Urbano de Mendonça Dias

escritor português (1878-1951)

Urbano de Mendonça Dias (Vila Franca do Campo, 27 de Junho de 1878 – Vila Franca do Campo, 14 de Fevereiro de 1951), jurista, pedagogo, escritor e político açoriano, autor de diversas obras sobre a história dos Açores e sobre temas de cultura popular. Fundou a primeira instituição de ensino pós-primário em Vila Franca do Campo, o Externato de Vila Franca, onde ensinou. Foi administrador do concelho e exerceu diversos cargos autárquicos e na direcção de diversas instituições, incluindo o de provedor da Santa Casa da Misericórdia de Vila Franca do Campo.

Urbano de Mendonça Dias
Urbano de Mendonça Dias
Nascimento 27 de junho de 1878
Vila Franca do Campo
Morte 14 de fevereiro de 1951 (72 anos)
Vila Franca do Campo
Cidadania Portugal, Reino de Portugal
Alma mater
Ocupação escritor, historiador

Biografia

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Urbano de Mendonça Dias nasceu a 27 de Junho de 1878, em Vila Franca do Campo, ilha de São Miguel, Açores, filho de Urbano José Dias e de Maria da Glória Mendonça. Fez os seus primeiros estudos em Vila Franca do campo, na classe do professor Luís António de Medeiros (1864-1895), natural da Povoação, famoso pela qualidade do seu ministério e responsável pelo despertar de muitos talentos vilafranquenses, entre os quais o padre Ernesto Ferreira.[1]

Realizou os estudos liceais na cidade da Horta, partindo para a Universidade de Coimbra em 1897, para frequentar Direito, curso que concluiu a 14 de Julho de 1903. Durante o seu tempo de estudante colaborou em diversas publicações, a mais importante das quais foi a Phenix que co-editou com Ernesto Ferreira entre 15 de Julho de 1902 e 30 de Março de 1904 (18 números).[2]

Regressou a Vila Franca do Campo em 1903, iniciando funções como ajudante do Conservador da Comarca e abrindo escritório de advogado. mantendo o seu interesse pelo jornalismo, nesse mesmo ano fundou a revista quinzenal A Vila, que contudo que foi efémera. Nesse mesmo ano casou com Berta Gomes Alcântara Dias, fixando em definitivo residência em Vila Franca.

Envolvendo-se nos movimentos sociais e políticos da Vila, dinamiza o processo de criação do ensino pós-primário no concelho, fundando para tal o Instituto de Vila Franca, uma escola particular, voltada para o ensino secundário, conseguindo em 1904, quando tinha apenas 26 anos, licença régia de D. Maria Pia, então regente do Reino, para iniciar actividade lectiva.

O Externato de Vila Franca, também conhecido pelo Colégio, rapidamente se implantou e transformou-se na principal instituição cultural e educativa do concelho. O Externato de Vila Franca do Campo transformou-se na principal actividade de Urbano de Mendonça Dias, tendo, por sua morte, recebido como legado o edifício onde funcionava. Até 1984, ano em que foi criada a Escola Preparatória de Vila Franca do Campo, hoje Escola Básica e Secundária de Vila Franca do Campo, o Externato foi a única instituição a ministrar o ensino para além da 4.ª classe no concelho de Vila Franca. O ensino secundário oficial só foi iniciado no ano lectivo de 2000/2001.

Para além da sua actividade como pedagogo, envolveu-se nas questões sociais e políticas, sendo provedor da Santa Casa da Misericórdia durante muitos anos, distinguindo-se no apoio aos pescadores, então vivendo na mais absoluta pobreza.

Na política, desempenhou os cargos de administrador do concelho e de governador do Distrito Autónomo de Ponta Delgada (1935-1936), exercendo nesses cargos forte acção em prol da economia local, com destaque para as questões da cultura do ananás e da assistência social.[3]

Para além da actividade profissional e política, desenvolveu importante labor como investigador da história e cultura açorianas, escritor, etnógrafo e publicista, produzindo uma volumosa bibliografia, cobrindo géneros tão diversos como o teatro, o romance, a historiografia e a etnologia.

Urbano de Mendonça Dias faleceu em Vila Franca do Campo a 14 de Fevereiro de 1951, deixando uma vasta obra publicada, em parte dispersa por jornais e revistas, e um importantíssimo legado pedagógico e cultural em cerca de 70 anos de funcionamento do Externato por ele fundado.[1]

Obras publicadas

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História

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  • História dos Açores - Origem, colonização, donatário, capitanias, lutas políticas e governo dos Açores. Tipografia a Crença, Ponta Delgada 1924 (com 2.ª edição revista em 1942).
  • Vultos da minha terra: Petronilha da Mota- a primeira freira micaelense, Ponta Delgada, 1926.
  • A vila - História de Vila Franca, em 6 volumes, Ponta Delgada, de 1915 a 1927:
    • I - Misericórdia e Hospital de Vila Franca do campo;
    • II - Testamentos e doações lavrados a favor do Hospital e Misericórdia de Vila Franca do campo;
    • III - Edificações e reedificações de Vila Franca do Campo e garantias dos seus cidadãos;
    • IV - Etnografia da Vila (1.ª parte);
    • V - Etnografia da Vila (2.ª parte);
  • História da Instrução nos Açores. Suas Escolas e seus Mestres, Ponta Delgada, 1928.
  • Intelectualidade nos Açores - Inquérito à Vida Artística e Literária dos Açores, Ponta Delgada, 1928.
  • Literatos dos Açores - Estudo histórico sobre os escritores açorianos, Ponta Delgada, 1933 (reedição, Vila Franca, 2005).
  • História do Vale das Furnas, Ponta Delgada, 1936.
  • Assistência Pública de Ponta Delgada - Estudo sobre as casas de beneficência das ilhas de São Miguel e Santa Maria desde a sua colonização, Ponta Delgada, 1940.
  • Instituições Vinculares - Os Morgados das Ilhas, Ponta Delgada, 1941.
  • As Ilhas do Atlântico - a que chamam adjacentes, Ponta Delgada, 1944.
  • Ponta Delgada. Descrição de quando foi lugar, vila e cidade - Escorço histórico, Ponta Delgada, 1946.
  • Madre Teresa da Anunciada, Ponta Delgada, 1947.
  • O Som da campa tangida - As horas da nossa terra. História do relógio público de Vila Franca do Campo, Ponta Delgada, 1948.
  • História das Igrejas, Conventos e Ermidas Micaelenses, (3 volumes), Ponta Delgada, 1950.
  • Vultos da Minha Terra - Jordão Jácome Correia e o Capitão Alexandre, Ponta Delgada, s/d.

Teatro

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  • Flores à Virgem, peça em um acto, Empresa Tipográfica das Furnas, 1907.
  • Loucos de Amor- Tragédia histórica micaelense, peça em dois actos. Tipografia Central, Ponta Delgada, 1907.
  • Alvores da Mocidade, peça em um acto, Ponta Delgada, 1922.
  • O Primeiro Amor, peça em um acto. Ponta Delgada, 1923.
  • Mais um Pergaminho, comédia em um acto. Ponta Delgada, 1924.
  • O Segredo, peça em um acto. Ponta Delgada, 1948.
  • A Freira que Amou uma Só Vez na Vida, peça de teatro. Vila Franca do Campo, s/d.
  • No Dia da Inauguração, peça de teatro, Vila Franca do Campo, s/d.

Romance

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  • O Solar da Castanheira, romance. Ponta Delgada, 1931.
  • Maior Amor - Cenas da vida de aldeia nos princípios do século XX, romance. Ponta Delgada, 1935.
  • A Senhora Doutora - Estudo sobre a vida de uma mulher diplomada, romance. Ponta Delgada, 1941.
  • O Meu Amor - Estudo Sobre o Amor Tardio, romance. Ponta Delgada, 1942.
  • O Mr. Jó - estudo sobre os emigrados dos Açores, romance. Ponta Delgada, 1943.
  • O Tio Francisco - Estudo sobre o celibato, romance. Ponta Delgada, 1948.
  • O Senhor Prior, publicado em folhetim no Correio dos Açores, Ponta Delgada, 1950.

Etnografia

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  • Senhora da Paz- Designação do Monte, Ermida e Eremitério, Devoções e Mordomos de Nossa Senhora da Paz de Vila Franca do Campo, Ponta delgada, Tipografia Literária, 1916.
  • Os Meus Contos (1.º volume), Ponta delgada, 1945.
  • A vida dos nossos avós - Estudos etnográficos da vida açoriana através das suas leis gerais, em 9 volumes, Ponta Delgada 1944 a 1948.

Política

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  • A Crise Económica e Social - estudo sobre o género padrão do passado, Ponta Delgada, 1920.
  • Baldios de logradouro comum e de particulares na ilha de São Miguel, Ponta Delgada, 1938.
  • Peço a Palavra - Estudo sobre a Descentralização Autonómico-Administrativa e o Alto Patriotismo dos Açores, Ponta Delgada, s/d.


  1. a b DRC. «Direção Regional da Cultura». Cultura Açores. Consultado em 22 de novembro de 2022 
  2. «Urbano de Mendonça Dias - Brevíssima Enciclopédia de Autores Açorianos». psicod.org. Consultado em 22 de novembro de 2022 
  3. Pimentel, Afonso Alberto Pereira (26 de novembro de 2018). «José Maria Raposo Amaral (1856-1919) : um progressista convicto?»: 294. Consultado em 22 de novembro de 2022