Batalha de Milas
A Batalha de Milas (em latim: Mylae) foi uma batalha naval travada em 260 a.C., durante a Primeira Guerra Púnica, entre as marinhas de Cartago e da República Romana. Foi a primeira vitória naval na história de Roma e um evento chave na guerra, pois foi a primeira vez que os romanos utilizaram o corvo em combate.[2]
Batalha de Milas | |||
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Primeira Guerra Púnica | |||
Milas (Milazzo), na costa norte da Sicília. | |||
Data | 260 a.C. | ||
Local | Costa de Milas, no norte da Sicília (moderna Milazzo) | ||
Coordenadas | |||
Desfecho | Vitória romana | ||
Beligerantes | |||
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Comandantes | |||
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Forças | |||
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Baixas | |||
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Localização de Milas no que é hoje a Sicília | |||
Contexto
editarInspirado pelo sucesso na Batalha de Agrigento, os romanos tentaram conquistar toda a Sicília, mas precisavam projetar efetivamente seu poderio naval para consegui-lo. Para desafiar a poderosa marinha cartaginesa, os romanos construíram uma frota de cem quinquerremos e vinte trirremos.[3] Segundo Políbio, os romanos utilizaram um quinquerremo cartaginês capturado na Batalha de Messana quatro anos antes como modelo para toda sua frota, pois não havia entre os romanos o conhecimento necessário para construí-los.[4] Porém, é possível que este fato seja um exagero, pois os romanos já conheciam os quinquerremos gregos antes disto.[5]
Os dois cônsules romanos em 260 a.C. eram Cneu Cornélio Cipião Asina e Caio Duílio e os dois combinaram que o primeiro lideraria a frota e o segundo, o exército.[6] Porém, o primeiro encontro de Cipião Asina com a frota inimiga, na Batalha das ilhas Líparas, os romanos perderam dezessete navios e tiveram que se render vergonhosamente aos cartagineses, comandados pelo general Boodes e ao almirante Aníbal Giscão,[7] o mesmo que havia conseguido fugir da conquista de Agrigento. Depois da rendição, o resto da frota foi colocada sob os cuidados de Caio Duílio e o exército foi entregue aos tribunos militares.[8]
Os romanos reconheceram sua inferioridade no poder e nas táticas navais, especialmente depois da derrota nas ilhas Líparas. Com isto em mente, os engenheiros criaram o "corvo", uma passarela móvel que podia "enganchar" e manter presos dois navios no mar, permitindo a atuação dos soldados romanos. O inventor é desconhecido, mas é possível que tenha sido siracusano.[9] O corvo ficava preso à proa dos navios romanos num eixo rotacionável e girava para se posicionar melhor; a sua extremidade de ataque continha ganchos e pregos para se firmar bem no navio inimigo.[8] Uma vez presos, a superioridade do exército romano se impunha numa luta corpo-a-corpo através do corvo, o que geralmente levava à captura do navio inimigo.
Batalha
editarA frota de Duílio encontrou a de Aníbal ao norte de Milas em 260 a.C.. Segundo Políbio, os cartagineses contavam com 130 navios, mas não informa quantos eram os navios romanos.[10] A perda de dezessete navios nas ilhas Líparas, se descontada dos 120 navios iniciais, indica que os romanos tinham 103 navios no início da batalha. Porém, é possível que o número fosse maior, por conta de navios capturados ou por navios recebidos dos aliados.[9] Os cartagineses imaginavam que seria uma vitória fácil, especialmente por causa de sua experiência superior no mar.[10]
Os "corvos" foram um sucesso completo e ajudaram os romanos a capturar os primeiros 30 navios que chegaram perto o suficiente, incluindo a nau capitânea cartaginesa. Para evitá-los, os cartagineses foram forçados a rodear a proa dos navios romanos para atacá-los por trás ou pelo lado. Mas, ainda assim, os corvos geralmente conseguiam girar e "agarrar" a maior parte dos navios que se aproximavam.[11] Depois que mais vinte navios cartagineses foram agarrados e perdidos para os romanos, Aníbal ordenou a retirada de sua frota, deixando Duílio em clara condição de vitória.
Ao invés de perseguir o que restou da frota cartaginesa pelo mar, Duílio navegou para a Sicília e retomou o controle do exército. Em terra, salvou a cidade de Segesta, que estava cercada pelo general cartaginês Amílcar.[12] Historiadores modernos especulam sobre esta decisão de Duílio de não realizar de imediato um novo ataque naval, mas é provável que os oitenta navios de Aníbal ainda fossem fortes demais para os romanos.[13]
Resultado
editarO sucesso em Milas permitiu que os romanos perseguissem Aníbal até a Sardenha, onde os romanos conseguiram destruir a maior parte da frota cartaginesa. Aníbal foi preso por seus próprios homens e, de volta a Cartago, foi crucificado por sua própria incompetência.[11] Já Duílio recebeu a honra de uma coluna rostral com uma inscrição no Fórum Romano. Restos desta inscrição foram encontrados e estão nos Museus Capitolinos. Ela conta que, durante a Batalha de Milas, Duílio capturou 31 navios, afundou outros 13 e capturou um tesouro em ouro e prata de pelo menos 2 100 000 sestércios.[14] Ao retornar para casa, Duílio recebeu o primeiro triunfo naval em Roma, no qual, segundo a inscrição, pela primeira vez desfilaram em Roma prisioneiros cartagineses nascidos livres.[14] Apesar disto, Duílio jamais assumiu um novo comando,[15] mas foi censor em 258 a.C..
Referências
- ↑ Políbio, Histórias 1:23.3
- ↑ Tácito, Anais 2.49
- ↑ Políbio, The General History of Polybius, livro I, p. 24
- ↑ Políbio, The General History of Polybius, livro I, p. 25
- ↑ T.A. Dorey and D.R. Dudley, Rome against Carthage, p. 8
- ↑ Nigel Bagnall, The Punic Wars, p. 61
- ↑ Políbio, The General History of Polybius, livro I, p. 26
- ↑ a b Políbio, The General History of Polybius, livro I, p. 27
- ↑ a b J.F. Lazenby, The First Punic War, p. 70.
- ↑ a b Políbio, The General History of Polybius, livro I, p. 28
- ↑ a b Políbio, The General History of Polybius, livro I, p. 29
- ↑ Nigel Bagnall, The Punic Wars, p. 63
- ↑ J.F. Lazenby, The First Punic War, p. 73.
- ↑ a b Remains of Old Latin, 4:128-31.
- ↑ J.F. Lazenby, The First Punic War, p. 72.
Bibliografia
editar- Bagnall, Nigel (1990). The Punic Wars: Rome, Carthage, and the Struggle for the Mediterranean (em inglês). New York: St. Martin's Press. ISBN 0-312-34214-4
- Goldsworthy, Keith Adrian (2000). The Punic Wars (em inglês). [S.l.]: Cassell. ISBN 0-304-35967-X
- Dorey, T. A.; D. R. Dudley (1972). Rome against Carthage (em inglês). Garden City, NY: Doubleday
- Lazenby, J. F. (1996). The First Punic War: A Military History (em inglês). Stanford, CA: Stanford University Press. ISBN 0-8047-2674-4
- Políbio (1772). James Hampton (trad.), ed. Histórias (em 5 livros). Col: Eighteenth Century Collections Online (em inglês). vol. I 3 ed. Londres: Gale Group
- E. H. Warmington, ed. (1935–1940). Remains of Old Latin (em inglês). 4 vols. Cambridge, MA: Harvard University Press