Teoria subjetiva do valor

teoria econômica proposta pelo estudioso austríaco Carl Menger

A teoria subjetiva do valor(também chamada de teoria do valor subjetivo ou teoria do valor marginal) é uma teoria do valor que explica que o valor de um produto não está em si mesmo mas sim na mente de quem quer adquiri-lo. Isto é, o valor do produto não está relacionado com os produtos agregados ou trabalho realizado. A esta teoria opõe-se a teoria do valor-trabalho. O valor subjetivo é uma das teorias mais importantes da Escola Austríaca de Economia e da Economia Neoclássica. O valor só pode ser deduzido a priori.[carece de fontes?] Em última análise os produtos só têm valor porque as pessoas desejam estes produtos. Logo, quanto mais as pessoas querem esses produtos, maior será o valor em causa.

É importante notar que esta teoria também enfatiza a importância da quantidade disponível de um bem de forma inversamente proporcional à utilidade do mesmo. De forma que, quanto maior a quantidade disponível de um bem, menor será o valor que os indivíduos atribuem a ele.[1][2]

Enquanto a versão desta teoria foi criada independentemente e quase em simultâneo e por William Stanley Jevons, Léon Walras e Carl Menger na segunda metade do século XIX,[3] já tinha sido notificada na Idade Média e no Renascimento, mas sem ganhar aceitação unânime nessas épocas.

Alguns economistas clássicos como Jean-Baptiste Say[4] também haviam produzido uma teoria do valor baseada na utilidade, que não foi aceita na época.[5][6] Outros economistas como Nassau William Senior e Jeremy Bentham também produziram uma teoria de utilidade que, por sua vez, influenciou o economista William Stanley Jevons.[7]

Exemplo

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Por hipótese, suponha-se uma loja de departamento que vende duas camisas. Ambas as camisas são feitas do mesmo material, segundo o mesmo processo de produção que demorou o mesmo tempo de trabalho, sendo feitas pela mesma empresa. No fim, elas têm o mesmo custo de produção. Porém uma está estampada com um padrão axadrezado e a outra camisa está estampada com listras. Há uma recente moda de camisas xadrez, aumentando a demanda por essa estampa. Então os consumidores atraídos pela moda pagam mais pela camisa xadrez do que a camisa listrada, mesmo sendo idênticas fisicamente.

A Teoria do Valor-trabalho

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A Teoria do Valor-trabalho propõe a quantidade de trabalho empregada em um determinado produto como a causa de seu valor de troca.[8] Adam Smith a desenvolveu em sua obra A Riqueza das Nações, considerada como a obra fundadora da economia clássica.[9][10][11]

O valor real de cada coisa, para a pessoa que a adquiriu e deseja vendê-la ou trocá-la por qualquer outra coisa, é o trabalho e o incômodo que a pessoa pode poupar a si mesma e pode impor a outros. O que é comprado com dinheiro ou com bens, é adquirido pelo trabalho, tanto quanto aquilo que adquirimos com o nosso próprio trabalho.
— Adam Smith, A Riqueza das Nações, 1776

Porém, Adam Smith implicou uma limitação à essa teoria. De acordo com ele, nem sempre seria possível aplicar a quantidade original de trabalho empregado como uma medida totalmente objetiva a respeito do valor real de uma mercadoria.[9]

Entretanto, embora o trabalho seja a medida real do valor de troca de todas as mercadorias, não é essa a medida pela qual geralmente se avalia o valor das mercadorias. Muitas vezes é difícil determinar com certeza a proporção entre duas quantidades diferentes de trabalho. Não será sempre só o tempo gasto em dois tipos diferentes de trabalho que determinará essa proporção. Deve-se levar em conta também os graus diferentes de dificuldade e de engenho empregados nos respectivos trabalhos.
— Adam Smith, A Riqueza das Nações, 1776

Em seu livro "Princípios de Economia Política e Tributação", David Ricardo apresenta uma análise a respeito do valor das mercadorias. Rejeitando a utilidade como causa do valor,[12] ele chega à conclusão de que as medidas para o valor seriam a quantidade de trabalho socialmente necessária empregada em um produto e/ou de sua escassez[13]

Através das teorias elaboradas por economistas clássicos, o famoso economista socialista Karl Marx desenvolveria uma própria teoria do valor baseada no trabalho empregado às mercadorias. Dessa forma, ele também desenvolveria a sua teoria da Mais-Valia, com o propósito de oferecer uma explicação objetiva a respeito da exploração do proletariado sob o capitalismo.[14] Vale lembrar que a teoria do valor-trabalho de Karl Marx não implica exatamente a quantidade de trabalho empregada, mas sim a "quantidade de trabalho socialmente necessária(em uma certa época, com uma certa tecnologia de produção e com certas condições sociais) empregada em um determinado produto" como a causa do valor.[14]

Poderia parecer que, se o valor de uma mercadoria é determinado pela quantidade de trabalho posto na sua produção, quanto mais desajeitado se for, mais valiosa se torna a mercadoria, porque é maior o tempo de trabalho requerido para acabar a mercadoria. Isso seria, no entanto, um erro lamentável. Recordar-vos-eis que usei a expressão “trabalho social”, e são muitos os aspectos envolvidos nessa qualificação de “social”. Ao dizer que o valor de uma mercadoria é determinado pela quantidade de trabalho aplicado ou cristalizado nela, significamos a quantidade de trabalho necessário para a sua produção em um dado estado da sociedade, em certas condições sociais médias de produção, com uma dada intensidade social média e habilidade média do trabalho empregado.
— Karl Marx, Salário, Preço e Lucro, 1865

Mais tarde, as análises de Adam Smith e David Ricardo seriam rebatidas e criticadas pelos marginalistas, em especial Carl Menger e Leon Walras.[15][16] Tanto a teoria do valor-trabalho quanto a teoria da mais-valia de Karl Marx seriam rebatidas e criticadas por Eugen von Bohm-Bawerk.[17]

Paradoxo da água e do diamante

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 Ver artigo principal: Paradoxo da água e do diamante
Não há nada de mais útil que a água, mas ela não pode quase nada comprar; dificilmente teria bens com os quais trocá-la. Um diamante, pelo contrario, quase não tem nenhum valor quanto ao seu uso, mas se encontrará frequentemente uma grande quantidade de outros bens com o qual trocá-lo.
— Adam Smith, A Riqueza das Nações, 1776


O desenvolvimento da teoria subjetiva do valor foi parcialmente motivado pela necessidade de resolver o paradoxo do valor que intrigou muitos economistas clássicos como Adam Smith[18] e John Law.[19] Essa teoria, também chamado como o paradoxo da água e do diamante, afirma que, embora a água seja mais essencial para a sobrevivência e forneça muito mais valor de utilidade, os diamantes são valorizados muito mais no mercado. Esse paradoxo surgiu quando o valor foi atribuído a coisas com a quantidade de trabalho que foi usado para a produção de um bem ou, alternativamente, para uma medida objetiva da utilidade de um bem. A teoria de que era a quantidade de mão-de-obra destinada a produzir um bem que determinava seu valor provou ser igualmente fútil, porque alguém poderia se deparar com a descoberta de um diamante em uma caminhada, por exemplo, que exigiria trabalho mínimo, mas ainda assim o diamante ainda pode ser valorizado mais que a água.

A teoria subjetiva do valor apresenta uma solução para resolver esse paradoxo ao perceber que o valor não é determinado pelos indivíduos que escolhem entre classes abstratas de bens, como toda a água do mundo versus todos os diamantes do mundo. Em vez disso, um indivíduo atuante é confrontado com a escolha entre quantidades definidas de bens, e a escolha feita por tal ator é determinada pelo bem que uma quantidade especifica satisfaz a maior preferência subjetiva classificada do indivíduo, ou o fim mais desejado.[20] A água é muito abundante, portanto sua utilidade marginal não é tão alta, apesar de sua importante função em manter os organismos vivos.

O valor que um bem possui para um indivíduo é igual à importância que tem para ele aquela necessidade (ou necessidades) cujo atendimento depende da disponibilidade do bem em questão. [...] O valor de um diamante independe totalmente de ter sido ele encontrado por acaso ou ser o resultado de 1000 dias de trabalho em um garimpo.
— Carl Menger, Principles of Economics (Princípios de Economia), 1871

Ver também

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Referências

  1. “Podemos estabelecer como lei geral que o grau de utilidade varia com a quantidade de um bem e finalmente diminui na medida em que a quantidade aumenta.” —William Stanley Jevons, A Teoria da Economia Política.
  2. “The larger the supply —the need remaining unaltered— the smaller will be the marginal utility and the value, and vice versd; while, on the other hand, the greater the need the higher will be both marginal utility and value, and vice versd.” —Friedrich von Wieser, Natural Value.
  3. Stigler, George (1950) 'The Development of Utility Theory. I' The Journal of Political Economy
  4. “O valor que os homens atribuem às coisas tem seu primeiro fundamento no uso que elas podem fazer. Umas servem como alimento, outras como vestuário; algumas nos defendem dos rigores do clima, como as casas; outras, como os ornamentos, os produtos de beleza, satisfazendo em gostos que são uma espécie de necessidade. Seja como for, permanece sempre verdadeiro que os homens atribuem valor às coisas em virtude de seu uso: o que não serve para nada não tem preço nenhum.? A essa possibilidade poderem ter certezas de que podem ser oferecidas como coisas diferentes, que podem ser alteradas. Direi que criar objetos dotados de uma utilidade qualquer é riquezas, em vista que uma utilidade desses objetos constitui o primeiro fundamento de seu valor e que seu valor é riqueza.” —Jean-Baptiste Say, Tratado de Economia Política.”
  5. “The French school, which, with J. B. Say at the head, tried to adhere to 'utility' as the factor which determines value, became involved thereby in contradictions and difficulties which for a long time were regarded as insurmountable.” —Knut Wicksell, Value, Capital and Rent.
  6. “Whence do things get their value? If we put the question to any intelligent and trained man of business, who had no knowledge of the various attempts of theorists towards an explanation of value, whose mind was unbiassed by the forms of speech which echo learned theories and have passed into ordinary business use, and who was, therefore, capable of judging only through the medium of his own personal experience, he would undoubtedly answer, as the first theorists did,—‘from their Utility.’ He would be very much surprised to learn that several considerations made the truth of this answer improbable, and that many facts —some of them to a certain extent generally known, and familiar even to himself—seemed to prove, with almost absolute certainty, that utility could not be the source of value. These facts we may state as follows.” —Friedrich von Wieser, Natural Value
  7. “Prosseguindo na consideração de como o prazer e o sofrimento podem ser estimados enquanto magnitudes, devemos indubitavelmente aceitar o que Bentham formulou sobre esse tema. ‘Para uma pessoa’, diz ele, ‘considerada sozinha’, o valor de um prazer ou sofrimento considerado por si só será maior ou menor de acordo com as quatro circunstâncias seguintes: 1) Sua intensidade. 2) Sua duração. 3) Sua certeza ou incerteza. 4) Sua proximidade ou longinqüidade. Essas são as circunstâncias que devem ser consideradas ao se estimar um prazer ou um sofrimento, considerada cada uma delas por si só." —William Stanley Jevons, A Teoria da Economia Política & Jeremy Bentham, Introduction to the Principles of Moral and Legislation.
  8. Princípios de Economia Política, Thomas Robert Malthus
  9. a b A Riqueza das Nações, Adam Smith
  10. “Adam Smith, em seu capítulo sobre o preço real e o preço nominal das mercadorias, no qual considera o trabalho como uma medida de valor precisa e universal, introduziu certa confusão em sua investigação por não se prender sempre a um mesmo modo de aplicação do trabalho que propõe como medida. Em Adam Smith, às vezes o valor da mercadoria é determinado pela quantidade de trabalho empregada em sua produção, e às vezes pela quantidade de trabalho que adquire na troca.” —Thomas Robert Malthus, Princípios de Economia Política.
  11. “The English school, on the other hand, tried from the start to find another and a more satisfying and objective reason for value in exchange. It believed it had found such a reason in labour. Labour, effort, that price which we must pay for the satisfaction of our needs, where nature herself provides no remedy —labour, this indispensable factor in almost all production, not only seemed to be the most natural explanation of exchange value, but, as a measure of this, also had the important advantage that the length of working hours can be reckoned with the same accuracy as all other physical quantities. In the writings of Adam Smith, who, on the whole, was not a man of exact definitions, this explanation was still rather vague. In Smith's works, labour as a measure of exchange value sometimes means the labour which is necessary for the production of the commodity concerned; at other times—or, rather, in one and the same sentence—he means by it the labour which, once one is in possession of the commodity, one can spare oneself and pass on to others—that is to say, the quantity of labour which the possessor of the commodity concerned is able to 'command' or buy. It is, of course, quite inadmissible, however, to treat these different quantities of labour alike, without going back to primitive conditions of society where interest and rent were unknown. This was most probably what Adam Smith meant but never expressed in clear words.” —Knut Wicksell, Value, Capital and Rent.
  12. “A água e o ar são extremamente úteis; são, de fato, indispensáveis à existência, embora, em circunstâncias normais, nada se possa obter em troca deles. O ouro, ao contrário, embora de pouca utilidade em comparação com o ar ou com a água, poderá ser trocado por uma grande quantidade de outros bens. A utilidade, portanto, não é a medida do valor de troca, embora lhe seja absolutamente essencial.” —David Ricardo, Princípios de Economia Política e Tributação.
  13. “Possuindo utilidade, as mercadorias derivam seu valor de troca de duas fontes: de sua escassez e da quantidade de trabalho necessária para obtê-las. Algumas mercadorias têm seu valor determinado somente pela es- cassez. Nenhum trabalho pode aumentar a quantidade de tais bens, e, portanto, seu valor não pode ser reduzido pelo aumento da oferta. Algumas estátuas e quadros famosos, livros e moedas raras, vinhos de qualidade peculiar, que só podem ser feitos com uvas cultivadas em terras especiais das quais existe uma quantidade muito limitada, são todos desta espécie. Seu valor é totalmente independente da quantidade de trabalho originalmente necessária para produzi-los, e oscila com a modificação da riqueza e das preferências daqueles que desejam possuí-los. Essas mercadorias, no entanto, são uma parte muito pequena da massa de artigos diariamente trocados no mercado. Sem dúvida, a maioria dos bens que são demandados é produzida pelo trabalho. E esses bens podem ser multiplicados não apenas num país, mas em vários, quase ilimitadamente, se estivermos dispostos a dedicar-lhes o trabalho necessário para obtê-los. Ao falar, portanto, das mercadorias, de seu valor de troca e das leis que regulam seus preços relativos, sempre nos referiremos somente àquelas mercadorias cuja quantidade pode ser aumentada pelo exercício da atividade humana, e em cuja produção a concorrência atua sem obstáculos. Nas etapas primitivas da sociedade, o valor de troca de tais mercadorias, ou a regra que determina que quantidade de uma deve ser dada em troca de outra, depende quase exclusivamente da quantidade comparativa de trabalho empregada a cada uma.” —David Ricardo, Princípios de Economia Política e Tributação.
  14. a b Salário, Preço e Lucro, Karl Marx
  15. Principles of Economics, Carl Menger
  16. Elements of Pure Economics, Leon Walras
  17. Karl Marx and The Close of His System, Eugen von Bohm-Bawerk
  18. Smith, Adam (1776). «Of the Origin and Use of Money». An Inquiry into the Nature and Causes of the Wealth of Nations. [S.l.: s.n.] 
  19. Blaug, Mark (1962). «Chapter 2: Adam Smith». Economic Theory in Retrospect. [S.l.]: Cambridge University Press. ISBN 0-521-57701-2 
  20. kanopiadmin (18 de agosto de 2014). «Economics for Real People». Mises Institute (em inglês). p. 42. Consultado em 1 de agosto de 2022