Utigures eram cavaleiros nômades que floresceram na estepe pôntico-caspiana no século V. Eram semelhantes aos cutrigures do oeste.

Etimologia

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O nome Ut(r)igur, registrado como Οὺτ(τ)ρίγουροι, Οὺτούργουροι e Οὺτρίγου, é geralmente considerado como uma forma metatetizada sugerida por Gyula Németh do turco *Otur-Oğur, assim o *Uturğur significa "trinta ogures (tribos)".[1] Lajos Ligeti propôs derivar de utur- (resistir),[2] enquanto Louis Bazin de uturkar (os vencedores-conquistadores), quturgur e qudurmaq (os enfurecidos).[3]

Tem havido pouco apoio acadêmico para teorias ligando os nomes cutrigur e utigur a povos como os gútios e/ou udis, do antigo Sudoeste Asiático e do Cáucaso, respectivamente, que foram postulados por estudiosos como Osman Karatay[4] e Iuri Zuev.[5][6] Nenhuma evidência foi apresentada de que os gútios se mudaram de sua terra natal nos montes Zagros (modernos Irã e Iraque) às estepes, e acredita-se que tenham falado uma língua indo-europeia (em vez de turca). Os udis foram mencionados por Plínio, o Velho (História Natural, VI.39), em conexão com os aorsos (às vezes conjuntamente como utidorsos),[7] os sármatas e uma casta/tribo cita conhecida como aroteres ("cultivadores"), que vivia "acima da costa marítima da Albânia [caucasiana] e dos ... udinos" nas margens ocidentais do mar Cáspio.[6] Tampouco há aceitação geral da sugestão de Edwin G. Pulleyblank de que os utigures podem estar ligados aos iuechis – um povo indo-europeu que se estabeleceu na China Ocidental durante os tempos antigos.[8]

História

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A origem das tribos utigures e cutrigures é obscura. Os primeiros habitavam a leste os últimos a oeste da zona da estepe Dom-Azove.[3] Procópio escreveu que:

além dos saginos habitam muitas tribos hunas.[a] A terra é chamada Eulísia e os bárbaros povoam a costa do mar e o interior até o chamado lago Meótida e o rio Tánais. As pessoas que viviam lá eram chamadas de cimérios, e agora são chamadas de utigures. Ao norte deles estão as tribos populosas dos antas.[9]

Procópio também registrou uma lenda genealógica segundo a qual:

(...) antigamente, muitos hunos, então chamados cimérios, habitavam as terras que já mencionei. Todos tinham um único rei. Certa vez, um de seus reis teve dois filhos: um chamado Utigur e outro chamado Cutrigur. Após a morte de seu pai, compartilharam o poder e deram seus nomes aos povos subjugados, de modo que ainda hoje alguns deles são chamados de utigures e os outros - cutrigures.[9][10]

Esta história também foi confirmada pelas palavras do governante utigur Sandilco:

Não é justo nem decente exterminar nossos tribais (os cutrigures), que não apenas falam uma língua idêntica à nossa, que são nossos vizinhos e têm a mesma vestimenta e modos de vida, mas que também são nossos parentes, ainda que submetidos para outros senhores.[9]

Agátias (c. 579–582) escreve:

(...) todos são chamados em geral citas e hunos em particular de acordo com sua nação. Assim, alguns são cutrigures ou utigures e outros ainda são ultizures e burugundes... os ultizures e burugundes eram conhecidos desde o tempo do imperador Leão (r. 457–474) e dos romanos da época e pareciam ter sido fortes. Nós, no entanto, neste dia, nem os conhecemos, nem, penso eu, os conheceremos. Talvez tenham perecido ou talvez tenham se mudado para um lugar muito distante.[11]

Quando os cutrigures invadiram as terras do Império Bizantino, o imperador Justiniano I (r. 527–565) através de persuasão diplomática e suborno arrastou os cutrigures e utigures para uma guerra mútua.[12] Utigures liderados por Sandilco atacaram os cutrigures que sofreram grandes perdas. De acordo com Procópio, Agátias e Menandro Protetor, dizimaram uns aos outros,[13] até perderem até mesmo seus nomes tribais.[9] Alguns remanescentes dos cutrigures foram varridos pelos ávaros à Panônia, enquanto os utigures permaneceram na estepe pôntica e caíram sob o domínio dos turcos.[14] Sua última menção foi por Menandro Protetor, que registrou entre as forças turcas que atacaram o Bósforo em 576 um exército utigur liderado pelo chefe Anágio (Ανάγαιος).[15][16] O Bósforo caiu para eles cerca de 579.[17] No mesmo ano, a [embaixada bizantina aos turcos passou pelo território de Acagas (Ἀκκάγας,[18] Aq-Qağan), "que é o nome da mulher que governa os citas lá, tendo sido nomeada na época por Anágio, chefe da tribo dos utigures".[15][16]

[a] ^ O etnônimo dos hunos, como os dos citas e turcos, tornou-se um termo genérico para pessoas da estepe (nômades) e inimigos invasores do Oriente, independentemente de sua origem e identidade reais.[19][20]

Referências

  1. Golden 2011, p. 71, 139.
  2. Golden 2011, p. 139.
  3. a b Golden 1992, p. 99.
  4. Karatay 2003, p. 26.
  5. Zuev 2002, p. 39.
  6. a b Plínio, o Velho 1996, p. 36.
  7. Schrijver 2004, p. 270.
  8. Zuev 2002, p. 21, 39.
  9. a b c d Dimitrov 1987.
  10. Golden 2011, p. 140.
  11. Golden 1992, p. 98.
  12. Golden 1992, p. 99–100.
  13. Golden 2011, p. 140.
  14. Golden 2011, p. 140–141.
  15. a b Golden 1992, p. 100.
  16. a b Golden 2011, p. 91.
  17. Golden 1992, p. 131.
  18. Zuev 2002, p. 62.
  19. Beckwith 2009, p. 99.
  20. Dickens 2004, p. 19.

Bibliografia

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  • Beckwith, Christopher I. (2009). Empires of the Silk Road: A History of Central Eurasia from the Bronze Age to the Present. Princeton: Imprensa da Universidade de Princeton. ISBN 9781400829941 
  • Dickens, Mark (2004). Medieval Syriac Historians' Perceptions of the Turks. Cambrígia: Imprensa da Universidade de Cambrígia 
  • Golden, Peter Benjamin (1992). An introduction to the History of the Turkic peoples: ethnogenesis and state formation in medieval and early modern Eurasia and the Middle East. Viesbade: Otto Harrassowitz. ISBN 9783447032742 
  • Golden, Peter B. (2011). Studies on the Peoples and Cultures of the Eurasian Steppes. Bucareste: Editura Academiei Române. ISBN 9789732721520 
  • Karatay, Osman (2003). In Search of the Lost Tribe: The Origins and Making of the Croatian Nation. Çorum: KaraM. ISBN 9789756467077 
  • Plínio, o Velho (1996). Naturkunde, Buch VI, Geographie: Asien. Berlim: Walter de Gruyter. ISBN 9783050061849 
  • Schrijver, Peter; Mumm, Peter-Arnold (2004). Sprachtod und Sprachgeburt. Hamburgo: Buske 
  • Zuev, Iuri (2002). Early Turks: Essays of history and ideology. Almati: Daik