José Carneiro da Silva
José Carneiro da Silva, primeiro barão e visconde com grandeza de Araruama, (Quissamã, 21 de maio de 1788 — Quissamã, 3 de maio de 1864), foi um fazendeiro, político e cientista diletante.
José Carneiro da Silva | |
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Primeiro barão e visconde com grandeza de Araruama
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Conhecido(a) por | Construção do canal Campos-Macaé |
Nascimento | 21 de maio de 1788 Quissamã |
Morte | 3 de maio de 1864 (75 anos) Quissamã |
Parentesco | Genro do primeiro barão de Santa Rita, irmão de primeiro barão de Ururaí |
Cônjuge | Francisca Antônia Ribeiro de Castro |
Filho(a)(s) | Bento Carneiro da Silva, conde de Araruama; Manuel Carneiro da Silva, visconde de Ururaí; João Caetano Carneiro da Silva, visconde de Quissamã, João José Carneiro da Silva, barão de Monte Cedro, baronesa de Vila Franca e outras filhas. |
Ocupação | Fazendeiro, político e cientista diletante |
Magnum opus | Memória Topográfica e Histórica sobre os Campos dos Goytacazes com uma Noticia Breve de suas Produções e Comércio (1819) |
Serviço militar | |
Patente | Coronel comandante supremo da Guarda Nacional nos municípios de Macaé e Capivari (hoje Silva Jardim) em 1852 |
Título | Barão de Araruama , recebido em 5 de maio de 1844 Visconde com grandeza de Araruama, recebido em 15 de abril de 1847 |
Escudo de armas esquartelado. No primeiro quartel, em campo de goles, um castelo com sua muralha e torre; e firmados em chefe, quatro escudetes: ao primeiro em campo azul, uma flor de liz de prata e bordadura de ouro; ao segundo e quarto de azul, cinco besantes de prata postos em santor; e ao terceiro em campo de azul, uma aspa de goles. No segundo quartel, as armas dos Carneiros: em campo vermelho, uma banda de azul coticada de ouro e carregada de três flores de liz do mesmo metal entre dois carneiros de prata passantes armados de ouro. No terceiro quartel as armas dos Silvas: em campo de prata, um leão de goles, rompente, armado de azul. No último quartel, as armas dos Coutinho: em campo de ouro, cinco estrelas de vermelho com cinco raios postas em aspa. Coroa: a de conde. Timbre: um dos carneiros das armas.[1] |
José Carneiro da Silva | |
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Deputado provincial do Rio de Janeiro | |
Período | 1844 |
Partido | Partido Conservador |
Família
editarEra filho do capitão Manuel Carneiro da Silva e da fidalga Ana Francisca de Velasco Távora de Barcelos Coutinho. Seu avô e seu pai foram capitães da aldeia dos índios em Quissamã e possuíram uma sesmaria que ia da lagoa Feia à lagoa da Ribeira. Nessa sesmaria, seu pai ergueu, entre 1777 e 1782, a casa da fazenda Mato de Pipa, onde nasceu José Carneiro da Silva.
Logo depois da morte de seu pai, sua família cuidou de transferir a igreja-matriz de Nossa Senhora do Desterro, que se localizava no Capivari (localidade de Quissamã, entre a lagoa Feia e o mar), para a capela dentro da casa da fazenda Mato de Pipa. Com isso, mudou-se a sede da freguesia e transferiu-se simbolicamente o poder política da região para a sua família. Próximo da casa da fazenda Mato de Pipa, iniciou-se o desenvolvimento urbano da área que se tornou o centro do atual município de Quissamã.
Casou-se aos 16 de julho de 1823 com Francisca Antônia Ribeiro de Castro, nascida aos 24 de março de 1799, filha do capitão-mor Manuel Antônio Ribeiro de Castro, primeiro barão de Santa Rita, e de Dona Ana Francisca Batista de Almeida Pinheiro, conhecida como "A Fortuna", herdeira de imenso latifúndio. Foi cunhado do Visconde de Santa Rita, da Viscondessa de Muriaé e do Comendador Antônio Ribeiro de Castro.
Seu irmão, João Carneiro da Silva, foi o primeiro barão de Ururaí, além de comendador das imperiais Ordem da Rosa e da Ordem de Cristo com foro de fidalgo e cavaleiro.
Os filhos e descendentes de José Carneiro da Silva formaram a força político-econômica do atual município de Quissamã e seus arredores durante todo os séculos XIX e XX, tendo como base as plantações de cana-de-açúcar. Os casamentos dos seus filhos com os de outros fazendeiros poderosos da região e de políticos importantes da capital imperial reforçaram a importância político-econômica de sua família. Nesse ambiente, foram também comuns os casamentos consanguíneos que evitavam que as propriedades da família fossem divididas entre herdeiros. Isto pode ser observado no casamentos de seu filhos, que foram:
- Bento Carneiro da Silva (1826-1891), segundo barão, segundo visconde e único conde de Araruama, que se casou com sua prima Raquel Francisca de Castro Neto, filha do barão de Muriaé e da viscondessa de Muriaé, e neta do primeiro barão de Santa Rita;
- Manuel Carneiro da Silva (1833-1917), segundo barão e único visconde de Ururaí, que se casou com Ana do Loreto Viana de Lima e Silva, filha do duque de Caxias;
- João Caetano Carneiro da Silva (1836-1925), barão e visconde de Quissamã, que se casou com sua sobrinha Ana Francisca Carneiro Ribeiro de Castro, filha de sua irmã Ana Serafina;
- João José Carneiro da Silva (1839-1882), barão de Monte de Cedro, que se casou em primeiras núpcias com sua sobrinha Ana Francisca de Castro Carneiro, e em segundas com sua também sobrinha Francisca Antônia de Castro Carneiro, ambas filhas de sua irmã Maria Isabel;
- Ana Serafina, que se casou com seu tio materno Joaquim Ribeiro de Castro, filho do primeiro barão de Santa Rita;
- Maria Isabel, que se casou com seu tio materno, o coronel e comendador Julião Ribeiro de Castro, filho do primeiro barão de Santa Rita;
- Mariana Antônia, que se casou com o futuro ministro e conselheiro do Império, João de Almeida Pereira Filho, filho de João de Almeida Pereira, desbravador e proprietário de vastas extensões de terras nos municípios de Campos dos Goytacazes, São Fidélis e Cambuci;
- Maria Joaquina, que se casou com Antônio Álvares de Almeida Pereira, irmão de João de Almeida Pereira Filho, marido de sua irmã, acima citado;
- Raquel Francisca, que se casou com Eusébio de Queirós Matoso Ribeiro, filho do ministro e conselheiro do Império Eusébio de Queirós, criador da Lei Eusébio de Queirós, que extinguiu o tráfico negreiro no Brasil;[2]
- Francisca de Velasco, que se casou com Inácio Francisco Silveira da Mota, futuro barão de Vila Franca.[1]
Em 1826, construiu a casa da fazenda Quissamã e, posteriormente, a passou para o seu filho João Caetano Carneiro da Silva, futuro visconde de Quissamã. Seus dez filhos e filhas deram-lhe tantos netos que ele construiu um sobrado anexo à casa da fazenda Quissamã para poder acomodá-los nas festas de fim-de-ano. Também construiu um colégio especialmente para poder educar seus muitos netos; o prédio é atualmente a sede da Prefeitura de Quissamã.
Carreira política, militar e empresarial
editarServiu no regimento de milícias de Campos dos Goytacazes de 1811 a 1821, alcançando o posto de tenente-coronel. Participou com as milícias nas lutas de apoio ao Príncipe Regente D. Pedro (futuro imperador D. Pedro I) contra as tropas portuguesas estacionadas no Rio de Janeiro e depois pela Independência do Brasil em 1822. Retirou-se das milícias quando estas foram extintas e transformadas na Guarda Nacional. Tornou-se chefe da décima-quarta Legião da Guarda Nacional de 1841 a 1850. Em 1852, foi nomeado comandante supremo da Guarda Nacional nos municípios de Macaé e Capivari (hoje Silva Jardim) e a seguir reformado.[2]
A partir de 1819, dedicou-se a expandir caminhos comerciais pelo interior da província do Rio de Janeiro, então com forte desenvolvimento econômico devido à instalação da corte de Dom João VI no Brasil e à conseqüente abertura dos portos, em 1808. O comércio intensificou-se nessa época com o aumento da venda de alimentos produzidos no norte fluminense para a cidade do Rio de Janeiro, ao mesmo tempo em que esta região passava a consumir produtos industrializados importados.
Até o fim do século XVIII, a região de Quissamã dedicava-se especialmente à pecuária bovina de corte. O pai de José Carneiro da Silva plantava algodão e anil que era vendido na cidade do Rio de Janeiro (cidade), e fundou o primeiro engenho de açúcar na região de Quissamã, nas terras perto da atual fazenda Machadinha. O aumento de preços devido à crise mundial de produção açucareira, provocada pela revolução de São Domingos (revolta dos escravos do Haiti) impulsionou a expansão da indústria açucareira na região, o que enriqueceu ainda mais a sua família e estendeu a sua influência política até a corte imperial no Rio de Janeiro.
Nesta época, reforçou os laços políticos com a nova burocracia estatal que surgiu com o Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves, e, posteriormente, com o Império do Brasil. Pediu então ao governo imperial que "secassem parcialmente a lagoa Feia para encurtar o caminho entre a vila de São Salvador de Campos e o Rio de Janeiro".
Em 1837, conseguiu a aprovação pelo governo provincial de sua proposta de construção de um canal que permitisse o transporte de açúcar de Campos dos Goytacazes até o porto de Imbetiba em Macaé. Assumiu a empreitada das obras que iniciaram-se oficialmente em 1º de outubro de 1844, durando até 1861. O canal Campos-Macaé com extensão de 106 km - o segundo mais longo canal artificial do mundo - ainda existe parcialmente nos dias de hoje.
Em 1844, foi eleito para o cargo de deputado na Assembléia Legislativa Provincial do Rio de Janeiro, como membro do Partido Conservador.
Quando o Partido Conservador dominou a política do Império, José Carneiro da Silva tornou-se muito influente na corte, pois era o líder político de uma das regiões mais prósperas do país. Recebeu, sucessivamente, vários títulos nobiliárquicos. Em 1841, tornou-se Fidalgo Cavaleiro da Casa Imperial. Em 5 de maio de 1844, um decreto imperial concedeu-lhe o título de barão de Araruama, o primeiro do nome. O título nobiliárquico faz referência à lagoa de Araruama, próxima à região onde vivia (em tupi significa terra de araras). Outro decreto imperial, de 15 de abril de 1847, concedeu-lhe o título de visconde com honras de grandeza de Araruama, o primeiro do nome. Também recebeu a comenda de Grande do Império e a imperial Ordem da Rosa.
Exerceu várias vezes os cargos de substituto de juiz municipal e de delegado de polícia na então freguesia de Quissamã onde residia. Por muitos anos foi também juiz de paz e eleitor na mesma freguesia.
Foi provedor da Santa Casa de Misericórdia de Campos dos Goytacazes e, junto com seu genro, João de Almeida Pereira Filho, ajudou o reerguimento da igreja matriz de São Salvador de Campos dos Goytacazes. Ajudava, também, outras instituições de caridade, como o Hospício Dom Pedro II e o Recolhimento dos Órfãos de Santa Teresa. Às suas expensas, construiu diversas estradas que então passou para o governo da província do Rio de Janeiro.[3]
Após sua morte, a militância política conservadora foi continuada pelo seu filho Bento Carneiro da Silva, conde de Araruama e chefe regional do Partido Conservador, assim como pelo genro João de Almeida Pereira Filho, que se tornaria ministro e conselheiro do Império.
Obras filosóficas e científicas
editarFoi um intelectual autodidata que realizou observações científicas e publicou ensaios filosóficos. Apesar de ter recebido apenas a educação fundamental, o que era comum à época, ficou conhecido entre os intelectuais do Rio de Janeiro como um homem culto, bom literato que lia em francês e latim, e que possuía conhecimentos profundos de filosofia, história e geografia.
Foi membro correspondente do Instituto Histórico de Paris, membro fundador do Instituto Fluminense de Agricultura e sócio fundador da Sociedade Auxiliadora da Indústria Nacional.
Os periódicos Jornal da Sociedade Auxiliadora da Indústria Nacional e Aurora Fluminense publicaram artigos de sua autoria sobre agricultura e política.
Publicou alguns ensaios filosóficos e científicos. A Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, publicada na década de 1940, diz que a ele são devidas a “notável Memória Topográfica sobre os Campos dos Goytacazes, de 1819, e outra, notável memória sobre a escravidão”.
A Memória Topográfica e Históorica sobre os Campos dos Goytacazes com uma Noticia Breve de suas Produções e Comércio, publicada em 1819 com segunda edição em 1907, revela que José Carneiro da Silva foi um homem com intensa curiosidade científica, capaz de realizar, sem qualquer treinamento acadêmico, observações importantes sobre a sociedade e natureza da região em que vivia, especialmente sobre o rio Paraíba do Sul e a lagoa Feia. Também revela uma pessoa que se interessava pelas artes do comércio e pelas inovações tecnológicas.
A "Memória sobre a Abertura de um Novo Canal para Facilitar a Comunicação entre a Cidade de Campos, e a Vila de São João de Macaé", impressa em 1836, defende a construção do futuro canal Campos-Macaé como meio de facilitar o escoamento do açúcar produzido na região, além de servir para saneamento de brejos que facilitavam a propagação da febre palustre. Este trabalho, que revela uma pessoa de espírito empresarial e disseminadora de progressos tecnológicos, teve repercussões importantes na geografia e economia da região norte fluminense, quando o canal Campos-Macaé começou a ser construído em 1843.
A “Memória sobre Comércio dos Escravos, em que se Pretende Mostrar que este Tráfico é, para eles, antes um Bem do que um Mal”, impressa em 1838, é um ensaio anônimo que lhe foi recentemente atribuído por historiadores. Bem de acordo com o pensamento do Partido Conservador da época, o ensaio defende que "escravidão escora a civilização, estimula o comércio e produz a riqueza de certos países", além do que, os africanos "trazidos às nações cultas, (…) são sustentados como nunca foram em seu país natal” e "recebem a graça divina pela doutrina cristã, que os tira do paganismo e os lança no grêmio dos católicos romanos”. Como era membro conhecido do Partido Conservador então no poder, o anonimato evitava aprofundar conflitos dos seus correligionários com os ingleses que pressionavam pelo fim do tráfico de escravos, o que só viria com a Lei Eusébio de Queirós. Até recentemente, esta obra anônima era atribuída ao bispo de Olinda, nascido em Campos dos Goytacazes, José Joaquim da Cunha de Azeredo Coutinho,[4] que foi quem primeiro sugeriu a construção do canal Campos-Macaé.
Ver também
editarReferências
- ↑ a b «Nobreza Brasileira de A a Z: Araruama. Visitado em 10 de novembro de 2008» Erro de citação: Código
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inválido; o nome "nobreza" é definido mais de uma vez com conteúdos diferentes - ↑ a b «SILVA, Marco Polo T. Dutra P.; Macaé - Um Esboço Histórico e Genealógico - A Freguesia de Nossa Senhora do Desterro do Capivari»
- ↑ Anuário Genealógico Latino, IV, 131
- ↑ MARQUESE, Rafael de Bivar Marques; PARRON, Tâmis Peixoto, "Azeredo Coutinho, Visconde de Araruama e a Memória sobre o comércio dos escravos de 1838". São Paulo: Revista de História da USP, nº 152, pág. 99
Bibliografia
editarFROSSARD, Larissa; GAVINHO, Vilcson (Org.). Macaé, Nossas Mulheres, Nossas Histórias. Macaé, RJ: Macaé Offshore, 2006, verbete 159.
GAVINHO, Vilcson. Viscondessa de Araruama (Coluna Naquele tempo... Instituto Histórico e Geográfico de Macaé; Fundação Macaé de Cultura; Petrobras - E & P - Bacia de Campos). In. O Debate: Diário de Macaé. Macaé/RJ, 28/03/1999, p. 3, Caderno Dois.
LAMEGO, Alberto. A Terra Goytacá: Á luz de documentos inéditos. Niterói, RJ: Diário Oficial, Tomo Sexto, 1943, p. 157.
LAMEGO, Alberto. Macaé à luz de documentos inéditos. In. Anuário Geográfico do Estado do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, Conselho Nacional de Geografia, Diretório Regional do Estado do Rio de Janeiro, 1958, N.0 11, pp. 106–12, 143.
QUEIRÓS MATOSO, Gilberto de. A Família Araruama. In. Edição Comemorativa do Cinquentenário do Instituto Genealógico Brasileiro (1939-1989). São Paulo: Instituto Genealógico Brasileiro, 1991, pp. 321–29.