Revolução (filme de 1975)
Revolução é um documentário português de 1975, realizado pela professora, escritora, ensaísta e artista plástica Ana Hatherly (Porto, 15 de Junho de 1929 - Lisboa, 5 de Agosto de 2015).[1][2]
A direcção de som é de Alexandre Gonçalves.[3]
Enquadramento
editarNo ano de 1974, Hatherly faz, a caminho do Egipto, uma pequena escala na capital portuguesa.[4] Contagiada pelo espírito de exaltação, libertação e entusiasmo que se vivia, depressa abandonaria os seus planos originais, decidindo permanecer,[2] com vista a celebrar e eternizar o momento, registando as suas impressões tanto em projectos na área do cinema como em fotografias,[5][6] pinturas[7] ou colagens.[4] Dentro desta última categoria, a série Ruas de Lisboa (1977) complementa particularmente a parafernália imagética e a explosão de energia que vemos no filme de 1975.[8]
Sinopse
editarEm Revolução, Hatherly recorre a uma câmara Super-8[1][3] para capturar, de forma experimental, as paredes de Lisboa após o 25 de Abril, retratando cartazes de propaganda política, graffiti e murais - veículos fundamentais para a disseminação de mensagens revolucionárias e palavras de ordem,[1][9] simbólicos meios de apropriação e intervenção.
Para Sandra Vieira Jürgens: "A um ritmo veloz, as imagens registadas e a montagem do filme representam exemplarmente a manifestação plural de vozes na cena política portuguesa bem como a participação colectiva e a euforia contagiante vivida no espaço público. (...) Ana Hatherly regista, documenta, actua nas ruas da cidade, posicionando-se criativamente perante as características marcantes da cultura urbana num momento tão significativo (...)".[1] Assente numa retórica etnográfica de salvaguarda, este filme de 11 minutos oferece-nos um raro vislumbre desse período conturbado da história de Portugal.[3]
Com estreia na Bienal de Veneza de 1976, Revolução integra um conjunto de curtas-metragens dessa época,[3] do qual fazem parte Diga-me, O Que É A Ciência? (I e II), do mesmo ano,[4] Música Negativa e Rotura, de 1977. Estes sucedem às películas concebidas no início de 1974, quando Hatherly frequentava o curso de estudos cinematográficos na London Film School: C.S.S. (Cut-Outs, Silk, Sand), 5 Exercícios de Animação, Fragmentos de Animação e Sopro 57-AN-39.[1]
O filme foi posteriormente ampliado para 16 mm e convertido para digital. Em 2001, a realizadora portuguesa alterou ligeiramente a banda sonora do mesmo, sendo essa a versão definitiva que desde então tem sido mostrada.
O Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian alberga o vídeo na sua colecção de Arte Portuguesa (inv. IM12)[1]. Na Cinemateca Portuguesa existe uma cópia em DCP, recentemente produzida com base nos materiais fílmicos originais.
Exibições
editarA sua primeira exibição na Cinemateca Portuguesa ocorreu 10 anos depois, em Abril de 1984, durante o Ciclo 25 de Abril, Imagens. Este foi apresentado juntamente com o documentário As Armas e o Povo (1975), no qual são ilustrados os primeiros seis dias da Revolução.[10] Quarenta anos depois, ambos foram de novo exibidos na Sala M. Félix Ribeiro, no Ciclo Abril 50[10].
O filme foi mostrado na exposição Abril 74-04, realizada nos Paços do Concelho em Lisboa, entre 23 de Abril e 21 de Maio de 2004, no âmbito das comemorações do 30º aniversário do evento que derrubou a ditadura do Estado Novo.[1] A série Ruas de Lisboa (1977) também integrou a exposição.[8]
Recentemente foi digitalizada uma cópia pela Cinemateca Portuguesa, no âmbito do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), uma medida integrada no programa Next Generation EU. Esta foi gratuitamente disponibilizada no sítio web do projecto NOVOCINE, de 22 de Abril a 11 de Maio de 2024, celebrando assim o cinquentenário da Revolução dos Cravos.
No mesmo ano, o filme fez igualmente parte da exposição Hoje soube-me a pouco: Introversões e Utopias Artísticas no Pós-25 de Abril, com curadoria de João Pinharanda e Sérgio Mah, no Museu de Arte, Arquitectura e Tecnologia (MAAT).[11] Partindo da Coleção de Arte Portuguesa Fundação EDP - à qual se juntaram peças de outras coleções privadas/institucionais - a mostra privilegiou algumas linhas de futuro desencadeadas pela transição democrática, reunindo não só algumas das principais figuras da arte portuguesa contemporânea dos anos 70 e 80, mas também gerações mais recentes, cujo trabalho prossegue e expande os legados e tendências criativas que emergiram depois desse tempo pródigo de mudanças políticas e sociais [11].
Referências
- ↑ a b c d e f g «Revolução». Centro de Arte Moderna. Consultado em 29 de abril de 2024
- ↑ a b «Ana Hatherly». Centro de Arte Moderna. Consultado em 29 de abril de 2024
- ↑ a b c d «filme02 — NOVOCINE». www.novocine.pt (em inglês). Consultado em 29 de abril de 2024
- ↑ a b c Queirós, Vanessa Rato, Luís Miguel (5 de agosto de 2015). «Morreu Ana Hatherly, a pintora da palavra». PÚBLICO. Consultado em 29 de abril de 2024
- ↑ «A Artista saiu à rua». Museu do Aljube. Consultado em 29 de abril de 2024
- ↑ «X-arqWeb». arquivomunicipal3.cm-lisboa.pt. Consultado em 27 de maio de 2024
- ↑ «A Revolução - Hatherly, Ana». Google Arts & Culture (em inglês). Consultado em 29 de abril de 2024
- ↑ a b «As Ruas de Lisboa». Centro de Arte Moderna. Consultado em 29 de abril de 2024
- ↑ Nascimento, Frederico Lopes / Marco Oliveira / Guilherme. «Revolução». CinePT-Cinema Portugues. Consultado em 29 de abril de 2024
- ↑ a b Ascensão, Joana. «CINEMATECA PORTUGUESA, ABRIL 50 – PROGRAMA ESPECIAL 25 de Abril de 2024» (PDF). Cinemateca Portuguesa. Consultado em 30 de Abril de 2024
- ↑ a b «Hoje soube-me a pouco». MAAT. 18 de maio de 2024. Consultado em 27 de maio de 2024