Vilma Santos de Oliveira, conhecida como Yá Mukumby Alagangue, foi uma destacada sacerdotisa do Candomblé, ativista cultural e defensora dos direitos da população negra no Brasil[1] Nasceu em 17 de julho de 1950, em Jacarezinho, Paraná, filha de Allial Oliveira dos Santos e Antonio dos Santos, migrantes que trabalhavam no cultivo de cana-de-açúcar.

Ainda na infância, perdeu o pai e, aos 11 anos, mudou-se com a família para Londrina, no Paraná, com o apoio do tio Leodoro Almeida de Oliveira, importante liderança local. Durante a juventude, Vilma enfrentou crises de epilepsia que a aproximaram do Candomblé, onde encontrou cura e propósito espiritual. Aos 27 anos, recebeu o título de Ìyalorixá e fundou o terreiro Ilê Axé Ogum Megê, em Cambé, Paraná.[2]

Vida Pessoal e Religião

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Vilma casou-se com Flávio de Oliveira, com quem teve quatro filhos biológicos e adotou outros dois. Sua trajetória como sacerdotisa foi marcada pelo acolhimento à comunidade e pela promoção do respeito às religiões de matriz africana. Com uma personalidade forte e acolhedora, sua atuação ia além do terreiro, dialogando com diversos setores da sociedade.

Ativismo e Cultura

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Yá Mukumby destacou-se como líder em movimentos sociais e culturais. Participou do grupo União e Consciência Negra, foi uma das fundadoras do Partido dos Trabalhadores em Londrina e integrou o Centro Nacional de Africanidade e Resistência Afro-Brasileira (CENARAB). Fundou a Associação Afro-Brasileira (AABRA) e presidiu o Conselho Municipal de Promoção da Igualdade Racial.[3]

Sua militância foi crucial para a implantação das cotas raciais na Universidade Estadual de Londrina (UEL), em 2005, onde também atuou como conselheira do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros (NEAB). Foi coautora do livro O negro na universidade: o direito à inclusão e teve sua história narrada na obra Yá Mukumby, a vida de Vilma Santos de Oliveira.[carece de fontes?]

Contribuições Artísticas

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Como promotora cultural, Mukumby recuperou a história e a participação da população negra no Paraná. Participou de festivais culturais, ensaiou grupos de teatro, criou espetáculos baseados na dança dos orixás e integrou o grupo coral Unicanto. Organizou rodas de samba e eventos gastronômicos com pratos da culinária afro-brasileira, fortalecendo a identidade cultural negra.

Tragédia e legado

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Em 3 de agosto de 2013, Vilma, sua mãe Allial, e sua neta Olívia foram tragicamente assassinadas por um vizinho em surto psicótico. Embora o caso tenha sido tratado como crime passional, houve indícios de intolerância religiosa, como a destruição de objetos sagrados no terreiro.

Após sua morte, o terreiro Ilê Axé Ogum Megê foi fechado, mas o legado de Yá Mukumby permanece vivo. Em sua homenagem, a sede do NEAB da UEL recebeu seu nome, e foi instituído o Dia do Samba em Londrina, celebrando sua contribuição à cultura negra e à luta antirracista.[4]

Referências

Bibliografia

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  1. Elorza, Thelma; Frazão, Marcelo. "Yá Mukumby e mais três pessoas são assassinadas a facadas na zona oeste." Jornal de Londrina, 04 de agosto de 2013.
  2. Lanza, Fabio (Org.). Yá Mukumby: a vida de Vilma Santos de Oliveira. Londrina: UEL, 2013.
  3. Pacheco, Jairo Queiroz. Desafios da inclusão: o olhar dos jovens negros sobre a política de cotas da UEL. Londrina, 2019.
  4. Silva, Maria Nilza; Pacheco, Jairo Queiroz (Orgs.). Dona Vilma: cultura negra como expressão de luta e vida. Londrina: UEL, 2014.
  5. Santos, Ivair Augusto Alves dos. Direitos Humanos e as práticas de racismo. Brasília: Câmara dos Deputados, 2013.
  6. Silva, Lúcia Helena Oliveira. ÌYALORIXÁ MUKUMBY: VILMA SANTOS DE OLIVEIRA. in: Thais Alves Marinho e Rosinalda Correa da Silva Simoni. Dicionário Biográfico: Histórias Entrelaçadas de Mulheres Afrodiaspóricas. Editora Malê, Rio de Janeiro, Segunda Edição. 2024.

Ligações externas

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