Saquarema
Saquarema (tupi: Socó-rema, «socó fedorento[nota 1]»)? é um município brasileiro do estado do Rio de Janeiro, localizado na região das Baixadas Litorâneas, mais precisamente, na Região dos Lagos. Sua população estimada em 2022 era de 89.559 habitantes, segundo o IBGE.
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Município do Brasil | |||
Símbolos | |||
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Hino | |||
Lema | Fraternidade e concórdia | ||
Gentílico | saquaremense[1] | ||
Localização | |||
Localização de Saquarema no Rio de Janeiro | |||
Localização de Saquarema no Brasil | |||
Mapa de Saquarema | |||
Coordenadas | 22° 55′ 12″ S, 42° 30′ 36″ O | ||
País | Brasil | ||
Unidade federativa | Rio de Janeiro | ||
Municípios limítrofes | Araruama, Maricá, Rio Bonito, Tanguá | ||
Distância até a capital | 96 km | ||
História | |||
Fundação | 8 de maio de 1841 (183 anos) | ||
Administração | |||
Prefeito(a) | Manoela Ramos de Souza Gomes Alves. (PL, 2021–2024) | ||
Características geográficas | |||
Área total [2] | 352,130 km² | ||
População total (IBGE/2022[2]) | 89 559 hab. | ||
Densidade | 254,3 hab./km² | ||
Clima | tropical | ||
Altitude | 2 m | ||
Fuso horário | Hora de Brasília (UTC−3) | ||
CEP | 28990-000 até 28999-999 | ||
Indicadores | |||
IDH (PNUD/2010[3]) | 0,709 — alto | ||
• Posição | 46º | ||
PIB (IBGE/2021[4]) | R$ 42 178 208,45 mil | ||
PIB per capita (IBGE/2021[4]) | R$ 41 758 897,92 |
História
editarAntecendentes
editarPor volta do ano 1000, comunidades indígenas de língua tupi provenientes das bacias dos rios Madeira e Xingu, na margem direita do rio Amazonas, ocuparam a maior parte do atual litoral brasileiro, expulsando os habitantes anteriores, falantes de línguas do tronco linguístico macro-jê, para o interior do continente.
Colonização Portuguesa
editarDurante a expedição de Gonçalo Coelho, foi estabelecida a Feitoria de Cabo Frio, aonde teria acontecido os primeiros contatos dos tamoios com os europeus.[9] Essa nação tupi, também chamados de tupinambás, já ocupava nessa época a região de Saquarema.[10] A feitoria já não existia quando Cristóvão Jacques visitou a região em 1516.[11]
Em 17 de março de 1531, a expedição de Martim Afonso de Sousa atracou em frente ao Morro de Saquarema.[5]
Com a criação da Capitania de São Vicente, em 1534, a região aonde hoje é Saquarema passou a ser comandada pelo donatário desta Capitania, sendo este inicialmente o próprio Martim Afonso.[12] Após a expulsão dos franceses da Baía de Guanabara em 1567, a criação de São Sebastião do Rio de Janeiro, e sesmaria de São Lourenço dos Índios dada a Araribóia, a margem direita da Baía, passou a se chamar Banda d'Além, e a ficar subordinada a Capitania do Rio de Janeiro.[13]
Em 4 de agosto de 1575, com o intuito de acabar de vez com a Confederação dos Tamoios, o governador António Salema partiu em expedição na Banda d'Além, com a força de 400 portugueses e 700 indígenas temiminós.[5]
Ao caminho de Cabo Frio, Salema encontrou e realizou um cerco a uma aldeia fortificada dos Tamoios, aonde hoje é o distrito de Sampaio Correa em Saquarema.[14] O padre Luís da Fonseca, após vários dias de cerco, relata que:
“ | Os tamoios, vendo-se perdidos, tomaram a resolução heroica de fazer uma sortida em massa. Reinou, então, uma paz no acampamento inimigo que inquietou Salema. Um jesuíta, o padre Baltazar Álvares, ofereceu-se para investigar o que era, e no dia 21 de setembro de 1575 encaminhou-se para o campo tamoio. Esse jesuíta, com artimanhas, mentiras e promessas lisonjeiras, conseguiu com o chefe dos tamoios, uma entrevista com Salema. O chefe índio, confiante na palavra do padre, cedeu, e de fato, no dia seguinte com toda solenidade, o chefe índio apresentou-se ao chefe branco. Salema, dando sua palavra de honra de militar que os deixaria em paz, exigiu, para isso, a entrega de três franceses que estavam entre os índios, os quais foram enforcados na praia. Transpondo esse obstáculo, Salema continuou a sua marcha pela praia até Arraial do Cabo, onde praticou o mais cruel desbarato. | ” |
Diversos conflitos ocorreram na região entre Saquarema e o atual distrito de Tamoios, no que hoje é chamado de Guerra de Cabo Frio. O conflito foi de grande extensão, e por esta razão o território aonde hoje é Saquarema ficou praticamente sem uso até 1594, quando padres da Ordem do Carmo receberam no dia 5 de outubro daquele ano, próximo ao atual distrito de Ipitangas, e construíram no local o Convento de Santo Alberto.[5][15]
No momento da instauração da Paróquia Nossa Senhora de Nazareth, em 1755, a Capela do Convento de Santo Alberto se tornou a única capela ligada a Paróquia.[16] Em 1768, Thomaz Cotrim de Carvalho construiu a Capela de Nossa Senhora da Conceição, porém foi rebaixada posteriormente a oratório.[17][16]
Geografia
editarSaquarema está localizada no estado do Rio de Janeiro, estando distante a 497,5 quilômetros da capital estadual, Rio de Janeiro.[18] Possui uma área de 99.12 quilômetros quadrados.[19]
Infraestrutura
editarA Igreja Matriz de Nossa Senhora de Nazareth
editarA primeira capela no Morro de Saquarema foi construída por volta de 1660 pelo casal Manoel de Aguillar Moreira e Catarina de Lemos, e era ligada a Matriz de Nossa Senhora da Assumpção de Cabo Frio.[20][16] A capela foi demolida para a construção, em 1675, da atual Igreja Matriz de Nossa Senhora de Nazareth de Saquarema.[16]
A igreja foi elevada a paróquia pelo Alvará Régio de 12 de janeiro de 1755.[16] A cidade tem como padroeira Nossa Senhora de Nazareth.
A igreja também possui um cemitério, que atrai turistas por ter uma vista de mirante para a Praia de Itaúna.[21]
Transporte
editarOs principais acessos rodoviários são:
- RJ-106 - Rodovia Amaral Peixoto
- RJ-118 - Estr. Sampaio Corrêa - Jaconé - Ponta Negra.
- RJ-124 - Via Lagos
- RJ-128 - Av. Saquarema/Estrada do Palmital
No distrito de Sampaio Corrêa, a ferrovia também atendia com sua demanda de transportes, a antiga Usina Santa Luzia, considerada a maior da região na época. No ano de 1943, a EFM foi repassada à Estrada de Ferro Central do Brasil, passando a ser denominada como Ramal de Cabo Frio. Em seus últimos anos, havia sido repassada à Estrada de Ferro Leopoldina. Os últimos trens de passageiros e de cargas circularam pela cidade no dia 16 de janeiro de 1962, desativando o trecho que atravessava o município. Em 1966, a linha férrea foi erradicada de Saquarema, o que ocasionou prejuízos econômicos à região posteriormente.[22][23]
Cultura
editarEsportes
editarO principal destaque esportivo da cidade é no surfe, sendo que, por causa do porte e qualidade das ondas, Saquarema é considerada pelos praticantes como a "Capital Nacional do Surfe".[24]
Os primeiros festivais de surfe na cidade começaram na década de 1970, e era sede da etapa brasileira da World Surf League até 2002.[carece de fontes] Desde 2017, a cidade passou a ser novamente parte do circuito mundial de surf.[25][26] A primeira etapa de volta a cidade teve como campeão o surfista brasileiro Adriano de Souza, conhecido como Mineirinho. As etapas são realizadas na Praia de Itaúna, conhecida entre os praticantes como o "Maracanã do Surf Brasileiro".[27] [26]
Música
editarEm 1976, a cidade foi sede do festival "Som, Sol & Surf", que foi organizado por Nelson Motta e contou com a participação, dentre outros, de Raul Seixas, Rita Lee e Angela Ro Ro.[28][24]
O cantor Serguei tinha sua residência em Saquarema, na qual chamava de Templo do Rock.[29][30] A casa, que foi construída por Russell Wid Coffin, era mantida como museu pelo cantor.[31]
Após a morte de Serguei, a Secretaria de Comunicação de Saquarema avisou que "o local ficará designado à Secretaria Municipal de Educação e Cultura para coordenar as ações de preservação, mantendo-o como patrimônio cultural do município, levando a história de Serguei e do Rock brasileiro para as futuras gerações".[32].
Notas e referências
Notas
- ↑ Socó é uma espécie de ave que era abundante na Lagoa de Saquarema no início da colonização da região.[5] Segundo Pedro Guedes Alcoforado, significa gavião fedorento, uma variação para a mesma origem.[6][7] Outra variação seria "bando de socós".[5] Já o tupinólogo Eduardo de Almeida Navarro sugere outra hipótese etimológica para "Saquarema": segundo ele, "Saquarema" pode ser oriundo da junção dos vocábulos tupis sakurá (uma variedade de caramujo) e rema (fedorento), significando, portanto, "caramujos fedorentos".[8] O nome teria sido dado pelos indígenas que dominaram a parte litorânea onde hoje se localiza a sede do município de Saquarema.[5]
Referências
- ↑ [1]
- ↑ a b «Saquarema». IBGE. Consultado em 19 de janeiro de 2017
- ↑ PNUD. «Rio de Janeiro » Saquarema » índice de desenvolvimento humano municipal - idhm». IBGE. Consultado em 19 de janeiro de 2017
- ↑ a b «Produto Interno Bruto dos Municípios 1999-2021». Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Consultado em 31 de julho de 2024
- ↑ a b c d e f «História - Prefeitura de Saquarema». 9 de outubro de 2016. Consultado em 13 de janeiro de 2024
- ↑ ALCOFORADO, Pedro Guedes (1950). O tupi na Geografia Fluminense. Niterói: [s.n.] p. 167
- ↑ SEIXAS 2022, p. 373.
- ↑ NAVARRO, E. A. Dicionário de tupi antigo: a língua indígena clássica do Brasil. São Paulo. Global. 2013. p. 597.
- ↑ Lagos, Rebeca NascimentoDo G1 Região dos (10 de novembro de 2015). «Cabo Frio 400 anos: a controvérsia do descobrimento e o passado indígena». Região dos Lagos. Consultado em 13 de janeiro de 2024
- ↑ BUENO, E. Brasil: uma história. 2ª edição. São Paulo. Ática. 2003. p. 19.
- ↑ BUENO 1998, p. 127.
- ↑ «Saquarema». www.aemerj.org.br. Consultado em 13 de janeiro de 2024
- ↑ JULIO, Suelen Siqueira (2019). «Presença indígena na história: reflexões em torno da Igreja de São Domingos Gusmão (Niterói, Rio de Janeiro)». Revista Nordestina de História do Brasil. 2 (3): 107-108
- ↑ Tupy, Dulce (21 de outubro de 2015). «O massacre dos Tamoios foi em Saquarema, há 440 anos». O SAQUÁ. Consultado em 13 de janeiro de 2024
- ↑ Saquá, O. (21 de maio de 2018). «A revolta de escravos na Fazenda Ipitangas». O SAQUÁ. Consultado em 13 de janeiro de 2024
- ↑ a b c d e SEIXAS 2022, p. 374.
- ↑ ARAÚJO, José de Sousa Azevedo Pizarro e (1820). Memorias historicas do Rio de Janeiro e das provincias annexas à jurisdicção do Vice-Rei do Estado do Brasil, dedicadas a El-Rei Nosso Senhor D. João VI. Rio de Janeiro: [s.n.]
- ↑ «Distância Entre Cidades». invertexto.com. Consultado em 1 de agosto de 2024
- ↑ «Saquarema (RJ) | Cidades e Estados | IBGE». www.ibge.gov.br. Consultado em 1 de agosto de 2024
- ↑ «Saquarema – Igreja Matriz de Nossa Senhora de Nazaré | ipatrimônio». Consultado em 13 de janeiro de 2024
- ↑ «Vista sinistra: Cemitério de Saquarema atrai turistas». O Globo. 12 de fevereiro de 2014. Consultado em 13 de janeiro de 2024
- ↑ «Sampaio Correia -- Estações Ferroviárias do Estado do Rio de Janeiro». www.estacoesferroviarias.com.br. Consultado em 13 de dezembro de 2020
- ↑ «Bacaxá -- Estações Ferroviárias do Estado do Rio de Janeiro». www.estacoesferroviarias.com.br. Consultado em 13 de dezembro de 2020
- ↑ a b Flamboiar (20 de abril de 2023). «A vocação de Saquarema para os festivais de surf». Flamboiar. Consultado em 14 de janeiro de 2024
- ↑ «2017 Men's Championship Tour Event Schedule» (em inglês). worldsurfleague.com. Consultado em 13 de janeiro de 2024
- ↑ a b «Saquarema se prepara para o Mundial de Surfe - Prefeitura de Saquarema». 14 de junho de 2023. Consultado em 13 de janeiro de 2024
- ↑ «Saquarema - Conhecida como o Maracanã do Surf, é o palco de muitos eventos de Surf». www.indoviajar.com.br. Consultado em 13 de janeiro de 2024
- ↑ «Documentário sobre festival de Saquarema, em 1976, reúne música e boas histórias». O Globo. 10 de fevereiro de 2019. Consultado em 13 de janeiro de 2024
- ↑ «G1 > Música - NOTÍCIAS - Roqueiro mais velho do país, Serguei relembra Janis Joplin e Woodstock». g1.globo.com. Consultado em 13 de janeiro de 2024
- ↑ Paulo Lima (2010). «Serguei está na moda». IstoÉ. Consultado em 8 de novembro de 2012
- ↑ «Serguei». Dicionário Cravo Albin de Música Popular Brasileira. Consultado em 8 de novembro de 2012
- ↑ SCHOTT, RICARDO. «Serguei: a despedida do verdadeiro maluco beleza do rock brasileiro | Rio de Janeiro | O Dia». odia.ig.com.br. Consultado em 13 de janeiro de 2024
Bibliografia
editar- BUENO, Eduardo (1998). Náufragos, traficantes e degredaos: as primeiras expedições ao Brasil, 1500-1531. Rio de Janeiro: [s.n.] 204 páginas
- SEIXAS, Antônio (2022). «Registros Paroquiais no Arquivo da Cúria Metropolitana de Niterói (séculos XVII ao XX)». Revista da Asbrap (29): 319-378