Revista Illustrada

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A Revista Illustrada foi uma publicação satírica, política, abolicionista e republicana brasileira, fundada no Rio de Janeiro pelo ítalo-brasileiro Angelo Agostini, circulando durante os anos de 1876 a 1898.

Capa da Illustrada nº 429, de 1886:
A capa registra Quintino Bocaiúva pintando um quadro, alusivo à febre amarela, enquanto os poderes públicos assistem impassíveis à cena, representados como vacas.
José Bonifácio perdendo as estribeiras... A Illustrada não poupava as figuras proeminentes do Império.
"O nosso Zé Caipora", 1886

Características

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Com oito páginas, a Revista possuía uma tiragem semanal de quatro mil exemplares[1] retratando de modo satírico os fatos ocorridos. Não tinha patrocinadores nem veiculava propagandas ou reclames, tendo sua única subsistência advinda da venda dos exemplares.[2] Isso se passou, entretanto, apenas durante a primeira fase da publicação.[3]

A Revista teve duas fases distintas:

  • A primeira, sob a direção de Agostini, que durou até quando da Proclamação da República (1889), quando o artista - assim como o Imperador - deixam o país; este, por conta do golpe militar; aquele, por haver fugido com uma amante.[2][4]
  • A segunda, sob a direção do também caricaturista Pereira Neto, funcionou de forma intermitente. O retorno de Agostini, em 1895, fê-lo tornar-se apenas um funcionário. A Revista viria a desaparecer, definitivamente, pouco tempo após.[2]

O pesquisador Marcus Tadeu Daniel Ribeiro, assinala que a primeira fase da revista (de 1876 a 1888, segundo ele) teve seu sucesso devido ao fato de reportar as grandes aspirações do público numa linguagem acessível (para o que contribuíam as ilustrações), e por sua completa independência e liberdade editorial.[3]

Pioneirismo em HQ

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A Revista Illustrada publica, em 1884 aquela que é considerada a primeira história em quadrinhos do Brasil.[5] As Aventuras de Zé Caipora, voltada ao público infantil, trouxe a lume a personagem que viria a ser recorrente na revista.[2]

Zé Caipora ilustrou capas da Revista, como a de número 369 e, quando da edição comemorativa de doze anos da publicação, foi feito um desenho em folha dupla, nas página centrais, espécie de pôster, com a personagem.[6]

Agostini e a Oposição

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Dono de traço inconfundível, Agostini - que já havia participado como ilustrador de outras publicações[2] - iniciou sua própria edição semanal da Revista, tornando-se rapidamente num dos grandes veículos opositores ao regime monárquico e à escravidão.

Em suas páginas o caricaturista atacava de modo contumaz e ácido a figura do Imperador Pedro II, sendo considerado um dos responsáveis pela deterioração da imagem pública do soberano: para se ter ideia da ferocidade dos ataques, numa edição de 1882 a Revista traz uma história em quadrinhos onde o soberano é acusado de acobertar os ladrões das joias da coroa, como se fosse cúmplice destes.[4] Tais ataques exerciam grande influência na opinião pública coetânea.[2]

Seu posicionamento anti-escravocrata era tão lapidar que o principal líder do abolicionismo, Joaquim Nabuco, apelidara-a de Bíblia da Abolição. Quando da Lei Áurea a Revista dedicou um número cuja capa celebrizou-se com a figuração da festa pelo fim da prática hedionda.[2]

Disputa célebre

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Concorria a Illustrada com a revista O Besouro, sob a direção do artista luso Rafael Bordalo Pinheiro (1846-1905). Segundo o pesquisador português José Augusto França as provocações de Agostini na Illustrada teriam levado Bordalo a reagir de modo violento e explosivo. O episódio de provocações passou-se entre novembro e dezembro de 1878, quando Agostini - que atacava a tudo e a todos - provocara o rival, levado pela queda de compradores junto à grande comunidade lusitana do Rio de Janeiro. Quando reage, Bordalo retrata Agostini como um engraxate, mandando-o "à margem". Este reage, dizendo que "Agradecemos a fineza. Sabemos reconhecer que à margem d'O Besouro é o lugar mais limpo dessa folha". Colaboradores de Bordalo deixam o periódico, que fecha, voltando o cartunista para Portugal, em março do ano seguinte.[3]

A República e o fim

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Com o fim da escravidão e o golpe de estado republicano, a realidade no país mudou, o conteúdo crítico original perde sentido, e Agostini já não é mais o porta-voz dos anseios populares, agora às voltas com os descaminhos do novo Regime. A Illustrada foi censurada durante o regime ditatorial de Floriano Peixoto, que coibia a liberdade de expressão, e vivendo a sua segunda fase em dependência e envolvimento com o novo Regime, perdeu sua cumplicidade com o público, desaparecendo definitivamente.[3]

Notas

  1. Pesquisas Arquivado em 15 de outubro de 2008, no Wayback Machine. feitas por de Marcus Tadeu Daniel Ribeiro - 1988 - e a de Nelson Werneck Sodré - 1999, citadas por CAVALCANTI, Carlos Manoel de Hollanda. Angelo Agostini e seu “Zé Caipora” entre a Corte e a República, in: História, imagem e narrativas, Nº 3, ano 2, setembro/2006 – ISSN 1808-9895 (pesquisada em 1 de fevereiro de 2008).
  2. a b c d e f g Almanaque Arquivado em 10 de janeiro de 2008, no Wayback Machine., histórico da Revista Illustrada (consultada em 1 de fevereiro de 2008)
  3. a b c d RIBEIRO, Marcus Tadeu Daniel. "A Arte de Alfinetar", in: revista Nossa História, ano 3, nº 30, abril 2006, pp. 70 a 73
  4. a b ARAGÃO, Octavio. O Império da Sátira, in: Revista Nossa História, ano 3, nº 26, ed. Vera Cruz, dezembro/2005, pp. 32-34.
  5. Enciclopédia Itaú Cultural, verbete Angelo Agostini (página acessada em 1 de fevereiro de 2008)
  6. CAVALCANTI, Carlos Manoel de Hollanda. Angelo Agostini e seu “Zé Caipora” entre a Corte e a República, in: História, imagem e narrativas, Nº 3, ano 2, setembro/2006 – ISSN 1808-9895 (pesquisada em 1 de fevereiro de 2008).

Ligações externas

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Ver também

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