Urraca Abril de Lumiares

Senhora de Lumiares e Aveiro

Urraca Abril de Lumiares (c. 1210[1]-depois de 1258), foi uma rica-dona portuguesa do século XIII, e a herdeira de Lumiares como última representante da família. Embora bastante rica em terras, herdadas dos pais, não desempenhou qualquer papel político. Embora não tenha desempenhado qualquer papel político, parece que a sua figura se encontra ligada aos antecedentes da guerra de usurpação do conde de Bolonha, do qual o seu pai foi partidário, não tanto por inclinação política, mas muito mais pelo ódio a um pretendente de Urraca, Martim Gil de Soverosa, valido de Sancho II de Portugal, que deveria ter na verdade origem pessoal, alargando depois para o contexto político que acabou por se verificar. [2].

Urraca Abril de Lumiares
Senhora de Lumiares
Reinado 1245 - c.1258
Predecessor(a) Abril Peres de Lumiares
Sucessor(a) Pedro Anes de Riba de Vizela
Senhora de Barbosa (1/2)
Reinado c.1250 - c.1258
Predecessor(a) Sancha Nunes de Barbosa e Abril Pires de Lumiares
Sucessor(a) Pedro Anes de Riba de Vizela
Senhora de Aveiro (1/3)
Reinado 1245 - c.1258
Predecessor(a) Abril Pires de Lumiares
Sucessor(a) Pedro Anes de Riba de Vizela
Nascimento c.1210
Morte depois de 1258
Cônjuge João Martins de Riba de Vizela
Fernão Garcia de Sousa
Descendência Pedro Anes de Riba de Vizela
Dinastia Ribadouro-Lumiares
Pai Abril Peres de Lumiares
Mãe Sancha Nunes de Barbosa
Religião Catolicismo romano

Primeiros anos

editar

Filha do poderoso rico-homem Abril Peres de Lumiares e de Sancha Nunes de Barbosa, era membro da Casa de Lumiares, um dos ramos mais notáveis, mas também mais efémeros, da antiga Casa de Riba Douro. Aliás, Urraca foi, de facto, a sua última representante, já que os seus dois irmãos, Pedro Abril e Nuno Abril, seriam gafos, não tendo casado nem deixado qualquer descendência[3]. Isto fazia de Urraca a única herdeira das terras do seu pai, sendo por isso bastante opulenta de bens.

Casamento

editar

A disputa pela sua mão e o rapto

editar
"Ogan(o), em Muimenta,
disse Dom Martim Gil:
- Viv'em mui gram tormenta
Dona Orrac'Abril
per como [or']a quer casar seu pai;
e a quem lho enmenta:
cedo moira no Sil
e a[r] ela, se se com Chora vai.
E disse em Muimenta
com'[ora] vos direi:
- Ela viv'em tormenta,
segundo o eu sei
per como [or']a quer casar seu pai;
e a quem lho enmenta,
cedo o mate el-rei
e a[r] ela, se se com Chora vai.
El disse em Muimenta,
assi me venha bem:
- Viv'em tam gram tormenta
[per como or'a quer casar seu pai];
e a quem lho enmenta,
cedo moira por en
e a[r] ela, se se com Chora vai."
João Soares Somesso

Segundo a cantiga, seria Martim Gil de Soverosa, o odiado valido de Sancho II, quem terá pretendido a mão de Urraca. É compreensível o interesse de Martim por Urraca, dada a beleza que a devia ter caracterizado, mas também, ou então pelo menos, a referida herança vasta que herda dos seus pais, como filha que no fim acaba por ser a única a sobreviver. Urraca provavelmente corresponderia a este sentimento.

Porém, o seu pai, Abril, teria outro pretendente em vista: João Martins de Riba de Vizela, chamado O Chora. Urraca parecia não querer este pretendente, pois é facto que o pai a teria forçado, e, tendo um caráter violentamente sanguinário e irado, poderá não ter hesitado em cometer algum ato mais violento sobre a filha, exercendo assim à força a sua vontade e a sua autoridade paterna[4], podendo inclusive tê-la raptado para a dobrar à sua vontade. Urraca teria assim vivido algum tempo encerrada na torre do paço de Lumiares. A localidade de Lumiares não ficaria longe de Moimenta da Beira, a Moimenta que parece surgir na cantiga dedicada a este caso, de João Soares Somesso, segundo a qual Urraca viveria "em grande tormenta" porque "a quer casar seu pai". Suspeita-se que seria aqui e não em Moimenta, uma vez que na época era uma pequena e insignificante aldeia do couto de Leomil, governado por uma família que não estava sequer relacionada com os Lumiares[2].

A curiosa afronta que mais tarde o seu segundo esposo, Fernão Garcia de Sousa, protagoniza em Moreira (Trancoso) contra Martim Gil, e a inimizade que lhe dedicava poderia ser um sinal que Fernão Garcia seria desde o início o pretendido por Urraca, e não Martim Gil como naturalmente se pensaria[2].

Na literatura

editar
 
Cancioneiro Colocci-Brancuti

O problema do casamento de Urraca Abril foi mencionado numa cantiga de João Soares Somesso, Ogan(o), em Muimenta, que reflete sobre o casamento desta com D. João Martins de Riba de Vizela o Chora. Este casamento causou alguma disputa nobiliárquica, já que a mão de Urraca seria pretendida também por D. Martim Gil de Soverosa.

A cantiga denuncia alguma repulsividade de Urraca face ao seu casamento com D. João Martins, e parece ser anterior à queda de Sancho II, ou melhor, do favor que dele teve Martim Gil, o que demonstra a origem pessoal do conflito, a origem no pedido da mão de Urraca, negada pelo pai desta. Deste papel maternal que o pai parece assumir quando insiste em querer escolher o melhor partido para a filha a partir do seu ponto de vista, deduz-se que se trataria, de facto, de um casamento de conveniência[5].

Da morte do pai ao segundo casamento

editar

Urraca acabaria por casar com João Martins O Chora e dele teve o único filho (provavelmente) que viria a ter em vida, Pedro Anes de Riba de Vizela, que deu assim forma a um ramo colateral dos Riba de Vizela.

Abril, o seu pai, viria a morrer, junto ao bastardo régio Rodrigo Sanches, na Lide de Gaia de 1245, que os opuseram e à maior parte da nobreza portuguesa contra o valido.

Urraca, como a única filha viva, herdou todos os bens paternos e maternos, que ainda aumentou com algumas compras feitas por ela[6][7], incluindo o couto de Lumiares e o paço onde havia estado encerrada anos antes. A mãe, talvez afetada pela dor da perda, viveria isolada no Paço até morrer, pouco depois[2]. Também Urraca terá vivido no Paço, como natural herdeira dele e das posses inerentes ao mesmo e também à família.

Terá sido provavelmente nesta altura que Urraca se tornou barregã de Afonso III de Portugal, recebendo dele vários favores e doações[8]. E, sem certezas, terá casado, estando ainda com o rei ou não, com Fernão Garcia de Sousa, chamado Esgaravunha, trovador e sobrinho do poderoso magnate Gonçalo Mendes II de Sousa. Deste casamento não resultaria descendência.[8][3].

Morte e posteridade

editar

Desconhece-se a data em que morreu, sendo certamente posterior a 1258, uma vez que ainda é mencionada nas Inquirições Gerais de 1258.

Após a sua morte, todo o património passou, sensivelmente intacto, para o seu único filho, Pedro Anes de Riba de Vizela, enriquecendo este ramo colateral, mas que não sobreviveria à geração da filha deste[3].

Casamento e descendência

editar

Urraca casou em primeiras núpcias com João Martins de Riba de Vizela o Chora de quem teve:

Depois de enviuvar, entre 1248 e 1250, Urraca foi barregã de Afonso III de Portugal, tal como outras ricas-donas e senhoras, entre as quais se incluíam Aldonça Anes da Maia ou Teresa Mendes de Sousa. Não é certo se teve algum filho do rei, dada a complexidade pelo número de amantes e filhos bastardos que se conhecem deste rei.

Volta a casar, em segundas núpcias, com o trovador Fernão Garcia de Sousa o Esgaravunha. Não se conhece descendência deste enlace.

Referências

Bibliografia

editar
Urraca Abril de Lumiares
Casa de Ribadouro-Lumiares
Herança familiar
Precedido por
Abril Pires de Lumiares
Senhora de Lumiares, suo jure
1245-1258
com João Martins de Riba de Vizela (1245-c.1248)
com Fernão Garcia de Sousa (c.1248-c.1256)

Sucedido por
Pedro Anes de Riba de Vizela
Precedido por
Pedro Nunes de Barbosa
Sancha Nunes de Barbosa

Abril Pires de Lumiares
Senhora de Barbosa, suo jure
1245-1258
com Nuno Pires de Barbosa
com João Martins de Riba de Vizela
(1245-c.1248)
com Fernão Garcia de Sousa (c.1248-c.1256)

Sucedido por
Nuno Pires de Barbosa
Pedro Anes de Riba de Vizela
Precedido por
Abril Pires de Lumiares
Sancha Pires de Lumiares
Aldara Pires de Lumiares
Senhora de Aveiro, suo jure
1245-1258
com Aldara Pires de Lumiares
com João Martins de Riba de Vizela
(1245-c.1248)
com Fernão Garcia de Sousa (c.1248-c.1256)

Sucedido por
Pedro Anes de Riba de Vizela
Aldara Pires de Lumiares