Pinhal de Leiria

floresta portuguesa

Pinhal d'El-Rei, Mata Nacional de Leiria, ou Pinhal de Leiria é uma floresta portuguesa. Tem uma área de 11.080 ha, abrangendo as freguesias da Marinha Grande e de Vieira de Leiria, estando assim inserido única e totalmente no concelho da Marinha Grande.[1] Em Portugal, o pinhal de Leiria marcava assim o início da plantação intensiva de monocultura do pinheiro bravo. Em Outubro de 2017, devido aos violentos incêndios que assolaram o país, a floresta ardeu quase na totalidade. Consequentemente, surgiram iniciativas populares que visam a recuperação do pinhal. [2]

História

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Comboio florestal 'Decauville' no Pinhal de Leiria

O pinhal foi inicialmente mandado plantar pelo rei D. Afonso III (1248-1279), no século XIII, com o intuito de travar o avanço e degradação das dunas, bem como proteger a cidade de Leiria e o seu Castelo e os terrenos agrícolas da sua degradação devido às areias transportadas pelo vento, que se tornara uma grande preocupação para os habitantes da região. Seria, então, mais tarde, entre 1279 e 1325, aumentado substancialmente pelo rei D. Dinis I, para as dimensões actuais. Procedeu-se então à sementeira duma área extensa que acompanha o litoral, especialmente com recurso ao pinheiro-bravo.[3] Alguns autores atribuem até o começo da plantação do pinhal de Leiria a D. Sancho II (1223-1248).

Sempre que se procedia ao corte de árvores, era seguida uma replantação - desta forma o pinhal manteve-se intacto. Desde pelo menos o último quartel do século XV, o cargo de Guarda-Mor dos Pinhais de El-Rei ou Pinhais Reais de Leiria, Guarda e Couteiro das Matas dos Pinhais do Rei, foi hereditário nos Rodrigues Veloso, nos da Costa de Mesquita e, finalmente, nos da Silva de Ataíde, até à sua extinção em 1835.[4]

O pinhal de Leiria foi muito importante para os Descobrimentos Marítimos, pois a madeira dos pinheiros era usada para a construção de embarcações. O pez foi ainda usado para proteger as caravelas. Ainda existem fornos onde este era fabricado.

Iria adquirir muita importância para o desenvolvimento económico e crescimento demográfico da região no século XVIII e século XIX, uma vez que foi dos principais impulsionadores de indústrias como a construção naval, a indústria vidreira, metalurgia e produtos resinosos (através da extração da goma dos pinheiros, no século XIX) - a madeira era usada tanto como matéria-prima como fonte de energia para as indústrias e habitações.

Incêndios florestais

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Os incêndios fazem parte da história do Pinhal. Em 1824, um incêndio consumiu cerca de 5000 hectares.[5] Em 1916, o jornalista e poeta Acácio de Paiva apontada "repetidos incêndios no pinhal de Leiria", sendo que um deles consumiu 150 hectares.[6] Paralelamente, o famoso ciclone de 15 de Fevereiro de 1941 terá afetado, no Pinhal, cerca de 300.000 árvores, consoante as fontes; a tempestade causou estragos em todo o país, com ventos na ordem dos 130 km/h.[7]
Em 2017, durante os Incêndios florestais em Portugal de 15 e 16 de outubro, o pinhal ficou com 86% da sua área completamente queimada. Uma reportagem da TVI publicada em Abril de 2018 alega que este grande incêndio foi causado por um grupo de madeireiros a que chama de "Máfia do Pinhal", intensificada por ventos fortes provocados pela passagem do Furacão Ophelia, a oeste de Portugal.[8]

Passados três anos do incêndio, foram rearborizados 11% da área queimada, e subsistem problemas como madeira queimada que ainda não foi retirada e o aparecimento de espécies invasoras. A inexistência de um plano de reflorestação com metas definidas cria o receio de que a mata retorne quase exclusivamente a um pinhal, apesar do esforço de organizações da sociedade civil em diversificar a composição biológica.[9] Em Janeiro de 2022 foi disponibilizado para consulta pública uma nova versão do Plano de Gestão Florestal da Mata Nacional de Leiria que reflete a análise realizada depois do incêndio. Aqui se reconhece que o pinheiro é a árvore mais adequada ao solo, mas serão também plantadas outras espécies, mas não tanto quanto seria desejável devido à escassez de matéria orgânica. De notar que antes do incêndio de 2017, apenas 3% a 4% da mata não estava plantada com pinheiros-bravos.[10] Em Setembro de 2022, quase cinco anos depois do grande incêndio de 2017, persistem os problemas da reflorestação lenta, da falta de limpeza de mato e das árvores queimadas mas especialmente da multiplicação de espécies invasoras nomeadamente a acácia. A área arborizada representa 46,5% da área ardida em 2017, sendo que dos 4396ha já reflorestado, 1773ha o foram naturalmente e 2652ha por plantação.[11]

Fauna e Flora

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A fauna do pinhal era dominada por coelhos e lebres, havendo também veados, javalis, lontras, ouriços, raposas, texugos, toirões, saca-rabos, etc. No que respeita a aves, podíamos encontrar corvos, gralhas, felosas e melros, entre outras espécies.

A flora do pinhal também era bastante variada. Para além do pinheiro bravo que dominava a paisagem, há (ou possivelmente nalguns casos, havia) em muito menor quantidade pinheiros mansos, urze-brancas, feto-arbustivo, lentisco-bastardo, urze-rosada e rosmaninho, sendo possível encontrar também, principalmente junto à ribeira de Moel, eucaliptos, acácias, adernos, samoucos, taxódios e carvalhos.[12] Há também registo de existência de espécies endémicas, nomeadamente a única pequena árvore endémica de Portugal continental, o Juniperus navicularis.[13] Apesar dos incêndios, ainda existem várias árvores de interesse público, como o eucalipto-glóbulo, pinheiro-serpente, entre outras árvores de tamanho excecional.

Ordenamento do território

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O Pinhal de Leiria está dividido em 342 talhões, quase todos retangulares (com exceção dos limítrofes) e com áreas aproximadamente iguais, de cerca de 35 ha. Estes talhões estão divididos por caminhos de areia, aos quais se dá o nome de aceiros (perpendiculares ao mar, identificados por letras de A a T, de Este para Oeste) ou arrifes (paralelos ao mar, identificados por números, entre 0 e 22, de Norte para Sul). Estes servem para um melhor ordenamento do território e também para ajudar a limitar a propagação de incêndios florestais.[13]

Ligações externas

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Referências

  1. http://www.icnf.pt/portal/florestas/gf/pgf/publicitacoes/drf-centro/2011/pgf-mn-leiria
  2. «#PinhaldoPovo congrega esforços para replantar Leiria». Público. 18 de outubro de 2017. Consultado em 19 de outubro de 2017 
  3. Nuno Leitão. «A Floresta e os Florestais na História de Portugal (parte I)». Naturlink. Consultado em 21 de abril de 2018 
  4. Francisco Queiroz e Ana Margarida Portela. «A Casa do Terreiro - História da Família Ataíde em Leiria - por Francisco Queiroz». QueirozPortela.com. Consultado em 31 de Março de 2016 
  5. Flora Ferreira-Leite, António Bento-Gonçalves, Luciano Lourenço. «Grandes incêndios florestais em Portugal Continental. Da história recente à atualidade». uc.pt. Consultado em 18 de Outubro de 2017 
  6. «Há 101 anos, um grande incêndio consumiu o Pinhal de Leiria. Foi assim». Observador. 16 de outubro de 2017. Consultado em 23 de outubro de 2017 
  7. Adélia Nunes, João Pinho, Nuno Ganho. «Ciclone" de fevereiro de 1941: análise histórico-geográca dos seus efeitos no município de Coimbra». researchgate.net. Consultado em 18 de Outubro de 2017 
  8. «Incêndio no Pinhal de Leiria foi planeado um mês antes da tragédia». TVI24. 13 de abril de 2018. Consultado em 16 de abril de 2018 
  9. «Três anos após o fogo, permanecem as dúvidas sobre o futuro da Mata Nacional de Leiria». Público. 14 de Outubro de 2020. Consultado em 14 de outubro de 2020 
  10. «LPinhal de Leiria vai ter menos autóctones que o previsto e outro modelo de exploração». Público. 12 de janeiro de 2022. Consultado em 17 de janeiro de 2022 
  11. «Quase cinco anos depois do fogo, o Pinhal de Leiria mostra sinais de abandono». Público. 5 de setembro de 2022. Consultado em 5 de setembro de 2022 
  12. Group, Global Media (22 de janeiro de 2018). «Pinhal de Leiria: ainda há pirilampos na catedral sussurrante?». TSF Rádio Notícias 
  13. a b «Plano de Gestão Florestal, Mata Nacional de Leiria, 2019-2038, Versão consulta pública» (PDF). ICNF, Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas. Dezembro de 2021. Consultado em 19 de junho de 2024 
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