Zona Leste de Porto Alegre

A Zona Leste da cidade de Porto Alegre, é uma zona de aproximadamente 21,59 km² que abrange os bairros Bom Jesus, Chácara das Pedras, Jardim Carvalho, Jardim do Salso, Jardim Sabará, Morro Santana, Três Figueiras, Vila Jardim, Mario Quintana, Partenon, Mato Sampaio, Vila João Pessoa, São José, Agronomia e Lomba do Pinheiro, além dos bairros Jardim Botânico e Petrópolis, que, apesar de se situarem na região leste da cidade, fazem parte da Região Centro do Orçamento Participativo da Capital. A região é abrangida pelo plano diretor da cidade como a região de planejamento quatro (leste e nordeste).[1][2]

Zona Leste

De cima para baixo, da esquerda para direita: Morro Santana em uma vista lateral, Hospital São Lucas da PUC-RS, saguão de exposições do Museu de Ciências e Tecnologia da PUCRS, Museu da Fundação Zoobotânica no Jardim Botânico de Porto Alegre e Hospital Independência
Zona Leste de Porto Alegre
Área 21,59 km²
População 124.929 hab.
Densidade 5.786 hab./km²
Renda média 10,14 Salários mínimos
Bairros
Característica socioespacial Urbana (Residencial) e Comercial, com leve região rural
Cor do ônibus Verde
Regiões de planejamento 4 e 7 (Subdivisões: leste, nordeste, partenon e lomba)
Limites Zona Norte de Porto Alegre, Zona Sul de Porto Alegre, Zona Central de Porto Alegre, Viamão e Alvorada
Infraestrutura
Campus Univesitários UFRGS (Campus do Vale e Morro Santana)
PUC-RS
UniRitter (Campus do FAPA)
Hospitais Hospital São Lucas
Hospital Independência
Hospital Psiquiátrico São Pedro
Museus Museu de Ciências e Tecnologia da PUCRS
Museu de Ciências Naturais do Jardim Botânico de Porto Alegre
Parques e reservas naturais Morro Santana
Morro da Polícia
Jardim Botânico de Porto Alegre
Zonas de Porto Alegre

Nesta região moram 124.929 habitantes, o que gera uma densidade populacional de 5.786 habitantes por quilômetos quadrados; a região apresenta uma renda média de 10,14 salários mínimos e sua característica principal é ser uma zona residencial com presença comercial e leve região rural.[3][4][5]

História

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No período pré-colonial, a zona leste da cidade de Porto Alegre era habitada por indígenas das etnias guaranis e kaingangs.[6][7] Com a chegada dos colonizadores europeus, o território começou a ser ocupado por estâncias, onde se desenvolvia principalmente a pecuária. Até o final do século XIX, grande parte da região era formada por chácaras e áreas rurais.[8][5]

No final do século XIX e início do século XX, o desenvolvimento de Porto Alegre como um todo levou à abertura de estradas e à expansão das áreas habitadas para a Zona Leste. Com a melhoria no desenvolvimento e acesso a região, começaram os primeiros projetos de loteamento, assim começou a ocupação da região por trabalhadores da região central e portuária da cidade. O que tornou a dinâmica habitacional que antes era dividida entre estâncias e terras indígenas, uma dinâmica mais urbana, com a diminuição do território indígena e rural da região.[8] A fundação do Hospital Psiquiátrico São Pedro em 1884, no bairro Partenon, marca um dos primeiros grandes projetos públicos na Zona Leste. Este hospital, por muitos anos uma referência em psiquiatria, representou um marco na saúde pública e influenciou o desenvolvimento de outras instituições na área da saúde.[9][5]

A partir da metade do século XX, a urbanização em Porto Alegre se intensificou, e a Zona Leste passou a receber uma grande quantidade de migrantes de outras regiões do estado e do Brasil. Esse movimento foi impulsionado principalmente pela busca de melhores condições de vida e trabalho. Muitas pessoas que chegaram nesse período enfrentavam dificuldades financeiras e passaram a ocupar áreas periféricas e morros, o que deu origem a vilas e favelas em bairros como Lomba do Pinheiro e Partenon.[8] Junto com esta procura pelos morros, em 1950, foi aberta uma pedreira no maior morro da cidade de Porto Alegre, o Morro Santana, o que trouxe o processo de habitação da região do extremo-leste da cidade. A pedreira tinha como principal objetivo a exploração abundante de basalto e granito.[10][11]

Durante a ditadura militar no Brasil (1964-1985), os bairros da Zona Leste, como o Partenon, tornaram-se palco de diversos movimentos sociais. A população local se organizava em associações comunitárias que lutavam por melhorias básicas, como pavimentação, saneamento, e transporte público. As vilas e comunidades passaram a formar uma identidade própria, e essa mobilização gerou melhorias significativas na infraestrutura urbana. [12]

Nos anos 1990, a criação do Campus do Vale da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) na Agronomia trouxe novos fluxos de estudantes e pesquisadores para a região. A presença da universidade não só impulsionou a educação e a pesquisa, mas também estimulou o desenvolvimento do comércio e a expansão do transporte público, integrando mais a Zona Leste ao restante da cidade.[13] Nas últimas décadas, a Zona Leste continua a crescer e diversificar. Hoje, a região é conhecida por sua diversidade cultural, com forte presença de migrantes e rica vida comunitária. Entretanto, ainda enfrenta desafios, como a necessidade de melhorias em infraestrutura e segurança. O desenvolvimento de áreas comerciais e residenciais é constante, e o poder público busca manter o equilíbrio entre expansão urbana e preservação ambiental, especialmente em áreas próximas ao Jardim Botânico e ao Morro da Polícia.[8]

Enchentes de 2024

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Por estar localizada em uma região mais alta da cidade, a zona em questão foi atingida apenas por alagamentos pontuais. Estes alagamentos pontuais foram ocasionados pelo relevo da região que é categorizado por um conglomerado de morros. Estes mesmos morros foram preucupações levantadas pela Defesa Civil de Porto Alegre, que alertou para o risco de deslizamentos, especialmente em áreas com encostas, como Morro Santana. Bairros com áreas mais rurais e de encostas enfrentaram deslizamentos de terra, além de alagamentos que isolaram comunidades. [14]

Como dano colateral, diversos bairros de Porto Alegre sofreram interrupções no fornecimento de luz e água devido a danos causados pelas fortes chuvas e alagamentos. Na região leste da cidade, bairros como Bom Jesus, Jardim Carvalho, Jardim do Salso, Jardim Sabará, Morro Santana, Vila Jardim, Mário Quintana, Partenon, São José e Agronomia foram gravemente afetados. As fortes correntezas danificaram subestações elétricas e sistemas de distribuição de água, além de provocarem quedas de postes e rompimentos de tubulações, deixando milhares de moradores sem serviços essenciais por vários dias.[15][16]

Infraestrutura

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A zona possui uma das saídas da cidade de Porto Alegre, trata-se da união da avenida arterial Protásio Alves e da Rodovia Caminho do Meio que interliga a região a ERS-040, que, por sua vez, é uma "continuação" da Avenida Bento Gonçalves. A principal avenida que corta o bairro, trata-se da própria Avenida Protásio Alves que é abastecida por diversas outras avenidas, ela é abastecida pela Terceira Perimetral, pela Avenida Antônio de Carvalho que contecta-se a Avenida Ipiranga e a Avenida Manoel Elias que se conecta a Avenida Baltazar de Oliveira Garcia.[4]

A região é provida de dois hospitais, o Hospital São Lucas da PUC-RS e o Hospital Independência da rede hospitalar Divina Providência. A região também é provida de duas unidades de pronto atendimento, a UPA Bom Jesus localizada no bairro Bom Jesus e a UPA Moacir Scilar localizada próxima ao terminal triângulo. O hospital mais antigo da região fica no bairro do Partenon, trata-se do Hospital Psiquiátrico São Pedro fundado em 1884, atualmente o imovel é um patrimônio tombado. [17]

A zona também é provida de três câmpus universitários, um da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul onde fica a reitoria, o Campus do Vale da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, e outro Centro Universitário Ritter dos Reis na Faculdade Porto Alegrense.[18][19]

A região que faz divisa com a cidade metropolitana de Viamão, é atendida por corredores de ônibus. Os ônibus que possuem rotas na zona possuem a cor verde segundo decreto do prefeito José Fortunati em 2015 e algumas linhas especiais de uso exclusivo da Companhia Carris Porto-Alegrense na cor laranja,[20] sendo seus prefixos iniciados em 3 ou 4.[21] Também possuem linhas de ônibus do sistema metropolitano, normalmente fazendo rotas até a cidade de Alvorada e Viamão.

Turismo

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A Zona Leste de Porto Alegre é um espaço que mistura áreas residenciais, culturais e naturais, oferecendo diversas opções para turistas. A região abriga pontos como o Museu de Ciências e Tecnologia da PUCRS,[22] onde os visitantes usufruem de exposições sazonais ou fixas interativas que desenvolvem seus conhecimentos em ciências e tecnologia, e o Teatro da AMRIGS, conhecido por seus espetáculos culturais.[23] Além disso, o Jardim Botânico de Porto Alegre é um destino de destaque, ideal para quem busca conexão com a natureza, com trilhas e coleções botânicas diversificadas.[24][25]

Outra atração natural importante é o Morro da Polícia, no bairro glória, que oferece uma vista panorâmica incrível da cidade e é um local popular para caminhadas e fotografia.[26] O bairro Partenon, por sua vez, carrega um rico legado cultural, remontando à Sociedade Partenon Literário do século XIX, um marco para o desenvolvimento das artes e da alfabetização na cidade.[27][25]

Morro Santana

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 Ver artigo principal: Morro Santana

O Morro Santana é o ponto mais alto de Porto Alegre, alcançando 311 metros de altitude. Ele se destaca tanto por sua relevância geográfica quanto histórica e ambiental. Geologicamente, é formado por rochas graníticas e ocupa cerca de mil hectares, dos quais aproximadamente 600 pertencem à Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). A vegetação do morro é um mosaico que combina os biomas Pampa e Mata Atlântica, com uma rica biodiversidade. Estima-se a presença de mais de 400 espécies vegetais e uma fauna variada, incluindo aves, répteis e mamíferos, como graxains e tatus.[28]

A história do Morro Santana remonta ao período colonial. Ele foi parte de uma sesmaria concedida a Jerônimo de Ornellas, um dos fundadores da cidade, e tornou-se uma área estratégica com o assentamento de famílias açorianas no século XVIII. Além disso, no período da Guerra dos Farrapos, o local abrigou um importante quartel-general rebelde. Uma das áreas históricas, conhecida como Casa Branca, foi demolida em 1972, mas permanece viva na memória dos moradores.[29][28] A antiga pedreira do Morro Santana foi uma importante área de extração de rochas graníticas utilizadas na construção civil, destacando-se como um marco econômico e histórico da região antes de ser desativada e integrada às discussões sobre preservação ambiental do morro.[25]

Atualmente, o morro enfrenta desafios relacionados à conservação ambiental devido à urbanização e especulação imobiliária. Ainda assim, projetos educacionais e iniciativas comunitárias buscam proteger a área, valorizando-a como patrimônio natural e histórico da cidade. É um ponto de referência ecológica e cultural, representando um equilíbrio entre o passado e o presente de Porto Alegre​.[30]

Limites

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A zona é limitada ao norte com a zona norte de Porto Alegre nos bairros Mario Quintana e Jardim Itu. Limitada ao sul com a zona sul da cidade nos bairros São José e Agronomia, ao leste com a divisa municipal com a cidade de Viamão, e ao oeste com a região central da cidade no bairro Bom Jesus. Esta localização favorece o transporte entre as zonas sul e norte e a conexão com a região metropolitana de Porto Alegre através da cidade de Viamão.[4]

Referências

  1. «Leste e Nordeste | Prefeitura de Porto Alegre». prefeitura.poa.br. Consultado em 5 de dezembro de 2024 
  2. «Lomba do Pinheiro e Partenon | Prefeitura de Porto Alegre». prefeitura.poa.br. Consultado em 5 de dezembro de 2024 
  3. Porto Alegre, Prefeitura. «Região Leste». OBSERVAPOA. Observatório de Porto Alegre 
  4. a b c «MAPA 7». Prefeitura de Porto Alegre. PLANEJAMENTO URBANO DE PORTO ALEGRE (1) 
  5. a b c Coordenação de Memória Cultural da Secretaria Municipal de Cultura, Centro de Pesquisa Histórica (2011). «HISTÓRIA DOS BAIRROS DE PORTO ALEGRE» (PDF). Consultado em 30 de novembro de 2024 
  6. Petry, Lívia; Tettamanzy, Ana Lúcia; Freitas, Ana Elisa De Castro (4 de dezembro de 2007). «O PAPEL DO MITO NAS NARRATIVAS ORAIS DOS KAINGANG NA BACIA DO LAGO GUAÍBA, PORTO ALEGRE, RS». Organon (42). ISSN 2238-8915. doi:10.22456/2238-8915.36169. Consultado em 11 de novembro de 2024 
  7. «Indígenas Kaingang e Xokleng retomam território ancestral no Morro Santana, em Porto Alegre». Brasil de Fato - Rio Grande do Sul. 19 de outubro de 2022. Consultado em 11 de novembro de 2024 
  8. a b c d Klein, Felipe Sander (2023). «A Estrutura de transporte e a segregação socioespacial na zona leste de Porto Alegre - RS». LUME. Consultado em 11 de novembro de 2024 
  9. Medeiros Cheuiche, Edson. «120 anos do Hospital Psiquiátrico São Pedro: um pouco de sua história» 
  10. Interativa, Bravo (7 de fevereiro de 2021). «Morro Gaúcho: De pedreira a cartão postal do Vale». Grupo A Hora. Consultado em 11 de novembro de 2024 
  11. Silva, Luís Gustavo Ruwer da (2021). «"Não tinha água para tomar quem dirá para controlar o fogo" : conflitos socioambientais e a luta pela vida no Morro Santana, em Porto Alegre-RS». LUME 
  12. CARNEIRO, ANITA. «Caminhos da Ditadura em Porto Alegre» (PDF) 
  13. «1974 – 1984: Novo campus». Consultado em 11 de novembro de 2024 
  14. «Há risco de deslizamentos em vários locais de Porto Alegre, diz Defesa Civil; veja lista». GZH. 24 de maio de 2024. Consultado em 5 de dezembro de 2024 
  15. Duran, Pedro. «Quinta estação de tratamento é desligada e 85% de Porto Alegre está sem água». CNN Brasil. Consultado em 5 de dezembro de 2024 
  16. «Colapso em Porto Alegre: população se desloca para interior e litoral enquanto capital gaúcha enfrenta falta d'água e energia | Jornal Nacional». G1. 8 de maio de 2024. Consultado em 5 de dezembro de 2024 
  17. «GEOSAUDE - Território Base (11/05/24)». Google My Maps. Consultado em 12 de junho de 2024 
  18. «FAPA -». UniRitter. Consultado em 12 de junho de 2024 
  19. «Portal | Sobre a PUCRS | Campus». PUCRS. Consultado em 12 de junho de 2024 
  20. RS, Do G1 (5 de outubro de 2015). «Ônibus de Porto Alegre terão cores conforme a região por onde passam». Rio Grande do Sul. Consultado em 22 de junho de 2024 
  21. «Sistema de Transporte Urbano de Porto Alegre (RS) – ViaCircular Ônibus». viacircular.com.br. Consultado em 22 de junho de 2024 
  22. «Museu de Ciências e Tecnologia da PUCRS - Porto Alegre/RS». Museu de Ciências e Tecnologia da PUCRS - Porto Alegre/RS. Consultado em 30 de novembro de 2024 
  23. «Centro de Eventos – AMRIGS». Consultado em 30 de novembro de 2024 
  24. Redação, da (10 de setembro de 2020). «O que comemorar nos 62 anos do Jardim Botânico de Porto Alegre | Ambiente JÁ». www.jornalja.com.br. Consultado em 30 de novembro de 2024 
  25. a b c Coordenação de Memória Cultural da Secretaria Municipal de Cultura, Centro de Pesquisa Histórica (2011). «HISTÓRIA DOS BAIRROS DE PORTO ALEGRE» (PDF). Consultado em 30 de novembro de 2024 
  26. Barcellos, Jorge Alberto (2000) [2000]. «GRANDE GLÓRIA - Memória dos Bairros». Secretaria Municipal da Cultura de Porto Alegre. Consultado em 30 de novembro de 2024 
  27. Laitano, José Carlos Rolhano. História da Academia Rio-Grandense de Letras (1901-2016) e Parthenon Litterario (1868-1885). Metamorfose, 2016, pp. 15-19
  28. a b Meria, Ana Lúcia (2000) [2000]. «Morro Santana - Memória dos Bairros». Secretaria Municipal da Cultura de Porto Alegre. Consultado em 30 de novembro de 2024 
  29. «Morro Santana: um olhar fotográfico para sua conservação. – PET Biologia UFRGS». 3 de agosto de 2016. Consultado em 30 de novembro de 2024 
  30. Gonçalves Rolim, Guerra, Rosângela, Teresinha (30 de Abril de 2010). «O Morro Santana e a Comunidade do Seu Entorno». Departamento de Ecologia/ Instituto de Biociências/ Universidade Federal do Rio Grande do Sul. 2º Congresso Internacional de Tecnologias para o Meio Ambiente. Consultado em 30 de novembro de 2024