Verificação de fatos
A verificação de fatos (português brasileiro) ou factos (português europeu) ou verificação de dados ou ainda checagem de fatos (também referida pelo termo em inglês fact-checking) em jornalismo refere-se ao trabalho de confirmar e comprovar fatos e dados usados em discursos (sobretudo políticos) nos meios de comunicação e outras publicações.[1] Seu propósito é detectar erros, imprecisões e mentiras.[2] É um caso especial do jornalismo investigativo.
Embora esse trabalho exista desde o início do jornalismo, a partir da primeira década do século XXI emergiram meios que se dedicam exclusivamente à verificação de fatos, sobretudo na Internet.
Imprensa escrita
editarNa imprensa escrita, desde o século XX é comum que haja jornalistas dedicados exclusivamente à verificação de dados. O semanário alemão Der Spiegel é, segundo um artigo do Columbia Journalism Review, o meio de massa que mais pessoas emprega para esta tarefa, com aproximadamente 80 jornalistas.[3]
Verificação ou checagem de fatos no ambiente digital
editarA origem do fenômeno atual do verifiacação de dados na web originou-se na imprensa anglo-saxã.[4] Nos Estados Unidos o fenômeno adquiriu popularidade com o estabelecimento do site sem fins lucrativos Factcheck.org (2003), seguido pelo PolitiFact (do St. Petersburg Times) e The Fact Checker (do Washington Post), no ano 2007. Seguiram-lhe diferentes meios online no Reino Unido (Channel 4 Fact Check e Full Fact), e na Argentina, onde a principal referência é o Chequeado, fundado em 2010.[5] No Brasil, os pricipais sites de verificação de fatos são a Agência Lupa, Truco (da agência Pública) e Aos Fatos. Na França o fenómeno se popularizou antes das eleições presidenciais de 2012.[6]
Com a popularização de notícias falsas na internet, o hábito de verificar as notícias passou a ser hábito também para os leitores. Pesquisa realizada em 2017[7] mostrou que 76% das pessoas em países como Brasil, França, EUA e Reino Unido checavam a veracidade da notícia que haviam lido ao conferir outras fontes.[8] A confiança nas notícias é, em geral, maior para meios de comunicação mais tradicionais, como revistas impressas, canais de notícia 24h e radiojornalismo.
Paralelamente na Alemanha emergiu o watchblog como gênero de blogs, termo criado a partir da fundação do blog BILDblog em 2004, o qual observava e verificava os artigos do jornal Bild, o de maior circulação do país. O BILDblog chegou a ser o blog mais popular na Alemanha, recebeu elogios do filósofo Jürgen Habermas[9] e desde 2009 dedica-se também à verificação de fatos em outros meios.
Agências de checagem
editarAs agências de checagem têm como grande propósito ajudar o público a ter mais segurança na leitura de notícias e dos demais conteúdos de internet, diminuindo a propagação de notícias falsas, sobretudo nas redes sociais. Essas agências surgem da necessidade de se criar, através do jornalismo, mecanismos mais seguros para proteger o público e as instituições democráticas em um cenário de disseminação de enorme quantidade de notícias falsas. Tarefa essencial do jornalismo, a prática de checar notícias e informações não é uma novidade trazida pela era digital. Checar, apurar, confrontar, comparar, são práticas essenciais do exercício jornalístico.
O americano Ralph Pulitzer entrou para a história do jornalismo como o primeiro a implantar em seu próprio jornal (The World, herdado de seu pai, Joseph Pulitzer) um setor destinado ao fact checking.[10] Com a tarefa específica de checar as informações jornalísticas antes que elas chegassem ao público, Ralph Pulitzer e Isaac White, editores chefe do The World, criam o Bureau for Accuracy and Fair Play, em 1913.[10]
Na era do jornalismo digital, as primeiras tentativas para se criar plataformas de checagem de notícias aconteceram ainda na última década do século 20. Em 1991, o jornalista americano Brooks Jackson recebeu a tarefa de checar se era mesmo verdade tudo aquilo que os possíveis candidatos à presidência dos Estados Unidos diziam nos anúncios de TV. Assim, “Jackson fundou o Ad Police, a primeira equipe jornalística especializada em checar propaganda eleitoral de que se tem notícia”.[11]
Em 2003, foi criada a agência americana FactCheck.org, tida por muitos como a primeira plataforma totalmente digital idealizada para averiguar a veracidade de notícias jornalísticas.[12] A popularização da checagem de notícias ganhou maior intensidade em 2008, no período de eleições para presidente dos EUA. Nesse ano, foram criadas as agências PolitiFact e FactChecker.[11]
A checagem no jornalismo, que também envolve o nível de confiança que a fonte jornalística oferece, é um método importante de avaliação e de certificação da notícia que é apresentada ao público.[13] A necessidade determinada pela difusão diária e massiva de notícias mentirosas (fake news), fez surgir as agências de checagem de fatos, dados e declarações (fact-checking). As notícias falsas são hoje um fenômeno mundial, disseminadas sobretudo pelas redes sociais digitais.[14]
Alguns especialistas apontam que um dos maiores desafios das agências seria o fato de que a repercussão dos pareceres emitidos pelas agências seria muito restrita, se comparada à força das fake news analisadas. Isso porque, de um modo geral, os veículos de comunicação costumam oferecer menos espaço aos reparos e às retratações do que à notícia original. Além disso, diferente do que ocorre com a maioria das notícias falsas, sobretudo na esfera político partidária, não existem grupos de militantes envolvidos radicalmente na tarefa de disseminar o trabalho e os fatos checados pelas agências[14]
Organizações de verificação de fatos ou checagem de fatos
editarAfrica
editar- Africa check[15]
Índia
editar- Boom
- SMHoaxSlayer
- nunayo.news
Bangladesh
editar- BD Fact Check
- Jaachai
Sri Lanka
editar- FactCheck Sri Lanka
Japão
editar- GoHoo
- Japan Center of Education for Journalists (JCEJ)
Europa
editar- BBC Reality Check
- Demagog
- FactCheckEU
- Full Fact
- The FactCheck blog
- Les Décodeurs
- Pagella Politica
- Miniver.org
- faktisk.no
- Ferret Fact Service
- Stopfake.org
América Latina
editar- Argentina: Chequeado.com[16]
- Brasil: Aos Fatos[17]
- Chile: ChileCheck,[18] Del dicho al hecho,[19] El Polígrafo[20](do jornal El Mercurio)
- Colombia: Colombia Check,[21] Detector de Mentiras[22]
- Guatemala: Con Pruebas[23]
- Mexico: Checa Datos,[24] El Sabueso,[25][26] Verificado[27] o ou checagem
- Peru: OjoBiónico[28]
- Uruguay: UYcheck[29][30]
- Venezuela: Cotejo[31]
EUA
editar- FactCheck.org e FactCheckEd.org
- Fact Checker (The Washington Post)
- PolitiFact.com
- Snopes.com
- TruthOrFiction.com
Brasil
editarO site E-farsas atua no país desde 1º de abril de 2002, e é mantido por apenas uma pessoa.[32] Desde então, vários outros projetos com objetivos semelhantes surgiram.
Um dos principais veículos de jornalismo independente no Brasil, Aos Fatos foi ao ar pela primeira vez em 7 de julho de 2015 com o objetivo de checar declarações de políticos, projetos de lei e políticas públicas. Com o tempo, passou a aliar tecnologia e investigação jornalística para informar sobre as mentiras que os poderosos contam, endossam e financiam. [33]
A Agência Lupa, fundada em 2015, opera essa técnica de apuração jornalística no Brasil. Em seu texto de apresentação, a Lupa afirma que “seu plano de negócios começou a ser montado em fevereiro daquele ano e, desde novembro, quando abriu sua redação no Rio de Janeiro, a Lupa acompanha o noticiário [...] buscando corrigir informações imprecisas e divulgar dados corretos. O resultado desse trabalho é vendido a outros veículos de comunicação e também publicado em seu próprio site”.[12]
Em 2020, no período das eleições municipais, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) firmou parceria com nove plataformas de checagem de notícias com o propósito de oferecer ao eleitor melhores condições de verificar a veracidade das notícias a respeito das eleições. O produto desse trabalho de checagem jornalístico ficou à disposição dos eleitores no site da justiça eleitoral, na página “Fato ou Boato”. As agências de checagem envolvidas, de maneira voluntária (sem contrapartida financeira), na parceria com o tribunal foram: o UOL Confere, projeto do UOL, AFP, Agência Lupa, Aos Fatos, Boatos.org, Comprova, E-Farsas, Estadão Verifica e Fato ou Fake.[34]
Ver também
editarReferências
- ↑ «O que é fact-checking? - Observatório da Imprensa - Você nunca mais vai ler jornal do mesmo jeito». Observatório da Imprensa - Você nunca mais vai ler jornal do mesmo jeito. 11 de julho de 2017
- ↑ El Fact Checking se impone en Francia, RFI.fr, 20 de abril de 2012
- ↑ Inside the World’s Largest Fact Checking Operation.
- ↑ Fidalgo, Diana. «Cresce o jornalismo de checagem». Jornal da PUC
- ↑ Chequeado.com: Fiel defensor de los hechos, lanacion.com, 7 de febrero de 2012
- ↑ Présidentielle France 2012 : le triomphe du fact-checking !, TV5 Monde, 4 de mayo de 2012
- ↑ «Kantar - Trust in News: 'Fake news' reforçam confiança na imprensa». br.kantar.com. Consultado em 31 de outubro de 2017
- ↑ «'Fake news' alteram hábitos do público, indica pesquisa». Folha de S.Paulo
- ↑ Jürgen Habermas und die Netz-Nerds, Spiegel Online, 23 de junio de 2006
- ↑ a b Palacios, Marcos. «Fake news e a emergência das agências de checagem: terceirização da credibilidade jornalística?» (PDF). Consultado em 22 de março de 2021
- ↑ a b «[Agência Lupa] Mas de onde vem o fact-checking?». Agência Lupa. 15 de outubro de 2015. Consultado em 22 de março de 2021
- ↑ a b «[Agência Lupa] O que é a Agência Lupa?». Agência Lupa. 15 de outubro de 2015. Consultado em 22 de março de 2021
- ↑ «O que é checagem de fatos — ou fact-checking?». aosfatos.org. Consultado em 22 de março de 2021
- ↑ a b Caleiro, Maurício (4 de fevereiro de 2020). «Checando as agências de fact-checking». Observatório da Imprensa. Consultado em 22 de março de 2021
- ↑ Lyman, Rick (23 de julho de 2013). «Nonpartisan Fact-Checking Comes to South Africa». The New York Times
- ↑ «Chequeado.com: Fiel defensor de los hechos». Lanacion.com. Consultado em 2 de agosto de 2013
- ↑ «Valorize o que é real». www.aosfatos.org. Consultado em 24 de julho de 2024
- ↑ «Creador del programa "Chile Check" devela 5 mentiras de los candidatos a la presidencia». El Desconcierto - Prensa digital libre. 6 de outubro de 2017. Consultado em 7 de dezembro de 2018
- ↑ «Feitas por jornalistas, plataformas de checagem de discurso público ganham espaço». Portal IMPRENSA. 8 de setembro de 2015. Consultado em 7 de dezembro de 2018
- ↑ «Los siete pasos de verificación de "El Polígrafo"». Puroperiodismo. 21 de dezembro de 2015. Consultado em 7 de dezembro de 2018
- ↑ «Los aprendizajes de crear un proyecto de fact checking llamado El Poder de Elegir». Chicas Poderosas. 8 de março de 2018. Consultado em 7 de dezembro de 2018
- ↑ «Sitios de verificación de discurso y de noticias falsas en el mundo». Aldea de Periodistas. 15 de setembro de 2018. Consultado em 7 de dezembro de 2018
- ↑ «Fact-checking y vigilancia del poder: La verificación del discurso público en los nuevos medios de América Latina». Communication & Society. 2018. Consultado em 7 de dezembro de 2018
- ↑ «La apuesta por el fact-checking: periodistas crean más iniciativas para verificar el discurso público y revelar noticias falsas». Blog Periodismo en las Américas. 20 de abril de 2017. Consultado em 7 de dezembro de 2018
- ↑ «Editora de 'El Sabueso': "Fact Checking simplemente es hacer periodismo"». Fact Checking UC. 13 de julho de 2018. Consultado em 7 de dezembro de 2018
- ↑ «El 'fact checking' de noticias de Google llega a México». Verne en EL PAÍS. 17 de abril de 2017. Consultado em 7 de dezembro de 2018
- ↑ «Search, Trends and fact checking during the Mexican elections». Google News Initiative | Google Blog. 15 de agosto de 2018. Consultado em 7 de dezembro de 2018
- ↑ «Medios peruanos llevan el fact-checking a la radio a nivel nacional con nuevo segmento para verificar el discurso público». Blog Periodismo en las Américas. 7 de novembro de 2018. Consultado em 7 de dezembro de 2018
- ↑ «Las promesas de Vázquez durante el primer año de gestión». Montevideo Portal. 1 de março de 2016. Consultado em 7 de dezembro de 2018
- ↑ «Uruguay en la época de las fake news». DelSol 99.5 FM. 2 de abril de 2018. Consultado em 7 de dezembro de 2018
- ↑ «Abierto Primer Concurso del Programa de Captación de Fact Checkers para Cotejo.info». Medianálisis - Comunicación para la Democracia. 4 de outubro de 2018. Consultado em 7 de dezembro de 2018
- ↑ TecMundo (19 de agosto de 2014). «Entrevistamos o criador do E-farsas, o site que desvenda boatos na internet». TecMundo - Descubra e aprenda tudo sobre tecnologia
- ↑ «Sobre o Aos Fatos». www.aosfatos.org. Consultado em 24 de julho de 2024
- ↑ «Justiça Eleitoral e agências de checagem vão conferir fake news na eleição». noticias.uol.com.br. Consultado em 22 de março de 2021