Sopa caramela
Sopa caramela[1] é uma receita de sopa tradicional da Estremadura, mais concretamente do concelho Palmela em particular da freguesia do Pinhal Novo, embora também marque presença noutras freguesias do concelho, remontando a meados do século XIX e encontrando-se intimamente relacionada com os movimentos migratórios sazonais, das zonas das Beiras para a Estremadura, Ribatejo e vale do Sado.[2][3]
Descrição
editarA sopa caramela pauta-se por ser uma sopa camponesa, à base de batata, feijão carolino ou encarnado, couve, cenoura e nabo, entre outras hortícolas possíveis, guarnecida por carnes de porco, como pá de porco, morcela, toucinho, chouriço, entre outras carnes da matança, temperada com louro, alho e azeite.[4]
As versões modernas desta receitam também costumam levar massa.[4]
História
editarAs origens da sopa caramela remontam entre finais do século XVIII e meados do século XIX, tendo sido trazida para a Estremadura pelos trabalhadores rurais assalariados, provenientes das áreas da Beira Litoral e do Baixo Mondego, que se deslocavam sazonalmente, para as propriedades agrícolas da região.[2] A estes trabalhadores rurais que trabalhavam à jorna, chamava-se, pejorativamente, «caramelos»,[3][5] designação esta que depois veio posteriormente a alcunhar a sopa em apreço.[2]
A partir da segunda metade do século XIX, por necessidades de mão-de-obra permanente, os jornaleiros "caramelos", em vez de serem só uma mão-de-obra sazonal e itenerante, fixaram-se nas regiões da Estremadura e do Vale do Sado, convertendo-se em mão-de-obra permanente.[2] Subsequentemente, com o tempo, foram-se tornando rendeiros, com propriedades e residência fixa na região, onde introduziram novos hábitos alimentares trazidos dos seus locais de origem.[2] Mercê das dificuldades económicas a que tinham de fazer frente, a alimentação destas populações, embora consistente, baseava-se, sobretudo, em sopa feita com os produtos hortícolas que tivessem mais à mão, guarnecidos, com enchidos e carne da matança.[2] É neste contexto que surge a sopa caramela.[2]
Inicialmente, esta sopa de feijão e couve, afeiçoava-se aos caldos de unto[6] ou água de unto[7] (historicamente tradicionais do Norte de Portugal), mas, com o tempo e com um maior desafogo económico, foi sendo enriquecida com mais ingredientes.[2]
Referências
- ↑ «Sopa da Caramela - Culinária | Praça da Alegria | RTP». Praça da Alegria. 8 de maio de 2019. Consultado em 28 de dezembro de 2024
- ↑ a b c d e f g h Pais, Catarina Moura, Tiago (26 de novembro de 2024). «No Pinhal Novo, a sopa caramela é de feijão, couve e memória colectiva». PÚBLICO. Consultado em 28 de dezembro de 2024
- ↑ a b S.A, Infopédia- Dicionário da Língua Portuguesa. «Caramelo». Infopédia Dicionário da Língua Portuguesa. Consultado em 14 de agosto de 2023
- ↑ a b Modesto, Maria de Lourdes (2013). Cozinha Tradicional Portuguesa. Lisboa: Verbo. p. 41. 342 páginas. ISBN 9789722230896
- ↑ S.A, Priberam Informática. «Caramelo - Dicionário Priberam da Língua Portuguesa». Dicionário Priberam da Língua Portuguesa. Consultado em 28 de dezembro de 2024
- ↑ S.A, Priberam Informática. «Caldo de unto - Dicionário Priberam da Língua Portuguesa». Dicionário Priberam da Língua Portuguesa. Consultado em 28 de dezembro de 2024
- ↑ Modesto, Maria de Lourdes (2013). Cozinha Tradicional Portuguesa. Lisboa: Verbo. p. 13. 342 páginas. ISBN 9789722230896