Quinta das Lágrimas

quinta (rural) em Coimbra, Portugal

A Quinta das Lágrimas localiza-se na margem esquerda do Mondego, na freguesia de Santa Clara, na cidade e município de Coimbra, no distrito do mesmo nome, em Portugal.[1]

"Fonte das Lágrimas".
"Fonte das Lágrimas": "sangue" lendário de D. Inês.
"Fonte dos Amores".
Portal e janela neogóticos na "Fonte dos Amores".

Ocupa uma área de 18,3 hectares em torno de um palácio[2] do século XIX requalificado em nossos dias como hotel de luxo. Nos seus jardins acumulam-se memórias desde o século XIV, tanto nos elementos construídos como nas árvores, nas lendas populares e na sua própria história.

Neles se encontram as chamadas Fonte dos Amores e Fonte das Lágrimas. A quinta e as duas citadas fontes são célebres por terem sido cenário dos amores do príncipe D. Pedro (futuro Pedro I de Portugal) e da fidalga D. Inês de Castro, tema de inúmeras obras de arte ao longo dos séculos.

A Quinta das Lágrimas está classificada como Imóvel de Interesse Público desde 1977.[3]

História

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A área da então denominada "Quinta do Pombal" constituiu-se em couto de caça da Família Real Portuguesa desde pelo menos o século XIV.

O documento mais antigo que refere a propriedade data de 1326, ano em que Santa Isabel de Aragão, Rainha de Portugal mandou fazer um canal para levar a água de duas nascentes para o Convento de Santa Clara. Ao sítio onde saía a água chamou-se "Fonte dos Amores", por ter presenciado a paixão de D. Pedro, neto da soberana, por Inês de Castro, fidalga galega que servia de dama de companhia à esposa de D. Pedro, D. Constança. Esta fonte ainda tem um acesso, por um arco ogival gótico, datado do século XIV. A outra fonte da quinta, ligeiramente mais distante da primeira em relação ao convento, foi denominada por Luís de Camões em "Os Lusíadas", como "Fonte das Lágrimas", referindo que a mesma nascera das lágrimas vertidas por Inês ao ser assassinada a mando de Afonso IV de Portugal. O sangue de Inês terá ficado preso às rochas do leito, ainda rubras após seis séculos e meio...

"As filhas do Mondego, a morte escura
Longo tempo chorando memoraram
E por memória eterna em fonte pura
As Lágrimas choradas transformaram
O nome lhe puseram que ainda dura
Dos amores de Inês que ali passaram
Vede que fresca fonte rega as flores
Que as Lágrimas são água e o nome amores"
Os Lusíadas, canto III.

Ao longo dos séculos, a quinta passou a ser propriedade da Universidade de Coimbra e de uma ordem religiosa.

Em 1650 foi murada, fizeram-se os caminhos e taludes que suportam a terra e as árvores da mata, e construiu-se o grande tanque que recebe a água da Fonte das Lágrimas e a encaminhava, através de um canal, para alimentar as mós de um lagar de azeite.

Em 1730 a quinta foi adquirida pela família Osório Cabral de Castro, que mandou construir um palácio. Data desse período a atual designação de Quinta das Lágrimas.

Em 1813, Arthur Wellesley, então ainda visconde de Wellington, comandante das tropas luso-britânicas que defendiam o reino das forças francesas de Napoleão Bonaparte, foi hóspede na quinta, a convite de seu ajudante-de-campo, António Maria Osório Cabral de Castro, seu então proprietário. Wellington plantou, na ocasião, duas sequóias ("Sequoia sempervirens") perto da "Fonte dos Amores" e ergueu-se uma lápide com a célebre estrofe de "Os Lusíadas" que situa a história de Pedro e Inês na Quinta.

Por volta de 1850, Miguel Osório Cabral e Castro, filho de António, mandou construir o frondoso jardim romântico que ainda hoje cerca a Quinta, com lagos serpenteantes e espécies vegetais exóticas de vários lugares do mundo, numa espécie de museu vegetal. O seu sobrinho, D. Duarte de Alarcão Velasquez Sarmento Osório, bisavô dos atuais proprietários, fez construir, junto à entrada da mina mandada fazer pela Rainha Santa uma porta em arco e uma janela neo-góticas, que dão acesso à mata da Quinta.

O século XIX testemunhou várias visitas reais, como a de D. Miguel de Portugal e a do Imperador do Brasil D. Pedro II (1872).

O palácio original foi destruído por um violento incêndio em 1879, sendo reconstruído ao estilo dos antigos solares rurais portugueses, com biblioteca e capela. Na área ao redor do palácio ainda podem ser vistos os restos das antigas edificações rurais tais como o espigueiro, o armazém e o lagar de azeite.

A quinta contemporânea

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Os espaços da Quinta e do Palácio foram recuperados nas décadas de 1980 e década de 1990,pelo arquitecto José Maria Caldeira Cabral (Arquivo do Arquitecto Caldeira Cabral). Em 1995 foi inaugurado o Hotel Quinta das Lágrimas, integrante da rede da cadeia Relais & Châteaux, considerado como um dos melhores do país. O seu restaurante, o Arcadas, possui uma estrela no Guia Michelin.

Em 2004, o arquiteto Gonçalo Byrne, Grande Prémio da Academia de Belas-Artes de Paris, desenhou uma nova ala, com um centro de reuniões e um spa. Em 2006, a arquiteta paisagista Cristina Castel-Branco iniciou o restauro dos jardins, doados à Fundação Inês de Castro. Na sua intervenção foi recriado um jardim medieval, restaurados os muros da mata, os canais da "Fonte das Lágrimas" e da "Fonte dos Amores", plantadas cortinas de vegetação, uma alameda de sequóias, um jardim japonês (no interior do hotel), e construído o Anfiteatro "Colina de Camões", que obteve o Primeiro Prémio Nacional de Arquitetura Paisagista (2008).

Abertos à visitação pública, os jardins da Quinta das Lágrimas, mantidos pela Fundação Inês de Castro, são membros da Associação Portuguesa dos Jardins e Sítios Históricos.

Galeria

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Ver também

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Referências

 
O Commons possui uma categoria com imagens e outros ficheiros sobre Quinta das Lágrimas

Ligações externas

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