Sapor (irmão de Artaxes I)

 Nota: Para outros significados, veja Sapor.

Sapor (em latim: Sapor, Sapores; em persa médio: 𐭱𐭧𐭯𐭥𐭧𐭥𐭩; romaniz.: Shabuhr) foi um príncipe iraniano, o penúltimo xá de Pérsis de 207-210 a 211/2. Foi sucedido por seu irmão mais novo Artaxes I, que fundou o Império Sassânida.

Sapor
Sapor (irmão de Artaxes I)
Grafite de Sapor em Tachara, Persépolis
Xá de Pérsis
Reinado 207/10 – 211/2
Antecessor(a) Pabeco
Sucessor(a) Artaxes I (xainxá)
Descendência Narses (?)
Pai Pabeco
Religião Zoroastrismo

O nome Šapur combina as palavras šāh (rei) pūr (filho), significando literalmente "filho do rei". Seu nome foi utilizado por vários reis e notáveis durante o Império Sassânida e além e deriva do persa antigo *xšayaθiya.puθra. Pode ter sido um título, mas ao menos desde as últimas décadas do século II tornou-se um nome próprio. As formas atestadas incluem: parta šhypwhr; persa médio šhpwr-y; pálavi maniqueísta š’bwhr; livro pálavi šhpwhl; armênio šapowh; siríaco šbwhr; sogdiano š’p(‘)wr; grego Sapur(is) e Sabour; latim Sapores e Sapor; árabe al-Sābūr; persa Šāpur, Šāhpur, Šahfur, etc.[1]

Antecedentes e Reino de Pérsis

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Pérsis, uma região no planalto iraniano sudoeste, era a pátria de um ramo sudoeste dos povos iranianos, os persas. Foi também o berço do Império Aquemênida. A região serviu como centro do império até sua conquista pelo rei macedônio Alexandre, o Grande (r. 336–323 a.C.).[2] Desde o final do século III ou início do II a.C., Pérsis foi governada por dinastias locais sujeitas ao helenístico Império Selêucida.[3] Essas dinastias detinham o antigo título persa de frataraca ("líder, governador, precursor"), que também é atestado na Era Aquemênida.[4] Mais tarde, sob o frataraca Autofradates II (fl. 138 a.C.) foi feito um vassalo do Império Arsácida.[3] Os frataracas foram logo depois substituídos pelos xás de Pérsis, provavelmente com a ascensão do xainxá Fraates II (r. 132–127 a.C.). Ao contrário dos frataracas, os reis de Pérsis usaram o título de ("rei") e lançaram as bases para uma nova dinastia, que pode ser rotulada de daraiânida.[5]

Pabeco governou um pequeno principado na área de Quir, ao sul do lago Bakhtegan.[6] Era um vassalo de Gochir, o rei bazrânguida da capital persa de Estacar, que por sua vez era um vassalo do xainxá arsácida em Ctesifonte.[7][8] Com a permissão de Gochir, Pabeco enviou Artaxes à fortaleza de Darabeguerde para servir sob seu comandante, Tiri.[9] Pabeco teria servido como sacerdote do templo do fogo de Anaíta em Estacar, que era ponto de encontro dos soldados persas locais, que adoravam a deusa iraniana.[8] O Império Arsácida, então governado por Vologases V (r. 191–208), estava neste momento em declínio, devido as guerras com os romanos, guerras civis e revoltas regionais. O imperador romano Sétimo Severo (r. 193–211) invadiu os domínios arsácidas em 196, e dois anos depois fez o mesmo, desta vez saqueando a capital arsácida de Ctesifonte. Ao mesmo tempo, revoltas ocorreram na Média e Pérsis.[10]

 
Dracma de Sapor com sua efígie e de seu pai

O iranólogo Touraj Daryaee argumenta que o reinado de Vologases V foi "o ponto de virada na história arsácida, em que a dinastia perdeu muito de seu prestígio." De fato, em 205 ou 206, Pabeco se rebelou e derrubou Gochir, tomando Estacar para si.[8][10] De acordo com Tabari, foi por insistência de Artaxes que Pabeco se rebelou. No entanto, Daryaee considera esta afirmação improvável, e afirma que foi na realidade o filho mais velho Sapor que ajudou Pabeco a capturar Estacar, como demonstrado pela cunhagem deste último que tem retratos de ambos.[6] Pabeco posteriormente nomeou-o como seu herdeiro. Isso causou a antipatia de Artaxes, que se tornou o comandante de Darabeguerde após a morte de Tiri.[9] Em um ato de desafio, Artaxes partiu para Ardaxir-Cuarrá, onde se fortificou, preparando-se para atacar seu irmão Sapor após a morte de Pabeco.[10][a] Pabeco morreu de morte natural em algum momento entre 207-210 e foi sucedido por Sapor.[11][12][13] Após sua morte, tanto Artaxes quanto Sapor começaram a cunhar moedas com o título de "rei" e o retrato de Pabeco.[14] O observo das moedas de Sapor tinha a inscrição "(Sua) Majestade, Rei Sapor" e o reverso tinha "filho de (Sua) Majestade, Rei Pabeco". O reinado de Sapor, no entanto, foi curto; morreu sob condições obscuras em 211 ou 212.[10] Artaxes assim sucedeu Sapor, e passou a conquistar o resto do Irã, estabelecendo o Império Sassânida em 224.[9][15] Sapor talvez fosse pai de Narses que é registrado na inscrição Feitos do Divino Sapor de Sapor I, seu sobrinho.[16][17]

[a] ^ A evidência física demonstra que não foi de Darabeguerde, como afirma Tabari, que Artaxes começou a expandir seus domínios, mas de Ardaxir-Cuarrá.[18]

Referências

  1. Shahbazi 2002.
  2. Wiesehöfer 2000a, p. 195.
  3. a b Wiesehöfer 2009.
  4. Wiesehöfer 2000b, p. 195.
  5. Shayegan 2011, p. 178.
  6. a b Daryaee 2010, p. 245.
  7. Kia 2016, p. 224.
  8. a b c Daryaee 2012, p. 187.
  9. a b c Wiesehöfer 1986, p. 371–376.
  10. a b c d Daryaee 2010, p. 249.
  11. Frye 1988, p. 298–299.
  12. Daryaee 2010, p. 252.
  13. Curtis 2008, p. 34.
  14. Daryaee 2010, p. 250.
  15. Daryaee 2014, p. 4.
  16. Lukonin 1983, p. 702-703.
  17. Frye 1984, p. 373.
  18. Daryaee 2010, p. 247.

Bibliografia

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  • Curtis, Vesta Sarkhosh; Stewart, Sarah (2008). The Sasanian Era. Nova Iorque: I. B. Tauris. ISBN 9780857719720 
  • Daryaee, Touraj (2014). Sasanian Persia: The Rise and Fall of an Empire. Nova Iorque: I. B. Tauris. ISBN 978-0857716668 
  • Daryaee, Touraj (2012). «The Sasanian Empire (224–651)». In: Daryaee, Touraj. The Oxford Handbook of Iranian History. Oxônia: Imprensa da Universidade de Oxônia. ISBN 978-0199732159 
  • Daryaee, Touraj (2010). «Ardashir and the Sasanians' Rise to Power». Anabasis. 1: 236–255 
  • Frye, Richard Nelson (1984). The History of Ancient Iran. Munique: C. H. Becksche Verlagsbuchhandlung 
  • Frye, R. N. (1988). «Bābak (1)». Enciclopédia Irânica, Vol. III, Fasc. 3. Nova Iorque: Imprensa da Universidade de Colúmbia 
  • Lukonin, V. G. (1983). «Political, Social and Administrative Institutions: Taxes and Trade». In: Yarshater, Ehsan. The Cambridge History of Iran 3 (2) - The Seleucid, Parthian and Sasanian Periods. Cambrígia, Londres, Nova Iorque, New Rochelle, Melbourne, Sidnei: Imprensa da Universidad de Cambrígia 
  • Kia, Mehrdad (2016). The Persian Empire: A Historical Encyclopedia [2 volumes]. Santa Bárbara: ABC-CLIO. ISBN 978-1610693912 
  • Shayegan, M. Rahim (2011). Arsacids and Sasanians: Political Ideology in Post-Hellenistic and Late Antique Persia. Cambrígia: Imprensa da Universidade de Cambrígia. pp. 1–539. ISBN 9780521766418 
  • Wiesehöfer, Joseph (1986). «Ardašīr I i. History». Enciclopédia Irânica, Vol. II, Fasc. 4. Nova Iorque: Imprensa da Universidade de Colúmbia 
  • Wiesehöfer, Joseph (2000b). «Frataraka». Enciclopédia Irânica, Vol. X, Fasc. 2. Nova Iorque: Imprensada Universidade de Colúmbia 
  • Wiesehöfer, Joseph (2009). «Persis, Kings of». Enciclopédia Irânica. Nova Iorque: Imprensa da Universidade de Colúmbia