Ânforas gregas, empilhadas da maneira como provavelmente eram transportadas na Antiguidade, exibidas no Museu de Arqueologia Submarina de Bodrum.

A cerâmica da Grécia Antiga é um vestígio material que foi produzido em grande escala, em períodos diversos e em várias regiões do território grego na Antiguidade. Devido à sua durabilidade, compreende uma grande parte do registro arqueológico da antiguidade grega: mais de 100.000 vasos pintados estão registrados no Corpus vasorum antiquorum, um projeto de pesquisa internacional para documentação da cerâmica antiga. Parte da vida diária, os vasos em cerâmica eram usados como recipientes úteis nas casas ou para propósitos religiosos. Enquanto alguns eram decorados com figuras e padrões, outros tinham superfície lisa pintada de preto; peças mais grosseiras sem pintura serviam para cozinhar. Embora existissem produções locais para artigos de uso doméstico, a cerâmica mais fina de regiões como a Ática era importada por outras civilizações por todo o Mediterrâneo, do Mar Negro à Itália e, além disso, haviam várias variedades regionais específicas, como a cerâmica grega do sul da Itália.

Por sua característica de bem útil, fabricado e utilizado pelo ser humano, a cerâmica descartada ou enterrada no primeiro milênio a.C. ainda é uma das melhores fontes para se entender os modos de vida e a cultura dos gregos antigos. A história da cerâmica grega antiga pode ser pensada a partir de seus diferentes períodos de produção; os vasos do período minoico, muito sofisticados em seus estágios finais, e do período micênico que, baseado em um modelo cretense, foi universal no mundo grego na época Tardia da Idade do Bronze. O período submicênico, cujo estilo mesclou-se ao protogeométrico, dando origem à cerâmica da Grécia Antiga propriamente dita. A partir desse momento, a pintura em cerâmica viu uma decoração crescente, em especial na última fase do período geométrico. Os primeiros anos do período arcaico assistiram ao surgimento dos estilos orientalizante e de figuras negras, esse último contemporâneo das figuras vermelhas até as duas primeiras décadas do Período Clássico. Estilos como o West Slope foram característicos do subsequente período helenístico que, com a valorização da pintura livre e da escultura, significou o declínio da pintura em vasos – embora a produção de cerâmica decorada em relevo tenha sido mantida.

Estudo dos vasos

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Os vasos gregos antigos começaram a se tornar conhecidos na Itália em 1550 d.C., embora nesta fase inicial tenham sido confundidos com vasos etruscos ao invés de gregos. Provavelmente as primeiras coleções de vasos gregos antigos começaram a ser formadas só na metade do século XVII d.C. No século XVIII houve uma grande descoberta de vasos e os estudiosos começaram a tomar interesse pelo tema porque os vasos poderiam oferecer interpretações acerca da Antiguidade. A primeira instituição a exibir os vasos gregos foi o Museu Britânico. Foi somente em 1740 que a primeira proposição sobre uma origem grega para essas peças foi pautada por Johann Joachim Winckelmann em seu estudo pioneiro sobre arte antiga publicado em 1744.[1] A confirmação veio através da descoberta de que a linguagem utilizada nas inscrições contidas nos vasos era o grego. No século XIX, através dos estudos do Instituto Arqueológico Alemão, houve a descoberta da distinção entre as técnicas das figuras negras vermelhas e também sobre as diferenças regionais entre os vasos gregos. Estas descobertas foram feitas por Eduard Gerhard, estudando os achados recentes no sítio de Vulci.[2] Os estudantes alemães Wilhelm Klein, Paul Hartwig, Adolf Furtwängler e Karl Reichhold publicaram um estudo ilustrado e com descrições das pinturas nos vasos gregos.

Já no século XX, John D. Beazley relacionou diversos vasos à pintores atenienses utilizando um método comparativo que não se baseava apenas nas assinaturas dos vasos.[3] O seu método, chamado de “mão do artista”, inspirou-se no método que Lorenzo Morelli usou para identificação de artistas como Botticelli e Ticiano, ou seja: um método utilizado no contexto de reconhecimento de artistas produtores de pinturas renascentistas transportado para o universo de produção de vasos de cerâmica na Grécia Antiga. [4] Nos estudos contemporâneos sobre os vasos gregos, todos os aspectos do vaso são estudados – composição do vaso, pintura e função.

Usos e formatos

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Os vasos em cerâmica eram produzidos em ampla gama de formas e tamanhos e possuíam funções básicas que se complementavam: nos simpósios, por exemplo, mais de doze diferentes formas de vasos podiam ser empregadas para servir e consumir vinho. A estrutura de uma peça geralmente está ligada à anatomia humana: boca, pescoço, ombros, corpo ou pança, e pé – as alças eram chamadas de orelhas pelos gregos.[5]

Os nomes que usamos para as suas formas são muitas vezes mais uma questão de convenção do que de factibilidade histórica. Enquanto alguns ilustram seu próprio uso, são rotulados com seus nomes originais, outros são o resultado de tentativas de primeiros arqueólogos de reconciliar o objeto físico com um termo conhecido da literatura grega – nem sempre com sucesso.[6]

Em ordem alfabética, são eles: alabastro, ânfora (de pescoço, panatenaica, Nolan, tipos A, B e C), aríbalo (inicial e de figuras vermelhas), asco, cálpis, cântaro, cíato, cílice (tipos A, B e C), cratera (de cálica, de coluna, de voluta e de sino), dino, enócoa, escifo, exaliptro, hidría, lebes nupcial, lecánide, lécito, lip cup, lutróforo, olpe, pátera, pélica, pito, píxide, psíctere, ritão e estamno. Para entender a relação entre forma e função, esses vasos podem ser divididos em quatro grandes categorias:[6]

  • recipientes de armazenamento e transporte, incluindo a ânforas, pitos, pélicas, hidrías e píxides.
  • recipientes de mistura, principalmente para os simpósios ou festas masculinas, incluindo crateras e dinos.
  • jarras e xícaras, incluindo os vários tipos de cílices, cântaros, pateras, escifos, enócoas e lutróforos.
  • vasos para óleos, perfumes e cosméticos, incluindo os grandes lécitos e os pequenos aríbalos e alabastros.

Principalmente a partir do século VIII a.C. se deu a consolidação um mercado internacional de cerâmica grega, dominado pelos dois grandes centros de produção da época, Atenas e Corinto, ao menos até o final do século IV a.C.[7] Uma ideia da extensão desse comércio pode ser obtida ao traçar os mapas de localização desses vasos fora da Grécia, embora essa lógica não possa ser aplicada para relações de troca de presentes e imigração. Somente a existência de um mercado de segunda mão poderia explicar o número de ânforas pantatênicas encontradas em tumbas etruscas. À medida que Atenas perdia importância política durante o período helenístico, mercadorias do sul da Itália passaram a dominar o comércio de exportação no Mediterrâneo Ocidental.

Fabricação

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Manufatura

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O processo de fabricação dos vasos passa pelas seguintes etapas: obtenção da argila, levigação para retirar as impurezas da argila, moldagem do vaso utilizando a roda, aplicação de barbotina, cozimento para endurecer a argila e por fim, a pintura dos vasos.

Argila

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Argila é a matéria prima da produção cerâmica grega antiga. O processo de retirada da argila geralmente era feito pelo próprio oleiro. Por conta da composição química do solo, a argila pode variar de coloração de acordo com a região de onde é retirada. Enquanto a de Atenas é rica em óxido de ferro (Fe2O3) e, por esse motivo, quando cozida adquire uma cor laranjaavermelhada, a de Corinto, desprovida da mesma substância, mas dotada de bastante cálcio, tem uma tonalidade mais pálida, que tende para o amarelado. Essas diferenças permitem, por meio de uma análise química, determinar a origem de um ou de outro vaso: assim, foi possível mostrar que o grupo de hídrias de Hadra usadas em Alexandria no período helenístico como urnas funerárias haviam sido confeccionadas em Creta, e não no Egito como se pensava anteriormente. Diferentes tipos de técnicas também requerem diferentes tipos de argila por causa de suas cores.

A argila não é apenas utilizada para a estrutura dos vasos, é utilizada também para a produção da tinta e da barbotina (uma mistura feita diluindo-se argila em água, utilizada na produção dos vasos).

Levigação

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Quando a argila acaba de ser retirada do solo ela se encontra cheia de impurezas, pedras, conchas e outros materiais misturados que precisam ser retirados. Para isso, o oleiro mistura a argila com água e deixa todas as impurezas se acumularem no fundo. Esse processo se chama levigação ou elutriação e ele pode ser repetido diversas vezes. Quanto mais é feito, mais macia fica a argila.

Roda de oleiro

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A argila é trabalhada pelo oleiro e em seguida colocada sobre a roda. Uma vez que a argila está sobre a roda, esta gira e o oleiro pode moldá-la conforme o tipo de vaso a ser feito. Elementos decorativos poderiam ser moldados com as mãos ou com moldes e depois adicionados aos vasos. Peças mais complexas eram feitas em partes e depois eram reunidas quando a cerâmica já estava levemente endurecida, utilizando argila diluída para juntar e depois retornando a peça à roda para finalizar o formato. A roda por vezes era girada por um ajudante.

Barbotina

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Depois de moldado, o pote é pintado pelo oleiro com uma pasta de argila de grãos ultrafinos, a chamada barbotina; a substância é aplicada nas áreas que, após o cozimento, deveriam ficar pretas ou então para juntar peças de um vaso feitas separadamente, como as alças ao corpo da peça. Para a decoração dos vasos, os artesãos utilizavam pincéis de diferentes espessuras, ferramentas de ponta de alfinete para incisões e provavelmente ferramentas de fio único para as linhas de relevo.

Uma série de estudos analíticos mostrou que o notável brilho negro com brilho metálico, tão característico da cerâmica grega, emergiu da fração coloidal de uma argila ilítica com baixíssimo teor de óxido de cálcio. Essa argila era rica em óxidos e hidróxidos de ferro, diferenciando-se daquela usada para o corpo do vaso em termos de teor de cálcio, composição mineral exata e tamanho de partícula. Era composta de diversos aditivos defloculantes para argila (potassa, ureia, resíduos de vinho, cinzas de osso, cinzas de algas marinhas etc.) ou recolhida in situ de leitos de argila ilíticos após períodos de chuva. Estudos recentes mostraram que alguns oligoelementos do verniz preto (zinco em particular) podem ser característicos das camadas de argila usadas na antiguidade. Em geral, diferentes equipes de estudiosos sugerem abordagens distintas sobre a produção da barbotina usada na antiguidade.

Cozimento

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A cerâmica grega, ao contrário da cerâmica de hoje em dia, era cozida apenas uma vez, em um processo bastante sofisticado, por meio de um processo conhecido como queima trifásica, constituindo por fases de oxidação, redução e reoxidação. Durante o cozimento, calor e oxigênio eram ajustados cuidadosamente para garantir que as reações químicas necessárias iriam acontecer em cada uma dessas etapas.

Oxidação: no caso da argila ática, a sua grande quantidade de óxido de ferro (Fe2O3) deixa-a com uma cor avermelhada. A barbotina preta, feito da mesma argila, também contém óxido de ferro. Quando cozido em uma atmosfera oxidante, tanto a área reservada quanto a pintada irão se tornar vermelhas, a primeira mais clara e a segunda um vermelho-amarronzado. Isso acontece quando a temperatura do forno atinge 800 ºC e ar, admitido através de uma saída de ar, leva oxigênio à câmara do forno.

Redução: no meio do processo de cozimento a temperatura do forno era elevada à 950 ºC, as saídas de ar fechadas, e umidade, provavelmente na forma de madeira verde, era adicionada, ocasionando uma combustão incompleta. Como resultado, ao invés de dióxido de carbono (CO2), presente quando a combustão é completa, monóxido de carbono (CO1) era produzido. Como oxigênio não podia entrar no forno, o monóxido de carbono se combinava às moléculas de óxido do óxido de ferro vermelho (Fe2O3) presente na argila, mudando quimicamente para um óxido de ferro preto (FeO) ou até mesmo um óxido magnético de ferro mais negro (Fe3O4).24 A reação química que ocorria durante o ciclo de redução tornava as áreas reservadas do vaso em um cinza mate escuro, enquanto o verniz, produzido a partir das partículas da argila, era sinterizado em um preto metálico profundo e brilhante.

Reoxidação: já na última fase de cozimento, a temperatura do forno era gradualmente reduzida para cerca de 900 ºC e a entrada de oxigênio na câmara do forno através da saída de ar era permitida. Isso mudava a atmosfera do forno da redução para oxidação. O oxigênio combinava-se com a argila reservada mais porosa, transformando a sua coloração cinza mate em um vermelho-alaranjado. A barbotina preta, no entanto, mantinha sua cor negra uma vez que sua superfície sinterizada não tinha mais a capacidade de absorver oxigênio, impossibilitando que qualquer outra reação química acontecesse.

Uma reprodução fiel desse processo cozimento, envolvendo extenso trabalho experimental, levou à criação de uma moderna unidade de produção em Atenas desde o 2000, mostrando que os vasos antigos podem ter sido submetidos a múltiplos cozimentos de três estágios seguidos de repintura ou tentativas de corrigir falhas de cor. A técnica mais conhecida como "oxirredução de ferro" foi decodificada com a contribuição de estudiosos, ceramistas e cientistas desde meados do século XVIII até o final do século XX. Estudos mais recentes de Chaviara & Aloupi-Siotis (2016), utilizando técnicas analíticas avançadas, fornecem informações detalhadas sobre o processo e as matérias-primas utilizadas.

Pintura do vaso

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O aspecto mais familiar da produção cerâmica da Grécia Antiga é a excelente qualidade da pintura dos vasos. O estilo da pintura dos vasos varia geograficamente e também temporalmente, houveram diversas tendências de técnicas de pintura. No caso da técnica de figuras vermelhas, antes de fazer as pinturas nos vasos, o ceramista geralmente fazia um esboço com algum instrumento duro sobre a superfície28, depois era feita a pintura em si. Diversos materiais poderiam ser empregados para realizar a pintura, desde pincéis das mais diferentes espessuras a simples fios para detalhes. Já as tintas eram produzidas com a própria argila em diferentes níveis de concentração, compostas de diferentes elementos químicos ou a argila poderia ser misturada a pigmentos. Os vasos tinham suas superfícies polidas tanto antes quanto depois do processo de pintura para melhor acabamento. Os pintores costumavam primeiro demarcar os contornos das formas que deveriam ser negras para depois preenchê-las com uma camada uniforme de tinta. As faixas circulares em volta das peças provavelmente eram feitas utilizando a roda do oleiro.

Desenvolvimento da pintura em cerâmica

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Idade do Bronze

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A Idade do Bronze compreende o período de 3250 a 1100 a.C. No início do período temos vestígios de vasos micênicos decorados com motivos abstratos geométricos, espirais, linhas e pontilhados. Também são encontrados vasos pintados monocraticamente. As cerâmicas desse período possuíam uma coloração amarelada ou quase branca (no caso das mais luxuosas), muitas vezes decoradas com tinta de coloração vermelha, marrom ou negra. Alguns formatos de vasos que podem ser encontrados nesse período são jarras e vasos para misturar, crateras, ânforas, pixídes e kalathoi. Esses vasos eram tidos como itens de luxo e muitas vezes eram utilizados em contextos funerários, enterrados junto com outros pertences. A partir do período do Bronze Médio a cerâmica micênica começa a aparecer decorada com pinturas de animais (por exemplo polvos) e plantas, influenciada pela cerâmica minoica que foi um grande expoente da época. No final da Idade do Bronze, o estilo micênico de cerâmica tornou-se universal em todo o mundo grego.

Idade do Ferro

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Durante os anos compreendidos como “colapso da civilização micênica”, entre 1100 a.C. e 900 a.C., os estilos predominantes foram o submicênico e o protogeométrico, caracterizados, respectivamente, por pinturas à mão livre por vezes em zonas pequenas por vezes na maior parte do vaso, sem a utilização de instrumentos de precisão e por padrões decorativos pintados com maior precisão e simetria, como os círculos concêntricos e ondas mais regulares, graças à introdução do compasso e do pincel múltiplo.32 Em regiões como a Grécia continental, o Egeu, a Anatólia e a Itália esse período foi sucedido pelo estilo de pintura de cerâmica conhecido como geométrico, que empregava linhas bem definidas de formas geométricas.33 Já no período arcaico, que teve início no século VIII a.C. e estendeu-se até o final do século V a.C., a Grécia assistiu ao surgimento do período orientalizante, cuja produção foi encabeçada, em grande medida, pela antiga Corinto. 34 Esse estilo é marcado pelo aparecimento de novos motivos, principalmente ligados à fauna e, em menor medida, à flora, bem como pelo uso mais livre de curvas.35 No período clássico, a produção de vasos em cerâmica foi, em grande parte, uma prerrogativa ateniense, não somente em função de sua posição política no mundo grego, mas também pela qualidade de sua argila. No final do período arcaico, os estilos de pintura de vasos com figuras negras, cerâmicas com figuras vermelhas e a técnica de fundo branco estabeleceram-se plenamente e continuaram em uso durante a Grécia Clássica, do início do século V a.C. ao final do século IV a.C. Corinto foi eclipsado pelas tendências atenienses, já que os estilos de figura vermelha e fundo branco surgiam em Atenas.36 Do final do século VIII a.C. até cerca de 300 a.C. estilos em evolução de pintura com figuras humanas estavam no auge de sua produção e eram amplamente exportados.

Estilo submicênico
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O período submicênico é identificado como uma fase de transição entre os últimos anos da Idade do Bronze e a ascensão da Idade do Ferro na Grécia. Com fontes escassas, é a cerâmica associada a esse momento da história grega o registro mais abundante para sua caracterização, embora o seu estilo apresente dupla semelhança: ora mais próximo do estilo micênico, ora mais parecido com o protogeométrico. Enquanto alguns vasos desse período sãos mais grosseiros, sem proporção e distorcidos, outros apresentam melhor moldagem e maior requinte decorativo. A decoração aparece apenas em zonas pequenas do vaso, sendo o restante preenchido com verniz monocromático. Os principais ornamentos são a linha ondulada, triângulos agrupados e semicírculos.

Estilo protogeométrico
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Vasos do período protogeométrico (1050-900 a.C.) representam o início da Idade do Ferro grega e constituem um dos poucos modos de expressão artística (além da joalheria, escultura, arquitetura monumental e pintura de murais) que nos é conhecido dessa época. Por volta de 1050 a.C. a vida na Península Grega parece ter se tornado suficientemente estabelecida para permitir uma melhoria notável na produção de louças de barro. O estilo, bastante semelhante ao submicênico, em sua primeira fase apresenta elementos que se popularizam na fase intermediária e final do anterior40, baseando-se em círculos, triângulos, linhas onduladas e arcos, todos de notável destreza, provavelmente feitos com a ajuda de um compasso e diversos pincéis Durante esse estilo, a Ática, que mostra grande vigor e originalidade, e sua influência é forte na Argólida, em Corinto e em parte da Beócia, nas Cíclades e nos novos assentamentos gregos no leste do Egeu. O sítio de Lefkandi é uma das mais importantes fontes de cerâmica desse período onde um esconderijo de depósitos funerários foi encontrado, evidenciando um estilo protogeométrico distinto de Eubeia que durou até o início do século VIII a.C.

Estilo geométrico

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O estilo geométrico floresce nos últimos anos do X século a.C. e permanece sendo a principal forma de decoração de vasos gregos até o final do século VIII a.C. Estilo bastante disciplinado, se caracteriza pelo surgimento de novos motivos, rompendo com as representações dos períodos minoico e micênico. Os ornamentos são planejados, quase mecânicos e dão ênfase ao vaso. Os semicírculos desaparecem, dando espaço ao meandro contínuo, que se torna o motivo característico desse período. O painel passa do ombro para o bojo e a repetição de ornamentos é cada vez mais visível. Subdivide-se em Geométrico Antigo (c. 900 - c. 850 a.C.), momento em motivos circulares dão lugar a motivos retilíneos; Geométrico Médio (c. 850 – c. 760 a.C.), quando se dá o início de uma separação entre a decoração e o suporte, bem como o aumento no repertório de ornamentos e a introdução de figuras animadas como cavalos, pássaros, cabras e veados, que alternam com as faixas geométricas e Geométrico Recente (c. 760 – 700 a.C.), período em quase toda a superfície do vaso pode ser coberta e a divisão dos campos torna-se cada vez mais popular. Em meados do século VIII a.C., durante o Geométrico Recente, começam a aparecer as cenas figuradas mais abundantemente. As representações mais conhecidas são as dos vasos encontrados em Dipylon, um dos cemitérios de Atenas. Os fragmentos desses grandes vasos funerários retratam cenas figuradas complexas de próthesis (exposição e lamentação dos mortos) e ekphora (transporte do caixão ao cemitério). Entretanto, se por um lado essas cenas figuradas ganham destaque e dinamicidade,chegando a representar um acontecimento por inteiro como um funeral, por outro a qualidade dos elementos geométricos presentes nos vasos, característicos do período, deterioram-se.46 Embora a produção de vasos fosse uma prerrogativa de Atenas – é bem atestado que, como no período protogeométrico, em Corinto, Beócia, Argos, Creta e Cíclades, os pintores e oleiros se contentavam em seguir o estilo ático – por volta do século VIII a.C., as escolas locais passam a criar seus próprios estilos, Argos se especializando em cenas figurativas, Creta permanecendo ligada a uma abstração mais estrita.47 No Geométrico Recente, inclusive, Corinto ganha independência de produção e desenvolve um maneirismo que seria copiado até em solo ateniense.

Estilo orientalizante

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O estilo orientalizante foi o produto da fermentação cultural no Mar Egeu e no Mediterrâneo Oriental dos séculos VIII a.C. e VII a.C. Contemporâneo às figuras negras, é desenvolvido inicialmente em Corinto, por volta de 720 a.C e cai em desuso no século VI a.C. Caracterizase por uma forte influência da arte oriental: se o Oriente aprecia muito menos a cerâmica pintada do que a Grécia, a sua pintura, a sua escultura e os seus bronzes apresentam uma figuração atenta aos modelos naturais.49 Esta influência reflete-se, em particular, numa nova gama de motivos presentes nos vasos: leões, touros, javalis, esfinges, grifos, cabras, veados, cachorros, lebres, águias, galos e gansos, representados de forma mais realista do que no passado50. As representações humanas permanecem relativamente raras e, quando aparecem, são cenas de batalhas, às vezes hoplíticas, ou mesmo cenas de caça. A cerâmica coríntia desse período foi exportada para toda Grécia; sua técnica chegou a Atenas, que desenvolveu um estilo próprio, com uma influência oriental mais difusa. Durante a primeira fase de produção na Ática, denominada protoática, os motivos orientalizantes aparecem, mas os traços permanecem pouco realistas. Já Creta e as Ilhas Cíclades distinguem-se pela atração pelos chamados “vasos plásticos”, que nada mais são do que artigos cuja pança ou pescoço é moldado na forma da cabeça de um animal ou de um homem, além os pitos com relevo, vasos de armazenamento cujas superfícies internas eram decoradas com relevo modelado ou moldado. Para além disso, a partir do século VII a.C, começaram imitações de cerâmicas coríntias fabricadas na Itália, fielmente inspiradas nos vasos protocoríntios e de qualidade quase igual aos modelos originais. A partir do final desse mesmo século, as oficinas etruscas passam a fabricar em massa vasos que imitiam a cerâmica coríntia da época. É o que permite identificar essas produções sob o nome: "Cerâmica Etrusco-Coríntia". O estilo de maior destaque desse período é chamado “Estilo da Cabra Selvagem”, que foi produzido aproximadamente entre 650-550 a.C. Próprio da Ásia Menor, especialmente em Quios, Mileto e Rodes, o seu motivo característico, como o nome já indica, são desenhos de cabras e, por vezes, outros animais como veados que contornam o vaso. Diversos outros motivos são usados para preencher o resto da peça, derivados principalmente de fontes orientalizantes. A técnica consiste na aplicação de padronagem escura em uma barbotina pálida, que cobre a argila local.

Estilo de figuras negras

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As figuras negras foram uma técnica de pintura muito popular nas cerâmicas da Grécia Antiga entre os séculos VII e V a.C. Inicialmente as representações de animais tinham mais proeminência nos vasos contendo a técnica das figuras negras. Conforme os artistas ganhavam confiança na pintura de figuras humanas, os motivos animais, mais identificados com o estilo orientalizante, foram diminuindo e cenas incluindo figuras humanas foram aumentando. Diversas cenas eram representadas nos vasos, em um primeiro momento cenas de batalha, corridas e procissões, eram as favoritas. Mais tarde, cenas cotidianas e mitológicas foram sendo adicionadas aos vasos. As figuras humanas eram representadas de perfil. A história da técnica de pintura de figuras negras está intimamente ligada à história da cidade de Corinto, onde surgiu a técnica inspirada nas técnicas de pintura vindas do oriente. Com o tempo a cerâmica de Corinto foi perdendo espaço para a cerâmica Ática onde as figuras negras também estavam sendo implementadas. Essa técnica se espalhou por diversas regiões como a Beócia, Lacônia e Eubeia. Em Corinto a argila que dava a cor do fundo dos vasos era de tons mais pálidos, já na Ática a argila utilizada era mais alaranjada. A tinta utilizada para as figuras era marrom de um tom marrom-avermelhado (e não preta como diz o nome da técnica) mas com o tempo ela vai se tornando mais escura e o tom avermelhado não é mais apreciado. Como um grande expoente desse estilo podemos citar o pintor Exekias.

Estilo de figuras vermelhas

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A técnica de figuras vermelhas foi uma invenção ateniense que data do final do século VI a.C. Essencialmente, as figuras vermelhas eram o oposto das figuras negras: o fundo era pintado de preto, as figuras reservadas e, na maioria das vezes, os detalhes eram desenhados em também em preto.56 Ao substituir-se a técnica de incisão por pintura direta nas peças ofereceu novas possibilidades expressivas aos artesãos, que agora podiam desenvolver perfis de três quartos, maiores detalhes anatômicos e a representação em perspectiva. A primeira geração de pintores de figuras vermelhas trabalhou em figuras vermelhas e pretas, bem como em outros métodos, incluindo a técnica de fundo branco; esse último elaborado ao mesmo tempo que as figuras vermelhas. No entanto, dentro de vinte anos, a experimentação deu lugar à especialização, o que pode ser observado nos vasos do chamado “Grupo Pioneiro”, cujo trabalho figural era prioritariamente em figuras vermelhas – embora tenha mantido o uso de figuras negras para algumas ornamentações florais primitivas. – Os valores e objetivos compartilhados pelos pioneiros, como Euphronios e Euthymides, sugerem que eles eram algo que se aproximava de um movimento autoconsciente, apesar de não terem deixado para trás nenhum outro testamento além de seu próprio trabalho. Segundo John Boardman, em pesquisa sobre o trabalho desses artesãos, "a reconstrução de suas carreiras, propósitos comuns, até mesmo as rivalidades, podem ser tomados como um triunfo arqueológico." O estilo de figuras vermelhas de Atenas dá sequência à técnica de argila e pintura das figuras negras. No final do século VI a.C., começam a aparecer vasos com barbotina branca, especialmente os pequenos lécitos de figuras negras. Disto se desenvolve uma barbotina muito branca, mas frágil, presente em lécitos de figuras brancas. Durante o século IV a.C., a argila ática tende a ser mais amarela do que antes. As figuras vermelhas do sul da Itália usam várias argilas, a maioria delas claras, e muitas vezes ocorria que, como em Corinto, o oleiro se sentia obrigado a cobrir a superfície com uma camada de tinta avermelhada. Do início ao apogeu da pintura de figuras vermelhas (c. 530 a.C. a 425 a.C.), várias escolas distintas com inovações e soluções próprias se desenvolveram. No período denominado Figuras Vermelhas do Arcaico Tardio (c. 500 - 480 a.C.), as poses das figuras passam a ser mais variadas e “acrobáticas”, a composição torna-se menos formal e um representação que torna-se popular são duas figuras em pé ligeiramente inclinadas uma da outra; o ornamento típico agora é um meandro simples, muitas vezes interrompido por quadrados contendo cruzes59; nas Figuras Vermelhas do Clássico Inicial (c. 480-450 a.C.), se dá o estabelecimento de um padrão clássico60; nas Figuras Vermelhas do Clássico (c. 450-425 a.C.), as cenas do dia-a-dia tornam-se comuns, em especial os ritos funerários e os artistas tornamse mais conscientes no que se refere à perspectiva61; já nas Figuras Vermelhas do Clássico Recente (c. 425 - 400 a.C.), nas quais a decoração não se dá mais em favor da forma do vaso, extrapolando a divisão criada pelas linhas de meandros contínuos ou outro ornamento. A cerâmica ática com figuras vermelhas foi universal no mundo grego e popular no Mediterrâneo e além até a última parte do século V a.C., quando começou a perder seus mercados italianos para os concorrentes locais. Em outros lugares, os produtos atenienses ainda continuaram sendo apreciados, mas mesmo antes de seu colapso, os clientes geralmente preferiam os produtos pintados de preto aos sobreviventes da tradição das figuras vermelhas.63 Assim, o fim da produção de vasos decorados com as figuras vermelhas em Atenas veio não mais tarde do que 300 a.C.

Técnica do fundo branco

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A técnica de fundo branco foi difundida no final do século VI a.C. e era aplicada principalmente em ânforas, hídrias e lécitos. O que fazia o fundo branco era a barbotina e era utilizado uma tinta puramente branca para pintar mulheres sobre o fundo branco. As primeiras pinturas utilizando a técnica do fundo branco traziam consigo também figuras vermelhas. Os lécitos, a partir da metade do século V a.C, passaram a ser os vasos mais comuns a trazer esse tipo de pintura e eram principalmente utilizados em contextos funerários. No período helenístico algumas ânforas pantatênicas foram pintadas com a técnica de fundo branco. Estas eram enchidas com óleo e oferecidas como prêmio aos vencedores das Panateneias (jogos panatenaicos). Como expoentes desse estilo podemos citar o pintor Achilles, e o pintor Sotades.

Período helenístico

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O período helenístico, inaugurado pelas conquistas de Alexandre, o Grande, assistiu ao desaparecimento da cerâmica de figuras pretas e vermelhas, mas também o surgimento de novos estilos.67 Com padrão definido pelas peças em metal, os ornamentos mais comuns eram grinaldas e festões de hera e louro e também videiras, padrões abstratos, fitas e instrumentos musicais. Os motivos orgânicos pouco ou nada aparecem, limitando-se à figura do golfinho. Divide-se em fundo escuro e fundo claro; o primeiro, chamado de West Slope na Grécia e Gnathian na Itália, surgiu por volta de 300 a.C. em Atenas e continuou a ser fabricada até o segundo ou mesmo o século I a.C., enquanto o segundo apareceu pela primeira vez nas veteranas ânforas pantatênicas e consiste em vários grupos de cerâmica decoradas com os ornamentos tipicamente helenísticos em tinta marrom ou preta em uma superfície branca ou pálida.68 Na West Slope, comum na Ática, em Corinto, em Pergamo e Cnossos, a decoração é limitada à parte superior do vaso e o repertório não é muito extenso; as figuras de animais e humanos são raras, com exceção dos já citados golfinhos, que dificilmente se classificam como mais do que ornamentos curvilíneos. Para além da West Slope, outros estilos de pintura se desenvolveram regionalmente: O Lagynos Group, que surgiu provavelmente na metade do século II a.C. e continuou a ser produzida até algum momento do século I a.C., caracterizado pela decoração com fundo claro, seus ornamentos (hera, louro ou, com menos frequência, festões enlaçados ao redor do vaso – e às vezes objetos isolados – grinaldas, instrumentos musicais, láginos, golfinhos e até galos de briga), restritos aos ombros, são às vezes contínuos69; o Hadra Ware, estilo que surgiu no segundo quarto do século III a.C. e, de forma atenuada, prolongou-se até o primeiro século a.C., se aplica a duas escolas, uma de fundo claro e outra de decoração policroma num fundo branco, a qual o autor refere-se como “alexandrine”, apresentam ornamentos semelhantes ao grupo anterior, além de pássaros de pescoço longo, distribuídos normalmente em dois campos menores (no pescoço e ombro) e em um campo maior (interrompido pelas alças) na parte superior da barriga70; o Canosa Ware, que inicia no final do quarto século a.C. e possivelmente dura até o segundo século a.C. e é o único que apresenta maior variedade de figuras orgânicas, até mesmo humanos71; e o Centuripae Ware, grupo que surge no início do século terceiro a.C. cujo estilo e a forma sugerem uma conexão com as figuras vermelhas sicilianas. A decoração em relevo também é característica nos vasos produzidos durante esse período. As Tigelas de Mégara, comercialmente o formato de vaso com decoração de relevo que obteve mais sucesso na Grécia à época, surgiram em Atenas, provavelmente na década de 220 a.C. e quase que imediatamente foram adotadas por Corinto e Argos, espalhando-se para outras cidades gregas durante o século II a.C. Sua forma é aproximadamente hemisférica com ou sem um pé anelar baixo. Os motivos, que cobrem todo o exterior exceto o lábio, variam de ornamentos abstratos e vegetais a animais e figuras humanas, geralmente dispostos mais ou menos simetricamente.

Inscrições

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As inscrições na cerâmica grega começam a aparecer no século VIII a.C. e se tornam mais comuns a partir do século VI a.C. Podem ser feitas nos vasos de quatro maneiras: através de incisões, de pinturas, ser escritas em tinta ou carimbadas. São feitas ou pelo próprio ceramista ou por um comerciante de vasos.74 Essas marcações podem ser de dois tipos: feitas antes do cozimento vaso (quando pintadas eram em tons escuros, roxo ou branco) ou depois do cozimento do vaso (usualmente roxas ou brancas). Pode-se distinguir alguns subtipos:

Inscrições antes do cozimento: legendas, assinaturas, lemas, dedicatórias e nomes dos donos. Inscrições depois do cozimento: dedicatórias, nomes dos donos, lemas, legendas, epitáfios, marcas do comerciante.

Dependendo do objetivo da inscrição ela poderia ser feita em um local diferente do vaso. Por exemplo: as marcas do comerciante geralmente eram feitas embaixo do pé do vaso, já as legendas costumavam ser feitas contra as figuras as quais elas faziam referência.

Conservação

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O propósito da conservação é preservar propriedades artísticas e culturais, diminuindo ou parando o processo de deterioração aos quais estão sujeitos objetos históricos. A cerâmica grega antiga é uma das principais fontes de informação sobre a sociedade da Grécia à época e por isso a sua preservação é de grande importância. Acontece que poucos são os vasos em cerâmica que sobreviveram intactos desde a Antiguidade. A maior parte da cerâmica escavada vem de contextos de enterramento e essas peças geralmente estão quebradas em diversos fragmentos, cobertas por poeira ou sais solúveis, que podem causar danos consideráveis ao objeto. A conservação inicia-se com a investigação das causas, natureza e grau do dano; o objeto é examinado e as condições de sua superfície e estruturas são avaliadas, a fim de determinar as aproximações metodológicas e a extensão do tratamento. Dependendo do resultado, um conservador pode optar por duas abordagens: preventiva, usada na maioria dos casos, ou interventiva, que objetiva impedir que danos futuros venham a ocorrer. Como cada peça é individual e apresenta os seus próprios problemas, os tratamentos de conservação podem ir de simplesmente remover impurezas até completa reconstrução de um vaso. Quando o dano ou a perda dos fragmentos são significativos, pode não ser indicado reconstruir e exibir uma peça para evitar interpretações errôneas. Nesses casos, a colaboração interdisciplinar entre arqueólogos, historiadores e o conservador que está trabalhando no vaso é essencial para proporcionar um entendimento completo do significado e complexidade do formato original do item em questão.


Referências

Bibliografia

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Artigos científicos

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Livros e capítulos de livros

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  • Clark, Andrew; Elston, Maya; Hart, Mary Louise (2002). Understanding Greek Vases: a guide to terms, styles and techniques. Los Angeles: Getty Publications. ISBN 9780892365999 
  • Cook, Robert Manuel (1997). Greek Painted Pottery. Londres: Routledge. ISBN 9780415138604