Urraca Sanches de Portugal
Urraca Sanches de Portugal (antes de 1175-depois de 1256) foi uma infanta do Reino de Portugal.[1]. Viúva de um poderoso senhor, foi uma importante doadora do Mosteiro de Santo Tirso.
Urraca Sanches de Portugal | |
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Infanta de Portugal | |
Urraca Sanches, na Genealogia dos Reis de Portugal (António de Holanda, 1534 | |
Senhora de Fontelo e Vila Cova | |
Reinado | 1191-1222 |
Predecessor(a) | Lourenço Soares |
Sucessor(a) | Doações ao Mosteiro de Santo Tirso e Ordem do Hospital |
Nascimento | Antes de 1175 |
Reino de Portugal | |
Morte | Depois de 1256 |
Reino de Portugal | |
Cônjuge | Lourenço Soares de Ribadouro |
Pai | Sancho I de Portugal |
Mãe | Maria Aires de Fornelos |
Primeiros anos
editarUrraca foi um dos dois únicos filhos bastardos que Sancho I de Portugal teria com Maria Aires de Fornelos (cuja origem poderia estar nos senhores de Torre de Fornelos, proveniente de Crecente, Pontevedra), filha de Aires Nunes de Fornelos e Mor Pires. Teve ainda um irmão inteiro, Martim Sanches de Portugal. O seu nascimento é logicamente posterior a 1198, uma vez que o rei só começa a ter filhos bastardos depois da morte da esposa, Dulce de Aragão, em 1198. Porém há notícias suas em 1175, que se opõem a esta teoria[2].
Maria Aires viria depois a casar com Gil Vasques de Soverosa[3], levando consigo os filhos do rei, pois surgem numa doação que faz, com o seu novo esposo, em 1175 no Mosteiro de Santo Tirso, aos seus parentes, Marinha Pais e Vasco Pires.[4].
A 11 de abril de 1207, Sancho doou a estes dois filhos as vilas e igrejas de Vila Nova dos Infantes e Golães[5], ficando disposto o seguinteː
“ |
Estas são as herdades que dei aos filhos que tive de Dona Maria Aires: Vila Nova, Golães e Silvares. Dei ainda a D. Martim Sanches, filho que dela tive, oito morabitinos (...) e a Urraca Sanches sete (...). Quero que todos os filhos que me deu Dona Maria Aires fiquem com a herdade que dei a sua mãe, e, quando um dos dois morrer, o sobrevivente fique com toda a herdade para si.[6] |
” |
O testamento de Sancho Iː o casamento
editarEm 1209, Sancho I mandara lavrar testamento, segundo o qual dava às suas filhas, Mafalda, Teresa e Santa Sancha, respetivamente a posse dos castelos de Montemor-o-Velho, Seia e Alenquer, com as respectivas vilas, termos, alcaidarias e rendimentos. Pouco antes da sua morte em 1211, Sancho I nomeara seus testamenteiros, que não tardaram a descobrir que se teriam de fazer valer os direitos do rei à força:o infante Afonso não concordou com o testamento deixado pelo pai e recusou cumpri-lo.
Um dos magnatas, Gonçalo Mendes II de Sousa, fez frente ao monarca e protegeu os direitos das infantas-rainhas. Associado pelo parentesco a este revoltoso barão estava também um outro grande senhor a ter em conta, Lourenço Soares de Ribadouro, cunhado de Gonçalo. A ascendência privilegiada de Lourenço deu-lhe acesso a uma grande quantidade de haveres, que Sancho I fizera questão de aumentar, dando-lhe assim alguma autoridade na maior parte da atual Beira Alta, uma região com a qual até os monarcas procuravam manter uma sólida amizade[7]. Afonso II de Portugal procurou imitar o pai neste assunto, até para atrair Lourenço para a sua fação. Pode também ter sido esta uma das causas que levou a que se unisse a infanta bastarda Urraca a este magnate[8].
Sabe-se que em 1219 estava já casada, uma vez a 11 de fevereiro desse ano surge ao lado do esposo numa doação que ambos fazem A Deus, a Santa Maria, ao abade D. Henrique e ao convento de Sobrado da terça parte das propriedades que detinham em Nogueirosa, com os seus coutos e termos. Estes bens estavam relacionados provavelmente com o património da sogra, a galega Sancha Bermudes de Trava, então já falecida. Por esta doação, os religiosos deveriam participar em todas as orações pelas suas almas, e no dia da festa de Santiago se fizesse memória deles no Capítulo. Após a morte de ambos, os sacerdotes deveriam pregar missas pelo primeiro membro do casal a falecer[9]
Últimos anos
editarLourenço não chegou ao fim do reinado de Afonso II, pois faleceu, sem descendência[10], uns meses antes deste, a 28 de setembro de 1222, segundo o obituário do Mosteiro de Salzedas, onde se sepultou[11]. Não tendo filhos, legou os seus bens à viúva, Urraca. A infanta foi assim a responsável pela doação de uma grande parte desta herança à Ordem do Hospital, sendo algumas delas mesmo testemunhadas pelas Inquirições de 1258.
“ |
Item freguesia de Santa Maria de Villa Noua dizem as testemunhas que a uirom trager e husar toda per honrra ao moesteiro de santo tysso e todo o senhorio e trage hy seu moordomo e seu vigairo e dizem que ouuirom dizer que ha deu Dona Orraca Sanchez hao moesteiro. |
” |
A menção refere-se à doação da herança paterna, ato no qual imitara o seu irmão, Martim Sanches. Este ainda vivia por volta de 1226, dado que em janeiro desse ano, faz doação da sua parte da herança paterna em Golães e Vila Nova dos Infantes ao Mosteiro de Santo Tirso [2]. D. Silvestre, abade do Mosteiro, recebe esse património com a cláusula da sua eficácia post mortem, isto é, só receberia as metades das vilas após a morte do doador [12]. Sabe-se que Martim não terá vivido muito mais tempo, pois em 1235, já doava bens pela sua alma ao Mosteiro de Fiães.
Pouco depois foi a vez de Urraca doar a sua própria parte nas vilas herdadas do seu pai[13]. Em maio de 1245, o então abade Fernão Pires comprou estes bens, ato oficializado por uma doação de Urraca, na qual, as metades das vilas e respetivos termos. Doava ainda dois casais em Vila Nova e dois em Golães e ainda uma vinha em Seara (provavelmente um lugar numa das vilas), mas, tal como irmão, apenas com efetivação post mortem, assegurando assim a sua posses vitalícia.
A este mesmo mosteiro veio também doar as honras que herdara do marido em Vila Cova e Fontelo[14].
A sua última aparição na documentação data de 1256, sendo mencionada no testamento da sua meia-irmã, a infanta Mafalda de Portugal[14], que faleceria a 1 de maio desse ano. A própria Urraca deve ter também falecido provavelmente pouco depois dessa data.
Referências
- ↑ Mattoso 1991, pp. 1030–1031.
- ↑ a b Correia 2008, p. 21.
- ↑ Correia 2008, pp. 180–181, 288, 187, 189.
- ↑ Carvalho Correia 2008, p. 21.
- ↑ Correia 2008, pp. 170–171 e 181.
- ↑ Sousa 2002, p. 23 e 27.
- ↑ GEPB 1935-57, vol. 29, p. 335.
- ↑ Sottomayor-Pizarro 1997.
- ↑ López-Sangil 2002, p. 56 e 65.
- ↑ Sottomayor-Pizarro 1997, vol. III.
- ↑ Reis 1934.
- ↑ Correia 2008, p. 180.
- ↑ Carta de doação transcrita em Correia, 2008, p.184-85
- ↑ a b GEPB 1935-57, vol.26, p. 912.
Bibliografia
editar- Correia, Francisco Carvalho (2008). O Mosteiro de Santo Tirso, de 978 a 1588: A silhueta de uma entidade projectada no chao de uma história milenária (Tese de doutoramento). Santiago de Compostela: Facultade de Xeografía e História. Universidade de Santiago de Compostela. ISBN 978-8498-8703-81
- Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira - 50 vols. , Vários, Editorial Enciclopédia, Lisboa.
- López-Sangil, José Luis (2002). La nobleza altomedieval gallega, la familia Froílaz-Traba (PDF) (em espanhol). A Coruña: Toxosoutos, S.L. ISBN 84-95622-68-8
- Mattoso, José (1991). «A nobreza medieval Portuguesa no contexto peninsular» (PDF). Revista da Faculdade de Letras: História (III). Porto: Universidade do Porto. pp. 1019–1044. ISSN 0871-164X
- Reis, Baltasar dos (1934). Livro da fundação do Mosteiro de Salzedas. Lisboa: Imprensa Nacional de Lisboa
- Sottomayor-Pizarro, José Augusto (1997). Linhagens Medievais Portuguesas: Genealogias e Estratégias (1279-1325). I. Porto: Universidade do Porto
- Sousa, D. António Caetano de, História Genealógica da Casa Real Portuguesa, Atlântida-Livraria Editora, Lda, 2ª Edição, Coimbra, 1946, Tomo XII-P-pg. 147
Urraca Sanches de Portugal Dinastia de Borgonha | ||
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Herança de viuvez | ||
Precedido por Lourenço Soares |
Senhora de Caria Senhora de Fontelo Senhora de Vila Cova Senhora de Fonte Arcada 1222-1256 |
Sucedido por Doações diversas ao Mosteiro de Santo Tirso e à Ordem do Hospital |