Torto Arado
Torto Arado é um romance brasileiro de 2019 escrito pelo autor baiano Itamar Vieira Junior. Conta a história de duas irmãs, Bibiana e Belonísia, marcadas por um acidente de infância, e que vivem em condições de trabalho escravo contemporâneo em uma fazenda no sertão da Chapada Diamantina.[1] O romance foi originalmente publicado em Portugal, pela editora Leya, após vencer o prêmio de mesmo nome.[2] No Brasil, é publicado pela editora Todavia. Além do Prémio Leya, venceu também importantes competições como o Prêmio Jabuti 2020 e o Prêmio Oceanos 2020. [3] Em 2022, foi noticiado que a obra será adaptada pela HBO Max. Com direção de Heitor Dhalia e roteiro de Luh Maza, Maria Shu e Viviane Ferreira, a obra pretende ser contada em, pelo menos, três temporadas.[4][5]
Torto Arado | |
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Autor(es) | Itamar Vieira Junior |
Idioma | português |
País | Brasil |
Editora | Leya (Portugal), Todavia (Brasil) |
Lançamento | 2019 |
Páginas | 280 (edição portuguesa), 264 (edição brasileira) |
ISBN | 9786580309313 |
Sinopse
editarNas profundezas do sertão baiano, as irmãs Bibiana e Belonísia encontram uma velha e misteriosa faca na mala guardada sob a cama da avó. Ocorre então um acidente. E para sempre suas vidas estarão ligadas — a ponto de uma precisar ser a voz da outra. Numa trama conduzida com maestria e com uma prosa melodiosa, o romance conta uma história de vida e morte, de combate e redenção.[3]
Influências e antecedentes
editarAntes de publicar Torto Arado, Itamar Vieira Junior já havia publicado duas coletâneas de contos: Dias (2012), lançado pela Caramurê Publicações, e A Oração do Carrasco (2017), lançado pelo selo Mondrongo e finalista do Prêmio Jabuti. Funcionário público do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), parte da inspiração do romance surgiu do contato que Vieira Junior teve com comunidades quilombolas da Bahia no trabalho e em sua pesquisa de doutorado.[6] Nesse sentido, o romance traz algumas particularidades da região da Bahia na qual é ambientado. Os ritos do Jarê, uma religião de matriz africana existente somente na região da Chapada Diamantina, e que é significativamente menos conhecida do que o Candomblé e a Umbanda,[7] são, inclusive, parte importante da narrativa.
Segundo o autor, a ideia de Torto Arado é antiga. Na década de 90, aos 16 anos, chegou a escrever as primeiras páginas de uma história com o mesmo título e protagonistas similares. Entretanto, o manuscrito original, que já contava com cerca de 80 páginas, se perdeu em uma mudança e a história ficou engavetada por anos.[8]
Também de acordo com Vieira Junior, o romance teve como influências iniciais autores regionalistas da chamada Geração de 30 do Modernismo no Brasil como Jorge Amado, Graciliano Ramos e Rachel de Queiroz.[1] O autor também cita como influência autores como Machado de Assis, Clarice Lispector, Lima Barreto, Carolina Maria de Jesus e Raduan Nassar.[9] Este último, inclusive, tem um trecho de seu romance Lavoura Arcaica utilizado como epígrafe em Torto Arado. Em entrevista à também escritora Carola Saavedra, Vieira Junior traça paralelos entre os dois romances e explica que a escolha da citação de Nassar tinha como intenção "introduzir o leitor no universo da história, embora as histórias guardem grandes diferenças entre si. Enquanto uma descreve a ruína de uma família, a outra mostra a sobrevivência a partir dos laços de solidariedade e parentesco que vão se estabelecendo através do tempo".[10]
Recepção crítica
editarA obra foi muito bem recebida inclusive pela crítica especializada. No ano de 2024 atingiu a cifra de um milhão de exemplares vendidos[11], um número bastante expressivo para o público lusófono. Não obstante, Torto Arado foi objeto de ensaio crítico por alguns especialistas, dos quais vale destacar o historiador da literatura Claudinei Cássio de Rezende[12], que entendeu a obra como um maniqueísmo esquemático e atualizado do antigo realismo socialista.
Prêmios
editarDesde sua publicação, e mesmo antes, o romance Torto Arado já ganhou diversos prêmios, entre eles:
- 2018 - Prémio LeYa na categoria Romance (Portugal)[13]
- 2020 - Prêmio Jabuti na categoria Romance (Brasil)
- 2020 - Prêmio Oceanos na categoria Romance (Brasil)
- 2024 - Montluc Résistance et Liberté 2024[14]
Referências
- ↑ a b «"Tudo em 'Torto arado' é presente no mundo rural do Brasil. Há pessoas em condições análogas à escravidão"». brasil.elpais.com. Consultado em 16 de fevereiro de 2021
- ↑ «Vencedor 2018». leya.com. Consultado em 16 de fevereiro de 2021
- ↑ a b «Torto Arado». todavialivros.com.br
- ↑ «Livro Torto Arado será adaptado como série na HBO Max». Omelete. 22 de abril de 2022. Consultado em 10 de agosto de 2022
- ↑ «Torto Arado: História, produção e tudo que sabemos sobre adaptação da HBO Max [LISTA]». Rolling Stone. 22 de abril de 2022. Consultado em 10 de agosto de 2022
- ↑ «CNN Nosso Mundo entrevista Itamar Vieira Júnior, autor de 'Torto Arado'». cnnbrasil.com.br. Consultado em 16 de fevereiro de 2021
- ↑ «Curandeiros do Jarê». tvbrasil.ebc.com.br/. Consultado em 17 de fevereiro de 2021
- ↑ «Itamar Vieira Junior: "O Brasil nunca perdeu o status colonial"». publico.pt. Consultado em 16 de fevereiro de 2021
- ↑ «Escritor baiano Itamar Vieira é um dos convidados da Flip 2020: 'Minha escrita é um trânsito'». atarde.uol.com.br. Consultado em 16 de fevereiro de 2021
- ↑ «Não negociar o inegociável». rascunho.com.br. Consultado em 16 de fevereiro de 2021
- ↑ «Itamar Vieira Junior vendeu 1 milhão de livros em cinco anos». O Globo. 18 de setembro de 2024. Consultado em 2 de outubro de 2024
- ↑ REZENDE, Claudinei Cássio (10 de janeiro de 2022). «Os cânones da pseudoesquerda identitária: um ensaio sobre Torto Arado». ANUÁRIO LUKÁCS 2022. Consultado em 2 de outubro de 2024. Cópia arquivada em 10 de janeiro de 2022
- ↑ «Prêmio Oceanos: Vencedores 2020». www.itaucultural.org.br
- ↑ «Édition 2024 – Prix littéraire Montluc Résistance et Liberté» (em francês). Consultado em 6 de abril de 2024