Walter Zanini
Walter Zanini (São Paulo, 21 de maio de 1925[1] – 29 de janeiro de 2013) foi um professor, historiador, crítico de arte e curador brasileiro. Foi diretor do Museu de Arte Contemporânea da USP (MAC) e da Escola de Comunicações e Artes da USP, onde também atuou como docente. Sua gestão no MAC caracterizou-se pelo apoio à arte conceitual, à fotografia e às linguagens experimentais, como a videoarte e a Arte Postal. Atuou, ainda, como curador da Bienal Internacional de São Paulo, edições de 1981 e 1983.
Walter Zanini | |
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Nome completo | Walter Zanini |
Nascimento | 21 de maio de 1925 São Paulo |
Morte | 29 de janeiro de 2013 (87 anos) São Paulo |
Nacionalidade | brasileiro |
Ocupação | Professor, Curador, Historiador da Arte e Crítico de Arte |
Magnum opus | História Geral da Arte no Brasil |
Formação e carreira
editarSobrinho do pintor Mário Zanini, integrante do Grupo Santa Helena, beneficiou-se do contato com o tio, que formou, ao longo dos anos, uma importante biblioteca especializada em artes. A ele, Walter Zanini dedicou seu livro sobre o Grupo Santa Helena.[2]
Graduou-se pela Universidade de Paris VIII em 1956 e obteve doutoramento pela mesma entidade em 1961. Aposentou-se como professor titular da Universidade de São Paulo.),
Entre 1963 e 1978, foi o diretor do Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo que constituiu as bases conceituais e curatoriais do primeiro museu universitário do Brasil dedicado à arte contemporânea. Foi curador das 16a e 17a edições da Bienal Internacional de Arte de São Paulo ocorridas em 1981 e 1983 respectivamente.[3]
Fundou, juntamente com outros professores e artistas, o curso de Artes da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, da qual foi docente e, de 1985 a 1988, também diretor. Tentou criar o Instituto de Artes da USP, mas não obteve sucesso. Criou a primeira cadeira de Museologia da Universidade de São Paulo. Foi também professor da Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP).[4]
Atividade crítica
editarEm 1959, ainda no processo de doutoramento em Paris, Zanini escreveu um dos textos de apresentação da pintura de Flavio-Shiró (que então ainda se assinava Flavio Tanaka) para uma exposição no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro em 1959. A análise, com grande atenção para a singularidade da obra do pintor nipo-brasileiro, situa-o, com grande pertinência em relação à pintura da Europa e dos Estados Unidos, de Dubuffet, Pollock e Fautrier. Até então, apenas Mario Pedrosa havia escrito textos críticos sobre arte abstrata não geométrica como Zanini. Georges Boudaille, o crítico francês que escreve também na ocasião aponta questões da materialidade da pintura de Shiró e ambos coincidem em excluir qualquer vínculo com o tachismo. O olhar de Zanini já indicava sua capacidade de examinar a obra mesma, se ater-se a esquemas teóricos pré-determinantes e em favor do experimentalismo. Boudaille foi diretor do Museu de Arte Moderna da Cidade de Paris e Diretor Curatorial da Bienal de Paris de 1977, ocasião em que convidou Zanini para organizar a presença brasileira no evento.[carece de fontes]
Sua última pesquisa, intitulada A arte no século XX: vanguardas, desmaterialização e progressões tecnológicas, na qual realizava uma análise das relações entre arte e tecnologia ficou inacabada. Foi publicada postumamente, com organização de Eduardo de Jesus. [5]
Museu de Arte Contemporânea da USP
editarEm 1963, Zanini, então professor da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP é nomeado conservador e supervisor do recém-criado Museu de Arte Contemporânea. Realizou o inventário das coleções de Francisco Matarazzo Sobrinho e Yolanda Penteado e outras obras pertencentes ao Museu de Arte Moderna doadas à USP, que formaram a coleção inicial do MAC.[4] Durante a direção do MAC foi o responsável por mudanças consideráveis no perfil do Museu,[6] como a criação do programa 'Jovem Arte Contemporânea' (JAC), série de exposições realizadas de 1967 a 1974, que substituiu as exposições anuais 'Jovem Desenho Nacional' (JDN) e 'Jovem Gravura Nacional (JGN)'. As JAC foram exposições provocativas, nas quais não havia distinção entre os meios utilizados pelos artistas, e não foram bem recebidas pela mídia conservadora. [7] Os catálogos de todas as edições da JAC foram digitalizados e estão disponível no site do MAC. [8]
Sua gestão caracterizou-se pela promoção à arte conceitual e à fotografia, tendência iniciada com as JAC e consolidada em exposições como 'Circulambulatio' (1973), '6 artistas conceituais' (1973), 'Fotografia experimental polonesa '(1974), 'Prospectiva 74' (1974), Visual poetry international (1975), "Arte e comunicação marginal' (1975), 'Arte sociológica' (1975), 'Farmácia Fischer e Cia' (1975), 'Bienal do ano 2000' (1975), 'Ação / situação Hoje' (1975), 'Multimídia III (1976)', 'Década de 70 (1976), 'Novos e novíssimos fotógrafos' (1976) e 'Poéticas Visuais' (1977) [9]. Incentivou produções experimentais, sobretudo aquelas ligadas à Videoarte e Arte postal [10]. Bem relacionado com a comunidade artística internacional, participava de encontros do Conselho Internacional de Museus de Arte Moderna e do Conselho Internacional de História da Arte [7].
Zanini abriu o Museu a novas linguagens e tornou o MAC responsável pela introdução da videoarte no Brasil [10] em dois eventos pioneiros: a exibição, em 1973, da obra 'Registro do Passeio Sociológico pelo Brooklin', de Fred Forest, considerado a primeira apresentação de vídeo num museu do Brasil[9] e a apresentação no país dos primeiros vídeos de artistas brasileiros, na oitava JAC (1974) [10] .
Outra realização importante foram as exposições itinerantes que promoveu no MAC, a partir de 1963, que levaram partes do acervo para cidades do interior de São Paulo e outros estados, onde as obras eram exibidas em locais como associações e centros acadêmicos.[4]
A forte presença dos artistas no museu durante sua gestão foi tão marcante que, até hoje, quem viveu esse período refere-se a ele com a expressão “MAC do Zanini”.[4]
Foi homenageado em duas exposições no MAC. A primeira, 'Um dia terá que ter terminado – 1969-74', de 2010, focalizou obras produzidas durante o período mais repressivo da ditadura militar. O título foi extraído de uma carta enviada pelo artista Sérgio Ferro a Walter Zanini pedindo ao MAC proteção para sua obra São Sebastião - Mariguella, destaque da mostra, e manifestando sua esperança no fim da ditadura.[11] A segunda, intitulada 'Por um museu público, tributo a Walter Zanini', de 2013, apresentou sua contribuição ao Museu.[12]
Sua biblioteca pessoal foi doada à Biblioteca Lourival Gomes Machado do Museu de Arte Contemporânea (MAC) da USP.[13]
Bienal Internacional de Arte de São Paulo
editarWalter Zanini foi curador das edições de 1981 e 1983 da Bienal Internacional de São Paulo, sendo considerado seu primeiro curador, já que anteriormente esse termo não era utilizado pela instituição.[14] Foi responsável por inovações importantes, como o fim das representações nacionais, inaugurando a prática da organização por analogias de linguagem.[4] Sua orientanda Annateresa Fabris também trabalhou na curadoria, na edição de 1981.[15]
História Geral da Arte no Brasil
editarO livro 'História geral da arte no Brasil', coordenado e editado por Zanini em parceria com Cacilda Teixeira Costa e publicado em 1983, é considerado, até hoje, obra de referência para o assunto [16]. Zanini é autor do prefácio e do capítulo sobre arte contemporânea. O livro está esgotada, mas várias bibliotecas da Universidade de São Paulo possuem exemplares, como mostra o registro no banco de dados Dédalus [1]. As fotografias originais publicadas na obra estão no acervo da Biblioteca da ECA.
Publicações
editar- 1971: Tendências da escultura moderna. Cultrix [4]
- 1981: Avvicinamenti e distacchi tra Ferrara e Venezia nella second. metà del Quattrocento. In: Cultura ferrarense tra XV e XVI secolo. p. 75-87.[17]
- 1983: Historia geral da arte no Brasil. 2 vol. Nobel, EDUSP [4]
- 1991: A arte no Brasil nas décadas de 1930-40: o Grupo Santa Helena. EDUSP, 1991 - 8521305915 [18]
- 1994: Duas décadas difíceis. In: Aguilar, Nelson. Bienal Brasil Século XX. Fundação Bienal de São Paulo [19]
- 1997: Restituição de Vicente do Rego Monteiro. In: Vicente do Rego Monteiro (1899-1970). p.6-21 [20]
- 2006: Videoarte: uma poética aberta. In: Crítica de arte no Brasil : temáticas contemporâneas [21]
- 2009: A arte de comunicação telemática : a interatividade no ciberespaço. In: Arte, ciência e tecnologia : passado, presente e desafios [22]
- 2018: Walter Zanini: vanguardas, desmaterialização, tecnologias na arte (organização de Eduardo de Jesus) - Martins Fontes - 9788546901708 [23]
Referências
- ↑ «Nota de falecimento do professor emérito da ECA, Walter Zanini». USP. 29 de janeiro de 2013
- ↑ Souza, Tálisson Melo de (2021). «Walter Zanini e as mediações da arte contemporânea no Brasil em redemocratização». Universidade do Estado da Bahia. Encantar: educação, cultura e sociedade. 3: p. 1-21. Consultado em 28 de novembro de 2024
- ↑ «Morre o historiador e crítico de arte Walter Zanini, primeiro diretor do MAC-USP». Folha de S.Paulo. 29 de janeiro de 2013. Consultado em 30 de janeiro de 2013
- ↑ a b c d e f g Freire, Cristina (2013). Walter Zanini: escrituras críticas. São Paulo: Annablume
- ↑ Jesus, Eduardo de (setembro–dezembro de 2023). «Vanguardas, desmaterialização, tecnologias na arte: as reflexões de Walter Zanini». Programa de Pós-graduação em Artes Visuais da Universidade de São Paulo. Ars. 21 (49). Consultado em 26 de novembro de 2024
- ↑ «Alô Escola - A Viagem das Vanguardas». TV Cultura. Arquivado do original em 28 de março de 2010
- ↑ a b Silveira, Regina (2020). «Palestra 3: Walter Zanini (1925-2013)» (PDF). Cátedra Olavo Setúbal de arte, cultura e ciência. Consultado em 11 de outubro de 2022
- ↑ «JAC - Jovem Arte Contemporânea». Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo. 2020. Consultado em 11 de outubro de 2022
- ↑ a b Fabris, Annateresa (2013). «Walter Zanini, o construtor do MAC-USP» (PDF). Comitê Brasileiro de História da Arte. Consultado em 17 jul. 2020
- ↑ a b c “MAC do Zanini”, Videoarte e pioneiros: 1974-1978
- ↑ Freire, Cristina; Costa, Helouise; Magalhães, Ana (2010). «Um dia terá que ter terminado 1969/74». MAC-USP. Consultado em 17 jul 2020
- ↑ «Por um museu público: tributo a Walter Zanini». Museu de Arte Contemporânea da USP. 2015. Consultado em 17 jul. 2020
- ↑ Coelho, MIrella (5 de setembro de 2018). «Família de Walter Zanini, fundador do CAP, doa acervo à Biblioteca do MAC». Escola de Comunicações e Artes. Consultado em 8 de julho de 2020
- ↑ «Dossiê Walter Zanini». Fundação Bienal. 2013. Consultado em 17 jul. 2020
- ↑ «Annateresa Fabris». Enciclopédia Itaú Cultural. Consultado em 30 de abril de 2024
- ↑ «Walter Zanini». Fórum Permanente. Consultado em 12 de agosto de 2020
- ↑ «Avvicinamenti e distacchi tra Ferrara e Venezia nella seconda metà del Quattrocento». WorldCat. Consultado em 26 de novembro de 2024
- ↑ «A arte no Brasil nas décadas de 1930-40: o Grupo Santa Helena». Projeto Portinari. Consultado em 25 de novembro de 2024
- ↑ «Bienal Brasil século XX». WorldCat. Consultado em 25 de novembro de 2024
- ↑ «Vicente do Rego Monteiro (1899-1970)». WorldCat. Consultado em 26 de novembro de 2024
- ↑ «Crítica de arte no Brasil : temáticas contemporâneas». WorldCat. Consultado em 26 de novembro de 2024
- ↑ «Arte, ciência e tecnologia : passado, presente e desafios». WorldCat. Consultado em 26 de novembro de 2024
- ↑ «Walter Zanini - Vanguardas, desmaterialização, tecnologias na arte». Livrarias Martins Fontes. Consultado em 25 de novembro de 2024