Bupropiona

composto químico
(Redirecionado de Wellbutrin)
Estrutura química de Bupropiona
Bupropiona
Aviso médico
Nome IUPAC (sistemática)
(RS)-2-(tert-butilamino)-1-(3-clorofenil)propan-1-ona
Identificadores
CAS 34911-55-2
ATC N07BA02
PubChem 444
DrugBank DB01156
Informação química
Fórmula molecular C13H18NClO 
Massa molar 268.739 g/mol
Farmacocinética
Biodisponibilidade ?
Ligação a proteínas 84%
Metabolismo Hepático (Maioritariamente CYP2B6)
Meia-vida 12-30 horas
Excreção urina (87%)
Considerações terapêuticas
Administração Oral
DL50 ?

O bupropiom ou bupropiona (nomes comerciais: Wellbutrin, Zyban, Bup, entre outros) é um fármaco utilizado principalmente para o tratamento da depressão e do tabagismo. Outros usos incluem o tratamento do transtorno do défice de atenção e hiperatividade, a perda de peso, etc.[1]

O bupropiom está disponível em comprimidos e é sujeito à prescrição médica, sendo um membro da classe dos inibidores da recaptação da noradrenalina e dopamina (INRD) e um antagonista dos receptores nicotínicos.

Indicações

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A principal indicação do bupropiom é o tratamento de estados depressivos.

Foi feita uma meta-análise, em que se combinaram vários estudos, para se chegar a uma conclusão final generalizada, com o objetivo de avaliar a eficácia e a tolerância de 21 fármacos utilizados para o tratamento da depressão, em que o bupropiom ficou em 15º lugar a nível de eficácia e em 10º lugar a nível de tolerância. Há de destacar a significativa variabilidade dos resultados, no caso do bupropiom, a nível de eficácia e mesmo de tolerância, o que é mais comum em antidepressivos atípicos, como é o caso do bupropiom.[2]

Foi o primeiro antidepressivo a ser aprovado pela FDA para o tratamento da depressão sazonal. O bupropiom é eficaz na prevenção desses casos, em que normalmente o indivíduo apresenta sintomas depressivos no período de outono e inverno, sendo que eles desaparecem na primavera e no verão.[3][4]

O bupropiom é eficaz por si só como antidepressivo, principalmente em certos casos, mas pode também ser usado em conjunto com outros antidepressivos, sendo muitas vezes acrescentado como adjunto a tratamentos que não estão a ter a resposta desejada. É, no entanto, essencial ter uma especial atenção ao antidepressivo usado em conjunto com o bupropiom, já que este é um forte inibidor da enzima CYP2D6, que é responsável pelo metabolismo de muitos fármacos dessa classe.[5]

O bupropiom, ao contrário de grande parte dos antidepressivos, não causa problemas a nível sexual, podendo até melhorar casos provocados pelo tratamento com outros antidepressivos, como é o caso dos ISRS, nem causa aumento de peso, podendo até mesmo provocar a perda.[6]

É também utilizado por quem pretende deixar de fumar, de forma a facilitar o processo, diminuindo alguns dos efeitos indesejáveis quando existe a redução e a cessação da utilização do tabaco e levando a uma maior probabilidade de sucesso nesta indicação.[7]

Em combinação com a naltrexona, sob o nome de Mysimba, é utilizado para a perda de peso.[8]

Embora não esteja aprovado para esse uso, é por vezes utilizado no tratamento do transtorno do défice de atenção e hiperatividade, embora a evidência para esse uso seja considerada modesta e clinicamente inferior aos tratamentos aprovados.[9]

Mecanismo de ação

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O bupropiom é considerado um antidepressivo atípico, já que o seu mecanismo de ação pode ser considerado único entre os diversos fármacos utilizados para o tratamento da depressão.

A sua ação envolve também os seus metabólitos, principalmente o hidroxibupropiom, que partilha vários dos seus mecanismos.[10]

É um inibidor da recaptação da noradrenalina e dopamina, mas a sua ação nesses campos é extremamente fraca e ligeira, respectivamente.[11][12]

No caso da dopamina, a sua afinidade (Ki) pelo DAT (Transportador de Dopamina) é de aproximadamente 526 nM, enquanto a sua potência inibitória (IC50) é de cerca de 443 nM. Já no caso da noradrenalina, os seus valores são significativamente mais fracos.[13][14]

Ao contrário da grande parte dos antidepressivos, o bupropiom não inibe a recaptação da serotonina. No entanto, é um modulador alostérico negativo de um dos seus receptores, o 5-HT3, o que pode influenciar de forma positiva a sua ação antidepressiva.[15][16]

Por fim, é um antagonista de vários receptores nicotínicos. Esse mecanismo é importante não só para a sua ação em casos depressivos, como para o tratamento da dependência do tabaco.[16][17]

Efeitos secundários

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O bupropiom apresenta uma boa tolerância, principalmente quando comparado com outros tratamentos para a depressão.[quais?] No entanto, tal como todos os medicamentos, também existem efeitos secundários, que podem ou não ocorrer durante o tratamento.

Em uma revisão da literatura sobre movimentos anormais relacionados a bupropiona foi achado, em ordem de frequência, discinesias, distonias, parkinsonismo, mioclonus, tics, gagueira, alterações do sono REM, e balismo.[18]

Alguns dos efeitos secundários que podem ocorrer são:[19]

Contraindicações

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O bupropiom não deve ser utilizado em pessoas com epilepsia ou historial de convulsões, anorexia e bulimia ou problemas hepáticos.

Não deve ser utilizado em conjunto com IMAOs, e, caso esteja a ser feito o uso deles, deve ser feita uma paragem de pelo menos 14 dias antes de utilizar bupropiom.[19]

História

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O bupropiom foi inventado em 1969 e introduzido no mercado como um antidepressivo em 1985, sob o nome de Wellbutrin. No entanto, foi notada uma incidência significativa de convulsões na dose terapêutica recomendada, o que levou à sua retirada do mercado em 1986.

No entanto, foi notado que o risco de convulsões era altamente dependente da dose utilizada, e o bupropiom voltou a entrar no mercado em 1989, com uma dose máxima reduzida.

Para além disso, foi também desenvolvida uma versão do fármaco na forma de libertação gradual, o que reduz o risco de efeitos secundários, já que a dose não é libertada imediatamente na sua totalidade.

Hoje em dia, a fórmula mais comum é a de libertação prolongada, em que é possível a toma do fármaco apenas uma vez ao dia, sendo o risco de convulsões nas doses terapêuticas comparável à maioria dos antidepressivos.[20]

Referências

  1. «Bupropion Hydrochloride Monograph for Professionals». Drugs.com (em inglês). Consultado em 4 de agosto de 2019 
  2. Geddes, John R.; Ioannidis, John P.A.; Tajika, Aran; Shinohara, Kiyomi; Imai, Hissei; Hayasaka, Yu; Takeshima, Nozomi; Egger, Matthias; Higgins, Julian P. T. (7 de abril de 2018). «Comparative efficacy and acceptability of 21 antidepressant drugs for the acute treatment of adults with major depressive disorder: a systematic review and network meta-analysis». The Lancet (em inglês). 391 (10128): 1357–1366. ISSN 0140-6736. PMID 29477251. doi:10.1016/S0140-6736(17)32802-7 
  3. «Updates--September-October 2006 FDA Consumer». permanent.access.gpo.gov. Consultado em 4 de agosto de 2019 
  4. Gartlehner, Gerald; Nussbaumer-Streit, Barbara; Gaynes, Bradley N; Forneris, Catherine A; Morgan, Laura C; Greenblatt, Amy; Wipplinger, Jörg; Lux, Linda J; Van Noord, Megan G (18 de Março de 2019). Cochrane Common Mental Disorders Group, ed. «Second-generation antidepressants for preventing seasonal affective disorder in adults». Cochrane Database of Systematic Reviews (em inglês). doi:10.1002/14651858.CD011268.pub3 
  5. Patel, Krisna; Allen, Sophie; Haque, Mariam N.; Angelescu, Ilinca; Baumeister, David; Tracy, Derek K. (Abril de 2016). «Bupropion: a systematic review and meta-analysis of effectiveness as an antidepressant». Therapeutic Advances in Psychopharmacology. 6 (2): 99–144. ISSN 2045-1253. PMC 4837968 . PMID 27141292. doi:10.1177/2045125316629071 
  6. Safarinejad, Mohammad Reza (2010). «The effects of the adjunctive bupropion on male sexual dysfunction induced by a selective serotonin reuptake inhibitor: a double-blind placebo-controlled and randomized study: BUPROPION IN SSRI-INDUCED MALE SEXUAL DYSFUNCTION». BJU International (em inglês). 106 (6): 840–847. doi:10.1111/j.1464-410X.2009.09154.x 
  7. Wilkes, Scott (2008). «The use of bupropion SR in cigarette smoking cessation». International Journal of Chronic Obstructive Pulmonary Disease. 3 (1): 45–53. ISSN 1176-9106. PMC 2528204 . PMID 18488428 
  8. «Mysimba» (PDF) 
  9. «Bupropion for attention deficit hyperactivity disorder (ADHD) in adults». www.cochrane.org (em inglês). Consultado em 4 de agosto de 2019 
  10. Dwoskin, Linda P.; Rauhut, Anthony S.; King-Pospisil, Kelley A.; Bardo, Michael T. (2006). «Review of the pharmacology and clinical profile of bupropion, an antidepressant and tobacco use cessation agent». CNS drug reviews. 12 (3-4): 178–207. ISSN 1080-563X. PMID 17227286. doi:10.1111/j.1527-3458.2006.00178.x 
  11. Meyer, Jeffrey H.; Goulding, Verdell S.; Wilson, Alan A.; Hussey, Doug; Christensen, Bruce K.; Houle, Sylvain (Agosto de 2002). «Bupropion occupancy of the dopamine transporter is low during clinical treatment». Psychopharmacology. 163 (1): 102–105. ISSN 0033-3158. PMID 12185406. doi:10.1007/s00213-002-1166-3 
  12. Stahl, Stephen M.; Pradko, James F.; Haight, Barbara R.; Modell, Jack G.; Rockett, Carol B.; Learned-Coughlin, Susan (2004). «A Review of the Neuropharmacology of Bupropion, a Dual Norepinephrine and Dopamine Reuptake Inhibitor». Primary Care Companion to the Journal of Clinical Psychiatry. 6 (4): 159–166. ISSN 1523-5998. PMID 15361919. doi:10.4088/pcc.v06n0403 
  13. Simonsen, Ulf; Comerma-Steffensen, Simon; Andersson, Karl-Erik (Outubro de 2016). «Modulation of Dopaminergic Pathways to Treat Erectile Dysfunction». Basic & Clinical Pharmacology & Toxicology. 119 Suppl 3: 63–74. ISSN 1742-7843. PMID 27541930. doi:10.1111/bcpt.12653 
  14. «Bupropion». www.drugbank.ca. Consultado em 4 de agosto de 2019 
  15. Pandhare, Akash; Pappu, Aneesh Satya; Wilms, Henrik; Blanton, Michael Paul; Jansen, Michaela (Fevereiro de 2017). «The antidepressant bupropion is a negative allosteric modulator of serotonin type 3A receptors». Neuropharmacology. 113 (Pt A): 89–99. ISSN 1873-7064. PMC 5148637 . PMID 27671323. doi:10.1016/j.neuropharm.2016.09.021 
  16. a b Kim, Eric J.; Felsovalyi, Klara; Young, Lauren M.; Shmelkov, Sergey V.; Grunebaum, Michael F.; Cardozo, Timothy (Setembro de 2018). «Molecular basis of atypicality of bupropion inferred from its receptor engagement in nervous system tissues». Psychopharmacology. 235 (9): 2643–2650. ISSN 1432-2072. PMID 29961917. doi:10.1007/s00213-018-4958-9 
  17. Arias, Hugo R. (Novembro de 2009). «Is the inhibition of nicotinic acetylcholine receptors by bupropion involved in its clinical actions?». The International Journal of Biochemistry & Cell Biology. 41 (11): 2098–2108. ISSN 1878-5875. PMID 19497387. doi:10.1016/j.biocel.2009.05.015 
  18. Pitton Rissardo, Jamir; Fornari Caprara, AnaLetícia (2020). «Bupropion-associated movement disorders: A systematic review». Annals of Movement Disorders (em inglês) (2). 86 páginas. ISSN 2590-3446. doi:10.4103/AOMD.AOMD_35_19. Consultado em 13 de novembro de 2021 
  19. a b «Wellbutrin XL» 
  20. «Bupropion (Wellbutrin) - eMedExpert.com». www.emedexpert.com. Consultado em 4 de agosto de 2019