Tarsius
Tarsius é um gênero de macacos primatas popularmente conhecidos como társios, pertecentes à família Tarsiidae, a única com representantes atuais dentro da infraordem Tarsiiformes. Apesar do grupo outrora ter sido comum, todas as espécies atualmente viventes são encontradas em ilhas no sudeste da Ásia.
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Classificação científica | |||||||||||||||||
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Espécies | |||||||||||||||||
Sinónimos | |||||||||||||||||
Cephalopachus Swainson, 1835[1] |
Os achados paleontológicos na Tailândia e China indicam que esta família é endêmica das florestas do sul da Ásia, onde habita pelo menos desde o período Eoceno[2].
Taxonomia
editarA posição filogenética dos atuais társios dentro da ordem Primates foi bastante debatida no Século XX e os társios foram alternativamente classificados junto dos primatas Strepsirrhini, na subordem Prosimii, ou como grupo-irmão dos Simiiformes (=Anthropoidea), na infraordem Haplorrhini. Análises das inserções de um elemento transponível do tipo SINE (Short Interspersed Nuclear Element), um tipo de macromutação do DNA, sustentam a evidência de grupo monofilético com os Haplorrhini, onde outras linhas de evidências, tais como dados da sequência de DNA, permanecem ambíguas. Deste modo, alguns biólogos argumentam que o debate está conclusivamente assentado em favor dos Haplorrhini.[carece de fontes]
Em um nível menor, tudo indica que os társios, atualmente situados no gênero Tarsius, realmente deveriam estar separados em dois ou três gêneros (para os grupos Sulawesi, Filipinas e Ocidente[1]). O nível taxonômico das espécies é complexo, com a morfologia sendo limitada ao uso comparado das vocalizações. Algumas formas vocais podem representar táxons não-descritos, taxonomicamente separados de T. tarsier (=spectrum), tais como os társios Minahasa e os das Ilhas Togian), e muitos outros do Sulawesi e ilhas próximas. Isso deve ser o caso de um número pobremente conhecido de populações isoladas das Filipinas (tais como as populações Basilan, Leyte e Dinagat do grupos de T. syrichta). Mais confusão existe sobre a validade de certos nomes. Entre outros, o amplamente usado T. dianae parece ser sinônimo de T. dentatus e, comparativamente, T. spectrum é agora considerado um sinônimo de T. tarsier.[1]
História evolutiva
editarFósseis de társio e de outros tarsiiformes foram encontrados na Ásia, Europa e América do Norte e, possivelmente, na África. Porém, os társios sobreviventes estão restritos a algumas ilhas do sudeste asiático, incluindo Filipinas, Sulawesi, Bornéu e Sumatra. Eles também possuem o maior registro fóssil contínuo que qualquer outro primata.[3] O registro fóssil indica que sua dentição pouco mudou, exceto em tamanho, passados 45 milhões de anos.
Classificação da família Tarsiidae
editar- †Xanthorhysis Beard, 1998
- †Xanthorhysis tabrumi Beard, 1998 - Eoceno Médio, Bacia de Yangu, China
- Tarsius Storr, 1780[1]
- †Tarsius eocaenus Beard et al., 1994 - Eoceno Médio, Shanghuang, China
- †Tarsius thailandica Ginsburg & Mein, 1987 - Mioceno Inferior, Tailândia
- Tarsius bancanus Horsfield, 1821
- Tarsius dentatus Miller & Hollister, 1921
- Tarsius lariang Merker & Groves, 2006
- Tarsius pelengensis Sody, 1949
- Tarsius pumilus Miller & Hollister, 1921
- Tarsius sangirensis Meyer, 1897
- Tarsius syrichta Linnaeus, 1758
- Tarsius tarsier Erxleben, 1777
- Tarsius tumpara Shekelle et al. 2008[4]
Anatomia e fisiologia
editarTársios são animais pequenos com olhos enormes; cada globo ocular tem aproximadamente 16 mm de diâmetro e é tão largo quanto seu cérebro inteiro.[5] Társios também possuem membros posteriores bastante alongados. De fato, seus pés possuem tarsos extremamente alongados, os quais emprestam o nome ao animal. A cabeça e o corpo medem juntos entre 10 e 15 cm de comprimento, porém os membros posteriores medem o dobro (incluindo os pés).
Apresentam uma longa cauda nua e fina, com um tufo de pelos na ponta, que pode medir entre 20 e 25 cm de comprimento. Seus dedos são também alongados, com o terceiro dedo tendo quase o mesmo tamanho da parte superior do braço. A maioria dos dedos apresentam unhas, porém o segundo e terceiro dedos dos pés possuem garras, as quais são usadas para segurar na árvore. Társios são delgados, com pelagem aveludada e de coloração amarelada, bege ou ocre.[6]
Os társios pesam menos de 200 gramas[7] e possuem 34 dentes. Como outros prossímios, não possuem dentes em forma de pente fino, e sua fórmula dental também é exclusiva: 2.1.3.3 / 1.1.3.3.
Para manter-se agarrado, após um pulo, o társio utiliza um tipo de "adesivo natural" que existe em seus dedos, que o ajuda a segurar-se nos galhos.[8]
Visão
editarTodas as espécies de társios são noturnas, porém, como outros organismos noturnos, alguns indivíduos podem apresentar maior ou menor atividade durante o dia. Ao contrário de muitos animais noturnos, contudo, társios não possuem uma área reflexiva da luz (Tapetum lucidum) no olho. Também possuem uma fóvea, algo atípico para um animal noturno.
O cérebro do társio é diferente de outros primatas, em termos de arranjo das conexões entre os dois olhos e o núcleo lateral geniculado, o qual é a principal região do tálamo que recebe a informação visual. A sequência de camadas celulares recebendo informação dos olhos ipsilaterais (mesmo lado da cabeça) e contralaterais (lado oposto da cabeça), no núcleo lateral geniculado, distingue társios dos lêmures, loríneos e macacos, os quais são todos similares neste aspecto.[9] Alguns neurocientistas sugerem que isto distingue os társios de todos os outros primatas, reforçando o ponto de vista de que eles desenvolveram-se de uma antiga e independente linha de evolução dos primatas.[10]
Comportamento
editarEles são carnívoros, alimentando-se principalmente de insetos e capturando os que pulam sobre eles. De facto, são conhecidos por serem os únicos primatas que se alimentam inteiramente de carne.[11][12] Também são conhecidos por predarem pequenos vertebrados, tais como cobras, lagartos, aves e morcegos.[6] Como pulam de árvore em árvore, podem capturar aves em movimento.
A gestação dura aproximadamente seis meses e a fêmea dá a luz um único filhote. Jovens társios já nascem peludos e com os olhos abertos, e são capazes de escalar em seu primeiro dia de nascimento. Alcançam a maturidade sexual no final do segundo ano de idade. A socialidade e o acasalamento variam, com társios do Sulawesi vivendo em pequenos grupos familiares, enquanto há registros de indivíduos dos Ocidentais e das Filipinas dormindo e se alimentando sozinhos.
Conservação
editarTásios nunca conseguiram reproduzir-se com sucesso em cativeiro, a ponto de formarem colônias. Quando enjaulados, társios são conhecidos por ferir ou até mesmo matar indivíduos da sua espécies, devido ao estresse.[13]
Um local com relativo sucesso na restauração populacional dos társios está na ilha de Bohol, na região central das Filipinas. A Philippine Tarsier Foundation desenvolveu um largo ambiente semi-selvagem que usa luz para atrair os insetos que fazem parte da dieta dos társios.[14]
O Tarsius tumpara, descrito em 2008, é considerado como "criticamente ameaçado" e está listado entre os 25 primatas mais ameaçados pela Conservação Internacional e pela IUCN/SCC Primate Specialist Group.[15] O governo da Malásia protege os társios por listá-los entre os "animais totalmente protegidos de Sarawak", o estado malásio em Bornéu, onde eles são comumente achados.[16]
Bibliografia
editar- Groves, C.P. (2005). Wilson, D. E.; Reeder, D. M, eds. Mammal Species of the World 3.ª ed. Baltimore: Johns Hopkins University Press. pp. 111–184. ISBN 978-0-8018-8221-0. OCLC 62265494
Referências
- ↑ a b c d Wilson, D.E.; Reeder, D.M., ed. (2005). «Gênero Tarsius». Mammal Species of the World 3º ed. Baltimore: Johns Hopkins University Press. ISBN 978-0-8018-8221-0. OCLC 62265494
- ↑ "Evolution and biogeography of primates: a new model based on molecular phylogenetics, vicariance and plate tectonics", M. HEADS. Zoologica Scripta, 2009. doi: 10.1111/j.1463-6409.2009.00411.x
- ↑ The Philippine Tarsier Bohol, acessado em 30 de outubro de 2009
- ↑ Tarsius tumpara: A New Tarsier Species from Siau Island, North Sulawesi Arquivado em 24 de julho de 2011, no Wayback Machine. Tarsier.org., acessado em 30 de outubro de 2009
- ↑ Shumaker, Robert W.; Benjamin B. Beck (2003). Primates in Question. Smithsonian Books. ISBN 1-58834-151-8.
- ↑ a b Niemitz, Carsten (1984). Macdonald, D.. ed. The Encyclopedia of Mammals. New York: Facts on File. pp. 338–339
- ↑ Centro filipino preserva menores primatas do mundo Terra, acessado em 30 de outubro de 2009
- ↑ Descubra o que é társio Arquivado em 19 de junho de 2009, no Wayback Machine. iG, acessado em 30 de outubro de 2009
- ↑ Rosa, M. G.; Pettigrew J. D.; Cooper H. M. (1996). Unusual pattern of retinogeniculate projections in the controversial primate Tarsius. Brain Behavior and Evolution 48 (3): 121–129.
- ↑ Collins, C. E.; Hendrickson, A.; Kaas, J. H. (2005). Overview of the visual system of tarsius. The Anatomical Record Part A 287 (1): 1013–1025.
- ↑ «Társio». Vida em Destaque. FCiências. 17 de Abril de 2015. Consultado em 7 de Outubro de 2015
- ↑ «Tarsius (Tarsier)». Doador. 10 de Abril de 2015. Consultado em 7 de Outubro de 2015
- ↑ TARSIERS (Tarsiidae) Singapore Zoological Gardens Docents, acessado em 30 de outubro de 2009
- ↑ Jachowski, David S.; Pizzaras, Carlito (2005). Introducing an innovative semi-captive environment for the Philippine tarsier (Tarsius syrichta). Zoo Biology 24 (1): 101–109
- ↑ Top 25 Most Endangered Primates Arquivado em 6 de setembro de 2010, no Wayback Machine. IUCN/SSC Primate Specialist Group, acessado em 30 de outubro de 2009
- ↑ Totally Protected Animals of Sarawak Sarawak Forestry, acessado em 30 de outubro de 2009
Ligações externas
editar- (em português) MSN Vídeo