Renato Kehl
Renato Ferraz Kehl (Limeira, 22 de agosto de 1889 – Interior de São Paulo, 14 de agosto de 1978) foi um farmacêutico, médico, escritor e eugenista brasileiro do início do século XX.
Renato Kehl | |
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Nome completo | Renato Ferraz Kehl |
Conhecido(a) por | trabalhos sobre eugenia |
Nascimento | 22 de agosto de 1889 Limeira, SP, Império do Brasil |
Morte | 14 de agosto de 1978 (88 anos) São Paulo, Brasil |
Nacionalidade | brasileiro |
Ocupação | farmacêutico, médico, escritor, eugenista |
Histórico
editarFormado pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro em 1915, Renato Kehl, de estema germânico,[1] atuou no início de sua carreira no Departamento Nacional de Saúde Pública (DNSP), realizando atividades voltadas para o saneamento rural e a Educação higiênica e sanitária. A partir do final dos anos 1920, tornar-se-ia empresário da indústria farmacêutica, destacando-se como Diretor da Bayer no Brasil, multinacional alemã que atuava em diferentes regiões do mundo. Seu nome ficaria mais conhecido pela incansável dedicação à Eugenia, a quem chamava de "a religião da humanidade". Para o escritor Monteiro Lobato, com quem mantinha uma estreita amizade e consideráveis afinidades intelectuais, Kehl deveria ser considerado o "pai da eugenia no Brasil", tendo em vista seu empenho na organização do movimento eugênico brasileiro.[2]
Foi eleito membro da Academia Nacional de Medicina em 1932, sucedendo Rodolpho Albino na Cadeira 93, que tem Belisário Penna como patrono.[3]
Renato Kehl e a eugenia no Brasil
editarA adesão de Renato Kehl às ideias formuladas por Francis Galton, o fundador da doutrina eugênica, possibilitou que sua trajetória fosse dedicada à organização do Movimento Eugênico Brasileiro, especialmente entre as décadas de 1910 a 1930, período em que as teorias raciais e as discussões em torno da nacionalidade brasileira estruturavam a maneira como viajantes, escritores, intelectuais e cientistas interpretavam o Brasil.
Em 1918, com a colaboração de um grupo de médicos brasileiros, fundou a Sociedade Eugênica de São Paulo, instituição que contou com mais de uma centena de associados, entre eles Monteiro Lobato,[4] Arnaldo Vieira de Carvalho, Afrânio Peixoto, Artur Neiva, Vital Brazil, Belisário Penna, Juliano Moreira, entre outras importantes lideranças intelectuais da época. Uma década depois criou o Boletim de Eugenia, periódico que circulou entre 1929 e 1933 e que se notabilizou pela divulgação das medidas eugênicas entre os brasileiros. Nesse mesmo período, além de colaborar com a organização do Primeiro Congresso Brasileiro de Eugenia, realizado no Rio de Janeiro, em 1929, também fundou a Comissão Central Brasileira de Eugenia, cujo objetivo era o de auxiliar o governo brasileiro em assuntos relacionados ao melhoramento eugênico do país.[5]
Entre os anos 1910 e 1930, Renato Kehl publicou mais de uma dezena de livros sobre eugenia, com destaque para "Lições de Eugenia" (1929) e "Sexo e civilização - aparas eugênicas" (1933), obras que se caracterizariam pela maior aproximação do autor em direção à 'eugenia negativa', um modelo radical de eugenia que se caracterizava pela defesa de medidas extremas, como a esterilização eugênica dos "degenerados", o controle matrimonial e reprodutivo e a seleção racial dos imigrantes.[6] Durante os anos 1930, sua adesão a essa eugenia mais radical levou o eugenista brasileiro a elogiar publicamente a política eugênica nazista lançada na Alemanha por Adolf Hitler.[7]
Renato Kehl engajou-se em várias frentes na promoção da eugenia no Brasil, tornando-se uma figura emblemática no movimento ao fundar associações, publicar inúmeros livros, escrever para diversos jornais, proferir palestras e conferências, trocar correspondências com eminentes eugenistas no exterior e criar um periódico especializado. Sua militância em prol da ciência eugênica, embora o tenha colocado em evidência, tornando-o relevante para a compreensão desse movimento em nossa história social e científica, não foi capaz de produzir, absolutamente, um consenso no entendimento das bases e propostas de aplicação da eugenia no meio intelectual da época.[8]
Principais obras publicadas nos anos 1920 e 1930
editar- Eugenia e medicina social. Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves, 1920.
- Melhoremos e prolonguemos a vida: a valorização eugênica do homem. Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves, 1923.
- A cura da fealdade. Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves; 1923.
- Como escolher um bom marido. Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves, 1924.
- Como escolher uma boa esposa. Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves, 1924.
- Bíblia de Saúde. Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves, 1926.
- Formulário de beleza – fórmulas escolhidas. Rio de Janeiro: Editora Livraria Francisco Alves, 1927.
- Lições de eugenia. Rio de Janeiro; Livraria Francisco Alves, 1929.
- Sexo e civilização: aparas eugênicas. Rio de Janeiro : Livraria Francisco Alves, 1933.
- Por que sou eugenista? 30 anos de campanha eugênica. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1937.
- Pais, médicos e mestres: problemas de educação e hereditariedade. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1939.s
- Psicologia da Personalidade. Livraria Alves. Rio de Janeiro. 1959.
Bibliografia
editar- BONFIM, Paulo Ricardo. Educar, Higienizar e Regenerar: Uma História da Eugenia no Brasil. Jundiaí, SP: Paco Editorial, 2017.
- CARVALHO, Leonardo Dallacqua de. A eugenia no humor da Revista Ilustrada Careta: raça e cor no Governo Provisório (1930-1934). 2014. 315 f. Dissertação (Mestrado em História). – Faculdade de Ciências e Letras, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Assis, 2014. [1]
- SOUZA, Vanderlei Sebastião de. A política biológica como projeto: a “eugenia negativa” e a construção da nacionalidade na trajetória de Renato Kehl (1917-1932). Dissertação de Mestrado (História das Ciências), Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz, 2006. (http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/PesquisaObraForm.do?select_action=&co_autor=11135)
- Souza, V. S. Renato Kehl e a eugenia no Brasil: ciência, raça e nação no entreguerras. Eduni, 2019.
- STEPAN, Nancy. “A Eugenia no Brasil – 1917 a 1940”. In: HOCHMAN, Gilberto. & ARMUS, Diego (orgs). Cuidar, Controlar, Curar: ensaios históricos sobre saúde e doença na América Latina e Caribe. Rio de Janeiro: Ed.Fiocruz. p. 331-391, 2004.
Ver também
editarReferências
- ↑ Ninni, Karina (19 de fevereiro de 2011). «Verde, amarelo, azul e branco». Consultado em 20 de março de 2022
- ↑ Correspondência de Monteiro Lobato a Renato Kehl. São Paulo, 1929. Citado em: Souza, V. S. Renato Kehl e a eugenia no Brasil: ciência, raça e nação no entreguerras. Eduni, 2019.
- ↑ Biografia na página oficial da Academia Nacional de Medicina
- ↑ Laureano, Max. «Monteiro Lobato: entre a Literatura e a Nostalgia, a Eugenia e o Racismo. | ANF - Agência de Notícias das Favelas |». Consultado em 9 de abril de 2019
- ↑ Neste sentido, alguns estudos mostraram o diálogo da eugenia de Kehl e diversos intelectuais no cenário político nacional. Sobre isso ver: CARVALHO, Leonardo Dallacqua de. A eugenia no humor da Revista Ilustrada Careta: raça e cor no Governo Provisório (1930-1934). 2014. 315 f. Dissertação (Mestrado em História). – Faculdade de Ciências e Letras, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Assis, 2014.
- ↑ Souza, V. S. (2019). Renato Kehl e a eugenia no Brasil: ciência, raça e nação no entreguerras. [S.l.]: Eduni
- ↑ sobre a trajetória e as ideias de Renato Kehl ver SOUZA, Vanderlei Sebastião de. A política biológica como projeto: a “eugenia negativa” e a construção da nacionalidade na trajetória de Renato Kehl (1917-1932). Dissertação de Mestrado (História das Ciências), Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz, 2006.
- ↑ BONFIM, Paulo Ricardo (2017). Educar, Higienizar e Regenerar: Uma História da Eugenia no Brasil. Jundiaí, SP: Paco Editorial. 163 páginas. ISBN 9788546206919. Consultado em 15 fev 2017