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Luiz Carlos Bresser Gonçalves Pereira (São Paulo, 30 de junho de 1934) é um economista e cientista político brasileiro. Foi ministro da Fazenda do Brasil durante o governo José Sarney. Tomou posse em 29 de Abril de 1987 e deixou o ministério em 21 de dezembro de 1987. Foi ministro da Administração Federal e Reforma do Estado (MARE) em todo o primeiro mandato presidencial de Fernando Henrique Cardoso (1995-1998)e Ministro da Ciência e Tecnologia nos primeiros seis meses do segundo mandato, permanecendo nesse cargo até o dia 19 de julho de 1999.
Ele cursou a Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo; é mestre em administração de empresas pela Michigan State University, doutor e livre docente em economia pela Universidade de São Paulo. Ensinando na Fundação Getulio Vargas de São Paulo desde 1959, foi seu primeiro professor a receber o título de professor emérito, em 2005. É presidente do Centro de Economia Política e editor da Revista de Economia Política desde 1981 quando a fundou. Lecionou, em nível de pós-graduação, Desenvolvimento Econômico na Universidade de Paris I, e Teoria Política no Departamento de Ciência Política da USP, e desde 2003 ministra curso de um mês na École d’Hautes Études em Sciences Sociales de Paris. É membro do conselho diretor do CEBRAP, de cuja fundação participou em 1970, e do conselho consultivo do Grupo Pão de Açúcar, do qual foi diretor administrativo entre 1965 e 1983. Foi visitante do Instituto de Estudos Avançados da USP, e, duas vezes, do Centro de Estudos Brasileiros da Universidade de Oxford (Nuffield College e St. Anthony’s College). Lançou seu primeiro livro em 1968, Desenvolvimento e Crise no Brasil, cuja 5ª. edição atualizada foi publicada em 2003. Entre seus livros, vários traduzidos para o inglês, o espanhol, o francês e o japonês, citamos: As Revoluções Utópicas (1972), Estado e Subdesenvolvimento Industrializado (1977), A Sociedade Estatal e a Tecnoburocracia (1981), Inflação e Recessão, com Yoshiaki Nakano (1984), Lucro, Acumulação e Crise (1986), A Crise do Estado (1992), Economic Reforms in New Democracies, com Adam Przeworski e José Maria Maravall (1993), Reforma do Estado para a Cidadania (1998), e Democracy and Public Management Reform (2004). Na administração pública, além dos cargos citados acima, foi presidente do Banco do Estado de São Paulo (1983-85) e secretário de Governo do Estado de São Paulo (1985-87) na gestão André Franco Montoro. Foi presidente do Clad (Consejo Latinoamericano de Administración para el Desarrollo) (1995-97) e presidente do seu Conselho Científico (1998-2005). Seu site pessoa contém grande parte de sua obra inclusive artigos publicados na imprensa.
Economia do Brasil
editarEm seu livro Economia Brasileira: Uma Introdução Crítica (1982), Bresser apresenta e ao mesmo tempo expõe suas ideias a respeito da economia brasileira. Para Bresser, o Brasil sempre foi uma economia capitalista. Até 1930, era um capitalismo mercantil-especulativo. Os lucros advinham do caráter especulativo do comércio a longa distância, através do qual as mercadorias (açúcar, café, etc) eram vendidas a um valor muito superior ao seu valor de uso. De 1930 em diante, o país se industrializou, e teve início o capitalismo-industrial, ou o capitalismo propriamente dito, no qual o lucro advém da mais-valia.[1]
Essa industrialização, porém gerou uma cisão no país. Havia industrialização ao lado de estruturas pré-capitalistas e retrógradas. Além disso, havia contingentes populacionais enormes que não puderam ser absorvidos pela indústria nascente. Deste modo, o Brasil adotou um modelo que Bresser chama de "subdesenvolvimento industrializado" (que teve início, mas precisamente, em 1954). Nele, o país exporta primariamente produtos manufaturados e semi-manufaturados.[1]
É importante ressaltar que, à época em que o livro foi escrito, o processo de desindustrialização no Brasil era ainda muito incipiente. Em 2020, o Brasil voltou a ser um país majoritariamente primário-exportador. Naquele ano, mais da metade das exportações já eram de produtos primários.[18]
Para Bresser, o Brasil é um país subdesenvolvido por causa do tempo excessivo em que a economia permaneceu no sistema capitalista-comercial. Em outras palavras, pela demora excessiva em entrar no capitalismo industrial, isto é, o capitalismo propriamente dito.[1] Bresser localiza o Brasil Colônia a causa do atraso, período no qual o Brasil foi uma colônia de exploração mercantil, em vez de uma colônia de povoamento, como no nordeste dos Estados Unidos, sofrendo uma exploração predatória por parte de Portugal.
Classes sociais
editarBresser adota a visão marxista-leninista, segundo a qual uma classe social é definida por sua inserção em relação aos meios de produção, estabelecendo diversas relações de produção entre si.[1]
Bresser classifica a economia brasileira como uma economia mista. Há elementos capitalistas e estatistas. Tanto um como o outro são "capitalistas"; porém, os primeiros são competitivos e de iniciativa privada, e os segundos são monopolistas e de Estado. No capitalismo há duas classes básicas: a burguesia e o proletariado. No estatismo, por sua vez, há uma tecnoburocracia ("técnicos e burocratas empregados em organizações públicas e privadas") e os trabalhadores. O Brasil apresenta tanto um modelo como o outro. Destarte, o país têm três classes básicas: a burguesia, a tecnoburocracia e os trabalhadores. Há, em seguida, as camadas de cada classe: a alta, a média e a baixa.[1]
Burguesia | Tecnoburocracia | Trabalhdores |
Alta, média, pequena | Alta, média, baixa | Especializados, semiespecializados, braçais |
Classe | Camada | Nota |
---|---|---|
Burguesia | Alta | Compõe a classe dominante |
Média(2) | ||
Pequena(2) | Pequena produção mercantil,
pequenos proprietários | |
Tecnoburocracia(1) | Alta | Diretores profissionais. Próxima à
alta burguesia em padrão de vida |
Média(2) | Gerentes e técnicos | |
Baixa(2) | Funcionários | |
Trabalhdores | Especializados | Em ascensão, aproximava-se das
camadas baixas do estrato superior |
Semiespecializados | — | |
Braçais | — |
(1) classe de origem mais recente, de meados do século XX, na esteira da industrialização mais intensiva da época
(2) contitui a classe média. que, para Bresser, não é uma classe, mas um conglomerado de classes.
Teoria da inflação inercial
editarNa década de 1980, Bresser desenvolveu, junto a outros economistas, a teoria da inflação inercial. Um desses economistas foi Yoshiaki Nakano, com quem Bresser publicou um livro abordando o assunto, intitulado Inflação e recessão (1984).[1]
O país vivia então um surto de hiperinflação. Para os teóricos da inflação inercial, esta hiperinflação deveria ser combatida por meio de um choque, e não de forma gradual. Esse choque deveria envolver uma reforma monetária, acompanhada por um mecanismo que neutralizasse a inércia inflacionária. Para Bresser, muitos dos planos de estabilização monetária no período falharam por não levarem em conta o caráter inercial da inflação.[1]
Para se compreender o fenômeno inflacionário, é essencial distinguir as
causas da aceleração da inflação das causas da manutenção do patamar de
inflação. E, para cada tipo de causa, geralmente associada a uma teoria, podemos
dar um nome para a inflação. Nestes termos, as causas aceleradoras
da inflação correspondem (1) à inflação monetária, (2) à inflação keynesiana,
(3) à inflação estrutural e (4) à inflação administrada. Por sua vez, quando
138 Luiz Carlos Bresser Pereira
queremos compreender porque a inflação passada se reproduz no presente,
mantendo o patamar de inflação, falamos em inflação inercial ou autônoma.
p 137
inflação inercial teoria de bresser-nakano
Um dos motivos para o fracasso dos planos de estabilização, para Bresser, foi não terem considerado a inflação inercial
André Lara Resende, Edmar Bacha, Eduardo Modiano, Francisco Lopes,
Mário Henrique Simonsen, Pérsio Arida; em São Paulo: Adroaldo Moura da
Silva,
A tese de que uma inflação alta e inercial deveria ser controlada por meio
de um choque e não gradualmente, e que esse choque fosse constituído de
uma coordenando as expectativas dos agentes
econômicos, foi formulada por economistas brasileiros no começo dos anos
80, quando desenvolveram a teoria da inflação inercial (no Rio de Janeiro:
e o autor deste livro).1
Esses autores defendiam que uma inflação alta e inercial deveria ser comabtida com um choque, ao invés de forma gradual. Esse choque deve envolver reforma monetária, junto com um mecanismo que neutralize a inércia.
p. 196
A inflação inercial foi objeto de um livro de Bresser com Yoshiaki Nakamo, intitulado
Referências
- ↑ a b c d e f g h i j k l m Erro de citação: Etiqueta
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- ↑ «Decreto-lei nº 2.283, de 27 de fevereiro de 1986». Presidência da República. Consultado em 25 de julho de 2017
- ↑ «Plano Cruzado, da euforia ao fiasco». O Globo. Consultado em 24 de fevereiro de 2018
- ↑ Decreto-lei Nº 2.290, de 21 de novembro de 1986. Estabelece normas sobre a desindexação da economia e dá outras providências.
- ↑ «A experiência amarga do Cruzado». Valor Econômico. Consultado em 26 de fevereiro de 2018
- ↑ Decreto-Lei nº 2.335, de 12 de junho de 1987. Dispõe sobre o congelamento de preços e aluguéis, reajustes mensais de salários e vencimentos, institui a Unidade de Referência de Preços (URP) e dá outras providências.
- ↑ Decreto-Lei nº 2.336, de 15 de junho de 1987. Altera a redação de dispositivos do Decreto-lei nº 2.335, de 12 de junho de 1987.
- ↑ a b c d «Entenda os planos econômicos Bresser, Verão, Collor 1, Collor 2 e as perdas na poupança». G1
- ↑ «A História Do Plano Cruzado I E Ii, Plano Bresser, Plano Verão E Cruzado Novo – APAPE». apape.org.br. Consultado em 26 de fevereiro de 2018
- ↑ «Inflação, indexação e 'feijão com arroz' - Economia - Estadão». Estadão
- ↑ Medida provisória nº 32, de 15 de janeiro de 1989. Institui o cruzado novo, determina congelamento de preços, estabelece regras de desindexação da economia e dá outras providências.
- ↑ Lei nº 7.730, de 31 de janeiro de 1989. Conversão da MPV nº 32, de 1989. Institui o cruzado novo, determina congelamento de preços, estabelece regras de desindexação da economia e dá outras providências.
- ↑ Carvalho, Calos Eduardo. As origens e a gênese do Plano Collor. Nova Economia. Vol.16 No.1. Belo Horizonte. Janeiro-Abril de 2006. Acessado em: 8 set. 2007.
- ↑ «Plano Collor II». Portal Educação
- ↑ «How Fake Money Saved Brazil». NPR.org (em inglês)
- ↑ «Plano Real». Fundação Getúlio Vargas
- ↑ «20 anos do Plano Real - Época NEGÓCIOS». 20anosdoreal.epocanegocios.globo.com. Consultado em 26 de fevereiro de 2018
- ↑ «Mais de 50% do que o Brasil exporta já são produtos básicos». G1. Consultado em 31 de janeiro de 2022