A Alexíada
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A Alexíada (em grego: Ἀλεξιάς) é um relato épico detalhado da história política e militar do Império Bizantino durante o reinado do imperador Aleixo I Comneno (r. 1081–1118), nomeadamente das campanhas militares contra os Turcos, Pechenegues, Cumanos, Normandos e Cruzados. Escrito pela filha de Aleixo, a historiadora Ana Comnena, é a conclusão do trabalho iniciado pelo seu esposo Nicéforo Briénio. A sua escrita foi concluída cerca de 1148. É uma das principais fontes primárias conhecidas sobre a História do Império Bizantino na Baixa Idade Média.
A Alexíada Ἀλεξιάς | |
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Autor(es) | Ana Comnena |
Idioma | grego ático |
País | Império Bizantino |
Assunto | História militar e política |
Linha temporal | séculos XI e XII |
Lançamento | 2ª metade do século XII |
“O tempo, no seu fluxo irresistível e incessante, arrasta consigo todas as coisas criadas e afoga-as nos abismos da obscuridade, onde não existem feitos dignos de menção, nem onde há grandes e dignos de memória, fazendo surgir o que está oculto, como diz a tragédia e escondendo o que é evidente. Porém, a narração da história converte-se numa poderosa defesa contra a corrente do tempo e detém, de algum modo, o fluxo incontrolável deste; e tudo o que aconteceu dentro dele, que se acumulou superficialmente, recolhe-o e encerra-o e não permite que deslize para os abismos do esquecimento.”
— A Alexíada
A obra documenta também as interações entre a Primeira Cruzada e o Império Bizantino, apesar de ter sido escrita cerca de 50 anos depois daquela cruzada, lançando luz sobre as perceções discordantes do Ocidente e Oriente durante o início do século XII, o que faz d´A Alexíada uma fonte valiosa para compreender a perceção bizantina das Cruzadas. Foi escrita numa forma artificial de grego ático e é um dos raros exemplos duma mulher que escreve sobre a história militar e política do seu próprio país durante a Idade Média.
Conteúdo
editarDevido à relação familiar entre Ana e Aleixo I, a obra sofre de grandes problemas de parcialidade, apesar das frequentes tentativas da autora de fundamentar a sua objetividade. Não obstante, Ana consegue deixar alguns vestígios de críticas a um pai que admira profundamente, mas não consegue esconder a sua aversão aos Latinos (Normandos e "Francos"), que ela considera bárbaros, aos outros "bárbaros" em geral e aos Arménios. Também não disfarça o seu profundo ódio pelo seu irmão João II Comneno (r. 1118–1143). Contudo, tudo isso não a impede de expressar admiração pelas virtudes, capacidades e até charme dos diversos inimigos do império, inclusivamente alguns inimigos de morte como Roberto Guiscardo e o seu filho Boemundo. Do ponto de vista dum leitor moderno, a descrição dos acontecimentos militares e dos azares do império pode parecer exagerada e estereotipada, em parte devido às influências homéricas. Há também muita confusão no que se refere aos nomes e postos dos estrangeiros, particularmente aos dos Seljúcidas, e alguns erros geográficos e de datas.
A linguagem elaborada, apesar de arcaica, que Ana usa e a abundância de referências à Ilíada de Homero (a que se juntam outras de Sófocles, Eurípides e Demóstenes) mostram claramente o elevado nível de educação clássica da autora. Apesar disso, a obra contem narrações vívidas e movimentadas, e as divagações são relativamente curtas. O seu uso de termos militares e o número surpreendente de detalhes na descrição do turbulento reinado de Aleixo sugere que, apesar dos internamentos intermitentes de Ana num mosteiro, ela tinha acesso aos arquivos oficiais e pode ter entrevistado pessoalmente testemunhas oculares. Sugerem igualmente uma educação muito vasta e alargada. Outra caraterística do seu trabalho era a capacidade de elaborar uma descrição correta da personalidade do sujeito, bem como um sentido de originalidade que emana dos lamentos dramáticos acerca do seu destino trágico.
Estrutura
editarA obra está dividida no prólogo e em 15 livros (os sumários apresentados são interpretações modernas):
- Prólogo — As dificuldades em escrever história, razões para escrever a obra, luto pelo seu marido.
- Livro 1 — Aleixo torna-se general e doméstico das escolas (juventude de Aleixo — revolta de Ursélio — revolta de Nicéforo Briénio — os Normandos preparam uma invasão)
- Livro 2 — A revolta Comnena (inveja contra a família — causas da insurreição — a fuga — os rebeldes proclamam Aleixo como imperador — revolta de Melisseno — os comnenos cercam Constantinopla — o imperador Nicéforo III Botaniates abdica)
- Livro 3 — Aleixo como imperador (1081) e os problemas internos com a família Ducas (Maria de Alânia e o seu filho Constantino X Ducas— rejeição dos rumores do seu relacionamento com Aleixo — acerca de Aleixo e a sua esposa Irene — Aleixo inventa novos postos — Aleixo lamenta publicamente os crimes dos seus soldados — Ana Dalassena [mãe de Aleixo] é investida de autoridade imperial — acerca de Ana Dalassena — preparativos militares e alianças de Aleixo — os turcos expandem-se na Ásia Menor — os Normandos cruzam o mar Adriático)
- Livro 4 — Guerra contra os Normandos (1081–1082) (Roberto Guiscardo cerca Dirráquio — os aliados Venezianos derrotam os Normandos — Aleixo chega com o seu exército — os Normandos vencem a batalha de Dirráquio, Aleixo escapa por pouco)
- Livro 5 — Guerra contra os Normandos (1082–1083) e primeiro recontro com os heréticos (colapso financeiro — confiscação de propriedades da Igreja — Boemundo contra Aleixo — Aleixo vence finalmente com um estratagema — perseguição de João Ítalo)
- Livro 6 — Fim da guerra contra os Normandos (1085), morte de Roberto Guiscardo, os Turcos (Aleixo reconquista Castória — perseguição dos maniqueístas (paulicianianos) — Aleixo à frente do Corte da Igreja — conspiração e revolta — a aliança com Veneza — morte de Guiscardo — perseguição de feiticeiros e astrólogos — nascimentos dos porfirogénitos — Aleixo contra os Turcos — a ameaça cita [Pechenegues])
- Livro 7 — Guerra contra os Citas (1087–1090) (início das hostilidades — derrota esmagadora do exército imperial — os Cumanos derrotam os Citas, trégua — os Citas violam a trégua — atividades do pirata turco Tzachas na Anatólia ocidental — expedição contra os Citas)
- Livro 8 — Fim da guerra cita (1091), conspirações contra o o imperador (continuação das hostilidades — derrota esmagadora dos Citas na batalha de Levúnio — vitória final — conspirações e revoltas)
- Livro 9 — Operações contra Tzachas e Dálmatas (1092–1094), conspiração de Nicéforo Diógenes (1094) (operações contra Tzachas — operações em Creta e Chipre — eliminação de Tzachas — conspiração de Nicéforo Diógenes — capitulação dos Dálmatas — complementar a Diógenes)
- Livro 10 — Mais uma heresia, guerra contra os Cumanos, início da Primeira Cruzada (1094–1097) (Neilos e Vlahernitas[necessário esclarecer] — guerra contra os Cumanos — operações contra os Turcos — chegada dos primeiros cruzados — derrota dos Cruzados comandados por Cucupetro [Pedro, o Eremita — Hugo Capeto — vigilância marítima pelos Romanos — Godofredo de Bulhão — Conde Raul — comandantes cruzados prestam homenagem ao imperador — Boemundo)
- Livro 11 — Primeira Cruzada (1097–1104) (os Cruzados cercam Niceia — libertação de Niceia — campanhas vitoriosas dos Cruzados — cerco de Antioquia — operações vitoriosas dos Romanos na Ásia Menor — conquista de Antioquia e Jerusalém — operações na Ásia — massacre de Cruzados normandos [Lombardos pelos Turcos — Boemundo recusa-se a devolver Antioquia ao império — operações na Cilícia — a armada de Pisa invade ilhas — guerra naval com os Genoveses — operações contra Boemundo — Boemundo finge-se morto)
- Livro 12 — Conflitos domésticos, preparativos normandos para a segunda invasão (1105–1107) (Boemundo prepara o desembarque na costa da Ilíria — campanhas de Tancredo na Cilícia contra o Império — rainha Irene — Aleixo organiza a defesa no ocidente — conspiração de Amemades — Georgios Taronites revolta-se em Trapezo — Isácio Contostefano falha na defesa da costa contra a armada normanda — início da invasão normanda)
- Livro 13 — Conspiração de Aarão, segunda invasão normanda (1107–1108) (conspiração de Aarão — cerco de Dirráquio — estratagemas de Aleixo — operações terrestres — operações navais — Boemundo pede paz — negociações de paz — perfil de Boemundo — negociações entre Aleixo e Boemundo — o tratado de Devol)
- Livro 14 — Turcos, Francos, Cumanos e Maniqueístas (1108–1115) (vitórias romanas contra os Turcos — Problemas com os Francos — operações navais e terrestres — problemas de saúde do imperador — operações contra os Turcos — Ana fala dos seus métodos para escrever história — prevenção dum raide cumano — Aleixo combate o maniqueísmo através de perseguições e persuasão)
- Livro 15 — Últimas expedições, os Bogomilos, morte de Aleixo (1116–1118) (guerra contras os Turcos e as novas táticas de batalha — batalha vitoriosa — paz com os Turcos — o sultão é morto pelo seu irmão — Aleixo cria o Orfanato — supressão dos Bogomilos queimando o seu líder Basílio — última doença e morte de Aleixo)
Manuscritos completos e sumários
editar- Codex Coislinianus 311, dos Fonds Coislin, Paris
- Codex Florentinus 70,2
- Codex Vaticanus Graecus 1438
- Codex Barberinianus 235 & 236
- Codex Ottobonianus Graecus 131 & 137
- Codex Apographum Gronovii
- Codex Vaticanus Graecus 981 (prólogo e sumário)
- Codex Monacensis Graecus 355 (prólogo e sumário)
- Codex Parisinus Graecus 400 (prólogo e sumário)
Algumas traduções modernas
editar- Anne Comnene, Alexiade (Règne de l'Empereur Alexis I Comnène). Collection des Universités de France (Collection Budé) (em francês). 1937-45, 1967. Paris: Les Belles Lettres
- Sewter, E. (trad.) (2006). The Alexiad (em inglês). [S.l.]: Penguin. 560 páginas. ISBN 9780140449587
Bibliografia complementar
editar- The Alexiad no Wikisource em inglês.
- Buckler, Georgina. Anna Comnena: A Study (em inglês). 1968, 2000. [S.l.]: Clarendon Press. 558 páginas. ISBN 9780198214717
- Dawes, Elizabeth A. (trad.) (1928). «Medieval Sourcebook: Anna Comnena: The Alexiad». www.fordham.edu (em inglês). Universidade Fordham. Consultado em 26 de outubro de 2012
- Díaz Rolando, Emilio (1989). La Alexiada (em espanhol). Sevilha: Universidad de Sevilha. 700 páginas. ISBN 9788474054330. Consultado em 26 de outubro de 2012
- Morelli, Patrizia; Saulle, Silverio (1998). Anna Comnena. La Poetessa Epica (c. 1083 - c. 1148-1153) (em italiano). [S.l.]: Jaca Book. 141 páginas. ISBN 9788816435063. Consultado em 26 de outubro de 2012
Notas
editar- Texto inicialmente baseado na tradução dos artigos «Alexiad» na Wikipédia em inglês (acessado nesta versão) e «Alexiada» na Wikipédia em castelhano (acessado nesta versão).