Revoltas Irmandinhas

Revoltas Irmandinhas ou Guerras Irmandinhas se referem às duas maiores revoltas[1] da Galiza no século XV.

Essa denominação decorre do fato de que tais revoltas foram apoiadas por "irmandades" (tipo de corpo policial formado nas cidades da Península Ibérica na Baixa Idade Média).

Tais eventos, que ocorreram, entre 1431 e 1469, na Galícia (noroeste da Espanha), quando a Galícia enfrentava uma situação de conflito social (fome, epidemias e abusos da nobreza galega) e político (guerra civil em Castela).

Após 1230, como consequência da união dinástica entre os reinos de Leão e Castela, a Galícia tornou-se uma região dependente da Coroa de Castela. O grande peso rural na estrutura econômica e a enorme influência da nobreza, tanto secular quanto eclesiástica, faziam da Galiza uma parte importante da Coroa.

O grande poder do clero e da nobreza era um grande aborrecimento para a Coroa. Esta nobreza (em especial, a Casa de Osório em Monforte de Lemos e Sarria, a Famíla Andrade em Ponte d'Eume, a Família Moscoso em Vimianço, a Família Sarmiento, a Família Ulhoa, a Família Sotomayor , etc.) cometia inúmeros abusos que vão desde o patrocínio do banditismo nobre ao aumento exorbitante da carga tributária.

O campesinato, que era a maior vítima de tais abusos, encenou várias revoltas contra a nobreza. Os mais importantes foram a "Irmandade Fusquenlla", que ocorreu em 1431, especialmente contra os senhores episcopais, e a "Grande Guerra Irmandiña", que ocorreu entre 1467 e 1469.

Castelo da Rocha Forte derrubada pelos irmandinhos no 1467

Irmandade Fusquenlha

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 Ver artigo principal: Irmandade Fusquenlla

A Irmandade Fusquenlha formou-se no ano 1431 nas terras do senhor de Andrade, nas terras do nobre Nuno Freire de Andrade, apelidado como o Mau, por causa da extrema dureza com que este tratava os seus vassalos. A irmandade iniciou a revolta nas áreas de Pontedeume e Betanços que se estendeu a outras comarcas dos bispados de Lugo, Mondoñedo e Santiago de Compostela. Nesse processo, derrubou algumas fortaleza dos nobres, como o castelo dos Andrade na Vila de Betanços.

Os desentendimentos internos fizeram que a revolta fracassasse ante as tropas dos Andrade, do rei de Castela e do arcebispo de Santiago. Roi Xordo, um fidalgo da Corunha, dirigiu as tropas da Irmandade Fusquenlha e morreu na repressão posterior à desfeita irmandinha.

Grande Guerra Irmandinha

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 Ver artigo principal: Grande Revolta Irmandinha

A Grande Guerra Irmandinha ocorre entre os anos de 1467 a 1469. Os preparativos para a formação duma Irmandade Geral começaram anos antes por parte de Alonso de Lançós e com o apoio de vários concelhos (Corunha, Betanzos, Ferrol, Lugo) que atuaram de forças iniciais do movimento. Neste caso, a revolta irmandinha foi uma autêntica guerra civil pela participação social que chegou a provocar.

Anos de más colheitas e pestes provocaram a revolta popular. Segundo os testemunhos do Pleito Tabera - Fonseca, os irmandinhos seriam por volta de 80 000. Na organização e desenvolvimento da guerra irmandinha participaram vários grupos sociais: camponeses, gentes das cidades, baixa nobreza e fidalguia e alguns membros do clero, como cônegos composteláns que apoiaram economicamente o movimento irmandinho. Os chefes do movemento pertenciam à baixa nobreza. Pedro de Ossório, atuou no centro da Galiza, sobretodo na zona de Compostela, Alonso Lançós, dirigiu a revolta na zona norte da Galiza e Diego de Lemos dirigiu as acções irmandinhas no sul de Lugo e norte de Ourense. O auge do movimento irmandinho foi possível pela existência do que um estudioso do período, Carlos Barros, chama de "mentalidade justiceira e antisenhorial" da sociedade galega baixomedieval, que rejeitava as injustiças cometidas pelos senhores, considerados popularmente como “mal-feitores”.

Os inimigos dos irmandinhos foram fundamentalmente nobres laicos, donos de castelos e fortificações, encomendeiros das principais igrejas e mosteiros. Os irmandinhos destruiram por volta de 130 castelos e fortificações nos dois anos de guerra irmandinha. As linhagens dos Lemos, Andrade e Moscoso foram o alvo preferido dos irmandinhos. Os irmandinhos, pela contra, não atacaram os eclesiásticos. Num primeiro momento, parte da nobreza objecto da ira irmandinha fugiu para Portugal ou para Castela.

Em 1469, Pedro Madruga iniciou desde Portugal o contraataque feudal, contando com o apoio doutros nobres e das forças do arcebispo de Santiago de Compostela. As tropas feudais, contando com uma melhor tecnologia de guerra (sabe-se que as tropas de Pedro Madruga empregaram modernos arcabuzes), venceram os irmandinhos, prenderam e mataram os seus líderes. A vitória das tropas de Pedro Madruga ocorreu por contar com o apoio dos monarcas de Castela e Portugal e pelas divisões das forças irmandinhas. Mas imediatamente, a nobreza vitoriosa viu-se envolvida novamente em liortas dinásticas que prepararam o seu definitivo desarraigamento do território galego.

Referências e Notas

  1. BLICKLE, Peter (1997). Resistance, Representation, and Community: Representation and Community. European ScienceFoundation. [S.l.: s.n.] p. 95. ISBN 0198205481 

Ver também

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