Tricotomia (filosofia)
Uma tricotomia é uma divisão em três categorias. Na filosofia, é usada para dividir aspectos do homem como três naturezas distintas que se integram.
Importantes tricotomias discutidas por Aquino incluem os princípios causais (agente, paciente, ato), as potências para o intelecto (imaginação, poder cogitativo, memória e reminiscência), e os atos do intelecto (conceito, julgamento, raciocínio) e os transcendentes do ser (unidade, verdade, bondade) e os requisitos do belo (completividade, harmonia, radiância).
Kant expôs uma tabela de julgamentos envolvendo quatro alternativas de três vias, em relação a (1) Quantidade, (2) Qualidade, (3) Relação, (4) Modalidade e, com base nisso, uma tabela de quatro categorias, nomeada pelos termos listados anteriormente e cada um com três subcategorias. Kant também adaptou os atos tomistas do intelecto em sua tricotomia de cognição superior — (a) compreensão, (b) julgamento, (c) razão - qual ele correlacionou com sua adaptação nas capacidades da alma — (a) faculdades cognitivas, (b) sentimento de prazer ou desprazer, e (c) faculdade do desejo [1] — da tricotomia de Tetens de sentimento, compreensão e vontade.[2]
Hegel sustentou que a contradição interna de uma coisa ou ideia leva, num processo dialético, a uma nova síntese que dá mais sentido à contradição. O processo é por vezes descrito como tese, antítese, síntese. É ilustrado através de um padrão de tricotomias (ser-nada-tornar, imediato-mediato-concreto, abstrato-negativo-concreto); tais tricotomias não são apenas divisões classificatórias de três vias; elas envolvem trios de elementos funcionalmente inter-relacionados em um processo. Elas são frequentemente chamados de tríades (embora "tríade" não possua um sentido fixo na filosofia).
Charles Sanders Peirce construiu sua filosofia sobre tricotomias e relações e processos triádicos, e apresentou a "Tese da Redução " de que todo atributo é essencialmente monádico (qualidade), diádico (relação de reação ou resistência) ou triádico (relação representacional), e nunca verdadeiramente e irredutivelmente tetrádico ou maior.
Exemplos de tricotomias filosóficas
editar3 partes do homem, de Platão[3] | Nous (mente, intelecto). Psique (alma). Soma (corpo). |
3 transcendentais de Platão | Verdade (lógica, verum). Bondade (ética, bonum). Beleza (estética, pulchrum). |
Alma tripartida de Platão | Logistykon (lógico, racional). Thymoeides (animosa, várias qualidades de ânimo). Epithymetikon (apetitiva, volitiva, libidinosa, ambiciosa). |
3 classes da alma de Aristóteles | Threptike (nutritiva, vegetativa). Aisthetike (sensitiva, animal). Noetike (racional, humana). |
3 principais modos de argumentação de Aristóteles | Ethos (caráter). Pathos (emoção). Logos (lógica). |
3 princípios de Plotino | O Único. O Intelecto. A Alma. |
3 elementos do homem de Shema | לב / Kardia (coração). נפׁש (nephesh) / Psique (alma). מְאֹד / Dynamis (poder) [4][5] |
Natureza tripartida do homem de São Paulo (I Thes. 5:23) | Soma (corpo). Psique (alma). Pneuma (espírito). (Paulo usa conceitos alternativos em outras passagem: kardia [coração], eso kai exo anthropos [humano interior e exterior]; nous [mente]; suneidesis [consciência]; sarx [carne]).[6] |
3 leis de Santo Agostinho[7] | Lei divina. Lei natural. Temporal, Positiva, ou Lei Humana. |
3 qualidades da alma de Santo Agostinho[8] | Intelecto. Desejo. Memória. |
3 universais de Santo Alberto[9] | Ante rem (Ideia na mente de Deus). In re (coisas potenciais ou reais). Post rem (mentalmente abstrato). |
3 princípios casuais de São Tomás de Aquino[10] (baseado em Aristóteles) | Agência. Paciência. Ato. |
3 potências do intelecto de São Tomás de Aquino[10] (baseado em Aristóteles) | Imaginação. Poder cogitativo (ou, em animais, instinto). Memória (e, em humanos, reminiscência). |
3 atos do intelecto de São Tomás de Aquino [10] (baseado em Aristóteles) | Concepção. Julgamento. Raciocínio. |
3 transcendentais de São Tomás de Aquino [10] | Unidade. Verdade. Bondade. |
3 requisitos da beleza de São Tomás de Aquino[10] | Completividade ou perfeição. Harmonia ou proporção. Radiância. |
3 Tábuas deFrancis Bacon[11] | Presença. Ausência. Grau. |
3 Faculdades mentais de Francis Bacon | Memória. Razão. Imaginação. |
3 Ramos do conhecimento de Francis Bacon | História. Filosofia. Poesia. (Inspirado pelo Sistema figurativo do conhecimento humano de Diderot e d'Alembert.) |
3 Campos de Thomas Hobbes | Física. Filosofia Moral. Filosofia Civil. |
3 métodos de tradução de John Dryden | Metáfrase. Paráfrase. Imitação. |
3 metafísicas especiais de Christian Wolff | Psicologia. Cosmologia racional. Teologia Racional. |
3 faculdades da alma de Kant[1] | Faculdades do conhecimento. Desejo do prazer ou desprazer. Faculdade do desejo (qual Kant também considerava como vontade). |
3 maiores faculdades de cognição de Kant | Entendimento. Julgamento. Razão. |
3 julgamentos da quantidade de Kant | Universal. Particular. Singular |
3 categorias de quantidade de Kant | Unidade. Pluralidade. Totalidade. |
3 julgamentos da qualidade de Kant | Afirmativo. Negativo. Infinitivo. |
3 categorias da qualidade de Kant | Realidade. Negação. Limitação. |
3 julgamentos da relação de Kant | Categórico. Hipotético. Disjuntivo. |
3 relações da categoria de Kant | Inerência e subsistência. Causalidade e dependência. Comunidade. |
3 julgamentos da modalidade de Kant | Problemático. Assertivo. Apodíctico |
3 categorias da modelidade de Kant | Possibilidade. Existencência. Necessidade. |
3 poderes da mente de Johannes Nikolaus Tetens[2] | Sentimento. Entendimento. Vontade. |
3 momentos dialéticos de Hegel | Tese. Antítese. Síntese. |
3 Espíritos de Hegel[12] | Espírito Subjuntivo. Espírito Objetivo. Espírito Absoluto. |
3 Estágios de Søren Kierkegaard[13] | Estético. Ético. Religioso |
3 Categorias de Charles Sanders Peirce | Qualidade do sentimento. Reação, resistência. Representação, meditação. |
3 Universos das experiência de C. S. Peirce | Ideias. Bruto, fato. Habitual. |
3 ordens da filosofia de C. S. Peirce | Fenomenologias. Ciências normativas. Metafísicas. |
3 Normativos de C. S. Peirce | O bom (estético). O certo (ético). O verdadeiro (lógico) |
3 elementos semióticos de C. S. Peirce | Signo (representamento). Objeto. Interpretante. |
3 grades de claridade conceitual de C. S. Peirce | Por familiaridade. Por definições. De implicações práticas concebíveis. |
3 princípios ativos nos cosmos de C. S. Peirce | Espontaneidade, chance absoluta. Necessidade mecânica. Amor criativo. |
3 reinos do sentido de Gottlob Frege[14] | O externo, público, físico. O interno, privado, mental. O platônico, ideal porém objetivo. |
Modelo de estrutura deSigmund Freud | Id, ego, e superego |
3 Reduções de Edmund Husserl | Fenomenológica. Eidético. Religioso. |
Aspectos triplos de R. Steiner | Corpo, alma e espírito. Imaginação, inspiração e intuição |
3 tipos da vida deKorzybski | Vinculo químico (como plantas). Vínculo espacial (como mamíferos). Vínculo temporal (humanos). Cada um da escala necessita do anterior. |
3 estágios estéticos de James Joyce[15] | Prendido (por completividade). Fascinação (por harmonia). Encantamento (por radiância). |
3 Ordens de Jacques Lacan | Real, Simbólica, e Imaginária |
3 Mundos de Karl Popper[16] | Coisas físicas e processos. Experiência humana subjetiva. Cultura e conhecimento objetivo, |
3 elementos estéticos de Louis Zukofsky[17] | Forma. Ritmo. Estilo. |
3 Campos de Maurice Merleau-Ponty[18] | Físico. Vital. Humano |
3 Categorias de Maurice Merleau-Ponty | Quantidade. Ordem. Significado. |
Análise transacional de Eric Berne | Ego Pai, Ego Adulto, Ego Criança. |
3 visões de mundo de Alan Watts | Vida como máquina (Ocidental). Vida como organismo (Chinês). Vida como um drama (Indiano). |
Ver também
editarReferências
- ↑ a b Kant, Immanuel, The Critique of Judgment, 2007 edition, Cosimo Classics, pp. 10-11.
- ↑ a b Teo, Thomas (2005), The critique of psychology: from Kant to postcolonial theory, p. 43.
- ↑ Plato, Timaeus, 30.
- ↑ Petersen, W.L. 2011. Patristic and Text-Critical Studies: The Collected Essays of William L. Petersen. Brill: Leiden. p. 229. link.
- ↑ Davies, W.D., Allison, D.C. A Critical and Exegetical Commentary on the Gospel According to Saint Matthew. T&T Clark, 1988-1997, 3 vols. link. [vol 3, p. 241.]
- ↑ Crandall University. Pauline anthropology. [1].
- ↑ Augustine through the Ages (1999), p. 582.
- ↑ Saint Augustine of Hippo, De Trinitate, 10, 11; Encyclopedia of Christian Theology, Volume 1 (2004), page 54. See Saint Augustine of Hippo, De Trinitate, 14. Saint Thomas Aquinas, OP explains that Saint Augustine does not identify these 3 features as "powers" of the soul. Saint Thomas Aquinas, OP, Summa Theologiae, Prima Pars, Q. 79, A. 7, ad 1.
- ↑ "St. Albertus Magnus" in the Catholic Encyclopedia. Eprint.
- ↑ a b c d e See The Pocket Aquinas (1991).
- ↑ "Francis Bacon, Viscount Saint Alban", Britannica.com Eprint
- ↑ Redding, Paul (1997, 2006), "Georg Wilhelm Friedrich Hegel" in the Stanford Encyclopedia of Philosophy. Eprint.
- ↑ McDonald, William (1996, 2009), "Søren Kierkegaard" in the Stanford Encyclopedia of Philosophy. See Section 6.
- ↑ Klement, Kevin C. (2005), "Gottlob Frege (1848—1925)", Internet Encyclopedia of Philosophy.
- ↑ Joyce, James (1914-1915), A Portrait of the Artist as a Young Man, see Chapter 5, especially (but not only) lines 8215-8221.
- ↑ Popper, Karl (1982), The Open Universe: An Argument for Indeterminism.
- ↑ Zukofsky, Louis, "A" – 12 (1966), and Prepositions (1967, 1981), p. 55.
- ↑ Merleau-Ponty, Maurice (1942), La structure du comportement, and published in English as The Structure of Behavior.