Nos princípios da tecelagem artesanal, dois termos eram muito utilizados. Embora em desuso após a fiação industrial, são ricos em analogia com a vida humana. São eles, a trama e a urdidura. Quem possui habilidade com a arte do tear na confecção de peças como vestimentas, acessórios, cortinas, redes, cobertores e tapeçarias sabe lidar com uma infinidade decorativa de beleza ímpar.

Essas duas estruturas são essenciais. A urdidura é o conjunto de fios do mesmo tamanho posicionados longitudinalmente ao longo do tear. E a trama é formada pelas linhas dispostas transversalmente que transitam com liberdade por entre os fios da urdidura através de uma agulha, formando o tecido de forma simples ou com belas gravuras conforme a criatividade de tecelão.

A urdidura fica numa posição fixa como base para que se estabeleça a criatividade da trama que delineia no horizonte, caracterizando desenhos concebidos pelo artesão. Paisagens, aves, nuvens, riachos, estações, gravuras, figuras humanas, tudo é possível quando a trama é lançada perpassando as trilhas da urdidura. Não há limites no mundo das formas quando há convergência entre a uma e outra.A trama é o fio que corre por cima e por baixo, sempre entre o conjunto de fios de urdidura. Ela percorre as mais variadas posições para formar o tecido.

Fio de Urdidura (1) Fio de Trama (2)

Os fios de urdidura[1] (também designados[nota 1] urdume, urdimento, caderia elevatória, o antigo nome caído em desuso estaleiro) são os fios que são esticados longitudinalmente em um tear na tecelagem. No tecido acabado e pronto estes fios ficam situados em paralelo à ourela, enquanto que os fios de trama correm transversalmente a estes. Os fios de urdidura na preparação do processo específico da tecelagem são

  • urdidos em secções[nota 2] e então enrolados[nota 3] no rolo de urdidura, isto é, são bobinados no chamado rolo de urdidura,[nota 4] um cilindro no tear
  • ou urdidos directamente[nota 5] sobre o rolo, engomados[nota 6] e seguidamente reunidos vários lotes de urdume em um rolo de urdidura.

Cada fio de urdidura individualmente deve ser guiado através de um liço ou através de um pente de tecelagem antes que este possa ser atado no chamado cilindro de tecido do tear. Durante a tecedura o tecido que é bobinado no rolo de tecido cilíndrico cresce através da inserção de fios de trama no ângulo direito aos fios de trama. O modo como os fios de urdidura são postos por ordem através dos liços nos diferentes quadros de liços, define o ligamento do tecido. Os fios de urdidura são levantados ou baixados de modos distintos para formar a cala. Fala-se de uma subida da urdidura sempre que o fio de urdidura se situe no lado direito (superior) do tecido por cima do fio de trama ou de uma descida de urdidura, sempre que o mesmo se situe por baixo do fio de trama. Fios de urdidura são interrompidos através da formação de cala por cargas mecânicas mais elevadas como fios de trama, por isso eles são tratados suplementarmente com goma para evitar rotura de fio e forte fricção. Em regra o fio de urdidura é mais fino do que o fio de trama.
O uso de fios de urdidura e ou de trama tintos proporcionam amostras coloridas, fala-se então de tecido de cores.
Na confecção de artigos têxteis as peças individuais em regra são cortadas do tecido de modo que o seu lado mais comprido siga o sentido da urdidura.

O fio de urdidura

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Torção em "Z" para a esquerda - em "S" para a direita

O fio de urdidura é um fio formado por fibras têxteis, o qual é obtido em processo de fiação na indústria têxtil.

Dentro do processo de fiação há uma fase que é a torção do fio que pode ser, entre outras, em Z ou em S. A direcção de torcedura faz com que os fios fiquem semelhantes às nossas mãos, direita e esquerda: cada qual ao inverso uma da outra.

Nos tempos iniciais da fiação industrial, as fibras mais usadas eram de , linho ou seda. Estas fibras produziam um fio suficientemente forte para serem mantidos sob tensão como um fio apto para se empregar em urdidura da tecelagem industrial. A evolução tecnológica de fiação durante a Revolução Industrial tornou possível fazer fios de algodão com resistência suficiente para serem utilizados como fios de urdidura na tecelagem industrial.[2] Mais tarde em tempos mais recentes passaram a ser empregadas também fibras químicas: artificiais ou sintéticas como o nylon e o rayon.

A trama é o fio que corre por cima e por baixo num vaivém, chamado lançadeira na tecelagem industrial e naveta na tecelagem artesanal, sempre entre os fios do conjunto de fios de urdidura para formar assim a tela, chamada também tecido ou pano.

Glossário

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  1. urdume s.m. o mesmo que urdidura (de urdir + sufixo nominal -ume) in Dicionário da Língua Portuguesa, Porto Editora, 6.ª edição 1986 – Infopedia: urdidura s.m. – 1. acto ou efeito de urdir - 2. conjunto dos fios ao longo do tear, por entre os quais se passa a trama (De urdir + -dura).
  2. urdir v.tr. dispor a urdidura no tear (Do latim *ordīre, por ordīri, urdir; começar a tecer) urdir in Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2014. [Consult. 2014-04-15]. Disponível na www: <URL: http://www.infopedia.pt/lingua-portuguesa/urdir>.
  3. ourela s.f. margem; beira; orla; guarnição; cercadura. (Do lat. vulg. *orella-, por orŭla-, dimin. de ora-, «beira») in Dicionário da Língua Portuguesa, Porto Editora, 6.ª edição 1986 – Infopedia: ourela in Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2014. [Consult. 2014-04-16]. Disponível na www: <URL: https://www.infopedia.pt/pesquisa-global/ourela>.
  4. liço s.m. cada um dos fios, entre dois liçaróis, através dos quais passa a urdidura do tear. (Do lat. liciu-, «id.») – liçarol s.m. cada uma das travessas que seguram os liços (De liça) – liça s.f. [3] peça de máquina de tecidos, em forma de pente, para levantar os fios (De liço). Todos in Dicionário da Língua Portuguesa, Porto Editora, 6.ª edição 1986 – Infopedia.
  5. tecedura s.f. operação de tecer; conjunto dos fios que atravessam a urdidura. (De tecer + sufixo nominal -dura); tecer v. tr. fazer obra de tear; v. intr. fazer teia. (Do lat. texěre, «idem»); teia s.f. tecido ou pano feito em tear. (Do latim těla, «idem»); tear, s.m. maquinismo para tecer. (Do lat. vulg. *teläre, de tela, «teia») in Dicionário da Língua Portuguesa, Porto Editora, 6.ª edição 1986.
  6. bobina, s.f. cilindro de madeira com rebordo no qual se enrolam os fios da tecedura; bobinado part. pas. de bobinar, v. tr. enrolar em bobina. (Do francês bobiner, «idem»); torcedura s.f. acto ou efeito de torcer. (De torcer + -dura) in Dicionário da Língua Portuguesa, Porto Editora, 6.ª edição 1986.

Notas

  1. Os termos urdissagem, urdição ou outros semelhantes podem ser considerados corruptelas do termo urdidura. Explicando melhor por outras palavras, o termo urdissagem, galicismo que corresponde ao vocábulo urdidura, e outros como urdição são palavras derivadas do étimo urdidura e não podem ser classificadas como neologismo, assim devem inscrever-se na categoria de corruptela. Estas palavras não constituem vocábulos que exprimam mudança de significação para os distinguir do seu étimo e dar a cada qual outra acepção com que se possa considerá-los palavras novas por configurar algo inovador na preparação do processo específico da tecelagem. Pode-se dizer que estas palavras estão construídas de acordo com as regras gramaticais, mas vazias de conteúdo, pois têm na sua origem razões eufónicas e até mesmo em muitos casos ignorância. Excepção à regra são os sinónimos de urdidura já consagrados pelo uso: urdume e urdimento. O dicionário Torrinha já registava estes termos como sinónimos de urdidura na sua edição de 1939, página 1346 [1]
  2. Este procedimento é a conhecida urdidura seccional ou seja a urdidura feita por secções.
  3. Em vez de enrolado nos meios profissionais do Brasil também se diz pregado
  4. Nos meios profissionais de Portugal também se dá ao rolo de urdidura o nome impróprio de órgão de teia. O caso é melhor explicado do seguinte modo: a locução «órgão de teia» é muito frequentemente usada como se o seu segundo elemento, o complemento determinativo teia ligado pela preposição de, fosse sinónimo do termo urdidura. Ao atribuir-se tal significação ao completo determinativo teia fica patente que não se trata de um caso de sinédoque (pars pro toto), mas antes sim de impropriedade notória que consiste em confundir a parte que é a urdidura com o todo que é a teia, dado que ainda falta a outra parte que é a trama para se completar o todo. A teia só se forma quando o fio de trama tenha completado todos os cruzamentos em vaivém ao comprimento dos fios de urdidura. Os fios de urdidura e trama são desiguais, característica demonstrativa de que a urdidura só por si não é a teia, por isso não pode ser sinónimo de urdidura. O termo «órgão» nessa locução pode estar bem empregado, todavia o vocábulo «rolo» definiria melhor a mesma parte do tear que contribui para o seu funcionamento. Decompondo os elementos que compõe a locução «órgão de teia» chega-se à sua acepção correcta e própria: o vocábulo órgão s.m. é parte de um maquinismo que contribui para o seu funcionamento. (Do grego órganon, «instrumento», pelo latim orgănu-, «órgãos»); seguido da preposição de, a qual faz a ligação com o complemento determinativo teia s.f. tecido ou pano feito em tear (Do latim těla, «idem»). Em resumo, «órgão de teia» significa literalmente «rolo de tecido ou pano feito em tear».
  5. Profissionalmente este procedimento é conhecido como urdidura directa sobre o rolo de urdume
  6. A engomagem torna o fio mais grosso e resistente à fricção por aplicação de goma (cola) ou óleo de engomagem.

Referências

  1. O nome mais adequado e correcto dado à preparação nesta fase do processo específico da tecelagem, segundo o ponto de vista tecnológico é o termo urdidura no Dicionário Priberam da Língua Portuguesa. Acesso em 15 de outubro de 2013.
  2. Algumas universidades têm feito trabalhos de investigação científica dedicados ao estudo da velocidade de urdir e tensão dos fios de urdidura. Vide o recente trabalho de Dorgham na secção Bibliografia do presente artigo (ISSN: 2165-8064 Journal of Textile Science & Engineering).

Bibliografia

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  1. Dicionário Têxtil, em 6 línguas, por Armin H. Keller, publicado pela ITS - International Textile Service Limited, Zürich / Suíça, 1965. Uma das fontes da terminologia técnica empregada nesta página. Não é acessível para consulta on-line, apenas informação bibliográfica: ITS Textile Guide by Armin H Keller Vol. 2: Textile Dictionary in 6 Languages [2]
  2. Dorgham ME (2013) Warping Parameters Influence on Warp Yarns Properties: Part 1: Warping Speed and Warp Yarn Tension. J Textile Sci Eng 3:132.doi:10.4172/2165-8064.1000132


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