Viana de Lima
Alfredo Evangelista Viana de Lima foi um arquitecto português[1] de grande relevo no panorama da arquitectura portuguesa do século XX.
Viana de Lima | |
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Arq. Viana de Lima | |
Nome completo | Alfredo Evangelista Viana de Lima |
Nascimento | 18 de agosto de 1913 Esposende |
Morte | 27 de dezembro de 1991 (78 anos) Porto |
Nacionalidade | Portugal |
Ocupação | Arquiteto |
Movimento | Modernismo |
Prémios | Grande Prémio de Arquitetura, II Exposição de Artes Plásticas da Fundação Calouste Gulbenkian, 1961 |
Ocupa uma posição de destaque na segunda geração arquitectos modernistas portugueses, tal como Keil do Amaral, Arménio Losa ou Januário Godinho. A sua actividade projectual e intervenção cívica foram cruciais para a redefinição do pensamento e da prática arquitectónica nacional no período do pós-guerra.
Biografia / Obra
editarNasceu em Esposende a 18 de Agosto de 1913, filho único de Alfredo Viana de Lima, professor primário, e de Joaquina de Campos Evangelista de Lima. Formou-se em arquitetura na Escola de Belas Artes do Porto (1929-41), onde foi colega de Januário Godinho, Agostinho Ricca e Mário Bonito, terminando o curso com uma tese intitulada Uma Biblioteca-Arquivo para o Ensino Universitário e a classificação de 19 valores. É ainda nessa época que conhece Iria Beaudouin, filha de uma família originária do sul de França, com quem viria a casar-se. [2]
Estagiou na Direção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais do Ministério das Obras Públicas sob a orientação do Arquiteto Rogério de Azevedo (1938-1941).[1]
Realizou viagens de estudo a diversos países – Bélgica, Espanha, França, Holanda, Inglaterra, Jugoslávia, Itália, Suécia, Suíça –, centrando a atenção nas áreas da arquitetura e urbanismo.[3]
Em 1947 foi um dos membros fundadores do grupo ODAM (Organização dos Arquitectos Modernos). No ano seguinte participou ativamente no I Congresso Nacional de Arquitectura, onde apresentou uma comunicação intitulada O problema português da habitação, onde fazia a defesa dos princípios da Carta de Atenas, que reclamava para as edificações (urbanas ou rurais) e para os planos de urbanização dos centros populacionais.[4]
Participou nos Congressos Internacionais de Arquitetura Moderna (CIAM) em Hoddesdon, Inglaterra (1951), Aix-en-Provence, França (1953), Dubrovnik, Jugoslávia (1956), Otterlo, Holanda (1959). Participou em muitas outras reuniões internacionais, no âmbito do CIAM e não só (Sigtuna, Suécia, 1952; Paris e La Serraz, 1955; Japão, 1959; etc.). Fez várias missões ao Brasil como consultor da UNESCO (1966-77).[3] [5]
Uma das suas obras mais marcantes é a habitação unifamiliar Honório de Lima, no Porto, demolida em 1971 ("um atentado patrimonial da maior gravidade" segundo Pedro Vieira de Almeida), onde se sente já uma deliberada aproximação a Le Corbusier[6]. Radicalmente moderno, este projeto pioneiro de 1939 antecipa outros que o Porto iria conhecer nos anos seguintes. Segundo Carlos Duarte, trata-se de um "projeto-chave, pela sua qualidade e valor moral, que iria influenciar não só os arquitetos do Porto, mas os de todo o país".[7]
Também devedor do exemplo da arquitetura brasileira (nomeadamente de Oscar Niemeyer, que conheceu pessoalmente cerca de 1968 e com quem haveria de se associar para a realização de dois projetos), a arquitetura de Viana de Lima concilia habilmente a invocação de raízes culturais e o exercício virtuosístico de uma linguagem tipicamente modernista, le-Corbusiana, numa síntese em que balanceia "uma modernidade sintática a que aderia e que lhe apetecia explorar" e um "inelutável desejo de recuperação do passado e de legitimação histórica". [8]
Na sua extensa obra nas áreas do planeamento e da arquitetura assinalem-se ainda o plano de urbanização para a cidade de Bragança (início em 1960), o Bloco Habitacional de Costa Cabral, Porto, a Faculdade de Economia da Universidade do Porto, o Hospital Distrital de Bragança ou a sua própria casa em Esposende (Casa das Marinhas).[3] [9]
A partir da década de 1960 Viana de Lima dedicou-se também ao levantamento e recuperação de edifícios históricos e ao planeamento de zonas urbanas antigas.[1]
Em 1961 foi nomeado Assistente da Escola Superior de Belas Artes do Porto, então dirigida por Carlos Ramos, ascendendo ao cargo de Professor em 1974 (pede a demissão em 1981). Já à beira da reforma, entre Fevereiro e Julho de 1983 lecionou na secção de arquitetura da Escola de Belas-Artes de Lisboa; foi nomeado Conselheiro da Universidade Técnica de Lisboa. Ainda na década de 1970 dirigiu seminários em diversas universidades brasileiras (Baía; São Paulo; Recife).[10]
No ano de 1972, Viana de Lima foi consultor da UNESCO em missão no Brasil. Ficou responsável por elaborar um panorama do centro histórico da cidade de São Luís-MA, que resultou no "Rapport et propositions pour la conservation, recuperation et expansion" de São Luís/Maranhão. Neste Relatório, além de sua preocupação com o contexto histórico, o arquiteto apresentou diretrizes e proposições para a expansão orientada da cidade, indicando elementos de planejamento urbano para a capital maranhense, como o Zoneamento. [11]
Participou em diversas exposições, nomeadamente na do grupo ODAM, Ateneu Comercial do Porto, 1951 (onde expôs, entre outros projetos, o da moradia Honório de Lima), e na II Exposição de Artes Plásticas da Fundação Calouste Gulbenkian, 1961, onde foi agraciado com o Grande Prémio de Arquitetura. Recebeu outras distinções, brasileiras e portuguesas. [3] [12]
Faleceu em 1991 e é consensualmente considerado um dos expoentes maiores da arquitetura portuguesa do Século XX.[carece de fontes]
A 9 de junho de 1993, foi agraciado, a título póstumo, com o grau de Comendador da Ordem Militar de Sant'Iago da Espada.[13]
- 1939 – Moradia Honório de Lima, Porto (finalização da obra, 1943).
- 1943 – Bloco habitacional de Sá da Bandeira, Porto (não construído) | Projeto para o Hotel Império, Praça da Batalha.
- 1949 – Moradia Aristides Ribeiro, Porto (finalização da obra, 1951).
- 1950 – Moradia Borges, Porto (finalização da obra, 1958).
- 1952 – Moradia Olívio França, Vila Verde.
- 1953 – Bloco habitacional de Costa Cabral, Porto (finalização da obra, 1955).
- 1954 – Casa das Marinhas, Esposende (finalização da obra, 1957).
- 1957 – Complexo Hospitalar de Bragança.
- 1958 – Remodelação e ampliação do Hotel Suave-Mar, Esposende.
- 1960 – Conjunto de Escolas Primárias e Habitação, Bragança | Plano de Urbanização de Bragança (início).
- 1961 – Faculdade de Economia da Universidade do Porto.
- 1962 – Moradia Francisco José Evangelista, Porto.
- 1963 – Edifício Multiusos, Bragança.
- 1966 – Mercado dos Vinhais.
- 1966 – Bloco habitacional e de serviços, Vila da Feira.
- 1968 – Co-autor, com Oscar Niemeyer, do projeto do Casino-Hotel do Funchal, Madeira.
- 1971 – Palácio de Justiça de Caminha.
- 1977 – Palácio de Justiça de Vila da Feira.
- 1978 – Casa Napoleão Amorim, Aguda.
- 1981 – Projetos e obras de recuperação e adaptação do Museu do Mosteiro de Santa Maria da Vitória, Batalha.
- 1985 – Reabilitação da Praça da República, Viana do Castelo.
- 1985 – Desenha o jazigo de Viana de Lima, Esposende.
Colaboradores (1960-1991)
editar- António Moura
- A. Tavares de Castro
- Veiga de Macedo
- Anselmo Vaz
- António Pinheiro
- Joaquim Manuel Simões Bento Lousan
- Castro Ribeiro
- José Ramos Coutinho
- João Campos
- Jorge de Sousa
- Luís Manuel Pereira Caldas Vilarinho de Carvalho Cerqueira
- Luís Pizarro de Campos Magalhães
- Manuel de Abreu e Lima
- Manuel Teles
- Mário Moura
- Maria Noémia Mourão do Amaral Coutinho
- Nuno Jennings Tasso de Sousa
- Sérgio Fernandez
Ligações externas
editarBibliografia
editar- A.A.V.V. (1996). Viana de Lima. Lisboa e Porto: Fundação Calouste Gulbenkian, Árvore-Centro de Atividades Artísticas. ISBN 972-959-38-0-9
- Vieira de Almeida, Pedro; A.A.V.V. (1996). «Viana de Lima». Viana de Lima. Lisboa e Porto: Fundação Calouste Gulbenkian, Árvore-Centro de Atividades Artísticas. ISBN 972-959-38-0-9
- Castro, Carmen (2011). Viana de Lima. Vila do Conde: Quidnovi. p. 90-92. ISBN 978-989-554-896-5
Referências
- ↑ a b c «Viana de Lima». sigarra.up.pt. Universidade do Porto. Consultado em 22 de janeiro de 2013
- ↑ Vieira de Almeida 1996, p. 52, 53
- ↑ a b c d e Castro 2011, p. 90-92
- ↑ A.A.V.V. 1996, p. 19
- ↑ A.A.V.V – II Exposição de Artes Plásticas. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1961
- ↑ Vieira de Almeida 1996, p. 73, 74
- ↑ Duarte, Carlos S. – Arquitetura em Portugal no Século XX: do modernismo ao tempo presente. In: A.A.V.V. (coordenação Fernando Pernes). Panorama Arte Portuguesa no Século XX. Porto: Campo de Letras / Fundação de Serralves, 1999, p. 372
- ↑ Vieira de Almeida 1996, p. 60, 68, 69
- ↑ A.A.V.V. 1996, p. 46
- ↑ A.A.V.V. 1996, p. 19, 20, 45, 53
- ↑ Sá Vale, Paulo; Lopes, José. «O arquiteto português Alfredo Viana de Lima e a construção do ideal moderno na cidade de São Luís do Maranhão». sistemas.uft.edu.br. Consultado em 6 de dezembro de 2018
- ↑ Vieira de Almeida 1996, p. 53
- ↑ «Entidades Nacionais Agraciadas com Ordens Portuguesas». Resultado da busca de "Alfredo Evangelista Viana de Lima". Presidência da República Portuguesa. Consultado em 8 de setembro de 2020
- ↑ A.A.V.V. 1996, p. 43-46