Tríplice Fronteira do Iguaçu
A Tríplice Fronteira (Triple Frontera, em espanhol), é uma região de fronteira entre Argentina, Brasil e Paraguai. É a principal fronteira da América do Sul em termos de população, circulação de pessoas e relações internacionais. É considerada uma região internacional compreendida em suas dimensões locais e globais.[1][2]
História
editarA história da região pode ser dividida em pelo menos três grandes eixos: (1) período colonial e a presença indígena; (2) o século XIX e a exploração da erva-mate e da madeira; e (3) o período contemporâneo a partir da segunda metade do século XX.[3]
Para Frank Zephyr, “A Tríplice Fronteira hoje — povoada com colonos, em grande parte desmatada, seus rios atrás de altas barragens, parte de uma zona econômica transnacional (Mercosul), lar para parques nacionais e entrecruzada por rodovias e pontes — permanece também um lugar de memória histórica e alteridade contemporânea nos caminhos nômades (wandering paths) dos Guaranis”.[4]
O período contemporâneo, especialmente o século XXI possui um número considerável de trabalhos que informam o público geral sobre a região. Na segunda metade do século XX, Paraguai e Brasil integraram-se fisicamente no movimento de mudança de direcionamento do Paraguai em relação ao Brasil.[5][6]
Nas palavras de Fernando Rabossi, trata-se de “uma região interconectada, caracterizada pela diversidade cultural decorrente da presença de pessoas de origens distintas, articulada transnacionalmente e movida por uma economia comercial baseada em fluxos de produtos e pessoas, que muitas vezes se inscrevem fora da legalidade”.[7]
População e circulação de pessoas
editarDo lado argentino, Puerto Iguazú, segundo Instituto Nacional de Estadística y Censos, em 2010 contava com 82.227 habitantes.[8] Do lado paraguaio, Ciudad del Este, Presidente Franco, Hernandárias e Minga Guazú formam uma região metropolitana com 563.851 habitantes.[9] Do lado brasileiro, Foz do Iguaçu conta com 256.088 habitantes.[10] Ao todo, a Tríplice Fronteira é habitada por mais de 902 mil pessoas.
Na Tríplice Fronteira, mais de 82 mil pessoas circulam pela Ponte da Amizade (Brasil-Paraguai) e mais de 19 mil pessoas circulam pela Ponte Tancredo Neves (Argentina-Brasil), totalizando mais de 102 mil nos dois sentidos diariamente. A maior parte destas pessoas trafegam nos mais de 39 mil veículos que cruzam as três fronteiras todos os dias.[11]
Questões internacionais
editarAlém da integração física-rodoviária, a integração energética entre Brasil e Paraguai por meio da Usina de Itaipu Binacional apresenta-se como um dos grandes temas tanto para as relações bilaterais quanto regionais.
O Mercosul está em outra frente de análise, mas a ligação entre o maior parque industrial brasileiro e toda a região sudeste torna a Tríplice Fronteira um corredor para escoamento da produção industrial brasileira. No sentido oposto, o caminho também propicia que as importações brasileiras, especialmente de grãos, cheguem aos seus destinos.
Paradoxalmente, o histórico de comércio lícito também anda junto com o ilícito.[12] A opção paraguaia pelo comércio de triangulação comercial ampliou o número de atores como contrabandistas de produtos importados principalmente da China. A estes produtos, soma-se também o contrabando de cigarros, em 2014 responsável por 87% das apreensões da Receita Federal do Brasil.[13]
No âmbito global, a presença de imigrantes árabes e muçulmanos na região tem levado a um dilema de segurança internacional. Especialistas de segurança, especialmente norte-americanos, tem alertado para o nexo entre os lucros do comércio praticado em Ciudad del Este e grupos terroristas no Oriente Médio.[14]
Referências
- ↑ Gimenez, Heloisa [et. al.] (julho de 2018). «A Tríplice Fronteira como Região: Dimensões Internacionais.». Cadernos Prolam/USP. Consultado em 29 de abril de 2020
- ↑ SILVA; CASTRO, M. A.; I. C. S. (2021). Além dos Limites: A Tríplice Fronteira nas Relações Internacionais Contemporâneas. São Paulo: Alameda
- ↑ Silva, Micael Alvino (2015). A ocupação do espaço brasileiro da Tríplice Fronteira. In: PRIORI, A.; BERTONHA, J. F. Imigração e colonização no Paraná e em São Paulo entre os séculos XIX e XX. Guarapuava-PR: EDUNICENTRO
- ↑ Blanc, Jacob; Freitas, Frederico (org.). (2018). Big Water: The Making of the Borderlands Between Brazil, Argentina, and Paraguay. Tucson: The Arizona University Press. pp. ix
- ↑ YEGROS, Ricardo Scavone; BREZZO, Liliana Maria. (2013). História das Relações Internacionais do Paraguai. Brasília: FUNAG
- ↑ Silva, Micael Alvino (2021). A Segunda Guerra Mundial e a Tríplice Fronteira. Foz do Iguaçu: EDUNILA
- ↑ Rabossi, Fernando (2010). Como pensamos la Triple Frontera. BÉLIVEAU, Verónica Giménez; MONTENEGRO, Silvia (comp.). La Triple Frontera: Dinámicas culturales y procesos transnacionales. Buenos Aires: Espacio Editorial
- ↑ «Instituto Nacional de Estadística y Censos». 2010. Consultado em 13 de julho de 2018
- ↑ Dirección General de Estadística, Encuestas y Censos (13 de julho de 2018). «DGEEC» (PDF)
- ↑ «Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística». IBGE. 2010. Consultado em 13 de julho de 2018
- ↑ «Pesquisa sobre o tráfego de pessoas e veículos». Centro Universitário Dinâmica das Cataratas. 2016. Consultado em 13 de julho de 2018
- ↑ Masi, Fernando (2006). «Paraguai-Brasil e o projeto Mercosul». Política Externa, V. 14, n. 3.
- ↑ SILVA, M. A.; COSTA, A. B. (2018). A Tríplice Fronteira e a aprendizagem do contrabando: da “era dos comboios” à “era do crime organizado”. In: BARROS, L.; LUDWIG, F. (orgs.). (Re)Definições de fronteiras: velhos e novos paradigmas. Foz do Iguaçu: IDESF
- ↑ KACOWICZ, A. M. (2015). Regional peace and unintended consequences: The Peculiar Case of the Tri-Border Area of Argentina, Brazil, and Paraguay. In: JASKOSKI, M.; SOTOMAYOR, A. C.; TRINKUNAS, H. A.: American Crossings: Border Politics in the Western Hemisphere. Baltimore: Johns Hopkins University Press