Esquilo-vermelho

espécie de mamífero
(Redirecionado de Sciurus vulgaris)

O esquilo-vermelho ou esquilo-vermelho-eurasiático (Sciurus vulgaris) é uma espécie de esquilo pertencente ao género Sciurus. É um roedor omnívoro que habita árvores, sendo muito comum por toda a Eurásia.

Como ler uma infocaixa de taxonomiaEsquilo-vermelho

Estado de conservação
Espécie pouco preocupante
Pouco preocupante
Classificação científica
Reino: Animalia
Filo: Chordata
Classe: Mammalia
Ordem: Rodentia
Família: Sciuridae
Género: Sciurus
Subgénero: Sciurus
Espécie: S. vulgaris
Nome binomial
Sciurus vulgaris
Lineu, 1758
Distribuição geográfica

Em Portugal, o esquilo-vermelho desapareceu no século XVI, mas nos anos 1990 populações vindas da Espanha voltaram a colonizar o norte do país.[1] Na Grã-Bretanha e Irlanda os seus números têm decrescido, em parte devido à introdução do esquilo-cinzento americano (Sciurus carolinensis)[2] e também devido à baixa manutenção do seu habitat. O esquilo-cinzento foi também introduzido no norte da Itália, e há o risco de que também nessa região ocorra a competição com a espécie nativa europeia.

Descrição física

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O esquilo-vermelho tem um comprimento típico de 19 a 23 cm (excluindo a cauda), uma cauda entre 15 e 20 cm de comprimento e um peso entre 250 e 340 g. Não apresenta dimorfismo sexual, pois machos e fêmeas têm o mesmo tamanho. Pensa-se que a longa cauda do esquilo o ajuda a manter o equilíbrio e postura quando salta de árvore em árvore e corre ao longo de ramos, podendo também ajudar o animal a manter-se quente durante o sono.

 
Um esquilo-vermelho com a sua pelagem cinzenta de Inverno.

A cor da pelagem do esquilo-vermelho varia com a estação e a sua localização. Existem diversas variantes, do preto ao vermelho. A pelagem vermelha é mais comum na Grã-Bretanha; noutras partes da Europa e Ásia, coexistem diferentes pelagens nas mesmas populações. O ventre é sempre branco-creme. O esquilo-vermelho muda o pelo duas vezes por ano, tomando uma pelagem mais espessa e escura e adquirindo tufos de pelo nas orelhas entre agosto e novembro. Os tufos de pelo são uma característica específica do esquilo-vermelho. Possui em geral uma coloração mais clara e avermelhada que o esquilo-cinzento americano ou o esquilo-vermelho americano.

Possui, também, garras aguçadas e encurvadas que permitem trepar às árvores, mesmo que os ramos estejam caídos.

Reprodução e mortalidade

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O acasalamento pode ocorrer no final do Inverno, durante Fevereiro e Março, e no Verão, entre Junho e Julho. Uma fêmea pode originar uma a duas ninhadas por ano; cada ninhada tem normalmente três ou quatro crias mas pode ter até seis. A gestação dura 38 a 39 dias. A mãe toma sozinha conta das crias, que nascem indefesas, cegas e surdas e pesando entre 10 e 15 g. O seu corpo encontra-se coberto de pêlo após 21 dias, os olhos e ouvidos abrem após três ou quatro semanas e desenvolvem todos os seus dentes até aos 42 dias. Os jovens esquilos conseguem comer alimentos sólidos após 40 dias, podendo após este tempo abandonar o ninho e encontrar comida por meios próprios; são no entanto amamentados até às oito a dez semanas.

 
Um esquilo-vermelho com duas semanas de idade.

Durante o acasalamento, os machos detectam as fêmeas que se encontram no estro através de um odor que elas produzem; embora não exista corte, o macho corre atrás da fêmea até cerca de uma hora antes de acasalar. É usual diversos machos correrem atrás da mesma fêmea até o macho dominante (normalmente o de maior envergadura) conseguir acasalar. Machos e fêmeas acasalam múltiplas vezes com diversos parceiros. As fêmeas têm de possuir uma massa corporal mínima até atingir o estro e as fêmeas mais pesadas produzem em média mais filhotes. Uma fêmea produz a sua primeira ninhada tipicamente durante o seu segundo ano de vida. A reprodução pode ser mais lenta se a comida for escassa.

Um esquilo-vermelho vive cerca de três anos, embora alguns espécimens vivam até aos sete ou dez anos se em cativeiro. A sobrevivência tem uma correlação positiva com a disponibilidade de sementes durante o Outono e Inverno; em média, 75% a 85% dos jovens esquilos desaparece durante o primeiro Inverno e a mortalidade desce para 50% nos Invernos seguintes.[3]

Ecologia e comportamento

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Esquilo-vermelho.

O esquilo-vermelho habita a floresta conífera, encontrando-se também em florestas temperadas caducifólias. Nidifica na axila de ramos de coníferas formando ninhos em forma de cúpula com cerca de 25 a 30 cm de diâmetro, forrado com musgo, folhas, ervas e casca de árvore. Também utilizam cavidades em árvores e ninhos de cuco para nidificar. É um animal solitário, tímido e relutante em partilhar comida. No entanto, fora da estação de acasalamento, e especialmente no Inverno, diversos esquilos-vermelhos podem partilhar um ninho para se manterem quentes. A organização social é baseada numa hierarquia de dominância entre sexos e dentro de cada sexo; embora os machos não sejam necessariamente dominantes em relação às fêmeas, os animais dominantes são normalmente maiores e mais velhos que os subordinados e os machos dominantes têm usualmente lares maiores que machos e fêmeas subordinados.[4]

O esquilo-vermelho alimenta-se de sementes de árvores, conseguindo limpar cones de coníferas para obter as suas sementes. Também se alimentam de determinados cogumelos, ovos de pássaros, bagas e rebentos de plantas. Também podem remover a casca de árvores para aceder à seiva. É capaz de coleccionar cogumelos e secá-los em árvores.[5][6]

Entre 60% e 80% do seu período activo pode ser passado na busca de alimento e forragem.[7] Embora o esquilo-vermelho seja capaz de memorizar onde escondeu comida, a sua memória espacial é menor e menos precisa que a do esquilo-cinzento;[8] necessita por isso procurar frequentemente os esconderijos quando necessita deles e por vezes não encontra alguns. Não mantém territórios e as áreas de busca de alimento sobrepõem-se de forma considerável.

 
Esquilo-vermelho apresentando os característicos tufos de pêlo de Inverno nas orelhas.

O período activo do esquilo-vermelho é a manhã e ao anoitecer. Descansa durante o dia no seu ninho, evitando dois perigos dessas horas: o calor e a maior visibilidade a aves de rapina. Durante o Inverno, este descanso diurno é mais curto ou ausente, embora condições climáticas agressivas possam fazer com que o animal fique no seu ninho durante vários dias de seguida.

Os predadores arbóreos incluem pequenos mamíferos como a marta (Martes martes), o gato-bravo e o arminho, que atacam as crias; aves, como corujas, e aves de rapina como gaviões e açores. A raposa-vermelha, gatos e cães também podem ser predadores quando o esquilo se encontra no solo. O homem influencia o tamanho e mortalidade da população ao destruir ou alterar habitats, causar mortes por acidente rodoviário e controlar populações pela caça.

Taxonomia e distribuição

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O esquilo-vermelho ocorre em quase toda a Europa, boa parte da Sibéria, norte da China, Península Coreana e norte do Japão.

 
Esquilo-vermelho com pelagem castanha

Em Portugal

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Mapa do Atlas de Mamíferos de Portugal, 2ª edição (2019)

[9] Em Portugal o esquilo-vermelho extinguiu-se no século XVI, provavelmente devido à perda de habitats. A partir dos anos 1980 a espécie começou a recolonizar o norte do país, vindo da Galiza, na Espanha.[1][10] A subespécie encontrada em Portugal parece ser S. v. fuscoater.[10]

A expansão natural de esquilos repovoou grande parte de Portugal ao norte do Rio Douro, estando a espécie presente nas áreas protegidas do Parque Nacional da Peneda-Gerês e do Parque Natural de Montesinho. Nos últimos anos a espécie foi detectada na Reserva Natural Serra da Malcata, no centro-leste de Portugal.[11]

O esquilo-vermelho também foi introduzido em áreas verdes urbanas como o Parque Florestal de Monsanto,[12] em Lisboa, e o Jardim Botânico de Coimbra.

Subespécies

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Existem mais de quarenta subespécies identificadas de esquilo-vermelho, mas o estatuto taxonómico de algumas destas é incerto. Um estudo de 1971 reconhece a existência de 16 subespécies e serviu como base para estudos taxonómicos posteriores.[13][14]

  • S. v. altaicus Serebrennikov, 1928
  • S. v. anadyrensis Ognev, 1929
  • S. v. argenteus Kerr, 1792
  • S. v. balcanicus Heinrich, 1936
  • S. v. bashkiricus Ognev, 1935
  • S. v. fuscoater Altum, 1876
  • S. v. fusconigricans Dvigubsky, 1804
  • S. v. infuscatus Cabrera, 1905
  • S. v. italicus Bonaparte, 1838
  • S. v. jacutensis Ognev, 1929
  • S. v. jenissejensis Ognev, 1935
  • S. v. leucourus Kerr, 1792
  • S. v. mantchuricus Thomas, 1909
  • S. v. meridionalis Lucifero, 1907
  • S. v. rupestris Thomas, 1907
  • S. v. vulgaris Lineu, 1758

Conservação

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Esquilo-vermelho.

O esquilo-vermelho encontra-se protegido na maior parte da Europa por se encontrar listado no Apêndice III da Convenção de Berna para a Conservação da Vida Selvagem e Habitats Naturais Europeus; também se encontra listado como espécie quase ameaçada na Lista Vermelha da IUCN. Nalgumas áreas, é abundante e caçado por causa da sua pelagem.

Competição com o esquilo-cinzento

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Embora não considerado sob ameaça a nível global, o número de esquilos-vermelhos diminuiu drasticamente no Reino Unido, pensando-se existir menos de 140 000 indivíduos,[15] 85% destes na Escócia. Este decréscimo na população é frequentemente associado à introdução do esquilo-cinzento (Sciurus carolinensis) provindo da América do Norte, embora a perda e fragmentação do seu habitat tenha desempenhado também um papel importante.

De forma a conservar a restante população, o governo do Reino Unido anunciou em Janeiro de 2006 um programa de abate do esquilo-cinzento, uma acção bem recebida por diversos grupos de conservação da natureza. Uma acção anterior de abate foi iniciada em 1998 na ilha de Anglesey, no norte do País de Gales, o que facilitou a recuperação natural da população do esquilo-vermelho e a reintrodução deste na floresta de Newborough.[16] Existem ainda diversos grupos locais de conservação, como o Red Squirrel Conservation em Mallerstang, Cúmbria.[17]

Fora das Ilhas Britânicas, existe uma população significativa de esquilo-cinzento em Piemonte, na Itália, onde dois pares escaparam ao cativeiro em 1948. Observou-se uma diminuição significativa do esquilo-vermelho na área após 1970 e teme-se a expansão desta espécie pela restante Europa.

O esquilo-cinzento aparenta ganhar na competição com o esquilo-vermelho por diversas razões:

  • O esquilo-cinzento consegue digerir facilmente bolotas, algo que o esquilo-vermelho não consegue fazer;
  • O esquilo-cinzento é portador de uma doença, um parapoxvírus, que aparenta não o afectar mas que frequentemente mata o esquilo-vermelho.
  • Quando o esquilo-vermelho se encontra sob pressão, não acasala tão frequentemente.

As duas espécies não são antagonistas e o confronto entre ambas não é um factor no declínio das populações de esquilo-vermelho.

Uma pesquisa efectuada em 2007 mostrou que a expansão da população da marta provoca a retracção da população do esquilo-cinzento. Pensa-se que tal é devido ao maior tempo que o esquilo-cinzento passa no solo, em relação ao esquilo-vermelho, expondo-se mais à acção deste predador.[18]

Importância cultural e económica

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O esquilo-vermelho foi muito caçado por causa da sua pelagem, que foi usada como moeda de troca no passado.

Na mitologia nórdica, Ratatosk é um esquilo-vermelho que corre acima e abaixo da árvore do mundo, Yggdrasill, e espalha boatos, tendo impelido insultos entre a águia no topo de Yggdrasill e o dragão Níðhöggr, debaixo das raízes.

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  • Beatrix Potter escreveu um livro infantil, The Tale of Squirrel Nutkin, sobre um esquilo-vermelho.
  • "O esquilo", uma das personagens principais dos livros infantis "Little Grey Rabbit" de Alison Uttley, é um esquilo-vermelho (que aparece normalmente com um vestido verde com pintas brancas)
  • "Tufty o esquilo" é uma mascote criada no Reino Unido para a propaganda de segurança rodoviária, tendo originado o "Clube Tufty", que no seu pico de popularidade possuía cerca de dois milhões de membros abaixo dos cinco anos.[19][20]

Referências

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Outros projetos Wikimedia também contêm material sobre este tema:
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  1. "Fight to save Red Squirrel impeded by lack of funds": artigo por Graham Tibbetts, p.17, n.47,381, Daily Telegraph (Sexta-feira, 5 de Outubro de 2007)
  2. Gurnell, J. 1983, Squirrel numbers and the abundance of tree seeds. Mammal Review. 13:133–148
  3. Wauters, L., C. Swinnen, and A. A. Dhondt. 1992, Activity budget and foraging behaviour or red squirrels (Sciurus vulgaris) in coniferous and deciduous habitats. Journal of Zoology 227:71–86
  4. «The Rockies». Ray Mears' Extreme Survival 
  5. «Red Squirrel eating of all things, a Mushroom». Consultado em 14 de julho de 2007 
  6. Wauters, L.A., and A.A. Dhondt. 1992, Spacing behaviour of red squirrels, Sciurus vulgaris: variation between habitats and the sexes. Animal Behaviour 43:297–311
  7. Macdonald, I. M. V. (1997). Field experiments on duration and precision of grey and red squirrel spatial memory. Animal Behaviour 54:879-891
  8. Joana Bencatel, Helena Sabino-Marques, Francisco Álvares, André E. Moura & A. Márcia Barbosa (eds.). Atlas de Mamíferos de Portugal – uma recolha do conhecimento disponível sobre a distribuição dos mamíferos no nosso país. [S.l.: s.n.] ISBN 978-989-8550-80-4. Consultado em 4 de junho de 2020 
  9. a b Ferreira et al (2001) Distribución y aspectos ecológicos de Sciurus vulgaris en Portugal. Galemys 13 n especial
  10. «Artigo do DN: Esquilo-vermelho e corço estão de regresso à serra da Malcata, 6 de Março de 2006». Consultado em 27 de abril de 2008. Arquivado do original em 24 de janeiro de 2008 
  11. O esquilo no Parque Florestal de Monsanto
  12. Sidorowicz, J. 1971, Problems of subspecific taxonomy of squirrel (Sciurus vulgaris L.) in Palaearctic: Zoologischer Anzeiger. 187:123–142.
  13. Lurz, P.W.W. et al. 2005. Sciurus vulgaris. Mammalian Species 769:1–10
  14. [1]
  15. http://www.redsquirrels.info
  16. http://www.mallerstang.com
  17. Watson, Jeremy (30 de Dezembro de 2007) "Tufty's saviour to the rescue". Scotland on Sunday. Edinburgh.
  18. http://news.bbc.co.uk/1/hi/magazine/4690166.stm
  19. http://www.nationalarchives.gov.uk/films/1964to1979/filmpage_tufty.htm

Ligações externas

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