Raul Augusto Esteves
Raúl Augusto Esteves OTE • MSVM • ComC • GCA • MPBS • MOBS • MPCE • MOCE (Santa Isabel, Lisboa, 8 de Dezembro de 1878 - Julho de 1955), foi um engenheiro, militar e ferroviário português.
Raúl Augusto Esteves | |
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Nascimento | 8 de dezembro de 1878 Santa Isabel, Lisboa |
Morte | julho de 1955 (76 anos) |
Nacionalidade | Portugal |
Progenitores | Mãe: Maria Brígida de Azevedo Neto Esteves Pai: Augusto Sotero Esteves |
Ocupação | Engenheiro, militar, ferroviário |
Prémios | Graus de Oficial da Ordem Nacional da Legião de Honra e das Ordens da Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito, Coroa da Bélgica, Mérito Militar de Espanha, e Comendador da Ordem Militar de Avis, e Medalha da Cruz de Guerra |
Empregador(a) | Companhia dos Caminhos de Ferro Portugueses |
Cargo | Director dos Caminhos de Ferro do Sul e Sueste, vice-presidente do Conselho de Administração |
Serviço militar | |
Patente | General, Comandante |
Biografia
editarVida pessoal
editarNasceu em 8 de Dezembro de 1878, na Freguesia de Santa Isabel, filho de Maria Brígida de Azevedo Neto Esteves e do general Augusto Sotero Esteves[1]
Em 1951, era casado e residia em Lisboa.[2]
Faleceu em Julho de 1955, tendo sido enterrado no dia 4 de Julho.[3] O funeral foi anunciado por um grande número de periódicos, tendo várias individualidades marcantes políticas e militares integrado o cortejo, junto com os antigos integrantes do Batalhão de Sapadores dos Caminhos de Ferro, que transportaram a urna dentro do Cemitério dos Prazeres; devido a ter sido distinguido com a Torre e a Espada, a descida da urna ao jazigo foi acompanhada por 15 salvas de artilharia, e 3 descargas de infantaria.[1]
Uma missa de sufrágio foi realizada na Igreja do Santo Condestável, em Lisboa, no dia 2 de Agosto, organizada pelo comandante e os oficiais do Batalhão dos Caminhos de Ferro.[4]
Formação e carreira militar
editarAlistou-se, como voluntário, no Regimento de Cavalaria Nº 4, tendo sido incorporado a 28 de Setembro de 1897.[1]
Estudou na Escola Politécnica, como soldado cadete[5], tendo obtido os 6 prémios nas cadeiras de matemática[1]; já nessa altura demonstrava um certo apego à estratégia militar, fazendo planos e comandando os seus colegas em jogos, no jardim da Escola.[5]
Passou, posteriormente, para a Escola do Exército, onde obteve a primeira classificação no primeiro ano do Curso Geral, e seguiu Engenharia Militar[5]; neste curso, onde esteve de 1899 a 1903, obteve prémios pecuniários nos segundo, terceiro e quarto anos, tendo saído com uma elevada classificação de 15,2 valores.[1]
No dia 1 de Novembro de 1903, data em que já era 1.º sargento cadete da Companhia de Alunos da Escola do Exército, é promovido a alferes do Regimento de Infantaria; no ano seguinte, passa para tenente.[1]
Entre 1905 e 1909, foi professor em do curso elementar de construções, sendo, no mesmo ano, encarregado de aquisição de material para duas secções da Companhia de Telegrafistas do Regimento de Engenharia.[1] Em 1910, entrou no Estado Maior de Engenharia, e foi nomeado como vogal da Comissão de Reorganização do Exército; no 1911, foi promovido a capitão, tornou-se adjunto da inspecção do serviço militar de caminhos de ferro, e foi nomeado como vogal da comissão encarregada de remodelar o regulamento para a promoção dos postos inferiores, no exército.[1]
Em 1915, foi, novamente, nomeado adjunto da inspecção do serviço militar de caminhos de ferro, promovido a comandante da Companhia de Sapadores dos Caminhos de Ferro, e integrado na 5.ª Companhia do Regimento de Sapadores Mineiros.[1] No ano seguinte, ocupou a posição de director na Escola Preparatória de Oficiais Milicianos de Caminhos de Ferro, e, em 11 de Maio de 1917, viajou para França, junto com o seu Batalhão.[1]
Foi Comandante no Regimento de Sapadores dos Caminhos de Ferro, que entrou em acção na Flandres, durante a Primeira Guerra Mundial.[6] Foi promovido, em 1918, a major, e regressou a Portugal no dia 1 de Maio de 1919; neste ano, foi promovido a tenente-coronel para o grupo de Caminhos de Ferro, e comandante do Batalhão.[1]
Celebrizou-se por ser um líder exigente, mas que defendia os seus oficiais; num caso notório, um oficial tinha sido impedido, pelo Ministro da Guerra, de ocupar um posto que havia recebido por concurso, uma vez que este se havia recusado a fazer a declaração de republicanismo.[3] Raul Augusto Esteves conseguiu convencer o Ministro a libertar o oficial.[3]
Noutro caso célebre, o periódico A Capital declarou que entre as ferramentas utilizadas num assalto na Avenida da República, uma tinha o símbolo da unidade que Raul Augusto Esteves comandava; no dia seguinte, reuniu todo o batalhão e verificou que a acusação era infundada, pelo que enviou um pequeno contingente para exigir a retratação da notícia.[3] Esta medida foi condenada por um dos membros da Câmara dos Deputados, que exigiu a execução de castigos.[3]
Durante as Décadas de 1910 e 1920, liderou um quartel, no Campo de Ourique, em Lisboa, dos Sapadores dos Caminhos de Ferro[3], tendo sido chamado, por diversas vezes, para enfrentar movimentos revolucionários[1], greves e outros problemas de ordem pública, sendo este destacamento principalmente destinado a agir em greves nos caminhos de ferro.[3] Foi alvo de vários atentados, durante as greves ferroviárias de 1919, e de novo em 5 de Janeiro de 1921, tendo ficado ferido por tiros de pistola quando regressava à sua habitação.[1]
Em 1924, foi nomeado para uma comissão, que tinha como propósito apresentar as bases para a reorganização dos serviços técnicos da Arma de Engenharia.[1] No ano seguinte, assumiu a função de chefe da 1.ª Repartição da Inspecção Geral das Fortificações e Obras Militares, e foi integrado no Estado-Maior de Engenharia.[1] Foi um dos comandantes da Revolta de 18 de Abril de 1925.[1][7] Na preparação desse golpe, fortaleceu as relações entre os oficiais dentro do quartel; essas ligações deram, posteriormente, origem a reuniões anuais, por ele presididas, excepto em 1955, por já se encontrar muito doente.[1][3]
Em 1926, foi nomeado como vogal da Comissão Técnica de Pioneiros, e comandante do Batalhão de Sapadores de Caminhos de Ferro, tendo passado, pouco depois, a comandante interino; no dia 25 de Setembro, foi promovido a coronel, passando a comandante do regimento de Sapadores dos Caminhos de Ferro.[1] Ainda no mesmo ano, foi nomeado como Administrador Adjunto Militar dos Caminhos de Ferro do Estado.[1] Teve um papel instrumental na preparação da Revolução de 28 de Maio de 1926.[7]
Participou numa revolução em 7 de Novembro de 1927, tendo contribuído para a sua repressão[7]; nesse ano, era Administrativo Geral Militar, e, no ano seguinte, foi integrado na comissão de estudo dos diferentes diplomas orgânicos do exército.[1] Foi, em 1929, nomeado vogal da Comissão Técnica da Arma de Engenharia e Inspector Interino das Tropas de Comunicação, cargos que acumulou com as de comandante do regimento; exerceu, igualmente, a posição de director da Arma de Engenharia.[1]
Em 1932, foi aprovado nas provas especiais de aptidão, tendo passado a coronel tirocinado; no ano seguinte, era inspector das Tropas de Comunicação, e, em 1934, vogal de júri, para avaliar as provas especiais de aptidão, para a promoção a major dos capitães de engenharia.[1]
Em 1935, detinha a posição de Inspector Interino das Tropas de Comunicação, que acumulava com as funções de Serviço de Pioneiro, e continuava a ser vogal de júri; no ano seguinte, foi promovido a general, ocupando o lugar de Amílcar Pinto.[1]
Chefiou, igualmente, uma missão portuguesa de observação em Espanha, durante a Guerra Civil Espanhola.[1][7]
Carreira profissional
editarDesempenhou as posições de Director, desde 1920[6], e presidente do Conselho Administrativo dos Caminhos de Ferro do Sul e Sueste[1], e vice-presidente do Conselho de Administração da Companhia dos Caminhos de Ferro Portugueses, tendo-se notabilizado, neste último cargo, por ter levado a cabo várias iniciativas de modernização do transporte ferroviário; em 1931, foi louvado pela sua eficácia na organização de um convénio entre aquela empresa e o Ministério da Guerra.[6]
Também foi colaborador e membro do Conselho Directivo da Gazeta dos Caminhos de Ferro, desde 1942[6], e colaborou em diversos jornais, e na Revista Militar.[1]
Exerceu, igualmente, a posição de presidente do Grupo de Amigos de Olivença.[8]
Homenagens, condecorações e louvores
editarEm Portugal, foi condecorado com os graus de Oficial da Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito e da Ordem Militar de Sant'Iago da Espada a 10 de Julho de 1920, e foi Comendador e Grã-Cruz da Ordem Militar de Avis a 25 de Fevereiro de 1938[6] e Comendador da Ordem Militar de Cristo a 28 de Junho de 1919;[9] no estrangeiro, recebeu o grau de Oficial da Ordem Nacional da Legião de Honra e das Ordens de Mérito Militar de Espanha e da Coroa da Bélgica, e de Comendador da Ordem da Coroa de Itália a 17 de Março de 1930.[1][10]
Recebeu as medalhas portuguesas da Cruz de Guerra de 2.ª Classe, pelas suas acções durante a Primeira Guerra Mundial, de Ouro e Prata de Bons Serviços, em 1911, de Prata de Mérito, Filantropia e Generosidade, de Ouro e Prata de Comportamento Exemplar, em 1918, da Vitória, e a Comemorativa de França 1917-1918.[1]
Também foi agraciado com a Cruz de 4.ª Classe da Ordem da Águia Vermelha da Alemanha, a Cruz de 3.ª classe da Ordem do Mérito Militar de Espanha D. Afonso XIII a 18 de Fevereiro de 1930, pelo Rei de Espanha, a Grã-Cruz da Ordem de São Silvestre Papa do Vaticano da Santa Sé, pelo Papa Pio XI a 28 de Outubro de 1929, a Croix de Guerre Avec Palme, pelo governo francês, a Ordem de Serviços Distintos, pelo Rei da Grã-Bretanha e Irlanda Jorge V, e a Medalha da Cruz Vermelha do Mérito Militar e a Medalha da Campanha do Exército de Espanha a 28 de Agosto de 1939.[1][10]
Foi louvado pela sua distinção na regência do curso elementar de construção, pela elaboração de um regulamento provisório para a instrução do Regimento de Engenharia, pela organização da secção de telegrafistas de campanha mobilizada, por ter realizado a conferência A Fortificação na Defesa do País, pelo comportamento exemplar do Batalhão de Sapadores dos Caminhos de Ferro após o regresso a Portugal, por ter comandado esse mesmo batalhão desde o princípio, quando esteve integrado no Corpo Expedicionário Português, pela forma com que comandou os serviços prestados pelo batalhão nos transportes referentes à comemoração nacional aos soldados desconhecidos na Primeira Guerra Mundial, pela sua prestação como director dos Caminhos de Ferro do Sul e Sueste, por ter orientado de forma superior a instrução de recrutas; também foi, duas vezes, louvado pelos serviços prestados, como comandante do Batalhão, durante as greves.[1]
Obras publicadas
editarReferências
- ↑ a b c d e f g h i j k l m n o p q r s t u v w x y z aa ab ac ad ae af ag «General Raúl Esteves». Gazeta dos Caminhos de Ferro. 68 (1622): 221, 224. 16 de Julho de 1955
- ↑ «Parte Oficial». Gazeta dos Caminhos de Ferro. 64 (1531). 312 páginas. 1 de Outubro de 1951
- ↑ a b c d e f g h «Recortes sem comentários: General Raúl Esteves». Gazeta dos Caminhos de Ferro. 68 (1625). 318 páginas. 1 de Setembro de 1955
- ↑ «General Raúl Esteves». Gazeta dos Caminhos de Ferro. 68 (1624). 302 páginas. 16 de Agosto de 1955
- ↑ a b c COUVREUR, Raul da Costa (1 de Agosto de 1955). «General Raul Augusto Esteves». Gazeta dos Caminhos de Ferro. 68 (1623): 277, 280
- ↑ a b c d e f g h «Conselho Directivo da Gazeta dos Caminhos de Ferro». Gazeta dos Caminhos de Ferro. 64 (1537). 405 páginas. 1 de Janeiro de 1952
- ↑ a b c d «Raul Augusto Esteves». Infopedia. Consultado em 24 de Agosto de 2011
- ↑ «O Grupo dos Amigos de Olivença prestou homenagem à Imprensa e à Rádio». Gazeta dos Caminhos de Ferro. 66 (1566). 45 páginas. 16 de Março de 1953
- ↑ «Cidadãos Nacionais Agraciados com Ordens Portuguesas». Resultado da busca de "Raúl Augusto Esteves". Presidência da República Portuguesa. Consultado em 12 de outubro de 2015
- ↑ a b «Cidadãos Nacionais Agraciados com Ordens Estrangeiras». Resultado da busca de "Raúl Augusto Esteves". Presidência da República Portuguesa. Consultado em 12 de outubro de 2015