Rosácea (arquitetura)

estrutura arquitetônica ornamental

A rosácea[1] é um ornamental usado no seu auge em catedrais durante o período gótico. Dentro do eixo condutor deste período artístico, a rosácea transmite, através da luz e da cor, o contato com a espiritualidade e a ascensão ao sagrado.

Rosácea vista do interior da igreja de Kloster Ebrach em Ebrach, Alemanha.
Detalhe de rosácea do século XIII, ilustração de 1856.

Caracterização

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Trata-se de uma abertura circular onde um desenho geométrico de bandas de pedra (traceria) é preenchido com vidro colorido, vitral. As cores são fortes, acentuando o realismo da representação pela combinação de variados tons da mesma cor.

  • Localização na catedral

A rosácea apresenta-se sobre o portal da fachada principal a Oeste ou no transepto, em pelo menos um dos seus extremos.

  • Temas de representação

A decoração é feita no sentido radial, estilizando a representação das pétalas de uma rosa (daí o nome), e relata a história bíblica de uma figura que surge ao centro da composição. Os temas mais retratados abrangem a Virgem com o Menino, cenas da vida de Cristo e dos apóstolos e as mais variadas histórias bíblicas. Raramente se observam símbolos zodiacais ou das estações do ano, assim como referências a heráldica medieval.

  • Metamorfose formal

A rosácea teve origem no oculus romano transformando-se em janela durante o período românico. Acompanhando, em meados do século XII, o desenvolvimento do gótico e as suas inovações técnicas, em que ao direccionar e distribuir o peso pelas abóbadas e pelos contrafortes se torna possível “abrir” grandes vãos de parede à entrada da luz, a rosácea acaba por aumentar consideravelmente as suas dimensões. A meados do século XIII pode já abranger a largura total da nave.

Nas suas primeiras aparições surge sob um arco circular, como são exemplo disso as rosáceas da Catedral de Mantes, da Catedral de Notre-Dame de Paris, da Catedral de Laon e da Catedral de Chartres e, mais tarde, sob um arco quebrado, como se observa na Catedral de Reims. Em seguida passa a ser inscrita num quadrado, como no extremo sul do transepto da Catedral de Notre Dame em Paris e uma última transformação remete ainda a rosácea para o centro de uma composição de janelas, cobrindo a totalidade da fachada do transepto, como se pode constatar na Catedral de Rouen. No gótico flamejante (gótico tardio) as subdivisões de pedra da rosácea passam a ter um desenho rendilhado de curvas extremamente intrincado (traceria).

Simbologia cristã

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A rosácea é uma roda raiada que simboliza, segundo a tradição Cristã, o domínio de Cristo na Terra. Muitas vezes no centro da rosácea das igrejas medievais (romanicas e góticas) está a figura de Cristo que indica o papel decisivo do Salvador no centro do projeto escatológico divino.[2] A rosácea indicava também, nas igrejas de arquitectura românica, a roda da Fortuna (como nas fachadas da Basílica de San Zeno em Verona e da Catedral de Trento). Convém ainda lembrar que na Idade Média o teocentrismo era dominante[3] e que o próprio Dante definiu a Fortuna como uma inteligência angelical cuja sede estaria no Empíreo e opera entre os homens dentro da estrutura de um plano divino (Inferno, sétimo canto, 67-96). É retratada por Dante com uma roda (Inferno, décimo quinto canto, 95-96[4][5]

A rosácea "explica claramente a ciclicidade da fortuna humana e confina o tempo dos homens na incomensurabilidade do tempo de Deus".[6]

O significado simbólico da rosácea está, portanto, em estreita relação com o círculo que, enquanto “linha infinita”, sem princípio e sem fim, é símbolo de Deus, e com a roda, símbolo da eternidade. É o centro da história da salvação, o centro do fluxo do tempo dos homens. Por vezes, as figuras humanas são colocadas fora de algumas rosáceas: uma lembrança da incoerência, da precariedade das coisas profanas. Outras vezes, os símbolos dos evangelistas (os tetramorfos) são encontrados para lembrar que do centro-Cristo a palavra da salvação emana e espalha-se pelo mundo.[7]

Referências

  1. S.A, Priberam Informática. «rosácea». Dicionário Priberam. Consultado em 26 de junho de 2023 
  2. Le Garzantine, Dicionário de símbolos, p. 456
  3. [http://www.treccani.it/vocabolario/teocentrismo/ Teocentrismo no vocabulário – Treccani |accesso=6 de janeiro de 2013 |dataarchivio=26 fevereiro 2015 |urlarchivio=https://web.archive.org/web/20150226155926/http://www.webdiocesi.chiesacattolica.it/pls/cci_dioc_new/v3_s2ew_consultazione.mostra_pagina?id_pagina=5384 |urlmorto=sì }}
  4. [http ://www.spoletonline.com/?page=article&id= 48047 Spoletonline - POR. ALBERTO CHIARLE DESCREVE A SIMBOLOGIA DA ROSA DA CATEDRAL DE SPOLETO  (TRADUZIDO PARA 4 LÍNGUAS PARA OS NOSSOS LEITORES EM TODO O MUNDO)]
  5. Claudio Lanzi, Sedes Sapientiae, o universo simbólico das catedrais, edições Simmetria, Roma, 2009, pág. 162.
  6. Maria Luisa Mazzarello e Maria Franca Tricarico, La Chiesa nel tempo. La narrazione dell'architettura sacra, ed. Il Capitello, Elledici scuola, 2005, pag. 63.

Bibliografia

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  • Henry Adams, Mont-Saint-Michel and Chartres, Paul Hamlyn, ISBN 0600341828
  • Sarah Brown, Stained Glass- an Illustrated History, Bracken Books, ISBN 1-85891-157-5
  • Painton Cowen, The Rose Window, London and New York, 2005 (offers the most complete overview of the evolution and meaning of the form, accompanied by hundreds of colour illustrations.)
  • Giovanni Fanelli, Brunelleschi, 1980, Becocci editore Firenze. ISBN unknown
  • Sir Banister Fletcher, A History of Architecture on the Comparative Method, first published 1896, current edition 2001, Elsevier Science & Technology ISBN 0-7506-2267-9
  • Helen Gardner, Art through the Ages, 5th edition, Harcourt, Brace and World, ISBN 07679933
  • Lawrence Lee, George Seddon, Francis Stephens, Stained Glass, Spring Books, ISBN 0-600-56281-6
  • Elizabeth Morris, Stained and Decorative Glass, Doubleday, ISBN 0-86824-324-8
  • Anne Mueller von der Haegen, Ruth Strasser, Art and Architecture of Tuscany, 2000, Konemann, ISBN 3-8290-2652-8
  • Joseph Rykwert, Leonis Baptiste Alberti, Architectural Design, Vol 49 No 5–6, Holland St, London
  • Otto von Simson (1956), The Gothic cathedral, Origins of Gothic architecture and the Medieval Concept of Order, 3rd ed. 1988, Princeton University Press, USA.
  • John Summerson, Architecture in Britain 1530-1830, 1977 ed., Pelican, ISBN 0-14-056003-3
  • Wim Swaan, The Gothic Cathedral, Omega, ISBN 0-907853-48-X

Ligações externas

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