Terra Indígena Jacareúba/Katawixi

Jacareúba/Katawixi é uma terra indígena localizada no estado do Amazonas, nas cidades de Canutama e Lábrea. Seu território está localizado na bacia do rio Purus, próximo aos rios Mucuim e Jacareúba,[1] e nele estão presentes os povos isolados Katawixi, da família linguística Katukina. Possui sobreposição com duas unidades de conservação: o Parque Nacional Mapinguari e menor sobreposição com a Reserva Extrativista Ituxí.[2]

Terra Indígena Jacareúba/Katawixi
Terra Indígena Jacareúba/Katawixi
Vista da Terra Indígena contendo estrada construída ilegalmente
País  Brasil
Estado Amazonas
Municípios Canutama, Lábrea
Área 647 mil hectares
População Desconhecida
Povos Isolados Katawixi
Status Com restrição de uso
Modalidade Interditada

Histórico

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Em 26 de novembro de 1987 foi instituída a Portaria nº 272/1987 pela FUNAI para a constituição de Grupo de Trabalho focado em realizar estudos de identificação e levantamento das necessidades dos povos isolados Katawixi.[3][4]

A partir do ano de 2007, a FUNAI tem estabelecido portarias para restringir o acesso, locomoção e permanência de pessoas estranhas ao orgão na terra indígena com o intuito de identificar e proteger os povos isolados e os recursos naturais dessa região.[5]

Já em setembro de 2008, foram iniciadas obras de construção da Usina Hidrelétrica Santo Antônio no rio Madeira, a qual está localizada próxima à TI Jacareúba/Katawixi. Tanto a FUNAI quanto o renomado sertanista Sydney Possuelo apontaram os riscos desse empreendimento em poder impactar estes povos isolados e outros grupos indígenas próximos ao rio Madeira. Dois meses antes do início das obras o orgão indigenista emitiu relatório técnico explicitando os impactos a estes povos.[6] A empresa responsável pela usina de Santo Antônio em conjunto com a Energia Sustentável do Brasil (atualmente Jirau Energia), responsável pela Usina Hidrelétrica de Jirau, repassou em 2012 (ano de início da operação da Usina Santo Antônio) cerca de R$12 milhões para reforçar os trabalhos de identifacações dos povos indígenas e outras ações emergenciais.[7] A usina opera a plena capacidade desde 2017, apesar dos riscos apontados pelos documentos.[8]

No ano de 2010, nova portaria de restrição de uso e acesso foi estabelecida pelo orgão indigenista com validade de mais três anos, estabelecendo uma área total de 453.400 hectares para a terra indígena, além de garantir fiscalização do território por meio da Frente de Proteção Etno-ambiental (FPE) Guaporé da FUNAI.[9]

Em outubro de 2011, a FUNAI encontra novos vestígios da presença de povos isolados na região do território indígena. Foram encontradas pegadas humanas, galhos quebrados e vozes foram ouvidas durante expedição do órgão na localidade.[7] Assim, em 2013 a portaria de restrição de acesso é renovada por mais três anos contemplando a ampliação do território restrito para 647.386 hectares e alteração da fiscalização pela Frente de Proteção Etno-Ambiental Madeira.[9]

Em 2016, foi estabelecida nova portaria com validade para mais um ano de restrição de acesso à terra e, no ano seguinte, nova renovação prorrogou a medida por mais quatro anos.[9]

Esta última medida, vencida em dezembro de 2021, não foi renovada durante o governo Jair Bolsonaro. Assim, o Ministério Público recomendou em março de 2022 a renovação da portaria, para reduzir o avanço do desmatamento ilegal na terra indígena e evitar o extermínio dos povos isolados. No entanto, esta apenas foi instituída novamente mais de um ano depois, em março de 2023.[10][11][12]

Desmatamento

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Segundo Inpe, desde 2008 até 2022 cerca de 3,3 milhões de árvores haviam sido cortadas na terra indígena Jacareúba/Katawixi e cerca de 5,8 mil hectares tinham sido desmatados.[5]

De acordo com relatório da Coiab em conjunto com o Observatório dos Povos Indígenas Isolados e de Recente Contato (Opi), a pavimentação da BR-319 próximo ao território aumenta o potencial de desmatamento na região, já que facilitaria ainda mais o acesso a essa localidade.[9] O leito dessa rodovia está a cerca de 15 quilômetros da terra indígena Jacareúba/Katawishi e, segundo estudos do Instituto Socioambiental e UFMG, se nada for feito para impedir a pavimentação da rodovia BR-319 a terra indígena pode acumular cerca de 270 mil hectares de desmatamento entre 2022 e 2039.[5][13] Além dessa rodovia, a TI sofre a influência da proximidade com a rodovia Transamazônica e até mesmo de uma estrada de 40 quilômetros construída ilegalmente dentro do território indígena.[5]

Segundo o mesmo relatório da Coiab e OPI, 639 imóveis rurais sobrepostos à TI foram declarados de forma irregular no sistema de Cadastro Ambiental Rural (CAR), totalizando cerca 60 mil hectares. Tais dados demonstram que o território sofre pressão com a finalidade de apropriação fundiária irregular.[9]

Ver também

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Referências

  1. Ricardo, Beto; Instituto Socioambiental, eds. (2006). Povos indígenas no Brasil 2001-2005. São Paulo: Instituto Socioambiental. p. 66 
  2. «Terra Indígena Jacareúba/Katawixi | Terras Indígenas no Brasil». terrasindigenas.org.br. Consultado em 14 de setembro de 2023 
  3. «Portaria PP n. 272/87 [constitui GT para identificacao das AIs Caititi, Jacareuba, Juma e Katauixi]. | Acervo | ISA». acervo.socioambiental.org. Consultado em 14 de setembro de 2023 
  4. Ricardo, Carlos Alberto (2000). Povos Indígenas no Brasil, 1996-2000. São Paulo: Instituto Socioambiental. p. 446 
  5. a b c d Bispo, Fábio (15 de junho de 2022). «Sem proteção da Funai, invasores cercam indígenas isolados na região mais desmatada da Amazônia». InfoAmazonia. Consultado em 14 de setembro de 2023 
  6. «Obra do Madeira esbarra em tribos indígenas». O Estado de São Paulo: 18. 20 de outubro de 2008. Consultado em 14 de setembro de 2023 
  7. a b Carvalho, Eduardo; Araújo, Glauco (13 de janeiro de 2012). «Funai vê indícios de tribo isolada perto de área de construção de usinas». G1. Consultado em 14 de setembro de 2023 
  8. «Após 8 anos de construção, UHE Santo Antônio está em plena operação – CanalEnergia». www.canalenergia.com.br. 3 de janeiro de 2017. Consultado em 14 de setembro de 2023 
  9. a b c d e Oviedo, Antônio (2022). Relatório técnico sobre invasões e desmatamento na Terra Indígena Jacareúba-Katawixi e Unidades de Conservação no Médio Rio Purus. [S.l.]: COIAB e OPI 
  10. «Funai proíbe acesso à terra indígena Jacareúba/Katawixi, no Amazonas». Metrópoles. 10 de março de 2023. Consultado em 15 de setembro de 2023 
  11. «Funai proíbe acesso a área indígena no AM». G1. 10 de março de 2023. Consultado em 15 de setembro de 2023 
  12. «Terra indígena está há quase 6 meses desprotegida». www1.folha.uol.com.br. 22 de maio de 2022. Consultado em 15 de setembro de 2023 
  13. Valente, Rubens (30 de novembro de 2022). «Desprotegida há 1 ano, terra com indígenas isolados sofre desmatamentos e invasões». Agência Pública. Consultado em 15 de setembro de 2023