Pedagogia crítica
A Pedagogia crítica é uma filosofia educacional descrita por Henry Giroux como um "movimento educacional, guiado por paixão e princípio, para ajudar estudantes a desenvolverem consciência de liberdade, reconhecer tendências autoritárias, e conectar o conhecimento ao poder e à habilidade de tomar atitudes construtivas."[1]
Baseado na teoria marxista, a pedagogia crítica é ligada à democracia radical, o anarquismo, o feminismo, e outros movimentos que lutam pelo que descrevem como justiça social.
O pedagogista crítico Ira Shor, define pedagogia crítica como:
- "Hábitos de pensamento, leitura, escrita e fala que vão além do significado superficial, primeiras impressões, mitos dominantes, pronunciamentos oficiais, clichês tradicionais, sabedoria recebida e meras opiniões, para entender o significado profundo, causas radicais, contexto social, ideologia e consequências pessoais de qualquer ação, evento, objeto, processo, organizações, experiência, texto, assunto subjetivo, política, mídia de massa ou discurso." ("Empowering Education", 129)
A Pedagogia Crítica inclui relações entre ensinar e aprender. Seus defensores afirmam que é um processo contínuo do que eles chamam de "desaprender, aprender, reaprender, refletir, avaliar", e do impacto que essas ações têm sobre os próprios alunos.[2]"[...] a pedagogia crítica não constitui um conjunto homogêneo de ideias. É mais correto dizer que os teóricos críticos estão unidos em seus objetivos: fortalecer aqueles sem poder e transformar desigualdades e injustiças sociais existentes." (MCLAREN, 1997, p. 192)
Tal vertente da pedagogia tem por finalidade a formação de um indivíduo autoconsciente e ativo na sociedade que o rodeia, a fim de transformá-la. Para isso o aluno precisa adquirir, conhecimentos teóricos vinculados ao contexto em que esta inserido e consciência do contrato social que faz parte.
História
editarA pedagogia crítica foi fortemente influenciada pelos trabalhos de Paulo Freire, um dos mais aclamados educadores críticos. De acordo com seus textos, Paulo defende a habilidade dos estudantes de pensar criticamente sobre sua situação educacional; esta forma de pensar os permite "reconhecer conexões entre seus problemas individuais, experiências e o contexto social em que eles estão imersos."[3] Perceber sua consciência ("conscientização") é um primeiro passo requerido da "Práxis," que é definida como o poder e a habilidade de tomar atitude contra a opressão ao mesmo tempo em que se enfatiza a importância da educação libertadora. "A práxis envolve o engajamento em um ciclo de teoria, aplicação, avaliação, reflexão, e de volta à teoria. Transformação social é o produto da práxis em nível coletivo."[3]
Outro representante brasileiro da pedagogia crítica é o professor, filósofo e pedagogo Dermeval Saviani, "idealizador da teoria pedagógica por ele denominada Pedagogia Histórico-Crítica" (considerada de elaboração coletiva). "Em sua teoria, em contraponto ao modelo conteudista de ensino, defende o acesso ao conhecimento sistematizado e sua compreensão por parte do estudante como instrumento de reflexão e transformação da sociedade." No livro Escola e Democracia, de 1983, essencial para pedagogos e educadores, Saviani categoriza teorias pedagógicas em 'não-críticas' e 'crítico-reprodutivistas', conforme respectivos entendimentos de marginalidade, e depois traz uma sistematização de ideias (originalmente de um artigo de 1982) para uma pedagogia crítica (não-reprodutivista).[4] Após uma dificuldade em nomear sua concepção pedagógica, e considerando-a uma elaboração coletiva, lança o livro Pedagogia Histórico-Crítica: primeiras aproximações em 1991.[5] Duas obras que se tornariam referências para educadores marxistas nos anos que seguiram. A PHC se adensou na última década, superando reducionismos, sendo celebrada regularmente com congressos científicos. Em 2019, Saviani lança o livro Pedagogia histórico-crítica, quadragésimo ano: novas aproximações, resultantes de 20 conferências proferidas pelo autor entre 2005 e 2019.[6]
As idéias de Antonio Gramsci, político e pensador marxista italiano, também tiveram influência no desenvolvimento no conceito. Suas idéias passaram a ser discutidas no Brasil a partir da década de 1970, várias décadas depois de terem sido escritas (entre 1929 e 1937) e publicadas (no segundo pós-guerra).[carece de fontes]
A força do pensamento gramsciano na academia brasileira pode ser medida por sua influência nas teses e dissertações nas áreas de educação, história, ciência política e serviço social. Mas, hoje, Gramsci é um dos autores italianos mais citados e influentes não só no Brasil, como também em todo o mundo. Todo um filão de estudos sobre os "subalternos" floresce no mundo anglo-saxão. Naturalmente, são díspares os resultados obtidos, e uma parte desta disparidade reside na própria complexidade dos Cadernos do cárcere.[carece de fontes]
Mesmo que se consiga rastrear a origem de conceitos como “filosofia da práxis”, “revolução passiva”, “reforma ético-política”, “bloco histórico” e hegemonia, na obra de Gramsci tais conceitos adquirem significados diferentes dos originais. Em conseqüência, a interpretação do pensamento gramsciano demanda cuidados adicionais na decodificação do seu universo semântico. Entre os estudiosos, acredita-se que a edição crítica de 1975 é a melhor fonte para a compreensão do pensamento do Autor.[carece de fontes]
Considera-se que o pensamento gramsciano associa intensamente conhecimento histórico, práxis política, luta cultural e processo de formação. Gramsci é formalmente contra qualquer interpretação do homem fundamentada no naturalismo ou no positivismo. Entende o homem como produto histórico e não natural; como produto de específicas relações sociais e, ao mesmo tempo, como indivíduo dotado de singularidade insuprimível.[carece de fontes]
Considerando que o homem é sujeito de sua história, Gramsci propõe a difusão da cultura humanista e filosófica no âmbito da classe operária e dos "subalternos" de um modo geral; a formação do hábito de pesquisa, método e disciplina nos estudos; e a valorização da vontade moral.[carece de fontes]
Ver também
editarReferências
- ↑ Giroux, H. (October 27, 2010) "Lessons From Paulo Freire", Chronicle of Higher Education. Retrieved 10/20/10.
- ↑ MCLAREN, P. A vida nas escolas: uma introdução á pedagogia crítica nos fundamentos da educação. 1997: Artes Médicas. p. 192
- ↑ a b «Critical Pedagogy on the Web». Consultado em 21 de abril de 2011. Arquivado do original em 5 de fevereiro de 2012
- ↑ «Escola e Democracia 43ª Edição Revista – Autores Associados». www.autoresassociados.com.br. Consultado em 9 de março de 2021
- ↑ «La pedagogía histórico-crítica: primeras aproximaciones – Autores Associados». www.autoresassociados.com.br. Consultado em 9 de março de 2021
- ↑ «Pedagogia histórico-crítica, quadragésimo ano : novas aproximações – Autores Associados». www.autoresassociados.com.br. Consultado em 9 de março de 2021