White Raven
White Raven (em português: O Corvo Branco) é uma ópera em cinco atos para solistas, coro e orquestra, composta em 1991 pelo compositor norte-americano Philip Glass[1] em colaboração com Robert Wilson[2], sobre libretto de Luísa Costa Gomes, e por encomenda da Comissão Nacional para a Comemoração dos Descobrimentos Portugueses[3] e do Teatro Real de Madrid[4]. A estreia mundial da obra sob o título em português O Corvo Branco foi feita por ocasião da Exposição Internacional de Lisboa de 1998 em 26 de setembro de 1998[5] no Teatro Camões em Lisboa, dirigida por Dennis Russel Davies[6]. A estreia em Espanha, sob direção de espagnole, Günter Neuhold[7] ocorreu em 28 de novembro de 1998 (uma retransmissão televisionada em direto foi feita pela TVE, em 4 de dezembro de 1998[4]) e a estreia nos Estados Unidos foi feita no Lincoln Center[8][9][10] de Nova Iorque, sob direção de Dennis Russel Davies e com coreografia de Lucinda Childs[11], em 10 de julho de 2001[12][13][14].
White Raven | |
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O Corvo Branco | |
Vasco da Gama é um dos personagens da ópera | |
Idioma original | inglês |
Compositor | Philip Glass |
Libretista | Luísa Costa Gomes |
Número de atos | 5 |
Ano de estreia | 26 de setembro de 1998 |
Local de estreia | Teatro Camões, Lisboa |
Conceção
editarQuando no início da década de 1990 o compositor Philip Glass foi contactado pelo comissário António Mega Ferreira, membro da Comissão para a Comemoração dos Descobrimentos Portugueses, o compositor, que tinha acabado de escrever a ópera The Voyage para as comemorações do 500.º aniversário da chegada de Cristóvão Colombo à América, não se mostrou recetivo a retomar para uma nova obra um tema semelhante. Convidado a refletir, aceitou a encomenda com a condição de Robert Wilson fazer parte do projeto. Partiu então para o Brasil, onde compôs a música durante o inverno[15].
Originalmente O Corvo Branco deveria fazer parte de um díptico do qual seria a conclusão. A primeira parte, que nunca foi escrita, deveria chamar-se The Palace Of Arabian Nights (O Palácio das Mil e Uma Noites) e concentrar-se no desenvolvimento e expansão do Islamismo do século IX até à Renascença. «O Corvo Branco cobre o resto da história, do século XV ao século XXI»[16]. A razão para a primeira parte do díptico nunca ter sido escrita prende-se com mal-entendidos entre Glass e Wilson[17].
O título White Raven provém da mitologia grega: Apolo, enamorado pela princesa Corónis (filha de Flégias, rei dos Lápitas), confia a um corvo branco, seu companheiro fiel, a missão de a vigiar. Mas com o decorrer do tempo a ave, que achava a sua missão cada vez mais entediante, decidiu uma noite trair a confiança do seu mestre. Contou-lhe que Corónis o traía com um mortal chamado Ischys. Louco de raiva, Apolo matou a jovem com uma flecha no peito antes de perceber que o corvo lhe tinha mentido. Para o punir, Apolo transformou a plumagem branca e imaculada do corvo na cor preta, mais negra que o carvão. O corvo branco é então um mensageiro e símbolo da inocência perdida[18].
Como nas outras colaborações entre Glass e Wilson (Einstein on the Beach, The CIVIL warS e Monsters of Grace), White Raven não conta realmente uma história. O libretto apresenta uma série de paisagens de personagens e acontecimentos, misturando versos poéticos com tratados científicos, títulos de jornal ou, como no final, uma longa lista de personalidades da história de Portugal[19]. Neste sentido, a ópera não é tanto uma celebração da exploração, mas uma meditação, uma reflexão aberta, sobre o processo e sentido do sentido de descoberta, das expedições dos navegadores portugueses à era da exploração espacial e mesmo à exploração futura do universo[20][21].
Personagens
editarPapel | Voz | Na estreia mundial[6], Teatro Camões, Lisboa, 26 de setembro de 1998 Maestro: Dennis Russell Davies |
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Rainha, cientista 1 | soprano | Ana Paula Russo |
Corvo 1 | soprano | Suzan Hanson[22] |
Corvo 2, cientista 2 | mezzo-soprano | Maria Jonas[23] |
Vasco da Gama, viajante 1 | barítono-baixo | Herbert Perry[24] |
Rei | barítono | Yuri Batukov[25] |
Rainha indígena, Miss Universo, Dragão | mezzo-soprano | Janice Felty[26] |
Marinheiro 1, cientista 3, viajante 2 | tenor | Douglas Perry |
Marinheiro 3, viajante 3 | barítono | Fabrice Raviola |
Marinheiro 2, viajante 4 | barítono-baixo | Zheng Zhou |
Judy Garland, gémea siamesa 1 | soprano | Paula Pires de Matos |
Gémea siamesa 2 | soprano | Sandra Medeiros[27] |
Galo de Barcelos, Dogman | mezzo-soprano | Marina Ferreira |
Colhereiro | tenor | David Lee Brewer |
Homem delata, Océfalo | tenor | John Duykers |
Rei indígena, pata de elefante | baixo | Vincent Dion Stringer |
Escritor | ator | Diogo Infante |
Estrutura
editar- Ato I
- Knee Play 1, O Escritor com os dois Corvos
- Cena 1, Corte Portuguesa
- Knee Play 2
- Cena 2, A viagem
- Cena 3, África
- Cena 4, Índia
- Ato II
- Cena 1, Exploração submarina
- Cena 2, Exploração de buracos negros no céu
- Ato III
- Prólogo
- Cena 1, Corte Portuguesa
- Knee Play 3, O escritor como corvo
- Cena 2, Visões Noturnas
- Ato IV
- Cena 1, Scherzo
- Knee Play 4, O escritor com uma mesa de água e um pluma voadora
- Ato V
- Cena 1, Brasil
- Epílogo
Referências
- ↑ (em inglês) Heroes and villains in modern opera, artigo de Stephen Smoliar no San Francisco Examiner de 25 de janeiro de 2013.
- ↑ (em castelhano) Bob Wilson ofrece en Corvo Branco una construcción « en el tiempo y en el espacio » por Rosana Torres no jornal espanhol El País de 26 de novembro de 1998.
- ↑ (em inglês) Voyages of Discovery, Myth and Murder at Lincoln Center por Anthony Tommasini no jornal New York Times de 12 de julho de 2001.
- ↑ a b (em castelhano) La 2 ofrece Corvo branco, la ópera de Phillip Glass estrenada en el Teatro Real por Jesús Ruiz Mantilla no jornal espanhol El País de 4 de dezembro de 1998.
- ↑ Entrevista a Philip Glass sobre a estreia mundial de O Corvo Branco por Cristina Fernandes, Público, setembro de 1998.
- ↑ a b (em português) Ficha técnica da estreia mundial Arquivado em 20 de março de 2014, no Wayback Machine. no site de Luísa Costa Gomes PDFlink sem parâmetros PDF
- ↑ (em castelhano) Una estética efímera y fascinante por Juan Ángel Vela del Campo no jornal espanhol El País de 29 de novembro de 1998.
- ↑ (em inglês) Programa de 2001 no site do Lincoln Center Festival.
- ↑ (em inglês) Voyages of Discovery, Myth and Murder at Lincoln Center por Anthony Tommasini no New York Times de 12 de julho de 2001.
- ↑ (em inglês) Operas for a new century: The Lincoln Center presents three new works, including Philip Glass White Raven por John Fleming no St. Petersburg Times de 22 de julho 2001.
- ↑ (em inglês) White Raven takes flight por David Sterritt no Christian Science Monitor de 20 de julho de 2001.
- ↑ (em inglês) Not all ravens are white, A new opera explores travel fever and restlessness Artigo de The Economist de 16 de agosto de 2001.
- ↑ (em inglês) White Raven: Thru The Looking Glass[ligação inativa] por Howard Kissel no New York Daily News de 12 de julho de 2001.
- ↑ (em inglês) How White Raven Echoes 'Einstein' but Breaks Its Own New Ground por Edward Rothstein no New York Times de 14 de julho de 2001.
- ↑ Fumo branco para os corvos entrevista de Nuno Galopim ao jornal Diário de Notícias de 26 de setembro de 1998.
- ↑ Fumo branco para os corvos entrevista de Nuno Galopim ao jornal Diário de Notícias de 26 de setembro de 1998.
- ↑ Robert Maycock, 2003, p. 135
- ↑ (em inglês) Glass opera a visual stunner por Verena Dobnik no Register-Guard de 22 de julho de 2001.
- ↑ (em inglês) Operas for a new century: The Lincoln Center presents three new works, including Philip Glass White Raven por John Fleming no St. Petersburg Times de 22 de julho de 2001.
- ↑ (em inglês) White Raven no site Chesternovello.
- ↑ (em inglês) They Sing of Voyages por Deborah Jowitt no semanário Village Voice de 17 de julho de 2001.
- ↑ (em inglês) Nota biográfica no site do American Repertory Theater.
- ↑ (em alemão) Nota biográfica no site oficial.
- ↑ (em inglês) Nota biográfica no site do American Repertory Theater.
- ↑ (em inglês) Nota biográfica[ligação inativa] no site oficial da Ópera de Graz.
- ↑ (em inglês) Nota biográfica noe site do American Repertory Theater.
- ↑ (em inglês) Biographie Arquivado em 10 de maio de 2014, no Wayback Machine. sur son site officiel.
Ligações externas
editar- White Raven no site do Ircam.
- (em inglês) White Raven na página do compositor Philip Glass.