnior
- Ana da Graça Carreira Gonçalves Crujeira Antunes
- José Caeiro Passinhas
- Carlos Joaquim de Carvalho Ganopa
Viana do Castelo:
- Agostinho Correia de Sousa
Viseu:
- João Teixeira Leão de Meireles
Açores:
- Roberto de Sousa Rocha Amaral
(fonte:[15])
Lisboa:
- António dos Santos Ramalho Eanes
- Carlos Jorge Mendes Corrêa Gago
- Natália de Oliveira Correia
- Vasco da Gama Lopes Fernandes
Porto:
- José da Silva Lopes
Santarém:
Setúbal:
- António Alves Marques Júnior
(fonte:[16])
Lista de deputados eleitos para o Parlamento Europeu
editarLista de presidentes da Câmara eleitos
editarAlmeirim:
- Alfredo Calado
Belmonte:
- António de Almeida Garcia
Lamego:
- António Ferreira
Ver também
editarReferências
- ↑ folheto das autárquicas do PRD em Lisboa em 1985, arquivo Ephemera de José Pacheco Pereira
- ↑ Worldmark Encyclopedia of the Nations (em inglês), 5, Gale Research, 1995, p. 339
- ↑ Leston-Bandeira, Cristina; Freire, André (2005), «Internalising the Lessons of Stable Democracy: The Portuguese Parliament», Routledge, Southern European Parliaments in Democracy (em inglês), p. 81
- ↑ Gallagher, Tom (1989), «The Portuguese Socialist Party: the pitfalls of being first», Manchester University Press, Southern European Socialism: Parties, Elections, and the Challenge of Government (em inglês), p. 25
- ↑ A história e campanha do PRD, arquivo da RTP, 08 de Setembro de 2015, 02:21. Recuperado a 14 de Novembro de 2017
- ↑ https://arquivos.rtp.pt/conteudos/convencao-sindical-dos-tsr/
- ↑ Boissieu, Laurent de. «Élections européennes Portugal». Europe Politique (em francês). Consultado em 9 de abril de 2014
- ↑ «Pedro Manuel CANAVARRO». Parlamento Europeu. Consultado em 9 de abril de 2014
- ↑ «TC > Jurisprudência > Acordãos > Acórdão 250/2000 .». w3b.tribunalconstitucional.pt. Consultado em 5 de fevereiro de 2021
- ↑ «Movimento de Ação Nacional». Consultado em 5 de fevereiro de 2021
- ↑ a b c d e f g h i j k l m n «PRD_DECLARAÇAOdePRINCIPIOS.pdf»
- ↑ a b c «4ª Convenção Nacional do PRD»
- ↑ a b c «Divisões no PRD»
- ↑ «Entrevistas aos candidatos às eleições europeias»
- ↑ «Declaração - Diário da República n.º 276/1985, Série I de 1985-11-30». Diário da República Eletrónico. Consultado em 27 de dezembro de 2018
- ↑ «Mapa Oficial - Diário da República n.º 182/1987, Série I de 1987-08-10». Diário da República Eletrónico. Consultado em 27 de dezembro de 2018