Camaleão

répteis pertencentes à família Chamaeleonidae
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 Nota: Para outros significados, veja Camaleão (desambiguação).

Camaleão (ou cameleão)[1] refere-se a todos os répteis pertencentes à família Chamaeleonidae. É uma das mais conhecidas famílias de lagartos, distribuídos na África, sul da Europa e da Ásia.[2] Há cerca de 80 espécies de camaleões, a maior parte delas na África, ao sul do Saara, estando também presentes em Portugal e na Espanha.[3] Os camaleões distinguem-se de outros lagartos pela habilidade de algumas espécies em trocar de cor, por sua língua rápida e alongada, por seus olhos, que podem ser movidos independentemente um do outro, que possuem uma visão de 360 graus, e (tendo alguns membros da família) cauda preênsil.[4] A família teve origem há mais de 100 milhões de anos, quando se separou da família Agamidae, de acordo com o registro fóssil.

Como ler uma infocaixa de taxonomiaCamaleão
Camaleão
Camaleão
Classificação científica
Reino: Animalia
Filo: Chordata
Classe: Reptilia
Ordem: Squamata
Subordem: Sauria
Família: Chamaeleonidae
Distribuição geográfica
África, Ásia e sul da Europa
África, Ásia e sul da Europa
Géneros
Bradypodion

Calumma
Chamaeleo
Furcifer
Brookesia
Rhampholeon
Kinyongia
Nadzikambia
Rieppeleon

Etimologia

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O nome camaleão é derivado das palavras gregas significante a "leão da terra" Chamai (na terra, no chão) e leon (leão).[5]

Espécies

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Algumas das espécies do gênero da Chamaeleonidae são:

Características físicas

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Espécie Chamaeleo jacksonii

Os camaleões têm até 60 centímetros de comprimento, com uma língua muito grande para pegar suas presas — come mariposas, besouros, joaninhas, gafanhotos, e moscas; também comem folhas, principalmente secas. Têm cauda preênsil e patas fortes.

Movimenta-se com lentidão para não ser notado antes do ataque. Para apanhar sua presa, utiliza a língua que tem uma ponta grudenta. Consegue, com grande velocidade, estender a língua quase um metro. A sua língua, de ponta pegajosa prende o inseto e este é comido. Estuda-se esse processo com o auxílio de câmeras de alta velocidade. Ele se alimenta principalmente de insetos, entre os quais estão o gafanhoto, a joaninha, o besouro, e muitos outros.

Os seus olhos podem ser movidos independentemente para qualquer direção, o que lhe confere aparência curiosa. Quando um camaleão vê uma presa, pode fixá-la com um olho e utilizar o outro para verificar se não há predadores nas redondezas. O encéfalo do camaleão recebe duas imagens separadas, que tem de associar. À medida que se aproxima da presa, o camaleão fixa nela ambos os olhos para poder fazer pontaria.

 
Espécie Chamaeleo zeylanicus

Os olhos são recobertos por uma pálpebra que deixa livre apenas uma pequena área circular no centro, que corresponde à íris e a pupila. O camaleão é coberto por escamas

Sua pele possui bastante queratina, o que apresenta uma série de vantagens (em especial, a resistência). Mas essa característica faz com que o camaleão precise fazer a "mudança" de pele durante seu crescimento (a pele antiga descama, dando lugar a outra), assim como fazem as serpentes e outros lagartos.

Em países como Espanha o camaleão é bem-vindo e também muito conhecido, onde muitas pessoas os adotam como animais de estimação.

Distribuição e habitat

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Quanto ao habitat, a maior parte dos camaleões vive na África e em Madagascar,[6] embora algumas espécies também sejam encontradas em Portugal, em Espanha, Sri Lanka, Índia e até na Ásia Menor. Diferentes espécies habitam diferentes ambientes, como montanhas, florestas pluviais, savanas e às vezes desertos e estepes. Acredita-se que os indivíduos que vivem nos sectores mediterrânicos europeus derivem de exemplares introduzidos pelo homem em épocas remotas.

Os camaleões habitam, em sua maior parte, árvores. Mas também são achados em alguns arbustos, e algumas espécies vivem no chão, por baixo de folhas. Podem passar de uma árvore a outra graças à sua cauda preênsil e aos pés em forma de pinças.

Também há casos menos frequentes de camaleões da família Chamaeleonidae na Amazônia, de origem indiana, e que foram introduzidos pelos portugueses. Esses animais se adaptaram com sucesso ao habitat amazônico. [carece de fontes?]

Como não é uma espécie nativa, a legislação brasileira não proíbe a criação de camaleões como animais de estimação: são bichos dos mais populares entre os fãs de animais exóticos. Recentemente, o IBAMA proibiu a importação de camaleões.[7] Mas não há restrição de criação de animais que já estejam no país, desde que estejam em criadouros adequados. Essa "permissão" naturalmente não vale para o "camaleão da Amazônia", que é nativo.

Na Amazônia e na Região Nordeste do Brasil, o lagarto conhecido como iguana (Iguana iguana) é por vezes chamado de camaleão, embora pertença a uma família diferente (família Iguanidae). Os lagartos do gênero Anolis também são às vezes chamados de camaleões, devido à sua habilidade de mudar de cor, mas, assim como a iguana, não são camaleões.

Comportamento

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Todos os camaleões são animais diurnos. Seu período de maior atividade é a manhã, e o final do entardecer. Os camaleões não são caçadores ativos. Ao invés disso, preferem sentar-se, ficando horas imóveis, esperando uma presa passar por eles. Alimentam-se basicamente de artrópodes e de pequenos vertebrados. Em cativeiro, também comem frutas como mamão, banana, pequenos pedaços de maçã, mas essa dieta só é válida para animais adultos: filhotes são quase exclusivamente insectívoros.

Os camaleões vivem a maior parte de suas vidas solitariamente, e são bastante agressivos contra outros membros de sua mesma espécie, mesmo que sejam fêmeas. O hábito solitário só é abandonado na época de acasalamento, quando o macho desce das árvores à procura de fêmeas. Os camaleões mordem se forem provocados, mas a mordida não causa dores muito fortes.

Mudança de cor

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Camaleão listrado.

Algumas espécies de camaleão são capazes de alterar suas coloração de pele. Diferentes espécies de camaleão são capazes de variar a sua coloração e padrão por meio de combinações de rosa, azul, vermelho, laranja, verde, preto, marrom, azul claro, amarelo, turquesa e púrpura.[8]

A mudança de cor nos camaleões tem funções na sinalização social e em reações a temperatura e outras condições, bem como em camuflagem. A importância relativa destas funções varia de acordo com as circunstâncias, bem como as espécies. A mudança de cor sinaliza a condição fisiológica do camaleão e intenções de outros camaleões.[9][10] Camaleões tendem a apresentar cores mais escuras quando irritados, ou na tentativa de assustar ou intimidar os outros, enquanto os machos mostram padrões multicoloridos mais leves quando cortejam as fêmeas.[11]

Mecanismo de mudança de cor

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Durante muito tempo pensou-se que os camaleões mudavam de cor por dispersão de pigmento contendo organelas dentro de sua pele. No entanto, pesquisas recentes sobre camaleões-pantera mostrou que não é isso que acontece.[12]

Os camaleões têm duas camadas sobrepostas, dentro de sua pele, que controlam a sua cor e a termorregulação. A camada superior contém uma estrutura de nanocristais de guanina, e o espaçamento entre esses nanocristais pode ser manipulada mediante excitação da rede cristalina, o que, por sua vez, afeta os comprimentos de onda de luz que são refletidos e os que são absorvidos. Excitar a rede cristalina causa um aumento na distância entre os nanocristais, e a pele passa a refletir comprimentos de onda de luz mais longos. Assim, quando em estado relaxado, os cristais refletem azul e verde, mas em um estado excitado, os comprimentos de onda mais longos, como amarelo, laranja e vermelho passam a ser refletidos.[12]

Propagação

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A maior parte dos camaleões são ovíparos, mas todas as espécies de Bradypodiones e muitas espécies de Trioceros são ovíparas (embora alguns biólogos prefiram evitar o termo ovíparo devido a inconsistências na sua utilização em alguns grupos animais, utilizando simplesmente vivíparo).[13][14][15]

As espécies ovíparas põem ovos três a seis semanas após a cópula.[16] A fêmea cava um buraco com 10-30 cm de profundidade, dependendo da espécie - e põe os seus ovos.[17][18] O tamanho da ninhada varia muito de espécie para espécie. As espécies mais pequenas de Brookesia podem pôr apenas dois a quatro ovos, enquanto os grandes camaleões voile (Chamaeleo calyptratus) são conhecidos por pôr ninhadas de 20-200 (camaleões voile) e 10-40 (camaleões pantera) ovos. O tamanho das ninhadas também pode variar muito entre as mesmas espécies. Os ovos eclodem normalmente entre quatro e 12 meses, dependendo também da espécie. Os ovos do camaleão de Parson (Calumma parsoni) demoram normalmente 400 a 660 dias a eclodir.

As pets

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Os camaleões são répteis de estimação populares, importados principalmente de países africanos como Madagáscar, Tanzânia e Togo.[19][20]

Para imitar um habitat natural, o aviário onde se encontram - geralmente uma gaiola de rede para uma ventilação adequada - deve ser alto e ter muitos ramos e folhagem para treparem e se esconderem.[21][22]

Os mais comuns no comércio são o camaleão do Senegal (Chamaeleo senegalensis),[23][24] o camaleão do Iémen ou voile (Chamaeleo calyptratus), o camaleão pantera (Furcifer pardalis) e o camaleão de Jackson (Trioceros jacksonii). Outros camaleões vistos em cativeiro (embora esporadicamente) incluem espécies como o camaleão tapete (Furcifer lateralis), o camaleão de Meller (Trioceros melleri), o camaleão de Parson (Calumma parsonii) e várias espécies de camaleões anões e de cauda de folha, principalmente dos géneros Brookesia, Rhampholeon ou Rieppeleon.

Camaleões na cultura e nas artes

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Em todo o Ocidente, o termo "Camaleão" é bastante utilizado para adjetivar bons atores. Também é usado na linguagem figurada como sinônimo de uma pessoa volúvel e maleável, que adapta seu comportamento e características conforme o ambiente. Nem sempre o termo tem conotação negativa (de falsidade), podendo significar também "flexibilidade".[25]

Na simbologia de algumas tribos africanas, o camaleão é um animal sagrado, visto como o criador dos primeiros homens. Nunca é morto, e quando é encontrado no caminho, tiram-no com precaução, com medo de maldições.[25]

O Camaleão também dá nome a uma pequena constelação.[26]

No Brasil, mais especificamente no estado da Bahia, existe o Bloco Camaleão, um dos mais conhecidos blocos carnavalescos do lugar.[27]

Nos quadrinhos, há um vilão do Homem-Aranha chamado Camaleão, devido a sua especialização em disfarces.

Nos jogos da série Mortal Kombat, Chameleon é o nome dado ao ninja que pode utilizar as habilidades dos outros e isso gera a mudança da cor da sua roupa para a do ninja correspondente.

No cinema, Rango, personagem protagonista de um filme de animação do ano de 2011 dirigido por Gore Verbinski, é um camaleão.

Ver também

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Referências

  1. S.A, Priberam Informática. «Dicionário Priberam da Língua Portuguesa». Dicionário Priberam da Língua Portuguesa. Consultado em 17 de abril de 2024 
  2. Camaleão - Sua Pesquisa
  3. Infoescola - Camaleão
  4. «Os Engolidores da Natureza». Curiosidades Animal. 20 de outubro de 2018. Consultado em 30 de abril de 2018 
  5. «Dictionary.com entry for "chameleon"» 
  6. Glaw, Frank; Vences, Miguel (1994). A Field Guide to Amphibians and Reptiles of Madagascar 2ª ed. Colônia, Alemanha: Vences & Glaw Verlag. ISBN 3-929449-01-3 
  7. Antunes, André Pinassi; Junior, Shepard; Harvey, Glenn; Venticinque, Eduardo Martins (agosto de 2014). «O comércio internacional de peles silvestres na Amazônia brasileira no século XX». Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Humanas. 9 (2): 487–518. ISSN 1981-8122. doi:10.1590/1981-81222014000200013. Após mais de 30 anos de embates entre exportadores e legisladores, foi publicada a Lei nº 5.197 em 1967, mais conhecida como Lei de Proteção à Fauna, que proibiu a total comercialização de animais silvestres 
  8. Cooper, Sharon Katz (outubro de 2002). «Chameleons». National Geographic Explorer Classroom Magazine: 4-7. Cópia arquivada em 20 de agosto de 2008 
  9. Stuart-Fox, Devi; Adnan (29 de janeiro de 2008). «Selection for Social Signalling Drives the Evolution of Chameleon Colour Change». PLoS Biol. 6 (1): e25. PMID 18232740. doi:10.1371/journal.pbio.0060025 
  10. Harris, Tom. «How Animal Camouflage Works». How Stuff Works. Consultado em 13 de novembro de 2006 
  11. Richard D. Bartlett (1995). Chameleons: Everything about Selection, Care, Nutrition, Diseases, Breeding, and Behavior. [S.l.]: Barron's Educational Series. p. 7. ISBN 978-0-8120-9157-1. Consultado em 31 de agosto de 2013 
  12. a b Teyssier, Jeremie; Saenko, Suzanne V.; Milinkovitch Dirk can der Marel & Michel C. (2015). "Photonic crystals cause active colour change in chameleons." nature Communications (6).
  13. «Oviparous animals». nucleovisual.com. Consultado em 9 de setembro de 2024 
  14. «Chameleon – Masters Of Adaption». animalcorner.org. Consultado em 9 de setembro de 2024 
  15. «Ovoviviparous vs Oviparous: Which is Right & Fits Your Need?». grammarbeast.com. Consultado em 9 de setembro de 2024 
  16. «Do Chameleons Lay Eggs? – How Chameleon Birth Works». beyondthetreat.com. Consultado em 9 de setembro de 2024 
  17. «Chamaeleo Calyptratus». www.chameleons.info. Consultado em 9 de setembro de 2024 
  18. «Do Chameleons Lay Eggs? How Many?». pangovet.com. Consultado em 9 de setembro de 2024 
  19. «Pet trade relies on 'disposable' wild chameleons from Madagascar». news.mongabay.com. Consultado em 9 de setembro de 2024 
  20. «Bearded Dragon VS Chameleon: Facts and Differences». www.thepettime.com. Consultado em 9 de setembro de 2024 
  21. «Veiled Chameleon Care Sheet, Habitat, Cage Set Up & Diet». www.everythingreptiles.com. Consultado em 9 de setembro de 2024 
  22. «Caring for Your Chameleon: A Colorful Journey». cleverrabbits.com. Consultado em 9 de setembro de 2024 
  23. «Senegal Chameleon Care: The Essential Guide». reptiledirect.com. Consultado em 9 de setembro de 2024 
  24. «Senegal Chameleon». www.reptilerange.com. Consultado em 9 de setembro de 2024 
  25. a b Maria Helena Guedes. «Os Animais Exóticos !». p. 186-187. Consultado em 21 de julho de 2019 
  26. http://astro.if.ufrgs.br/const.htm
  27. Gabriel Amorim (26 de fevereiro de 2019). «Baianos curtem nova praça em homenagem ao bloco Camaleão». Consultado em 21 de julho de 2019 

Bibliografia

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