Paso de la Amada é um sítio arqueológico no estado mexicano de Chiapas, no golfo de Tehuantepec, na região de Soconusco. Este sítio esteve ocupado durante o período formativo, desde cerca 1800 a.C. até 1000 a.C., estendendo-se por uma área de aproximadamente 50 ha.

Paso de la Amada e outros sítios do período formativo, cerca de 900 a.C.

Paso de la Amada é particularmente digno de nota por ser o local onde foi encontrado o mais antigo campo de jogo de bola mesoamericano,[1] por ser a "melhor evidência" de contactos olmecas na região de Soconusco,[2] e por apresentar evidências antigas de estratificação social.

Descoberta e escavação

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O sítio foi descoberto em 1974 por Jorge Fausto Ceja Tenorio, que mais tarde procedeu à sua escavação. John E. Clark e Michael Blake procederam a investigações com base na ideia de que os montículos poderiam fornecer alguma informação sobre a estrutura e estratos sociais do período formativo inicial.

A escavação de um sítio próximo, San Carlos, ajudou a explicar muitas das descobertas feitas em Paso de la Amada. Pensa-se que terá existido uma relação próxima entre as populações destes dois sítios bastante semelhantes.

O mais antigo campo de jogo de bola

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Em 1985, os arqueólogos descobriram as ruínas de uma estrutura correspondente a um campo de jogo de bola mesoamericano, que foi datada de 1400 a.C. O campo mede aproximadamente 80 metros de comprimento e 8 metros de largura, situando-se entre dois montículos paralelos os quais apresentam bancadas de 2 metros de profundidade e 30 cm de altura ao longo do seu comprimento.

Ao contrário do que é normal, o campo de jogo não foi encontrado num centro cerimonial, mas sim associado a residências da elite, sugerindo que estava reservado a estes membros da sociedade.

Montículo 6

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A maior das estruturas em Paso de la Amada é o montículo 6. O montículo 6 revelou a mais antiga evidência de evolução da estrutura social. Foram encontrados seis níveis diferentes.

  • O montículo 6 começou por ser uma grande estrutura sobre terreno firme, referida como estrutura 6. O mais provável é que esta estrutura tenha sido usada como área comum ou casa de homens.
  • Ainda ao nível do solo, a estrutura 5 era mais complexa, com mais postes interiores e sala de "estar".
  • À medida que evoluía para a estrutura 4 surgiu uma plataforma. Apesar de não ser muito grande, fazia com que a estrutura 4 fosse a mais elevada de todas as construções de Paso de la Amada. A estrutura 4 consistia de muitos postes interiores, lareiras, espaço para sentar, e piso de argila.
  • Com o passar do tempo, foi construída a estrutura 3 a um nível mais alto, enquanto que a residência propriamente dita ficava mais pequena.
  • Mais tarde, a estrutura 2 tornou-se um projecto comunitário que teria requerido muitas pessoas ao longo de muitos dias para ser concretizado. Evans estima que a estrutura 2 teria requerido 20 indivíduos durante 25 dias para a sua construção.

Significância

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O montículo 6 fornece uma forma de evidência para a mudança de povoamentos agrícolas simples para sociedades mais complexas. Inicialmente, foram criados espaços enclausurados como locais comuns ou locais de congregação de muitos indivíduos. A ideia de uma "casa dos homens" ou de um local onde os homens da aldeia se podia reunir e conversar era comum. O montículo 6 começou como uma casa de reunião social, porém, com o passar do tempo, esta tornou-se mais pequena, permitindo a cada vez menos pessoas reunirem-se no seu interior. A plataforma cresceu também, provando que terá sido recrutado um grande grupo de pessoas para construí-la. Se um grande grupo se reuniu para construir uma plataforma e uma estrutura para um grupo de pessoas menor, deverá ter existido um grupo de líderes ou um líder individual conduzindo a construção. A razão pela qual o montículo 6 consitui uma descoberta tão significativa e relevante é o facto de não se possuírem muitas formas de efectuar descobertas sobre a estrutura política destas sociedades iniciais. O montículo 6 fornece provas de que uma força de trabalho estava disponível e de que alguém teria de ter ordenado a construção desta estrutura. O tamanho do edifício no cimo do montículo mostra também como o poder se tornou mais concentrado e centralizado com o tempo. O corpo governante tornou-se mais pequeno; as estruturas 2 e 3 apresentam esta ideia. O montículo poderia ter sido construído como uma exibição de poder e prestígio, com propósitos práticos, ou ambos. Porém, na busca da existência de poder político nas mãos de governantes, o montículo 6 de Paso de la Amada fornece evidências e permite a discussão e especulação.

Influência olmeca

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Segundo o arqueólogo Richard Diehl, os mercadores olmecas apareceram pela primeira vez em Paso de la Amada por volta de 1150 a.C. ou antes, e as suas visitas conduziram à "olmecização" da hierarquia social, ao surgimento de Cantón Corralito como centro regional, eclipsando Paso de la Amada.[3]

Notas e referências

  1. Ver sumários de relatórios em Hill, et al. (1998); Schuster (1998)
  2. Diehl (2004, p.129).
  3. Diehl (2004, p.132). Ver também Cheetham (2006).

Referências

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  • Cheetham, David (janeiro de 2006). «The Americas' First Colony?». Archaeology. 59 (1). ISSN 0003-8113. Consultado em 8 de junho de 2007 
  • Diehl, Richard (2004). The Olmecs: America's First Civilization. London: Thames & Hudson. 0-500-02119-8 
  • Evans, Susan Toby (2004). Ancient Mexico & Central America: Archaeology and Culture History. London: Thames and Hudson. 0-500-28440-7 
  • Hill, Warren D.; Michael Blake e John E. Clark (1998). «Ball court design dates back 3,400 anos». Nature. 392. pp. 878–879. ISSN 0028-0836. doi:10.1038/31837 
  • Lesure, Richard G. (1997). «Early Formative Platforms at Paso de la Amada, Chiapas, Mexico». Latin American Antiquity. 8. pp. 217–235 
  • Lesure, Richard G. (1999). «Platform Architecture and Activity Patterns in an Early Mesoamerican Village in Chiapas, Mexico». Journal of Field Archaeology. 26 (4). pp. 391–406. ISSN 0093-4690. doi:10.2307/530701 
  • Love, Michael (1999). Dumbarton Oaks etexts, ed. Social Patterns in Pre-Classic Mesoamerica David C. Grove and Rosemary A. Joyce (Eds.) ed. Washington, D.C.: Dumbarton Oaks Research Library and Collection. pp. 127–153. 0-88402-252-8 
  • Schuster, Angela M.H. (julho de 1998). «Newsbriefs: Mesoamerica's Oldest Ballcourt». Archaeology. 41 (4). ISSN 0003-8113. Consultado em 8 de junho de 2007 
  • Spencer, Charles S.; Elsa M. Redmond (outubro de 2004). «Primary State Formation in Mesoamerica». Annual Review of Anthropology. 33. pp. 173–199. doi:10.1146/annurev.anthro.33.070203.143823