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Noite e Neblina (em francês: Nuit et brouillard) é um documentário Francês realizado em 1955 a partir de uma encomenda feita ao cineasta Alain Resnais pelo Comitê da História da Segunda Guerra Mundial. O filme tinha como objetivo comemorar dez anos da libertação dos campos de concentração.[1] O título é retirado de Nacht und Nebel (Alemão para "Noite e Neblina") a lei decretada pela Alemanha Nazista que legitimava abduções e desaparecimentos feitas pelo Estado.[2] O documentário possui como fio condutor umA NARRAÇAO EM OVER DE texto redigido pelo poeta Jean Cayrol, sendo filmado nos terrenos abandonados de Auschwitz e Majdanek localizados na Polônia. (FONTE)

O filme fornece um contexto histórico da época além de descrever as vidas dos prisioneiros que ali viveram. Foi todo gravado em cores, no ano de 1955, sendo composto por imagens dos campos de concentração abandonados e imagens de arquivo em preto e branco que retratam o cotidiano dos campos.[1] O impacto das imagens de "Noite e Neblina", e do texto do escritor Jean Cayrol, suplantaram a sua intenção de memorial dos desaparecidos e se transformou, segundo François Truffaut, em "uma lição de história, inegavelmente cruel, mas merecida" no filme "mais nobre jamais rodado antes".[2]


Índice 1 Ficha Técnica 2 Produção 3 Construção do filme 4 Censura 5 Recepção 6 Prêmios 7 Referências Ficha Técnica TÍtulo: Noite e Neblina Direção: Alain Resnais Assistentes de Direção: Anne Sarraute, André Heinrich Co-Roteirista: Chris Marker[1] Roteiro: Jean Cayrol[1] Conselheiros Históricos: Henri Michel , Olga Wormser[3][2] Direção de Fotografia: Ghislain Cloquet[1] Som: Sacha Vierny[1] Montagem: Anne Sarraute, Jasmine Chasney, Henri Colpi, Alain Resnais[1] Música: Hanns Eisler Produção: Philippe Lifchitz, Anatole Dauman Produtoras: Cocinor—Comptoir Cinématographique du Nord, Argos Films, Como-Films (Paris) Voz-off: Michel Bouquet, que se recusa a receber o crédito em homenagem as vítimas do Holocausto[4][3] País de Origem: França Idioma: francês Formato: Preto e Branco + Colorido — 16 mm — 1.37:1 — Som : Mono Gênero: Filme documentário Duração: 32 minutos Datas de lançamento: França: Janeiro de 1956: Alemanha Ocidental: Julho de 1956 (Berlim) Itália: Setembro de 1956 União Soviética: Abril de 1957 Brasil:? Produção Noite e Neblina é uma encomenda do Comitê de História da Segunda Guerra Mundial para o décimo aniversário da liberação dos campos de concentração e de exterminação[5], um organismo governamental fundado em 1951, o qual tinha por objetivo reorganizar a documentação e prosseguir as pesquisas históricas sobre o período de ocupação da França entre 1940-1945, e do qual Henri Michel era o secretário geral. O historiador junto com Olga Wormser, em 1954, sugeriram então a realização de um documentário sobre o sistema concentracionário alemão, fornecendo ambos papel fundamental no embasamento histórico do filme.[3][2]

Para realizar a obra, o produtor Anatole Dauman consultou a realizadora Nicole Vedrès, mas ela recusou em razão de uma insuficiência de meios de produção e de distribuição. (FONTE) Isso o fez buscar um promissor realizador, Alain Resnais. A princípio, ele também recusou, considerando sua falta de legitimidade para abordar tal assunto.[6] Entretanto, engajou-se na realização do filme depois de convencer o escritor Jean Cayrol, resistente francês deportado no KZ Mauthausen em 1943 por conta do próprio decreto Natch und Nebel, a escrever o roteiro.[2][6]

De duração de trinta e dois minutos, o filme é uma mistura de arquivos em preto e branco e de imagens gravadas em cores. O texto, escrito por Jean Cayrol, é dito por Michel Bouquet, com uma voz branda e sem afeto, deixando ao espectador o trabalho de retirar dela o que pensar,[7] sem parte nenhuma dos autores.[6] A narração de Bouquet atingiu tal nível de neutralidade pela direção de Resnais, que propunha a repetição por dias e dias do mesmo texto na intenção de retirar ao máximo a emoção da voz de Bouquet. Segundo o próprio Michel Bouquet, sua intenção ao narrar era passar a emoção que sentia ao ler o texto e repeti-lo inúmeras vezes é uma "lembrança humilhante". [2]

As imagens são acompanhadas da leitura de um texto do escritor francês Jean Cayrol. Seu monólogo poético lembra o mundo do dia-a-dia dos campos de concentração, a tortura, a humilhação, o terror, a exterminação. Na primeira versão alemã, a tradução de Paul Celan diferencia às vezes da original e ela permaneceu por muito tempo o único texto traduzido em alemão. A tradução literal do texto original de Cayrol só foi impressa em alemão em 1997. (FONTE) Com inúmeros travellings lentos pelos campos de concentração, mesclando imagens coloridas e preto e branco, mas também com planos fixos, somado à narração apática de Michel Bouquet que contava o cotidiano dos deportados nos campos, o filme resulta, segundo François Truffaut, numa "doçura aterrorizante",[2] que imprime um ritmo lento de reflexão sobre as imagens.[6] As gravações aconteceram de maio de 1955 à janeiro de 1965 na Polônia em dois lugares diferentes: no campo de concentração de Auschwitz-Birkenau e no campo de Majdanek (oficialmente o KL Lublin), localizado ao sul da cidade polonesa de Lublin. (FONTE)

Para além do texto, a musica do filme foi composta pelo compositor germano-austríaco Hanns Eisler, também engajado e que viveu consequências do regime nazista, que para não ser perseguido, se exilou no México e nos Estados Unidos. A música contribui fundamentalmente para o ritmo do filme e, segundo Resnais, propositalmente "quanto mais as imagens são violentas, mais a música é leve" pois Hanns Eisler queria mostrar que o otimismo e a esperaça humana existem sempre em plano de fundo.[6]

Segundo o próprio Resnais, a montagem do filme foi quase um processo de vertigem. Era difícil colar tantos planos sem dar a imagem de um "monumento do horror", sendo que a intenção do realizador era propor uma reflexão sobre a condição humana e o caráter do homem. Sua vontade era fazer um filme para o futuro, apesar de seu caráter documental, e de forma alguma um filme de tom de um "passado que não retornará jamais."[2]

Realizado dez anos depois do fim da Segunda Guerra Mundial, o que o garantiu um certo distanciamento, foi o primeiro a colocar um impedimento contra um eventual avanço do negacionismo, bem como um aviso sobre os riscos que apresentariam uma banalização, e mesmo um retorno na Europa, do antissemitismo, do racismo ou ainda do totalitarismo. É difícil imaginar a força do filme no seu lançamento, em 1956, em plena Guerra Fria, já que ele não menciona o caráter racial das exterminações, que ele não as distingue de simples deportações, trocando a palavra judeu por deportado, tratando portanto de qualquer genocídio causado por xenofobia.[8]

Em 31 de janeiro de 1956, o filme ganhou o prêmio Jean Vigo, elogiado pelo júri pela sua qualidade estética, querendo camuflar à censura do Estado. Saiu em uma única sala de cinema parisiense, ficou cinco meses em cartaz e fez mais de 8 milhões de receita. (FONTE)

O filme faz parte dos conteúdos pedagógicos exibidos aos alunos dos lycées na França e em lycées franceses para ilustrar a Segunda Guerra Mundial e a deportação dos judeus da Europa, pois se trata de um dos raros filmes que, por sua sobriedade, pela solidez histórica de suas referências e pela beleza plástica e formal de suas imagens, foram unânimes desde seu lançamento. (FONTE)

Construção do filme Segundo um artigo de Henri-Paul Sénecal publicado na Revue de cinéma número 28, em 1962, o filme tem uma divisão clara em três partes, mas que se misturam entre si, criando uma dialética própria:[6]

O filme é dividido em três partes. A primeira rememora o surgimento do nazismo, a vitória alemã, a prisão dos deportados, sua reunião nas plataformas das estações de trem, sua partida aos campos... e até já a morte que escolhe suas primeiras vítimas. A segunda parte conta a vida no campo, o medo ininterrupto dos deportados, os maus tratos, os trabalhos forçados, a obsessão da comida, a humilhação total das vitimas alinhadas "num modela sem idade que mata com olhos abertos". A terceira parte descreve a empresa diabólica de extermínio dos deportados, os fornos crematórios, os abatedouros. Mas essas divisões não são herméticas: elas se recortam umas às outras em uma ordenação mais dramática que dialética.

Censura O filme é conhecido por ter tido que enfrentar a censura francesa que procurava disfarçar as responsabilidades do Estado francês em matéria de deportação. Em 1965, a comissão de censura exigiu que fosse excluída do filme uma fotografia de arquivo na qual podia-se ver um policial francês vigiando o campo de Pithiviers, por outro lado autêntico. Os autores do filme se recusaram mas foram obrigados a esconder a presença francesa, cobrindo o chapéu do policial, signo do distintivo principal, por um reenquadramento da fotografia et uma viga falsa. Este artifício, propositalmente visível, foi posteriormente retirado, em 1997[2], e a imagem retornou à sua integralidade.

As autoridades alemãs também pediram a retirada da seleção oficial do festival de Cannes de 1957, acusando o realizador de querer perturbar a reconciliação franco-alemã. Essa forma de contestação do filme provocou em contrapartida numerosos protestos na Alemanha e na França. Os organizadores do festival ordenaram a supressão da imagem do policial e, à pedido da embaixada da Alemanha, o filme foi apresentado fora de competição. A Suíça proibiu a exibição do filme em nome de sua "neutralidade".[2]

Recepção Em seu lançamento, o filme foi muito aclamado na França. Jacques Doniol-Valcroze escreveu na revista francesa Cahiers du Cinéma que o filme foi uma obra poderosa comparável ao trabalho dos artistas Francisco Goya e Franz Kafka.[9] O crítico e diretor francês François Truffaut referiu-se a Noite e Neblina como o maior filme já feito.[10]A recepção moderna também foi positiva. Todd Gitlin o descreve como "uma apoteose insuportável de desolação que fala da necessidade de fazermos um esforço mental para compreender o que é impossível de compreender - um dever que nos foi imposto pela história". [11]

Ironicamente, como Nitzan Lebovic apontou, o filme não foi bem recebido em Israel. A abordagem universalista de Resnais atraiu algumas críticas que chegaram ao Knesset israelense (o parlamento israelense), imediatamente após sua estreia, em 1956. Um debate político iniciou-se em torno do filme, dividindo partidários e oponentes entre religiosos e seculares, Ashkenazi e Sepharadi, direita e esquerda, ou - como Lebovic mostrou - entre centristas e radicais de ambas as extremidades do mapa político. Uma demanda centrista para banir o filme resultou em um lançamento pequeno e limitado até o final da década de 1970. [12]

Em uma pesquisa da revista britânica Sigh and Sound de 2014, os críticos de cinema elegeram Noite e Neblina como o quarto melhor documentário de todos os tempos.[13]

Prêmios Prix Jean Vigo 1956 - Vencedor[14] Cinema Eye Honors Awards 2014 :The Influentials - Vencedor[14] Karlovy Vary – Grand Prize - Vencedor BAFTA 1961 - Nomeado[14] Referências

«film-documentaire.fr - Portail du film documentaire». www.film-documentaire.fr. Consultado em 19 de julho de 2021
Siméone, Christine (22 de janeiro de 2015). «"Nuit et Brouillard" d'Alain Resnais, une mémoire pour demain». www.franceinter.fr (em francês). Consultado em 19 de julho de 2021
«« Nuit et Brouillard », film de toutes les polémiques». Le Monde.fr (em francês). 3 de março de 2014. Consultado em 19 de julho de 2021
Dans la mesure où il était impossible de ne pas reconnaître sa voix, le nom de Bouquet apparut finalement à l'écran. Cf Alain Ferrari, , Institut Lumière, 2006, p. 352
«NOITE E NEBLINA (ALAIN RESNAIS, 1955) | RUA » Revista Universitária do Audiovisual». Consultado em 19 de julho de 2021
Senécal, Henri-Paul (1962). «Nuit et Brouillard (analyse)» (PDF). La revue Séquances Inc. Séquences (28): 19-20. Consultado em 19 de julho de 2021
planocritico (13 de junho de 2018). «Crítica | Noite e Neblina». Plano Crítico. Consultado em 19 de julho de 2021
«Noite e Neblina (1956) | Crítica». Apostila de Cinema. 20 de maio de 2021. Consultado em 19 de julho de 2021
Knapp, Ewout van der (2006). Uncovering the Holocaust: The International Reception of Night and Fog. [S.l.]: Wallflower Press. p. 43
Truffaut, François (2003). Night and Fog (Livreto de introdução ao DVD). Nova Iorque, Estados Unidos: The Criterion Collection. p. 197
«Why You Should Be Disturbed at College». Tablet Magazine (em inglês). 22 de setembro de 2016. Consultado em 19 de julho de 2021
Knapp, Ewout van der Knapp; Lebovic, Nitzan (2006). «An Absence with Traces: The Reception of Nuit et Brouillard in Israel (em inglês)». Uncovering the Holocaust: The International Reception of Night and Fog. [S.l.]: Wallflower Press
«Silent film tops documentary poll». BBC News (em inglês). 1 de agosto de 2014. Consultado em 19 de julho de 2021
Nuit et brouillard - IMDb, consultado em 19 de julho de 2021

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